sexta-feira, 19 de setembro de 2014

O Macaco Aranha e o Aranha Negra

Coisas do futebol.

E da nossa sociedade

Escravocrata,

Boçal.

Boçal.

Quando o termo é mal empregado, sacanamente, você ofende.

Quando é bem empregado, você homenageia.

O negro é a ausência de cor, nos diziam no colégio, quando girávamos o disco de Newton.

O negro é a soma de todas as cores, dizia Gilberto Gil muito tempo atrás.

Viemos do macaco, ensinou o comprovou o professor Darwin.

Todos temos muito, mas muito mesmo DNA do macaco, mostra a ciência.

Assim como temos algum, um pouco menos, DNA da aranha.

Somos, assim, macaco e aranha.

Somos, com certeza, parentes do macaco aranha.

Voltemos.

Lev Yashin, o maior goleiro de todos os tempos, ficou conhecido como o Aranha Negra.

Aranha, Preto.

Aranha, o fenomenal goleiro do Santos, é preto.

O mundo saudou o goleiro russo Aranha Negra.

A torcida do Grêmio chama de macaco o grande goleiro Aranha.

Pois bem, ele é o Macaco Aranha.

É nosso irmão.

Irmão do Aranha Negra.

Yashin é o maior goleiro do mundo de todos os tempos.

Eis n


osso Aranha brasileiro, agora xingado de macaco.

É o nosso Aranha Negra.

Nosso Macaco Aranha.

Debaixo dos paus

Dois goleiros

Dois grandes homens

Fenomenais




domingo, 14 de setembro de 2014

"Sabedoria é o que faz com que você navegue sem afundar"

Por Maria Popova

Tradução de Roseli Andrade


“As coisas estão no mundo, só que eu preciso aprender” – Paulinho da Viola em “Coisas do Mundo, minha Nega”.

Vivemos em um mundo inundado de informações, mas parece que estamos com um déficit muito grande de sabedoria. Pior que isso: confundimos os dois. Acreditamos que acesso a maiores informações produz mais conhecimento, o que resulta em mais sabedoria. Mas, se muito, o contrário é verdadeiro - mais e mais informação sem o devido contexto e interpretação somente atrapalha nosso entendimento sobre o mundo ao invés de enriquecê-lo.

Essa barreira de informação facilmente acessível também criou um ambiente onde um dos piores pecados sociais parece não ser informado. Na nossa cultura é embaraçoso não ter opinião sobre as coisas, e, para parecer informado, formamos nossas chamadas opiniões de modo artificial, baseadas em fragmentos de informações e impressões superficiais ao invés de num entendimento verdadeiro.
 “Conhecimento,” escreveu Emerson, “é reconhecer que talvez não saibamos.”

Para compreender a importância disso, primeiro precisamos definir esses conceitos como uma escada de entendimento.

Na base há uma informação, que simplesmente nos mostra um fato básico sobre o mundo. Um pouco acima está o conhecimento — o entendimento sobre como pedaços independentes de informações se unem para revelar alguma verdade sobre o mundo. O conhecimento depende de um ato de correlação e interpretação. No topo encontra-se a sabedoria, que possui um componente moral – é a aplicação da informação que vale a pena ser lembrada com o conhecimento que importapara entender não apenas como funciona o mundo, mas também como deveria funcionar. E isso requer um sistema moral do que deve e o que não deve importar, bem como um ideal do mundo em seu mais alto potencial.

É por isso que o contador de histórias é ainda mais valioso nos dias atuais.

Um grande contador de histórias — seja ele escritor, editor, cineasta, escritor, jornalista — ajuda as pessoas a descobrir não só o que importa no mundo, mas também porque é importante. Um grande contador de histórias escala os degraus doconhecimento, a partir de informações, depois conhecimento e por último a sabedoria. Através de símbolos, metáforas, e associações, o contador de histórias nos ajuda a interpretar as informações, integrá-las a nosso conhecimento existente, e transmutá-las em sabedoria.

Susan Sontag disse uma vez que "a leitura estabelece padrões." Aprender histórias não só estabelece normas, mas, no seu melhor, nos faz querer viver de acordo com elas, para transcendê-las.
Uma grande história, então, não é somente o fornecimento de informações - uma grande história convida a uma expansão dacompreensão, uma auto-transcendência. Mais do que isso, ela planta a semente para a compreensão e faz com que sejaimpossível fazer qualquer coisa que não o crescimento de uma nova compreensão - do mundo, de nosso lugar nele, de nós mesmos, de algum aspecto sutil ou monumental de existência.

No mundo de hoje, no qual as informações são cada vez mais baratas e a sabedoria cada vez mais cara, é precisamente nesta lacuna em que reside o valor do contador de históras.

Penso desta forma:
A informação é uma biblioteca de livros sobre construção naval. Conhecimento é o que se aplica para a construção de um barco. Acesso à informação - aos livros - é um pré-requisito para o conhecimento, mas não uma garantia para mesmo.

Uma vez que você tenha construído seu barco, sabedoria é o que faz com que você navegue sem afundar, que o protege das tempestades que ameaçam sua vida, que permite que apenas o vento sopre em suas velas.

Sabedoria moral o ajuda a perceber a diferença entre a direção certa e na direção errada na condução do barco.

Um grande contador de histórias é o capitão gentil que conduz seu barco com enorme sabedoria e coragem sem limites; que aponta o nariz na direção de horizontes e mundos escolhidos com idealismo e integridade inabaláveis; que nos traz um pouco mais perto da resposta, a nossa resposta particular, para aquela grande questão: Por que estamos aqui?