Nunca, na história "desse país", houve alguém como Ademir da Guia. Filho do gênio Domingos, ele gênio também foi. Eis que surge alguém como ele - passadas largas, diabolicamente lento, preciso, clássico como uma sonata, mortífero feito cobra. Paulo Henrique Ganso é Ademir redivivo. Enxerga o campo como um marechal de guerra, mata a bola como um Pelé, passa como um Gerson, surge na área como Coutinho; não enche o pé: coloca; lança feito flecha, mortal. Eis um craque que a besta do Dunga não levará à Copa. Prefere Josué, Kleberson et all. Paulo Henrique lembra em tudo e por tudo o gênio Ademir da Guia. João Cabral faria a ele um poema como fez a Ademir. Ademir da Guia e Paulo Henrique Ganso forévis.
Ademir impõe com seu jogo
o ritmo do chumbo (e o peso),
da lesma, da câmara lenta,
do homem dentro do pesadelo.
Ritmo líquido se infiltrando
no adversário, grosso, de dentro,
impondo-lhe o que ele deseja,
mandando nele, apodrecendo-o.
Ritmo morno, de andar na areia,
da água doente de alagados,
entorpecendo, e então atando
o mais irriquieto adversário.
sábado, 17 de abril de 2010
Aqui é o país do futebol
Neste domingo, se prevalecer a lógica deste magnífico esporte sem lógica, o Coritiba sagrar-se-á campeão paranaense, o Santos conquistará o título paulista (eu sei que ainda é a semifinal, mas contra Santo André ou Grêmio Prudente, não tem, né?)e o Botafogo erguerá a Taça Rio e o título carioca. Entonces, dia de títulos que será, lembremo-nos da bela canção (quando havia canções) de Milton e Fernando. Bom domingo à meia dúzia que lê esta merda.
Brasil está vazio na tarde de domingo, né?
olha o sambão, aqui é o país do futebol
Brasil está vazio na tarde de domingo, né?
olha o sambão, aqui é o país do futebol
No fundo desse país
ao longo das avenidas
nos campos de terra e grama
Brasil só é futebol
nesses noventa minutos
de emoção e alegria
esqueço a casa e o trabalho
a vida fica lá fora
dinheiro fica lá fora
a cama fica lá fora
família fica lá fora
a vida fica lá fora
e tudo fica lá fora
Brasil está vazio na tarde de domingo, né?
olha o sambão, aqui é o país do futebol
Brasil está vazio na tarde de domingo, né?
olha o sambão, aqui é o país do futebol
No fundo desse país
ao longo das avenidas
nos campos de terra e grama
Brasil só é futebol
nesses noventa minutos
de emoção e de alegria
esqueço a casa e o trabalho
a vida fica lá fora
dinheiro fica lá fora
a cama fica lá fora
a família fica lá fora
a vida fica lá fora
o salário fica lá fora
e tudo fica lá fora
Brasil está vazio na tarde de domingo, né?
olha o sambão, aqui é o país do futebol
Brasil está vazio na tarde de domingo, né?
olha o sambão, aqui é o país do futebol
No fundo desse país
ao longo das avenidas
nos campos de terra e grama
Brasil só é futebol
nesses noventa minutos
de emoção e alegria
esqueço a casa e o trabalho
a vida fica lá fora
dinheiro fica lá fora
a cama fica lá fora
a mesa fica lá fora
salário fica lá fora
a fome fica lá fora
a comida fica lá fora
a vida fica lá fora
e tudo fica lá fora
Brasil está vazio na tarde de domingo, né?
olha o sambão, aqui é o país do futebol
Brasil está vazio na tarde de domingo, né?
olha o sambão, aqui é o país do futebol
No fundo desse país
ao longo das avenidas
nos campos de terra e grama
Brasil só é futebol
nesses noventa minutos
de emoção e alegria
esqueço a casa e o trabalho
a vida fica lá fora
dinheiro fica lá fora
a cama fica lá fora
família fica lá fora
a vida fica lá fora
e tudo fica lá fora
Brasil está vazio na tarde de domingo, né?
olha o sambão, aqui é o país do futebol
Brasil está vazio na tarde de domingo, né?
olha o sambão, aqui é o país do futebol
No fundo desse país
ao longo das avenidas
nos campos de terra e grama
Brasil só é futebol
nesses noventa minutos
de emoção e de alegria
esqueço a casa e o trabalho
a vida fica lá fora
dinheiro fica lá fora
a cama fica lá fora
a família fica lá fora
a vida fica lá fora
o salário fica lá fora
e tudo fica lá fora
Brasil está vazio na tarde de domingo, né?
olha o sambão, aqui é o país do futebol
Brasil está vazio na tarde de domingo, né?
olha o sambão, aqui é o país do futebol
No fundo desse país
ao longo das avenidas
nos campos de terra e grama
Brasil só é futebol
nesses noventa minutos
de emoção e alegria
esqueço a casa e o trabalho
a vida fica lá fora
dinheiro fica lá fora
a cama fica lá fora
a mesa fica lá fora
salário fica lá fora
a fome fica lá fora
a comida fica lá fora
a vida fica lá fora
e tudo fica lá fora
Quebra tudo, Santos
Apesar da baixaria... Eis o que a torcida jovem do Santos vai cantar neste domingo. Existe time mais bacana que o Santos hoje? Existiu time mais bacana que o Santos? Tipo Gilmar, Lima, Dalmo, Mauro e Calvet; Zito, Megálvio e Ele; Dorval, Coutinho e Pepe.
Tipo Gilmar; Carlos Alberto, Ramos Delgado, Joel e Rildo; Zito, Mengálvio e Ele; Dorval, Coutinho e Pepe.
Sem falar no time dos anos 80, que tinha (só pra citar) no ataque Nilton Batata, Juari e João Paulo, com Pita e Ailton Lira vindo de trás?
E hoje? Felipe; Pará, Edu Dracena, Durval e Léo; Arouca, Marquinhos, Wesley e Paulo Henrique Ganso; Neymar e Robinho. E o Brasil todo torcendo por eles.
Mas lá vai o canto de guerra dos malacos santistas:
Domingo eu vou na Vila Belmiro.
Vou ver o time que admiro.
Eu vou levar maconha e poeira,
naum vai ser de brincadeira,
ele vai ser Campeão.
Não vou cheirar na cadeira numerada,
eu vou de arquibancada
pra sentir mais emoção.
Por que meu time bota pra fuder,
e o nome dele são vocês que vão dizer.
Ooooooooooooooooo...
