quarta-feira, 14 de abril de 2010

EUA: cisco no olho alheio

Por Deisy Francis Mexidor. Retirado do portal Socialismo e Liberdade.
Havana (PL) - Os Estados Unidos continuam sendo o primeiro país consumidor e produtor de drogas no mundo, enquanto seu governo se dedica a condenar os outros.

Isso é um segredo a boca pequena que a Junta Internacional de Fiscalização de Estupefacientes (JIFE) corroborou num informe publicado no último 24 de fevereiro.

De acordo com o informe, essa nação leva a dianteira no consumo de cocaína e é o principal produtor de maconha, incluindo variedades transgênicas do alucinógeno.

A JIFE, instância subsidiária da ONU que monitora o comportamento da denominada luta antidroga internacionalmente, sinalizou que a obtenção desse narcótico alcança ali umas 10 mil toneladas anuais.

Tal cifra oferece dividendos maiores que produtos alimentícios como o trigo, o feno, os vegetais e outras rubricas.

Mas resulta mais impactante ainda o dado de que em 2008 se detectaram ao redor de 5,3 milhões de consumidores de cocaína e seus derivados entre todos os indivíduos de 12 ou mais anos de idade, ou quase 2,1% da população estadunidense.

Além disso, só nesse alcalóide, os norte-americanos são depositários de um terço da produção mundial, publicou um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Os números demonstram que o lamentável vínculo com as drogas se extende pelo território nacional e mais de 72 milhões de habitantes admitem haver provado estupefacientes alguma vez.

Do mesmo modo, o fizeram 41% dos jovens em distintos níveis de ensino, enquanto 62% dos estudantes secundaristas estudam em centros onde se trafica com narcóticos, assegura a OMS.

O suculento e mortal negócio deixa excelentes lucros: mais de 100 bilhões de dólares anuais se movem numa sociedade onde o consumo se anota como base do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).

Entretanto, as autoridades confiscam apenas 1% de todo o torturante negócio.

As granjas da droga

O jornal colombiano El Tiempo publicou há um ano que o estado da Califórnia é território praticamente livre para cultivar, vender e fumar maconha.

Os condados de Mendocino, Chino, Trinity e Humboldt vivem desta planta e o mais interesante é que várias normas facilitam sua prosperidade.

Uma delas autoriza o emprego médico do produto, pretexto sob o qual crescem e circulam milhares de quilos do estupefaciente anualmente.

O sítio digital Só opiniões descreve num artigo do dia 4 de março passado que não muito longe das cascatas de Yosemite e justamente no meio do Parque Nacional Redwood, no denominado Estado Dorado, os carteis da droga se apropriam de terras para plantar maconha com a ajuda de imigrantes ilegais.

Neste negócio, a cada ano, as autoridades estaduais e federais encontram ao redor de um milhão de plantas a mais do que em igual período prévio, enquanto se estima que até 90% das estâncias dedicadas a este negócio se relacionam com grupos de narcotraficantes mexicanos.

Segundo analistas, cultivar a erva do lado norte-americano evita aos tratantes de droga os riscos de introduzir o alucinógeno pela fronteira comum e, por suposto, lhes permite ter essas colheitas mais próximas do principal mercado a que estão dirigidas.

Outros sítios onde crescem as colheitas são o Parque Nacional Sequoya e as Montanhas da Serra Nevada.

Inclusive o legislador Tom Ammiano chegou a impulsionar um projeto para fixar à maconha 50 dólares de imposto por onça, o que equivale a legalizá-la e, de passagem, obter ao ano milhões de dólares dos contribuintes que a consomem por qualquer razão.

Uma reportagem do diário The New Yorker de julho de 2008 revelou que só na Califórnia crescem 20 milhões de plantas de cannabis e que sua manufatura se multiplicou por 10 entre 1981 e 2006.

É hoje "o produto agrícola de venda ao varejo mais importante" do país, acima até mesmo da mandioca, sublinha o jornal da Colômbia.

Em 29 de março, a secretária de Estado norte-americana Hillary Clinton, em declarações à CTV, do Canadá, reconheceu que em termos de narcotráfico "muitos dos problemas do México se devem a nós. Somos um mercado de drogas, temos a demanda".

A Clinton, assistiu uma reunião de dois dias de ministros de Assuntos Exteriores do G8 e em sua intervenção pública assinalou que "pela primeira vez, os Estados Unidos estão dizendo que somos parte do problema, assim que temos que ser parte da solução".

Em 5 de março, durante um périplo por países da América Latina, a chefa da diplomacia estadunidense também admitiu num encontro com jornalistas na Guatemala que seu país é o maior consumidor de drogas da região.

Segundo resenharam os repórteres noticiosos, a funcionária do governo de Barack Obama ficou muda quando lhe preguntaram acerca do que faz seu país para reduzir a demanda de estupefacientes.

A única coisa que repetiu feito um disco arranhado: "Os Estados Unidos são parte do problema do narcotráfico na América Latina e devem reduzir a demanda de drogas", nada mais.

De maneira que resultam ilógicos e incongruentes os continuos informes de Washington em que se levantam acusações sobre o tema da droga contra outros países.

A Casa Branca joga o cisco no olho alheio e justifica assim a proliferação de bases militares do Pentágono na América Latina, para uma suposta luta antidrogas.

Sem embargo, o principal problema o têm em casa. De fato, pilotos do Departamento Antidrogas (DEA), citados por uma cadeia de televisão, expressaram que "ninguém produz maconha tão boa como a que se cultiva aqui" (nos Estados Unidos).

Deisy Francis Mexidor é jornalista da Redação América do Norte da Prensa Latina.

Nenhum comentário:

Postar um comentário