sábado, 31 de dezembro de 2011
Grande, enorme 2012 pra vocês, viu?
Tenho 41 seguidores. Prum blog é nada. Pra mim é o que basta. Amigos e desconhecidos - agora amigos - me acompanham. Alguns de favor, outros que - acho - gostam daqui. Anfã, como diziam os árabes. Orgulha-me e orgulham-me.
Busquem e consigam felicidade - pelo menos alguns momentos dela, o que ajuda - em 2012.
Com quem briguei, peço desculpas pelo sangue espanhol. Com quem não briguei, aguardem.
Mas é pra dizer: suerte e salud em 2012.
Pra todos nós.
Inté.
Que 2012 seja como este loco que não joga nada, mas nos encanta - por absolutamente humano. Vamos dar cavadinhas, sim. Se errarmos, jodase. O caminho é por aí. Vamos botar fogo em 2012 em busca da libertê, egalitê e fraternitê. E, com um pouquinho de sorte, que sobre algum pro livrê, pro filmê, pro teatrê, pro cachacê, pro abracê amigo, pro beijê na mulher amada. E, com sortê, pra chupê um chica-bom, como dizê Nelson Rodriguê. Felicitê a quem aqui me vê. Beijê em todo mundê.
Venha, 2012!
Não desisto porque sou teimoso. Apesar de todos os pesares que nos aguardam, vamos sonhar e trabalhar por um Brasil melhor, um mundo melhor. Como dizia o camarada Lamarca, ousar lutar, ousar vencer. Grande 2012 pra quem lê esta merda. Felicidade a todo mundo e a todo o mundo.
quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
domingo, 25 de dezembro de 2011
Varapaus dos campos carecas
Sérgio Augusto, no Estadão de hoje. Craque.
Sete meses atrás, emendei a vitória do Barcelona sobre o Manchester United na Liga dos Campeões com um jogo do Campeonato Brasileiro. Fui de Wembley ao Engenhão. Choque cultural é pouco. Os jogadores nem haviam entrado em campo e já estávamos perdendo; e não me refiro ao meu time, que afinal ganhou a partida, mas ao estado do gramado: careca, cheio de buracos e implantes de areia. É assim a maioria dos campos de futebol do Brasil, que ainda mais medonhos ficam se imediatamente expostos a uma comparação com o de qualquer estádio europeu de primeira e segunda linha.
Com a bola rolando, a derrota ampliou-se. Passes errados de tudo quanto é distância, chutes descalibrados, faltas a granel, jogadas bisonhas, cruzamentos patéticos para varapaus obsoletos. Que esporte é esse?, perguntei-me, perplexo. Se era futebol aquilo que eu acabara de ver na ESPN, o que estava vendo no SporTV - e outras vezes vira e continuaria vendo - precisava ser rebatizado. Pensando bem, aquela cancha estava à altura do insípido esporte que nela botinavam o Botafogo e seu adversário, justo o Santos, que há cinco décadas dividia com o alvinegro carioca o galardão de melhor time de futebol do melhor futebol do mundo.
Acabou-se o que era doce. E não foi no domingo passado não. Aquele olé catalão na arena de Yokohama foi apenas a última faena de uma corrida iniciada faz tempo. Quando? Antes da última Copa do Mundo, que apenas sacramentou a atual superioridade do futebol europeu, mais especificamente do espanhol. Bem antes, portanto, da desclassificação do Internacional pelo congolês Mazembe, no Mundial de Clubes de 2010, e da medíocre temporada da seleção brasileira sob o comando de Mano Menezes, que ainda não conseguiu extirpar todos os vícios da Era Dunga e nos assegurou um sexto lugar (sexto lugar!) no ranking da Fifa.
Estagnamos técnica, tática e filosoficamente. Como na educação, descuidamos do ensino fundamental, do estudo nas escolinhas de base, da formação de jogadores que conheçam bem os fundamentos do futebol e não cresçam semialfabetizados com a bola nos pés e na cabeça, sem uma visão coletiva do que, afinal, se chama football association. A crítica vale para toda a América do Sul. São erros acumulados que, como os problemas econômicos que em parte os determinaram, não se superam de uma hora para outra. A próxima Copa do Mundo já é daqui a dois anos. O Brasil corre o risco de ser o primeiro campeão mundial a perder as duas copas que disputou em casa. Já foi o primeiro a perder um ministro do Esporte por corrupção, durante os preparativos para hospedar um Mundial.
Se ainda vivo e à sombra das chuteiras imortais, Nelson Rodrigues teria escrito que o Santos levou do Barcelona "um banho de Paulina Bonaparte", e que os gandulas de Wembley pegaram mais na bola que os jogadores santistas. Mas não há como saber se o seu "patriotismo inatual e agressivo, digno de um granadeiro bigodudo" o deixaria enxergar o óbvio: que não mais se trata de um confronto entre a "saúde de vaca premiada" e a "velocidade burríssima" dos jogadores europeus e a "morosidade inteligentíssima" dos brasileiros, Fla-Flu retórico dos anos 60, soberbamente superado pela seleção que levantou o caneco em 1970.