Oh, Oh, Oh, Oh, Oh, Oh, Oh... SANTOS
Tipo Gilmar; Carlos Alberto, Ramos Delgado, Joel e Rildo; Zito, Mengálvio e Ele; Dorval, Coutinho e Pepe.
Sem falar no time dos anos 80, que tinha (só pra citar) no ataque Nilton Batata, Juari e João Paulo, com Pita e Ailton Lira vindo de trás?
E hoje? Felipe; Pará, Edu Dracena, Durval e Léo; Arouca, Marquinhos, Wesley e Paulo Henrique Ganso; Neymar e Robinho. E o Brasil todo torcendo por eles.
Mas lá vai o canto de guerra dos malacos santistas:
Domingo eu vou na Vila Belmiro.
Vou ver o time que admiro.
Eu vou levar maconha e poeira,
naum vai ser de brincadeira,
ele vai ser Campeão.
Não vou cheirar na cadeira numerada,
eu vou de arquibancada
pra sentir mais emoção.
Por que meu time bota pra fuder,
e o nome dele são vocês que vão dizer.
Ooooooooooooooooo...
Oh, Oh, Oh, Oh, Oh, Oh, Oh... SANTOS
Dinossauros forévis
Retirado do www.granma.cu
Banderas y vítores colmaron el lugar. A 49 años de aquel 16 de abril, el pueblo de Cuba recordó este viernes, en la capitalina esquina de 23 y 12, el día en que Fidel declaró el carácter socialista de la Revolución.
"Un día antes las garras del imperio derramaron su soberbia inescrupulosa sobre los aeropuertos cubanos en el intento de desmantelar los pocos aviones con que contaba la Revolución. La agresión militar era inminente, pero no había lugar para el enemigo", destacó Lázara Mercedes López Acea, primera secretaria del Partido en Ciudad de La Habana.
La suerte de la Revolución estaba echada, señaló, y si aún quedaba alguna duda, aquel 16 de abril en el acto de homenaje a las víctimas de los bombardeos, nuestro Comandante en Jefe declaraba el carácter socialista de la Revolución. "Honramos hoy a los que dignamente defendieron nuestra independencia y nuestra dignidad", dijo.
En aquellos días de abril también se celebraría la primera gran derrota del imperialismo en América. Hoy, indicó López Acea, un Girón nuevo se impone. Este "es de ideas, de convicciones, de destruir patrañas, de desenmascarar mentiras, de demostrar la firmeza de todo el pueblo".
Ahora, con mucho más poder, el imperialismo yanki fabrica nuevos mercenarios. "Los grandes medios de comunicación a su servicio expanden mentiras sobre Cuba tratando de socavar el prestigio que ha ganado la Revolución con su humanismo, su actuación solidaria y su estricto apego a los principios", resaltó.
Estuvieron presentes en el encuentro —que celebró también el Día del Miliciano—, Misael Enamorado, miembro del Buró Político; Olga Lidia Tapia y Víctor Gaute, miembros del secretariado del Comité Central del Partido; la general de brigada Delsa Esther Puebla (Teté); Juan José Rabilero, coordinador nacional de los CDR y Juan Contino, presidente de la Asamblea Provincial del Poder Popular en Ciudad de La Habana, entre otros.
Banderas y vítores colmaron el lugar. A 49 años de aquel 16 de abril, el pueblo de Cuba recordó este viernes, en la capitalina esquina de 23 y 12, el día en que Fidel declaró el carácter socialista de la Revolución.
"Un día antes las garras del imperio derramaron su soberbia inescrupulosa sobre los aeropuertos cubanos en el intento de desmantelar los pocos aviones con que contaba la Revolución. La agresión militar era inminente, pero no había lugar para el enemigo", destacó Lázara Mercedes López Acea, primera secretaria del Partido en Ciudad de La Habana.
La suerte de la Revolución estaba echada, señaló, y si aún quedaba alguna duda, aquel 16 de abril en el acto de homenaje a las víctimas de los bombardeos, nuestro Comandante en Jefe declaraba el carácter socialista de la Revolución. "Honramos hoy a los que dignamente defendieron nuestra independencia y nuestra dignidad", dijo.
En aquellos días de abril también se celebraría la primera gran derrota del imperialismo en América. Hoy, indicó López Acea, un Girón nuevo se impone. Este "es de ideas, de convicciones, de destruir patrañas, de desenmascarar mentiras, de demostrar la firmeza de todo el pueblo".
Ahora, con mucho más poder, el imperialismo yanki fabrica nuevos mercenarios. "Los grandes medios de comunicación a su servicio expanden mentiras sobre Cuba tratando de socavar el prestigio que ha ganado la Revolución con su humanismo, su actuación solidaria y su estricto apego a los principios", resaltó.
Estuvieron presentes en el encuentro —que celebró también el Día del Miliciano—, Misael Enamorado, miembro del Buró Político; Olga Lidia Tapia y Víctor Gaute, miembros del secretariado del Comité Central del Partido; la general de brigada Delsa Esther Puebla (Teté); Juan José Rabilero, coordinador nacional de los CDR y Juan Contino, presidente de la Asamblea Provincial del Poder Popular en Ciudad de La Habana, entre otros.
José Régio forévis
"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!
Microcosmo
Não, Daisy, não vou com você. Posso até atirar, mas sem pacto nem nada. Fico aqui mesmo, vivinho da silva.
Leitura necessária
Sérgio Besserman presidiu o IBGE, é irmão do falecido Bussunda (só pra constar) e intelectual atento à questão urbana. A entrevista a seguir, retirada de Veja desta semana, é oportuna e muito importante para quem vê o Estado banana, leniente, preguiçoso. Sua análise vale para as favelas curitibanas, onde o Estado coloca alguns benefícios, mas não ataca o problema. Não podemos conviver com um Estadinho dentro do Estado. É a oficialização da desigualdade. A leitura é instigante.
Poucos especialistas falam com tanta autoridade sobre a favelização nas metrópoles brasileiras quanto o economista carioca Sérgio Besserman, 52 anos. As últimas estatísticas disponíveis sobre as favelas no país foram produzidas sob sua gestão (1999-2002) como presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Suas opiniões sobre o assunto dão aquele banho de racionalidade que costuma desconcertar o senso comum. Besserman sustenta que retirar os barracos dos morros no Rio de Janeiro é uma solução que, se implementada, vai trazer ganhos econômicos e sociais para toda a população. Diz ele: "A questão precisa ser discutida com rigor lógico, a salvo das influências de ideologias e do romantismo".
