Já sabia, mas agora é público que Nirlando Beirão convive com a ELA, outra maldita, a tal Esclorese Lateral Amiotrófica, doença que começou a ser relatada sei lá quando. Nirlando vai morrer logo, ou tomara que esse logo espere a medicina e seus laboratórios encontrarem uma saída. Para que ele morra mais tarde, como nós vamos morrer, uns mais cedo, os mais queridos mais tarde.
Mas ele não merece morrer no auge de sua capacidade intelectual, aos poucos 71.
ELA é uma doença fatal, viu? Milhões de pessoas convivem com a ELA por meses, anos ou muitos anos. Alguns sortudos não morrem dela, mas morrem com ela.
O atacante Washington, parceiro do Assis no Atlético Paranaense e imortalizado no Fluminense pelo tri de antanho, morreu disso, e, pior, em instante de ataque da doença quando não havia socorro. Poderia ter escapado e vivido mais alguns meses, anos, quem sabe?
Mas não morreu de tiro, desgosto.
Nirlando está morrendo, e não será de tiro, desgosto, talvez?
Não morrerá com três tiros nas costas disparados por um surfista corneado, como espicaçava o sonho de morte de Millôr Fernandes.
Nirlando está morrendo, é isso.
Quero do coração que ele viva mais, mais.
A medicina ocidental não cura muitas doenças, e não é só o câncer.
Não cura, como queremos, a ELA.
Coisas da vida.
Repórter do Estadão em Curitiba, fui colaborador da coluna do Nirlando no Estadão, anos 80, chamada "Galeria". Conheci o chefe numa salinha no jornal em SP e com ele conversei rapidinho. Simpático, calmo, parceiro.
Mas agora: nunca mais um Nirlando Beirão, que fez história em jornais e revistas paulistas, ele mineiro de texto absolutamente elegante e incomparável.
Nirlando é diretor de redação da "Brasileiros", junto com outro incomparável, o Hélio Campos Mello, fotógrafo que escreve como poucos. E é redator-chefe da "Carta Capital", brigando com Mino Carta, veja só.
Nirlando Beirão é um craque da reportagem, da edição e um gênio do texto.
Já faz muita falta.
O jornalismo e quem preza a elegância da escrita e da convivência agradecem.
Outro Nirlando Beirão, nunca mais.
Fica mais um pouco, professor.