sábado, 19 de julho de 2025

Foi-se um dos gênios (gênios, gênios, são poucos) da publicidade brasileira

 Morreu nessa sexta-feira, em São Paulo, o publicitário e fundador da DPZ Roberto Duailibi. Ela estava com 89 anos. Graduou-se pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (que tinha outro nome na época) e, depois de passar pela house da Colgate-Palmolive e várias agências, juntou seus trocados e se uniu a Francesc Petit e José Zaragoza para fundar a DPZ. Havia outro sócio, Ronald Persichetti, fundador como os demais, porém, omitido no site da agência. Na internet, seu nome desaparece diante da morte do outro fundador. Bem, pelo nome DPZ, deveria ser um especialista da área estratégica. O P da DPZ deveria se confundir com o P de Petit, algo assim. Fico devendo. 

Conheci em Campo Grande (MS) o mano de Roberto, que tinha um belíssimo e caríssimo bar no centro da cidade. Era 1985, ano em que montei e trabalhei por quatro meses na sucursal de Veja (fechada logo depois que voltei a Curitiba fechada por obra e graça de meu sucessor, que pegou um jabá e viajou pra Europa sem consultar a sede e acabou demitido). Não me lembro do


primeiro nome do Duiailib (o i foi acresentado por Roberto em São Paulo) botequeiro, mas era gente finíssima, cultíssimo para aquela cidade de chapeludos que semeava o agro. Meu salário não dava para aquele maravilhoso boteco, ponto.

Mas o que quero dizer é que a morte de Roberto Duailibi mereceu, mesmo, dezenas de minutos no noticiário da Globo (imagino que nas demais redes também). Porém, a Globo, em sua ânsia em puxar o saco de quem lhe dá dinheiro, só citou os sócios de Roberto Dualibi, omitindo mais informações do P e do Z da maravilhosa DPZ.

Eles são Francesc Petit (Barcelona , 1934 - São Paulo, 2013) e José Zaragoza (Alicante, 1930 - São Paulo, 2017). Esses dois espanhóis eram craques em publicidade e, mais, eram notáveis artistas plásticos. Expuseram e venderam muitas obras. Sabiam como pouquíssimos entender a imagem de que seus clientes precisavam.

A DPZ contratou, formou e liberou seus criativos, em texto e imagem, e revolucionou a publicidade brasileira. Washington Olivetto e Nizan Guanaes, entre outros craques, continuaram o legado do trio.

E daí? Daí que o noticiário da morte de Roberto Duailibi não contou quem foram seus sócios. Francesc Petit e José Zaragoza eram tão geniais como ele. É como se falar de Pelé e não de Coutinho ou Toninho.

Agora o terceiro sócio está morto. Roberto Dualibi foi um mestre. Mas Francesc Peti e José Zaragoza também foram. Os pais da DPZ estão mortos.

Importante: me parece que o trio DPZ exerceu a publicidade com ética, algo complicado neste meio. Você sabe do que falo. Vender, vender, vender. Ao que me parece, venderam bem, e venderam com muito humor. 

A DPZ fez escola.

É das antigas. Nada a ver com o que vemos, ouvimos e sentimos. E compramos.


sexta-feira, 18 de julho de 2025

O que e a justiça?

 

“Mataste um homem, espantou-se o primeiro cego,
Sim, o que mandava do outro lado, espetei-lhe uma tesoura na garganta.
Mataste para vingar‑nos, para vingar as mulheres tinha de ser uma mulher, disse a rapariga dos óculos escuros, e a vingança, sendo justa, é coisa humana, se a vítima não tiver um direito sobre o carrasco, então não haverá justiça.”


Em Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago.

quarta-feira, 2 de julho de 2025

Até os Faria Limers estão arrepiados com o comportamento ostrogodo do Congresso


            


            Tá no Estadão de hoje, ora pois.

“Em que pese o Executivo ter errado na condução das propostas de majoração do IOF, nada justifica o Poder Legislativo agir como arruaceiro do processo orçamentário e fiscal em desalinho ao que a sociedade dele espera.”

Crítica do executivo-chefe da Warren Investimentos, Felipe Salto, ou, se preferir, “importante voz do Mercado”.

Salto foi auxiliar de José Serra e secretário da Fazenda de São Paulo.

Seu escritório fica no Alto de Pinheiros, no Faria Lima Plaza.


sábado, 14 de junho de 2025

Requiestat in pace Michael Collins. O homem que pilotou a nave que levou e trouxe da lua Armonstrong e Aldrin agora voa para sempre


 

Nosso Congresso, como sempre, desgoverna o país. Ladrões do teu dinheiro

 Celso Rocha de Barros, na Folha SP.

Ou por que ainda se pode ler a Folha SP.


Congresso Nacional ameaça obrigar Haddad a fazer o ajuste fiscal no lombo dos pobres se o STF não autorizar que congressistas roubem dinheiro da saúde pública.

No fim de semana passado, todos tivemos a impressão de que o governo Lula e o Congresso tinham chegado a um bom acordo sobre como fazer o ajuste fiscal sem aquela confusão do IOF.

No meio da semana, tudo mudou: o Congresso avisou que não vai passar nada que seja do interesse do governo. O que aconteceu?

As propostas do governo continuaram as mesmas: ao invés de mexer tanto no IOF, taxar um pouco investimentos que não eram taxados em nada; e rever benefícios fiscais bilionários para empresas que muito raramente são obrigadas a oferecer qualquer contrapartida. Um bom dinheiro seria economizado, e o maior sacrifício viria de gente que está bem de vida, como eu, que sempre investi em LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio, que agora pagarão 5% de imposto).