A prefeitura e o governo do estado do Rio de Janeiro começaram, na semana passada, a retirar barracos de áreas de risco. Por que nenhum governante fez isso a tempo de evitar tragédias?
Por um misto de incompetência e demagogia. No Rio de Janeiro, a remoção de favelas passou a ser um grande tabu, sustentado por um assistencialismo barato segundo o qual o estado deve prover tudo aos pobres dos morros - ainda que sua permanência ali possa pôr a própria vida em risco e acarretar prejuízos à cidade como um todo. A ideia absurda embutida nesse raciocínio é a de que quem vive em favela é um cidadão especial, que não precisa se submeter nem à Constituição e não tem os mesmos deveres dos outros brasileiros. Sob essa ótica obtusa, remover favelas é visto como uma afronta aos direitos dos mais necessitados. Essa bobagem demagógica tem suas raízes no populismo que há décadas contamina a política fluminense. O inchaço das favelas do Rio é resultado da combinação desses fatores.
Como o populismo contribuiu para a proliferação das favelas?
Historicamente, ele foi a mola propulsora das favelas fluminenses, tendo como seu principal expoente o governador Leonel Brizola, na década de 80, quando se chegou ao auge de proibir a entrada de policiais nas favelas. O resultado foi um surto de ocupações irregulares. Sem polícia, foi dado o sinal verde para o banditismo. Sob o pretexto absurdo de que havia uma dívida social a ser quitada, foram concedidos aos moradores das favelas direitos inacessíveis aos demais brasileiros pobres ou ricos. Enquanto isso, os populistas iam esparramando nos morros seus currais eleitorais, ganhando votos em troca de tijolos, cimento, dentaduras e bicas-d’água. Isso explica a perpetuação dessa classe de políticos em uma sociedade que se pretende moderna. Eles e as favelas estão aí como símbolos do atraso. Quando alguém fala em remoção de barracos, são justamente eles os primeiros a levantar a voz contra. Claro, não querem perder seus currais eleitorais.
A quem mais interessam a perpetuação e o crescimento das favelas no Rio?
Os políticos são apenas os tentáculos mais visíveis de uma enorme rede de ilegalidades que sustenta milhares de pessoas. Prospera no Rio de Janeiro uma indústria da favelização. No braço imobiliário há, de um lado, os grileiros, que invadem terrenos para vender depois, e, do outro, pessoas de fora das favelas que constroem barracos e os alugam. Os bandidos dominam a vida nas favelas. Eles controlam o comércio de botijões de gás e vendem acessos clandestinos às redes de TV a cabo. Os bandidos cobram até uma taxa a título de oferecer proteção aos moradores. É grande, portanto, o grupo dos que lucram com a existência das favelas. Infelizmente, aos poucos a sociedade foi deixando de se espantar com essa aberração urbana, a despeito das atrocidades cometidas a toda hora em plena luz do dia por um estado paralelo.
Por que a aberração foi assimilada?
Isso se deve, em boa medida, a uma visão romântica e evidentemente deturpada sobre as favelas, que começou a ser propagada por parte da esquerda ainda nos anos 70. Essa corrente passou a difundir a ideia de que a convivência entre a cidade formal e o mundo da ilegalidade não apenas era aceitável como deveria ser pacífica. Acabou resultando numa glamourização da bandidagem. Nessa ótica distorcida, criminosos são tratados como líderes populares e toda e qualquer favela ganha apelido de comunidade, ainda que as pessoas vivam ali sob o jugo dos bandidos e à margem da lei. Isso tudo fez do Rio de Janeiro um péssimo exemplo de tolerância e benevolência com o mundo do crime no Brasil. Também não ajudou a combater o surgimento das favelas. Ao contrário: do ponto de vista cultural, só lhes deu legitimidade.
Como reverter a situação em um cenário em que a população das favelas cresce até quatro vezes mais rapidamente do que a da cidade como um todo?
É preciso fazer primeiro o básico do básico: o estado deve recuperar o monopólio da força nos territórios hoje dominados pelos bandidos. As favelas são lugares em que milhões de pessoas vivem sob outras leis que não a do estado de direito democrático. Na prática, elas não estão sob a órbita da Constituição brasileira. Essa ausência de poder público é um padrão que se dissemina também por outras regiões metropolitanas do Brasil, como São Paulo e Brasília - mas em nenhum outro lugar do país o estado deixou tamanho vácuo. Não é viável almejar uma democracia digna e condizente com os avanços do século XXI sem equacionar essa grande anomalia. O estado moderno surgiu, afinal, para garantir a segurança e a paz social. É justamente o oposto da brutalidade que grassa nas favelas do Rio.
O senhor considera a experiência das Unidades de Polícia Pacificadora nas favelas cariocas (em que os traficantes são expulsos e a polícia passa a ocupar permanentemente os morros) uma maneira eficaz de o estado retomar o controle dos territórios em questão?
Diria que o princípio não apenas é acertado como, daqui para a frente, o estado não tem mais o direito de retroceder dessa iniciativa. Finalmente, as autoridades entraram em algumas favelas e retomaram o poder, primeiro passo de um processo civilizatório que precisa continuar.
Por que a remoção de barracos é uma solução?
Em contradição com a opinião dominante, acho que há muitos casos em que a remoção se justifica. Antes de tudo, é preciso começar a tratar essa questão com a objetividade que ela requer, longe da sombra da ideologia e dos interesses escusos. Não há como discordar da ideia de que alguém que tenha seu barraco fincado sobre os restos de um antigo lixão, como é o caso de dezoito favelas no Rio, deve ser retirado imediatamente de lá. O mesmo vale para quem tem a casa espetada à beira de um precipício, em flagrante situação de risco. Até aí, prevalece um relativo consenso. No entanto é preciso ir além, encarando uma questão de fundo econômico que é central mas foi posta de lado no debate: as áreas favelizadas provocam uma acentuada degradação da paisagem da cidade, um ativo cujo valor é incalculável. Portanto, quando uma análise de custo-benefício revelar que a realocação de uma favela trará retorno financeiro e social elevado, por que razões não cogitar sua remoção?
Como exatamente a economia da cidade se beneficia de uma remoção?
