sábado, 17 de outubro de 2009

Fernandona forévis

Fernanda Montenegro completa 80 anos de vida.
Já vi em palco atrizes maravilhosas, como Natalia Thimberg, Renata Sorrah, Norma Bengel, Sonia Guedes (lembram de Rasga Coração?), Denise Stoklos e tantas outras, algumas bem mais novas. Marília Pêra ainda não (o que houve, Jorge?), mas é da mesma estirpe.
Sei do que falo porque sou orgulhoso sobrinho do monumental Sansores (tio Acyr) França, um dos melhores atores paranaenses de nossa pequena história. Fez carreira aqui, mas teria sido um dos gigantes nacionais se arriscasse carreira fora, mas aí é outra história. Eu mesmo fui ator, aos dez anos de idade, num teleteatro do Canal 6, num distante domingo à noite, com Edson D`Ávila, Luiz Hilário e outros, em que fracassei ao falar depressa demais na última fala, que era a minha, daí meu espírito crítico.
O Brasil tem atrizes e atores (vi até ensaio do Paulo Autran em Édipo, no Guairinha, eu com 13 ou 14 anos, escondido e arrepiado) estupendos - creio eu, entre os melhores do mundo.
Fernanda não precisa ser comentada e considerada a maior, a melhor de todos os tempos. Herdou Dulcina (e Odilon, alguém lembra da dupla?), Cacilda, Henriette, tantas outras. Transmitiu, ensinou, devolveu ao palco tanta gente, a Fernandinha inclusive.
Fernanda é a atriz brasileira por excelência. Trouxe todo um teatro construído empiricamente ao longo do tempo, trouxe também o teatro quase ciência, o teatro estado-da-arte (no sentido da busca da perfeição e seu alcance).
Postura, domínio do espaço cênico, voz colocada, corpo, texto incorporado e interpretado de acordo com a direção e o palco e plateia - à perfeição ou em sua eterna busca.
Fernanda é Brecht distanciado ou Stanislavksi mergulhado?
Não sei.
Fernanda é o que é.
Fernanda completa 80 anos de vida, uns 60 de palavra – esta, o sêmen do teatro.
Foi várias Fernandas, indizíveis Fernandas, mas continua sempre sendo única. Ela e o seu Fernando, grande ator e maior ainda diretor. Foi de Millôr a Beckett. Foi novela (a cena de um capítulo de novela cujo nome me me falha agora, em que ela e Paulo Autran se agridem com café, leite e tortas na cara, daria um Oscar aos dois, se fosse cinema), foi cinema (a cena de sua personagem em “Eles não usam Black-tie” escolhendo feijão, junto com Guarnieri, filme de Leon Hirshmann, é inesquecível, comovente); a mulher de Paulo Gracindo em “Tudo bem”, de Jabor; “Central do Brasil”, de Walther Salles - só pra citar três momentos) também.
Onde existe arte há Fernanda.
Muitos anos atrás, tive a honra de participar - com Sonia, amigos, Rafael e Margarita capitaneando - de um jantar (quase) ao seu lado.
Tempos depois, a recebi na redação onde trabalhava (Folha do Paraná, onde fez visita de surpresa junto com a sempre divertida Margarita), beijei-lhe o rosto e ela me devolveu um beijo sincero, bacana, sem protocolo.
Ganhei um beijo da Fernanda Montenegro!!! Alguém sabe o que é isso?
Fernanda não foi ministra da Cultura porque achou que não deveria ter sido. Acho que deveria ter aceitado, mas ele sabia o terreno em que pisaria. Até nisso foi imensa.
A recusa, o não, é atitude intelectual honesta.
Fernada é intelectualmente honesta também, qualidade rara entre os humanos.
Ela, na verdade, é da palavra, da ação em cena.
E mesmo fora do palco escreve bem para carajo (com todo o respeito).
Basta ler alguns textos seus, o da renúncia ao ministério inclusive.
Fernanda Montenegro aos 80.
Feliz aniversário.
Feliz o povo que tem sua Fernanda Montenegro.
Haja o que houver, passe o tempo que passar:
Fernanda Montenegro forévis.
Eu amo Fernanda Montenegro.