O Congresso já havia topado tudo isso, mais ou menos. Só que aí pegaram a rapaziada roubando dinheiro de remédio.

Três ONGs especializadas em combate à corrupção —Associação Contas Abertas, Transparência Brasil e Transparência Internacional Brasil— avisaram o STF que congressistas brasileiros podem estar usando suas emendas parlamentares para roubar bilhões de reais em um "orçamento secreto da saúde".

No último 10 de junho, o ministro Flávio Dino enviou um pedido de esclarecimentos ao Congresso.

O Congresso interpretou a solicitação de Dino como uma ação orquestrada com o governo Lula para intimidar os parlamentares. Por isso Hugo Mota e vários partidos de direita mudaram de opinião sobre o pacote de Haddad.

Não, não é porque estão preocupados com o aumento da carga tributária: um dos motivos dos seus impostos serem altos, leitor, é o calote que a lei permite aos ricos. Se eles não pagam a parte deles na vaquinha, aumenta a parte de quem paga. O governo pode até ser obrigado a cortar grana dos pobres (acho que será), mas isso deveria ser a última opção.

Bolsonaristas como Nikolas Ferreira e Carlos Jordy correram para fazer parecer que a briga com Haddad era sobre déficit público. Desde o fracasso do último golpe, e enquanto esperam o próximo, os bolsonaristas no Congresso fazem bico como seguranças do Centrão.

A propósito, tenho sérias dúvidas se a ação de Dino foi mesmo coordenada com Lula.

Em primeiro lugar, porque as denúncias das ONGs são muito sérias, e o papel de Dino, neste caso, era mesmo pedir esclarecimentos. Afinal, a Constituição claramente estabelece que não pode ir no hospital roubar dinheiro, é errado isso, não pode, nem o Ives Gandra, que às vezes inventa uns negócios sobre Constituição, acha que pode.

Em segundo lugar, porque duvido que o governo Lula, a essa altura do campeonato, esteja querendo comprar briga com o Congresso. Se em algum momento de seu terceiro mandato o presidente teve a esperança de que conseguiria restaurar o poder da presidência sobre o orçamento, já deve ter desistido.

Teve orçamento secreto, teve bolsonarismo protegendo o Centrão, teve STF tentando manter alguma ordem, teve rico sem pagar imposto e pobre sem remédio. Foi uma semana em que o noticiário valeu por um curso de política brasileira contemporânea.


sábado, 24 de maio de 2025

Mais uma vez, agora e sempre, o cinema brasileiro deve um abraço terno e eternamente grato a Mário Peixoto

 


https://www.youtube.com/watch?v=FFaRzIHpJno

terça-feira, 13 de maio de 2025

Para onde vai e para onde deveria ir o jornalismo para não desaparecer

Uma nova missão para um tempo radicalmente novo

 Por Rodrigo Mesquita

Artigo publicadooriginalmente em 12 de maio na Folha SP e no portal articulaconfins.com


O jornalismo nasceu como um sistema de mediação. Foi, durante décadas, a principal arena pública da cidade. No Brasil, Júlio Mesquita cunhou uma frase que precisa ser resgatada: “Jamais ousei imaginar que tinha o direito ou o dever de formar a opinião pública. Tudo que fiz foi procurar sondá-la e me deixar levar tranquilo e sossegado pelas correntes que me pareciam mais acertadas.”

 

Essa ideia – a de que o jornal é ponto de encontro, não púlpito – está mais viva do que nunca. Mas o jornalismo precisa reencarnar essa missão na arquitetura digital da sociedade contemporânea.

 

É hora de investir em plataformas temáticas dinâmicas, baseadas em curadoria, escuta pública, agregação de saberes e construção de redes de confiança. O jornalismo deve parar de disputar centavos por mil impressões com o Google e o Facebook e começar a oferecer serviços informacionais estruturantes para as comunidades.

 

Isso exige novas ferramentas, novas mentalidades, novas alianças. Jornalistas devem tornar-se arquitetos de sistemas de informação comunitária, mediadores de processos de escuta e articulação — atuando dentro das redes, e não apenas sobre elas.

 

A narrativa é a mensagem

 

Vivemos uma revolução profunda. A segmentação, a interatividade, a personalização e o poder de computação levaram a uma nova era informacional, onde a narrativa – e não mais a notícia – é o elemento estruturante da percepção pública. Quem controla as narrativas controla a memória, a imaginação e, por consequência, a política.

 

Nesse mundo, a arquitetura da informação é política pública. E o jornalismo que quiser continuar existindo como força civilizatória precisa disputar essa arquitetura. Isso significa abandonar o papel de emissor e assumir o papel de organizador das redes sociais de sentido e ação.

 

O rejuvenescimento da economia analógica depende da vitalidade da economia digital. E o rejuvenescimento do jornalismo depende de reencontrar seu papel como mediador qualificado das inteligências públicas.

 

Do púlpito à praça digital

 

O jornalismo precisa ir além do entendimento técnico das tecnologias publicitárias e das plataformas. Precisa enfrentá-las, hackeá-las e superá-las. Não com códigos, mas com visão. Com estratégia. Com serviços que respondam à necessidade de articulação social em um mundo hiperconectado.

 

Não existem dois mundos – analógico e digital. Existe um só tecido social em transformação, e ele precisa de novas infraestruturas públicas de informação.

 

A imprensa só voltará a ser relevante quando voltar a ser parceira da sociedade. A narrativa é a mensagem. E a mensagem agora é: precisamos reinventar o jornalismo.

 

Rodrigo Mesquita

Jornalista, conselheiro do InovaUSP e pesquisador do ecossistema informacional. Ex-diretor do Jornal da Tarde e da Agência Estado.