A Lagoa Rodrigo de Freitas, cartão-postal da Zona Sul carioca, é um caso emblemático dos aspectos positivos que podem se seguir a uma remoção. Quando uma favela foi retirada dali, em 1970, os imóveis da região, cujos valores vinham sendo depreciados, inverteram a curva e passaram a se valorizar, aumentando a riqueza do bairro e da cidade, em benefício de todos. A riqueza é destruída no mesmo ritmo em que a favelização se alastra. Os mais pobres também perdem quando a riqueza deixa de ser criada ou é destruída. Os mais pobres são sempre os mais vulneráveis economicamente. Não tenho dúvida de que a política de remoção de favelas, que muitos ideólogos por aí definem como elitista, pode ser inclusiva, proporcionando mais benefícios do que prejuízos à maioria. O discurso da não remoção é um discurso antipobre.
Por que o estado chegou tão perto de remover certas favelas do Rio, mas acabou voltando atrás?
Além de toda aquela gente que se beneficia da indústria da favelização e faz pressão contra, a ação de pessoas bem-intencionadas também atrapalhou. Veja o que aconteceu no Morro Dona Marta, em Botafogo, outro endereço valorizado da Zona Sul. Na década de 60, quando ali havia uns poucos barracos, o governo anunciou que faria a remoção. Mas setores ligados à Igreja, sob a liderança do então bispo auxiliar do Rio, Dom Helder Câmara, se insurgiram. O resultado foi previsível. A resistência incentivou a vinda de mais e mais moradores, e o Rio perdeu mais uma vez.
O que fazer no caso daqueles morros que já atingiram dezenas de milhares de habitantes, como a Rocinha?
Feitas as contas, existe um consenso de que é muito mais simples e barato urbanizar essas favelas do que removê-las. A ideia central não é apenas prover os serviços nos moldes do velho assistencialismo, mas cobrar por eles, o que é natural com a inclusão dessas pessoas na economia formal da cidade. É preciso ter em mente que 1,3 milhão de habitantes do Rio pertencem ao mundo informal dos morros - o que representa um de cada cinco moradores. A entrada desse contingente na economia formal teria efeito muito positivo para a cidade. Isso depende da implantação de uma política habitacional séria, área em que os governos brasileiros em todos os níveis são tradicionalmente omissos.
Há algum sinal de melhora nesse cenário?
Do ponto de vista das políticas públicas, não houve nenhuma novidade relevante nos últimos anos. Mas é preciso reconhecer que o atual ambiente macroeconômico aumenta as chances de avanço. A começar pelo fato de que não existe mais aquele cenário de inflação galopante, que inviabilizava o acesso ao crédito imobiliário para todos os estratos de renda. Habitação é o tipo de demanda que não pode ficar insatisfeita: se o governo não tem uma boa política, as pessoas dão o seu jeito, como tem ocorrido nas favelas brasileiras desde a década de 50. Instalar-se nelas pode até ter sido uma solução boa individualmente para quem não tinha um teto sob o qual morar - mas para as grandes cidades em todo o país significou um verdadeiro desastre.
Como mensurar isso?
A experiência internacional mostra - e o caso brasileiro confirma - que a presença maciça de favelas afeta o ambiente de negócios e faz reduzir as chances de uma cidade competir globalmente. Está comprovado que um cartão-postal degradado e grandes áreas tomadas pela informalidade e pela violência são fatores decisivos para prejudicar a dinâmica econômica e afugentar investidores. Olhe o que está acontecendo no México, onde os cartéis da droga passaram a controlar grandes territórios e se tornaram um dos principais obstáculos ao aumento da competitividade do país. O Brasil ainda não chegou a esse ponto, mas caminhará para isso se não der fim ao controle territorial exercido por bandidos nas regiões metropolitanas.
Há perspectivas de que as favelas deixem de existir a longo prazo?
Para mim, a melhor de todas as definições de favela é a que a descreve como um território à margem das leis que regem o restante da cidade. Elas começarão a deixar de ser favelas quando o estado se livrar de seus vícios populistas paralisantes e derrotar a bandidagem que exerce poder efetivo sobre o cotidiano de milhões de brasileiros.
Poucos especialistas falam com tanta autoridade sobre a favelização nas metrópoles brasileiras quanto o economista carioca Sérgio Besserman, 52 anos. As últimas estatísticas disponíveis sobre as favelas no país foram produzidas sob sua gestão (1999-2002) como presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Suas opiniões sobre o assunto dão aquele banho de racionalidade que costuma desconcertar o senso comum. Besserman sustenta que retirar os barracos dos morros no Rio de Janeiro é uma solução que, se implementada, vai trazer ganhos econômicos e sociais para toda a população. Diz ele: "A questão precisa ser discutida com rigor lógico, a salvo das influências de ideologias e do romantismo".
A prefeitura e o governo do estado do Rio de Janeiro começaram, na semana passada, a retirar barracos de áreas de risco. Por que nenhum governante fez isso a tempo de evitar tragédias?
Por um misto de incompetência e demagogia. No Rio de Janeiro, a remoção de favelas passou a ser um grande tabu, sustentado por um assistencialismo barato segundo o qual o estado deve prover tudo aos pobres dos morros - ainda que sua permanência ali possa pôr a própria vida em risco e acarretar prejuízos à cidade como um todo. A ideia absurda embutida nesse raciocínio é a de que quem vive em favela é um cidadão especial, que não precisa se submeter nem à Constituição e não tem os mesmos deveres dos outros brasileiros. Sob essa ótica obtusa, remover favelas é visto como uma afronta aos direitos dos mais necessitados. Essa bobagem demagógica tem suas raízes no populismo que há décadas contamina a política fluminense. O inchaço das favelas do Rio é resultado da combinação desses fatores.
Como o populismo contribuiu para a proliferação das favelas?
Historicamente, ele foi a mola propulsora das favelas fluminenses, tendo como seu principal expoente o governador Leonel Brizola, na década de 80, quando se chegou ao auge de proibir a entrada de policiais nas favelas. O resultado foi um surto de ocupações irregulares. Sem polícia, foi dado o sinal verde para o banditismo. Sob o pretexto absurdo de que havia uma dívida social a ser quitada, foram concedidos aos moradores das favelas direitos inacessíveis aos demais brasileiros pobres ou ricos. Enquanto isso, os populistas iam esparramando nos morros seus currais eleitorais, ganhando votos em troca de tijolos, cimento, dentaduras e bicas-d’água. Isso explica a perpetuação dessa classe de políticos em uma sociedade que se pretende moderna. Eles e as favelas estão aí como símbolos do atraso. Quando alguém fala em remoção de barracos, são justamente eles os primeiros a levantar a voz contra. Claro, não querem perder seus currais eleitorais.
A quem mais interessam a perpetuação e o crescimento das favelas no Rio?