No Mundial do México fizemos a maior diferença porque, além de bem preparados fisicamente, ousamos desde a primeira convocação, sem as hesitações que liquidaram nosso time na Copa da Inglaterra, e escalando os melhores até fora de suas habituais posições - Piazza de zagueiro, Rivellino na ponta esquerda, Tostão enfiando-se pelo meio da área -, e adotando o "sistema Dumas": um por todos, todos por um. Mais "association", impossível. E, como havia alguns gênios no time para aumentar a diferença, fizemos a mais fulgurante campanha de um país numa Copa do Mundo.
O que se viu no México foi a culminância de uma revolução a rigor iniciada pelo húngaro Béla Guttman, no início dos anos 50, só ultrapassada pelo "futebol total" que Rinus Michels impôs ao futebol holandês do início da década de 70. Fala-se muito no 16 de julho de 1950, quando perdemos a Jules Rimet para os uruguaios, mas não sei o que é pior, se perder para um time inferior, jogando em casa, ou levar um baile de técnica, tática, disposição e o escambau, como aconteceu com o que sobrara do dream team de Zagalo no dia 3 de julho de 1974, quando a Laranja Mecânica regida por Cruyff nos tirou o tetra em Dortmund.
"Muito tico-tico no fubá", desdenhou Zagallo sobre o alucinante toque de bola dos holandeses, antes da Copa. Tico-tico, sim. Mas o fubá era verde e amarelo.
Depois, como se sabe, Michels levou o futebol tico-tico para o Barcelona, por onde, aliás, passariam duas gerações de craques holandeses. E é por aí que podemos começar a decifrar o enigma da acachapante superioridade do futebol catalão. Ora, direis, fazendo vosso um raciocínio bem rodrigueano, que a Holanda não venceu sequer sua melhor Copa, ao passo que o Brasil, para todo sempre liberto de seu complexo de vira-lata, emplacaria mais dois Mundiais. Ambos, medíocres, diga-se.
Mas o fato é que ganhamos, somos pentacampeões, produzimos e exportamos craques em profusão, como exportávamos ouro e pedras preciosas, e substituímos o complexo de vira-lata pelo que Francisco Bosco muito apropriadamente batizou de "complexo de dálmata", tão ou mais danoso que o outro na medida em que o narcisismo de que se nutre pode nos dar a ilusão de que o futebol jogado pelo Barcelona tem o mesmo pedigree do que jogamos na Copa de 1982. Para encurtar a discussão: quem é o Serginho Chulapa do Barcelona?
Mesmo sem ter visto o Honved de Puskas, o Real Madrid de Di Stéfano, o Santos de Pelé e o Botafogo de Garrincha, Bosco afirma, intrepidamente, que nada se compara ao Barcelona. Eu, que vi todos os citados (os dois primeiros só em imagens), assino embaixo desse juízo e desta explicação: "Os times do passado jogavam o mesmo futebol dos adversários, só que melhor. Esse time do Barcelona não joga o mesmo futebol que os adversários; joga um futebol inédito". Sorte nossa que Mano Menezes também tenha percebido isso.
Sete meses atrás, emendei a vitória do Barcelona sobre o Manchester United na Liga dos Campeões com um jogo do Campeonato Brasileiro. Fui de Wembley ao Engenhão. Choque cultural é pouco. Os jogadores nem haviam entrado em campo e já estávamos perdendo; e não me refiro ao meu time, que afinal ganhou a partida, mas ao estado do gramado: careca, cheio de buracos e implantes de areia. É assim a maioria dos campos de futebol do Brasil, que ainda mais medonhos ficam se imediatamente expostos a uma comparação com o de qualquer estádio europeu de primeira e segunda linha.
Com a bola rolando, a derrota ampliou-se. Passes errados de tudo quanto é distância, chutes descalibrados, faltas a granel, jogadas bisonhas, cruzamentos patéticos para varapaus obsoletos. Que esporte é esse?, perguntei-me, perplexo. Se era futebol aquilo que eu acabara de ver na ESPN, o que estava vendo no SporTV - e outras vezes vira e continuaria vendo - precisava ser rebatizado. Pensando bem, aquela cancha estava à altura do insípido esporte que nela botinavam o Botafogo e seu adversário, justo o Santos, que há cinco décadas dividia com o alvinegro carioca o galardão de melhor time de futebol do melhor futebol do mundo.
