sábado, 29 de outubro de 2011

Zezé di Camargo e Luciano

As duplas breganejas são, para mim, o que há de quase pior na música brasileira. Pior é o pancadão dos vileiros, com seus concursos de som mais alto naqueles carros podrões, como ouço aqui ao lado, nos cafundós onde vivo com minha nega.
O sertanojo, agora sertanejo universitário - genial jogada de marketing pra dizer que isso não é coisa de ignorantes - ofende a cultura brasileira, agride o sertanejo de Tonico e Tinoco, Tião Carreiro e Pardinho, Renato Teixeira e vários e até o oportunista do Sérgio Reis ("Se você pensa que meu coração é de papel / não vá pensando, pois não é...").
Tenho sincera piedade intelectual de quem gosta de ouvir esse tipo de música (???), mas não posso fazer nada.
O Estado poderia, sim. E deve, por obrigação constitucional, sim.
Massificar a boa cultura, levar a boa música, o bom teatro às camadas ditas menos favorecidas.
O ingresso para o show do Chico está caro? Por que o Estado não banca o Chico - e ele vale, oh, Zeus - em praça pública, como eu vi em 66, quando ele veio a Curitiba só para cantar "A banda" na Marechal Deodoro e juntou mais gente que o papa?
Sociólogos já disseram que, graças ao plano real, os pobres passaram a ter aparelho pra tocar CD, ir ao cinema, comer no Mac e tal. Com Lula, a coisa melhorou: aqui pertinho de casa o vigia de uma construção, que mora num barracão com a família, tem carro e - já vi pela porta aberta nos finais de semana - TV de plasma, computador pras crianças.
Fico feliz mesmo com e por isso.
Mas o Brasil, ao promover os menos favorecidos, esqueceu-se de dar-lhes suporte e orientação: econômica, para que aprendam a poupar; de saúde, para que se cuidem e apareçam no dentista, frequentem os postos médicos, etc.; pra não alongar demais, cultural, até negociando com as rádios e TVs para que tragam essa gente ao bom nível e não desçam a qualiade de sua programação para o nível de quem está vindo lá de baixo.
Parece óbvio, não? Mas não foi isso que aconteceu.
Não, não quero que o Luciano se foda. Ele é produto desse desnível. Milionário, nem sabe o que faz da vida. Talvez nunca tenha lido um livro inteiro (fora o roteiro de Filhos de Francisco, produto da Carolina Kotscho, filha do Ricardo idem).
Quero que o Luciano se recupere e volte a cantar ao lado do irmão Zezé. Quero que Mirosmar e Welson (é o nome deles) sejam felizes e gastem um pouco de sua fortuna com a educação dos filhos.
O que o Xororó fez com a Sandy, uma lady que ficou rica na breguice e hoje encanta a todos cantando jazz em pequenos shows em São Paulo.
Fico triste. O Brasil de Noel, Ismael, Nelson Cavaquinho, João e Aldir, Paulinho, Edu, Tom, Sérgio Ricardo, Chico e tal não merece tanta breguice.
Sorte ao Luciano, é o que digo solidariamente humano.
E sem carreira solo dos filhos de Francisco. Eu não mereço.
P.S.: Eu sei que o Guairão estava lotado de gente com grana. Tinha muito bacana lá. Mas esses não têm jeito. Que enfiem suas picapes barulhentas a diesel, suas casas com piscina em condomínio fechado, suas mulheres em salões de beleza (ou de feiúra) no Batel, seus filhos idiotas quebrando tudo nas baladas da Bispo Dom José, suas filhas fazendo sacanagem nos carrões dos namorados. Esses serão bregas forévis. Desses, tenho pena.

Nenhum comentário:

Postar um comentário