Os políticos são apenas os tentáculos mais visíveis de uma enorme rede de ilegalidades que sustenta milhares de pessoas. Prospera no Rio de Janeiro uma indústria da favelização. No braço imobiliário há, de um lado, os grileiros, que invadem terrenos para vender depois, e, do outro, pessoas de fora das favelas que constroem barracos e os alugam. Os bandidos dominam a vida nas favelas. Eles controlam o comércio de botijões de gás e vendem acessos clandestinos às redes de TV a cabo. Os bandidos cobram até uma taxa a título de oferecer proteção aos moradores. É grande, portanto, o grupo dos que lucram com a existência das favelas. Infelizmente, aos poucos a sociedade foi deixando de se espantar com essa aberração urbana, a despeito das atrocidades cometidas a toda hora em plena luz do dia por um estado paralelo.
Por que a aberração foi assimilada?
Isso se deve, em boa medida, a uma visão romântica e evidentemente deturpada sobre as favelas, que começou a ser propagada por parte da esquerda ainda nos anos 70. Essa corrente passou a difundir a ideia de que a convivência entre a cidade formal e o mundo da ilegalidade não apenas era aceitável como deveria ser pacífica. Acabou resultando numa glamourização da bandidagem. Nessa ótica distorcida, criminosos são tratados como líderes populares e toda e qualquer favela ganha apelido de comunidade, ainda que as pessoas vivam ali sob o jugo dos bandidos e à margem da lei. Isso tudo fez do Rio de Janeiro um péssimo exemplo de tolerância e benevolência com o mundo do crime no Brasil. Também não ajudou a combater o surgimento das favelas. Ao contrário: do ponto de vista cultural, só lhes deu legitimidade.
Como reverter a situação em um cenário em que a população das favelas cresce até quatro vezes mais rapidamente do que a da cidade como um todo?
É preciso fazer primeiro o básico do básico: o estado deve recuperar o monopólio da força nos territórios hoje dominados pelos bandidos. As favelas são lugares em que milhões de pessoas vivem sob outras leis que não a do estado de direito democrático. Na prática, elas não estão sob a órbita da Constituição brasileira. Essa ausência de poder público é um padrão que se dissemina também por outras regiões metropolitanas do Brasil, como São Paulo e Brasília - mas em nenhum outro lugar do país o estado deixou tamanho vácuo. Não é viável almejar uma democracia digna e condizente com os avanços do século XXI sem equacionar essa grande anomalia. O estado moderno surgiu, afinal, para garantir a segurança e a paz social. É justamente o oposto da brutalidade que grassa nas favelas do Rio.
O senhor considera a experiência das Unidades de Polícia Pacificadora nas favelas cariocas (em que os traficantes são expulsos e a polícia passa a ocupar permanentemente os morros) uma maneira eficaz de o estado retomar o controle dos territórios em questão?
Diria que o princípio não apenas é acertado como, daqui para a frente, o estado não tem mais o direito de retroceder dessa iniciativa. Finalmente, as autoridades entraram em algumas favelas e retomaram o poder, primeiro passo de um processo civilizatório que precisa continuar.
Por que a remoção de barracos é uma solução?
Em contradição com a opinião dominante, acho que há muitos casos em que a remoção se justifica. Antes de tudo, é preciso começar a tratar essa questão com a objetividade que ela requer, longe da sombra da ideologia e dos interesses escusos. Não há como discordar da ideia de que alguém que tenha seu barraco fincado sobre os restos de um antigo lixão, como é o caso de dezoito favelas no Rio, deve ser retirado imediatamente de lá. O mesmo vale para quem tem a casa espetada à beira de um precipício, em flagrante situação de risco. Até aí, prevalece um relativo consenso. No entanto é preciso ir além, encarando uma questão de fundo econômico que é central mas foi posta de lado no debate: as áreas favelizadas provocam uma acentuada degradação da paisagem da cidade, um ativo cujo valor é incalculável. Portanto, quando uma análise de custo-benefício revelar que a realocação de uma favela trará retorno financeiro e social elevado, por que razões não cogitar sua remoção?
Como exatamente a economia da cidade se beneficia de uma remoção?
A Lagoa Rodrigo de Freitas, cartão-postal da Zona Sul carioca, é um caso emblemático dos aspectos positivos que podem se seguir a uma remoção. Quando uma favela foi retirada dali, em 1970, os imóveis da região, cujos valores vinham sendo depreciados, inverteram a curva e passaram a se valorizar, aumentando a riqueza do bairro e da cidade, em benefício de todos. A riqueza é destruída no mesmo ritmo em que a favelização se alastra. Os mais pobres também perdem quando a riqueza deixa de ser criada ou é destruída. Os mais pobres são sempre os mais vulneráveis economicamente. Não tenho dúvida de que a política de remoção de favelas, que muitos ideólogos por aí definem como elitista, pode ser inclusiva, proporcionando mais benefícios do que prejuízos à maioria. O discurso da não remoção é um discurso antipobre.
Por que o estado chegou tão perto de remover certas favelas do Rio, mas acabou voltando atrás?
Além de toda aquela gente que se beneficia da indústria da favelização e faz pressão contra, a ação de pessoas bem-intencionadas também atrapalhou. Veja o que aconteceu no Morro Dona Marta, em Botafogo, outro endereço valorizado da Zona Sul. Na década de 60, quando ali havia uns poucos barracos, o governo anunciou que faria a remoção. Mas setores ligados à Igreja, sob a liderança do então bispo auxiliar do Rio, Dom Helder Câmara, se insurgiram. O resultado foi previsível. A resistência incentivou a vinda de mais e mais moradores, e o Rio perdeu mais uma vez.
O que fazer no caso daqueles morros que já atingiram dezenas de milhares de habitantes, como a Rocinha?
Feitas as contas, existe um consenso de que é muito mais simples e barato urbanizar essas favelas do que removê-las. A ideia central não é apenas prover os serviços nos moldes do velho assistencialismo, mas cobrar por eles, o que é natural com a inclusão dessas pessoas na economia formal da cidade. É preciso ter em mente que 1,3 milhão de habitantes do Rio pertencem ao mundo informal dos morros - o que representa um de cada cinco moradores. A entrada desse contingente na economia formal teria efeito muito positivo para a cidade. Isso depende da implantação de uma política habitacional séria, área em que os governos brasileiros em todos os níveis são tradicionalmente omissos.
Há algum sinal de melhora nesse cenário?