Acabou-se o que era doce. E não foi no domingo passado não. Aquele olé catalão na arena de Yokohama foi apenas a última faena de uma corrida iniciada faz tempo. Quando? Antes da última Copa do Mundo, que apenas sacramentou a atual superioridade do futebol europeu, mais especificamente do espanhol. Bem antes, portanto, da desclassificação do Internacional pelo congolês Mazembe, no Mundial de Clubes de 2010, e da medíocre temporada da seleção brasileira sob o comando de Mano Menezes, que ainda não conseguiu extirpar todos os vícios da Era Dunga e nos assegurou um sexto lugar (sexto lugar!) no ranking da Fifa.
Estagnamos técnica, tática e filosoficamente. Como na educação, descuidamos do ensino fundamental, do estudo nas escolinhas de base, da formação de jogadores que conheçam bem os fundamentos do futebol e não cresçam semialfabetizados com a bola nos pés e na cabeça, sem uma visão coletiva do que, afinal, se chama football association. A crítica vale para toda a América do Sul. São erros acumulados que, como os problemas econômicos que em parte os determinaram, não se superam de uma hora para outra. A próxima Copa do Mundo já é daqui a dois anos. O Brasil corre o risco de ser o primeiro campeão mundial a perder as duas copas que disputou em casa. Já foi o primeiro a perder um ministro do Esporte por corrupção, durante os preparativos para hospedar um Mundial.
Se ainda vivo e à sombra das chuteiras imortais, Nelson Rodrigues teria escrito que o Santos levou do Barcelona "um banho de Paulina Bonaparte", e que os gandulas de Wembley pegaram mais na bola que os jogadores santistas. Mas não há como saber se o seu "patriotismo inatual e agressivo, digno de um granadeiro bigodudo" o deixaria enxergar o óbvio: que não mais se trata de um confronto entre a "saúde de vaca premiada" e a "velocidade burríssima" dos jogadores europeus e a "morosidade inteligentíssima" dos brasileiros, Fla-Flu retórico dos anos 60, soberbamente superado pela seleção que levantou o caneco em 1970.
No Mundial do México fizemos a maior diferença porque, além de bem preparados fisicamente, ousamos desde a primeira convocação, sem as hesitações que liquidaram nosso time na Copa da Inglaterra, e escalando os melhores até fora de suas habituais posições - Piazza de zagueiro, Rivellino na ponta esquerda, Tostão enfiando-se pelo meio da área -, e adotando o "sistema Dumas": um por todos, todos por um. Mais "association", impossível. E, como havia alguns gênios no time para aumentar a diferença, fizemos a mais fulgurante campanha de um país numa Copa do Mundo.
O que se viu no México foi a culminância de uma revolução a rigor iniciada pelo húngaro Béla Guttman, no início dos anos 50, só ultrapassada pelo "futebol total" que Rinus Michels impôs ao futebol holandês do início da década de 70. Fala-se muito no 16 de julho de 1950, quando perdemos a Jules Rimet para os uruguaios, mas não sei o que é pior, se perder para um time inferior, jogando em casa, ou levar um baile de técnica, tática, disposição e o escambau, como aconteceu com o que sobrara do dream team de Zagalo no dia 3 de julho de 1974, quando a Laranja Mecânica regida por Cruyff nos tirou o tetra em Dortmund.
"Muito tico-tico no fubá", desdenhou Zagallo sobre o alucinante toque de bola dos holandeses, antes da Copa. Tico-tico, sim. Mas o fubá era verde e amarelo.
Depois, como se sabe, Michels levou o futebol tico-tico para o Barcelona, por onde, aliás, passariam duas gerações de craques holandeses. E é por aí que podemos começar a decifrar o enigma da acachapante superioridade do futebol catalão. Ora, direis, fazendo vosso um raciocínio bem rodrigueano, que a Holanda não venceu sequer sua melhor Copa, ao passo que o Brasil, para todo sempre liberto de seu complexo de vira-lata, emplacaria mais dois Mundiais. Ambos, medíocres, diga-se.
Mas o fato é que ganhamos, somos pentacampeões, produzimos e exportamos craques em profusão, como exportávamos ouro e pedras preciosas, e substituímos o complexo de vira-lata pelo que Francisco Bosco muito apropriadamente batizou de "complexo de dálmata", tão ou mais danoso que o outro na medida em que o narcisismo de que se nutre pode nos dar a ilusão de que o futebol jogado pelo Barcelona tem o mesmo pedigree do que jogamos na Copa de 1982. Para encurtar a discussão: quem é o Serginho Chulapa do Barcelona?
Mesmo sem ter visto o Honved de Puskas, o Real Madrid de Di Stéfano, o Santos de Pelé e o Botafogo de Garrincha, Bosco afirma, intrepidamente, que nada se compara ao Barcelona. Eu, que vi todos os citados (os dois primeiros só em imagens), assino embaixo desse juízo e desta explicação: "Os times do passado jogavam o mesmo futebol dos adversários, só que melhor. Esse time do Barcelona não joga o mesmo futebol que os adversários; joga um futebol inédito". Sorte nossa que Mano Menezes também tenha percebido isso.
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