Do ponto de vista das políticas públicas, não houve nenhuma novidade relevante nos últimos anos. Mas é preciso reconhecer que o atual ambiente macroeconômico aumenta as chances de avanço. A começar pelo fato de que não existe mais aquele cenário de inflação galopante, que inviabilizava o acesso ao crédito imobiliário para todos os estratos de renda. Habitação é o tipo de demanda que não pode ficar insatisfeita: se o governo não tem uma boa política, as pessoas dão o seu jeito, como tem ocorrido nas favelas brasileiras desde a década de 50. Instalar-se nelas pode até ter sido uma solução boa individualmente para quem não tinha um teto sob o qual morar - mas para as grandes cidades em todo o país significou um verdadeiro desastre.
Como mensurar isso?
A experiência internacional mostra - e o caso brasileiro confirma - que a presença maciça de favelas afeta o ambiente de negócios e faz reduzir as chances de uma cidade competir globalmente. Está comprovado que um cartão-postal degradado e grandes áreas tomadas pela informalidade e pela violência são fatores decisivos para prejudicar a dinâmica econômica e afugentar investidores. Olhe o que está acontecendo no México, onde os cartéis da droga passaram a controlar grandes territórios e se tornaram um dos principais obstáculos ao aumento da competitividade do país. O Brasil ainda não chegou a esse ponto, mas caminhará para isso se não der fim ao controle territorial exercido por bandidos nas regiões metropolitanas.
Há perspectivas de que as favelas deixem de existir a longo prazo?
Para mim, a melhor de todas as definições de favela é a que a descreve como um território à margem das leis que regem o restante da cidade. Elas começarão a deixar de ser favelas quando o estado se livrar de seus vícios populistas paralisantes e derrotar a bandidagem que exerce poder efetivo sobre o cotidiano de milhões de brasileiros.
quarta-feira, 14 de abril de 2010
EUA: cisco no olho alheio
Por Deisy Francis Mexidor. Retirado do portal Socialismo e Liberdade.
Havana (PL) - Os Estados Unidos continuam sendo o primeiro país consumidor e produtor de drogas no mundo, enquanto seu governo se dedica a condenar os outros.
Isso é um segredo a boca pequena que a Junta Internacional de Fiscalização de Estupefacientes (JIFE) corroborou num informe publicado no último 24 de fevereiro.
De acordo com o informe, essa nação leva a dianteira no consumo de cocaína e é o principal produtor de maconha, incluindo variedades transgênicas do alucinógeno.
A JIFE, instância subsidiária da ONU que monitora o comportamento da denominada luta antidroga internacionalmente, sinalizou que a obtenção desse narcótico alcança ali umas 10 mil toneladas anuais.
Tal cifra oferece dividendos maiores que produtos alimentícios como o trigo, o feno, os vegetais e outras rubricas.
Mas resulta mais impactante ainda o dado de que em 2008 se detectaram ao redor de 5,3 milhões de consumidores de cocaína e seus derivados entre todos os indivíduos de 12 ou mais anos de idade, ou quase 2,1% da população estadunidense.
Além disso, só nesse alcalóide, os norte-americanos são depositários de um terço da produção mundial, publicou um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Os números demonstram que o lamentável vínculo com as drogas se extende pelo território nacional e mais de 72 milhões de habitantes admitem haver provado estupefacientes alguma vez.
Do mesmo modo, o fizeram 41% dos jovens em distintos níveis de ensino, enquanto 62% dos estudantes secundaristas estudam em centros onde se trafica com narcóticos, assegura a OMS.
O suculento e mortal negócio deixa excelentes lucros: mais de 100 bilhões de dólares anuais se movem numa sociedade onde o consumo se anota como base do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).
Entretanto, as autoridades confiscam apenas 1% de todo o torturante negócio.
As granjas da droga
O jornal colombiano El Tiempo publicou há um ano que o estado da Califórnia é território praticamente livre para cultivar, vender e fumar maconha.
Os condados de Mendocino, Chino, Trinity e Humboldt vivem desta planta e o mais interesante é que várias normas facilitam sua prosperidade.
Uma delas autoriza o emprego médico do produto, pretexto sob o qual crescem e circulam milhares de quilos do estupefaciente anualmente.
O sítio digital Só opiniões descreve num artigo do dia 4 de março passado que não muito longe das cascatas de Yosemite e justamente no meio do Parque Nacional Redwood, no denominado Estado Dorado, os carteis da droga se apropriam de terras para plantar maconha com a ajuda de imigrantes ilegais.
Neste negócio, a cada ano, as autoridades estaduais e federais encontram ao redor de um milhão de plantas a mais do que em igual período prévio, enquanto se estima que até 90% das estâncias dedicadas a este negócio se relacionam com grupos de narcotraficantes mexicanos.
Segundo analistas, cultivar a erva do lado norte-americano evita aos tratantes de droga os riscos de introduzir o alucinógeno pela fronteira comum e, por suposto, lhes permite ter essas colheitas mais próximas do principal mercado a que estão dirigidas.
Outros sítios onde crescem as colheitas são o Parque Nacional Sequoya e as Montanhas da Serra Nevada.
Inclusive o legislador Tom Ammiano chegou a impulsionar um projeto para fixar à maconha 50 dólares de imposto por onça, o que equivale a legalizá-la e, de passagem, obter ao ano milhões de dólares dos contribuintes que a consomem por qualquer razão.
Uma reportagem do diário The New Yorker de julho de 2008 revelou que só na Califórnia crescem 20 milhões de plantas de cannabis e que sua manufatura se multiplicou por 10 entre 1981 e 2006.
É hoje "o produto agrícola de venda ao varejo mais importante" do país, acima até mesmo da mandioca, sublinha o jornal da Colômbia.
Em 29 de março, a secretária de Estado norte-americana Hillary Clinton, em declarações à CTV, do Canadá, reconheceu que em termos de narcotráfico "muitos dos problemas do México se devem a nós. Somos um mercado de drogas, temos a demanda".
A Clinton, assistiu uma reunião de dois dias de ministros de Assuntos Exteriores do G8 e em sua intervenção pública assinalou que "pela primeira vez, os Estados Unidos estão dizendo que somos parte do problema, assim que temos que ser parte da solução".
Em 5 de março, durante um périplo por países da América Latina, a chefa da diplomacia estadunidense também admitiu num encontro com jornalistas na Guatemala que seu país é o maior consumidor de drogas da região.
Segundo resenharam os repórteres noticiosos, a funcionária do governo de Barack Obama ficou muda quando lhe preguntaram acerca do que faz seu país para reduzir a demanda de estupefacientes.
A única coisa que repetiu feito um disco arranhado: "Os Estados Unidos são parte do problema do narcotráfico na América Latina e devem reduzir a demanda de drogas", nada mais.
De maneira que resultam ilógicos e incongruentes os continuos informes de Washington em que se levantam acusações sobre o tema da droga contra outros países.
A Casa Branca joga o cisco no olho alheio e justifica assim a proliferação de bases militares do Pentágono na América Latina, para uma suposta luta antidrogas.
Sem embargo, o principal problema o têm em casa. De fato, pilotos do Departamento Antidrogas (DEA), citados por uma cadeia de televisão, expressaram que "ninguém produz maconha tão boa como a que se cultiva aqui" (nos Estados Unidos).
Deisy Francis Mexidor é jornalista da Redação América do Norte da Prensa Latina.
Havana (PL) - Os Estados Unidos continuam sendo o primeiro país consumidor e produtor de drogas no mundo, enquanto seu governo se dedica a condenar os outros.
Isso é um segredo a boca pequena que a Junta Internacional de Fiscalização de Estupefacientes (JIFE) corroborou num informe publicado no último 24 de fevereiro.
De acordo com o informe, essa nação leva a dianteira no consumo de cocaína e é o principal produtor de maconha, incluindo variedades transgênicas do alucinógeno.
A JIFE, instância subsidiária da ONU que monitora o comportamento da denominada luta antidroga internacionalmente, sinalizou que a obtenção desse narcótico alcança ali umas 10 mil toneladas anuais.
Tal cifra oferece dividendos maiores que produtos alimentícios como o trigo, o feno, os vegetais e outras rubricas.
Mas resulta mais impactante ainda o dado de que em 2008 se detectaram ao redor de 5,3 milhões de consumidores de cocaína e seus derivados entre todos os indivíduos de 12 ou mais anos de idade, ou quase 2,1% da população estadunidense.
Além disso, só nesse alcalóide, os norte-americanos são depositários de um terço da produção mundial, publicou um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Os números demonstram que o lamentável vínculo com as drogas se extende pelo território nacional e mais de 72 milhões de habitantes admitem haver provado estupefacientes alguma vez.
Do mesmo modo, o fizeram 41% dos jovens em distintos níveis de ensino, enquanto 62% dos estudantes secundaristas estudam em centros onde se trafica com narcóticos, assegura a OMS.
O suculento e mortal negócio deixa excelentes lucros: mais de 100 bilhões de dólares anuais se movem numa sociedade onde o consumo se anota como base do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).
Entretanto, as autoridades confiscam apenas 1% de todo o torturante negócio.
As granjas da droga
O jornal colombiano El Tiempo publicou há um ano que o estado da Califórnia é território praticamente livre para cultivar, vender e fumar maconha.
Os condados de Mendocino, Chino, Trinity e Humboldt vivem desta planta e o mais interesante é que várias normas facilitam sua prosperidade.
Uma delas autoriza o emprego médico do produto, pretexto sob o qual crescem e circulam milhares de quilos do estupefaciente anualmente.
O sítio digital Só opiniões descreve num artigo do dia 4 de março passado que não muito longe das cascatas de Yosemite e justamente no meio do Parque Nacional Redwood, no denominado Estado Dorado, os carteis da droga se apropriam de terras para plantar maconha com a ajuda de imigrantes ilegais.
Neste negócio, a cada ano, as autoridades estaduais e federais encontram ao redor de um milhão de plantas a mais do que em igual período prévio, enquanto se estima que até 90% das estâncias dedicadas a este negócio se relacionam com grupos de narcotraficantes mexicanos.
Segundo analistas, cultivar a erva do lado norte-americano evita aos tratantes de droga os riscos de introduzir o alucinógeno pela fronteira comum e, por suposto, lhes permite ter essas colheitas mais próximas do principal mercado a que estão dirigidas.
Outros sítios onde crescem as colheitas são o Parque Nacional Sequoya e as Montanhas da Serra Nevada.
Inclusive o legislador Tom Ammiano chegou a impulsionar um projeto para fixar à maconha 50 dólares de imposto por onça, o que equivale a legalizá-la e, de passagem, obter ao ano milhões de dólares dos contribuintes que a consomem por qualquer razão.
Uma reportagem do diário The New Yorker de julho de 2008 revelou que só na Califórnia crescem 20 milhões de plantas de cannabis e que sua manufatura se multiplicou por 10 entre 1981 e 2006.
É hoje "o produto agrícola de venda ao varejo mais importante" do país, acima até mesmo da mandioca, sublinha o jornal da Colômbia.
Em 29 de março, a secretária de Estado norte-americana Hillary Clinton, em declarações à CTV, do Canadá, reconheceu que em termos de narcotráfico "muitos dos problemas do México se devem a nós. Somos um mercado de drogas, temos a demanda".
A Clinton, assistiu uma reunião de dois dias de ministros de Assuntos Exteriores do G8 e em sua intervenção pública assinalou que "pela primeira vez, os Estados Unidos estão dizendo que somos parte do problema, assim que temos que ser parte da solução".
Em 5 de março, durante um périplo por países da América Latina, a chefa da diplomacia estadunidense também admitiu num encontro com jornalistas na Guatemala que seu país é o maior consumidor de drogas da região.
Segundo resenharam os repórteres noticiosos, a funcionária do governo de Barack Obama ficou muda quando lhe preguntaram acerca do que faz seu país para reduzir a demanda de estupefacientes.
A única coisa que repetiu feito um disco arranhado: "Os Estados Unidos são parte do problema do narcotráfico na América Latina e devem reduzir a demanda de drogas", nada mais.
De maneira que resultam ilógicos e incongruentes os continuos informes de Washington em que se levantam acusações sobre o tema da droga contra outros países.
A Casa Branca joga o cisco no olho alheio e justifica assim a proliferação de bases militares do Pentágono na América Latina, para uma suposta luta antidrogas.
Sem embargo, o principal problema o têm em casa. De fato, pilotos do Departamento Antidrogas (DEA), citados por uma cadeia de televisão, expressaram que "ninguém produz maconha tão boa como a que se cultiva aqui" (nos Estados Unidos).
Deisy Francis Mexidor é jornalista da Redação América do Norte da Prensa Latina.
O papa e o ateu
Por Ivan Lessa, no portal BBC Brasil.
E no oitavo dia Deus criou Richard Dawkins. Sendo que Richard Dawkins viu que isso era bom e logo se declarou o maior ateísta vivo.
Em suas peregrinações, Richard Dawkins, além de professor para a Compreensão Pública da Ciência, na Universidade de Oxford, tornou-se afamado etologista, biólogo evolucionário e divulgador científico, além de ser tido como um dos mais importantes acadêmicos britânicos. Dawkins insiste no fato de que religião, criacionismo e tudo aquilo que se assemelhe a uma ou outra coisa é pura “pseudociência”. Seu livro, A Ilusão de Deus, vendeu milhões de exemplares e qualquer coisa que tenha uma “inteligência superior” a designar e criar nossos destinos é prontamente atacada por ele em texto mais que virulento.
Richard Dawkins agora está nas primeiras páginas dos jornais, pois se há uma coisa em que ele acredita piamente, se assim se pode dizer, é no poder da imprensa. Juntamente com o jornalista britânico expatriado para os Estados Unidos Christopher Hitchens, Dawkins veio a público – mas muito público mesmo – para anunciar que, no decorrer da já marcada visita do papa Bento 16 às cidades de Glasgow e Cantuária, nestas ilhas, em setembro próximo, o Sumo Pontífice receberá voz de prisão, conforme divulgou o advogado de ambos os ateístas, Mark Stephens.
“Teja preso, seu papa!”, dirá Dawkins? Que argumentou ainda que, do ponto de vista jurídico, o papa não tem direito à proteção oferecida a outros soberanos em visita a este país, uma vez que a estada papal é classificada como estatal e o papa não é um chefe de estado reconhecido pelas Nações Unidas. Trata-se do mesmo raciocínio e princípio legal que levou o ex-ditador chileno Augusto Pinochet a ser preso quando de sua passagem pelo Reino Unido em 1998.
Causa da prisão, segundo a dupla e seu advogado: o papa teria acobertado os crimes de abuso sexual ocorridos dentro da Igreja Católica. Pedofilia desenfreada, para tratar do assunto, digamos assim, sem papas na língua.
No fim de semana que passou, o Papa se viu envolvido em nova controvérsia em vista da divulgação de uma carta, por ele assinada, em que, no ano de 1985, manifestava-se contra a excomunhão de um padre norte-americano que teria cometido violências sexuais contra dois meninos. À época, o papa estava encarregado da Congregação para a Doutrina da Fé (que já teve, há um bom tempo, o nome de Suprema e Sacra Consagração da Inquisição Universal), que, justamente, lida com casos de abusos sexuais.
Christopher Hitchens, autor de um livro muito popular intitulado Deus Não é Grande, declarou que o Papa “não se encontra nem acima nem fora do alcance da lei. A supressão institucionalizada de estupro infantil é um crime diante de qualquer lei e exige algo mais que uma cerimônia pública de arrependimento ou pagamentos financiados pela Igreja: exige justiça e punição.”
Acrescentou ainda Mark Stephens, o advogado de ambos ativistas ateus: “Os tribunais examinarão as reivindicações de imunidade. No meu entender, no entanto, acredito que um tribunal inglês as rejeitará.”
Richard Dawkins, no domingo passado, lá estava na primeira página de mais de um jornal: “Eu vou prender o papa”.
O Vaticano, até o momento em que estas linhas foram batidas, não respondera e a visita continua de pé.
E no oitavo dia Deus criou Richard Dawkins. Sendo que Richard Dawkins viu que isso era bom e logo se declarou o maior ateísta vivo.
Em suas peregrinações, Richard Dawkins, além de professor para a Compreensão Pública da Ciência, na Universidade de Oxford, tornou-se afamado etologista, biólogo evolucionário e divulgador científico, além de ser tido como um dos mais importantes acadêmicos britânicos. Dawkins insiste no fato de que religião, criacionismo e tudo aquilo que se assemelhe a uma ou outra coisa é pura “pseudociência”. Seu livro, A Ilusão de Deus, vendeu milhões de exemplares e qualquer coisa que tenha uma “inteligência superior” a designar e criar nossos destinos é prontamente atacada por ele em texto mais que virulento.
Richard Dawkins agora está nas primeiras páginas dos jornais, pois se há uma coisa em que ele acredita piamente, se assim se pode dizer, é no poder da imprensa. Juntamente com o jornalista britânico expatriado para os Estados Unidos Christopher Hitchens, Dawkins veio a público – mas muito público mesmo – para anunciar que, no decorrer da já marcada visita do papa Bento 16 às cidades de Glasgow e Cantuária, nestas ilhas, em setembro próximo, o Sumo Pontífice receberá voz de prisão, conforme divulgou o advogado de ambos os ateístas, Mark Stephens.
“Teja preso, seu papa!”, dirá Dawkins? Que argumentou ainda que, do ponto de vista jurídico, o papa não tem direito à proteção oferecida a outros soberanos em visita a este país, uma vez que a estada papal é classificada como estatal e o papa não é um chefe de estado reconhecido pelas Nações Unidas. Trata-se do mesmo raciocínio e princípio legal que levou o ex-ditador chileno Augusto Pinochet a ser preso quando de sua passagem pelo Reino Unido em 1998.
Causa da prisão, segundo a dupla e seu advogado: o papa teria acobertado os crimes de abuso sexual ocorridos dentro da Igreja Católica. Pedofilia desenfreada, para tratar do assunto, digamos assim, sem papas na língua.
No fim de semana que passou, o Papa se viu envolvido em nova controvérsia em vista da divulgação de uma carta, por ele assinada, em que, no ano de 1985, manifestava-se contra a excomunhão de um padre norte-americano que teria cometido violências sexuais contra dois meninos. À época, o papa estava encarregado da Congregação para a Doutrina da Fé (que já teve, há um bom tempo, o nome de Suprema e Sacra Consagração da Inquisição Universal), que, justamente, lida com casos de abusos sexuais.
Christopher Hitchens, autor de um livro muito popular intitulado Deus Não é Grande, declarou que o Papa “não se encontra nem acima nem fora do alcance da lei. A supressão institucionalizada de estupro infantil é um crime diante de qualquer lei e exige algo mais que uma cerimônia pública de arrependimento ou pagamentos financiados pela Igreja: exige justiça e punição.”
Acrescentou ainda Mark Stephens, o advogado de ambos ativistas ateus: “Os tribunais examinarão as reivindicações de imunidade. No meu entender, no entanto, acredito que um tribunal inglês as rejeitará.”
Richard Dawkins, no domingo passado, lá estava na primeira página de mais de um jornal: “Eu vou prender o papa”.
O Vaticano, até o momento em que estas linhas foram batidas, não respondera e a visita continua de pé.
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