quarta-feira, 14 de abril de 2010

O papa e o ateu

Por Ivan Lessa, no portal BBC Brasil.
E no oitavo dia Deus criou Richard Dawkins. Sendo que Richard Dawkins viu que isso era bom e logo se declarou o maior ateísta vivo.

Em suas peregrinações, Richard Dawkins, além de professor para a Compreensão Pública da Ciência, na Universidade de Oxford, tornou-se afamado etologista, biólogo evolucionário e divulgador científico, além de ser tido como um dos mais importantes acadêmicos britânicos. Dawkins insiste no fato de que religião, criacionismo e tudo aquilo que se assemelhe a uma ou outra coisa é pura “pseudociência”. Seu livro, A Ilusão de Deus, vendeu milhões de exemplares e qualquer coisa que tenha uma “inteligência superior” a designar e criar nossos destinos é prontamente atacada por ele em texto mais que virulento.

Richard Dawkins agora está nas primeiras páginas dos jornais, pois se há uma coisa em que ele acredita piamente, se assim se pode dizer, é no poder da imprensa. Juntamente com o jornalista britânico expatriado para os Estados Unidos Christopher Hitchens, Dawkins veio a público – mas muito público mesmo – para anunciar que, no decorrer da já marcada visita do papa Bento 16 às cidades de Glasgow e Cantuária, nestas ilhas, em setembro próximo, o Sumo Pontífice receberá voz de prisão, conforme divulgou o advogado de ambos os ateístas, Mark Stephens.

“Teja preso, seu papa!”, dirá Dawkins? Que argumentou ainda que, do ponto de vista jurídico, o papa não tem direito à proteção oferecida a outros soberanos em visita a este país, uma vez que a estada papal é classificada como estatal e o papa não é um chefe de estado reconhecido pelas Nações Unidas. Trata-se do mesmo raciocínio e princípio legal que levou o ex-ditador chileno Augusto Pinochet a ser preso quando de sua passagem pelo Reino Unido em 1998.

Causa da prisão, segundo a dupla e seu advogado: o papa teria acobertado os crimes de abuso sexual ocorridos dentro da Igreja Católica. Pedofilia desenfreada, para tratar do assunto, digamos assim, sem papas na língua.

No fim de semana que passou, o Papa se viu envolvido em nova controvérsia em vista da divulgação de uma carta, por ele assinada, em que, no ano de 1985, manifestava-se contra a excomunhão de um padre norte-americano que teria cometido violências sexuais contra dois meninos. À época, o papa estava encarregado da Congregação para a Doutrina da Fé (que já teve, há um bom tempo, o nome de Suprema e Sacra Consagração da Inquisição Universal), que, justamente, lida com casos de abusos sexuais.

Christopher Hitchens, autor de um livro muito popular intitulado Deus Não é Grande, declarou que o Papa “não se encontra nem acima nem fora do alcance da lei. A supressão institucionalizada de estupro infantil é um crime diante de qualquer lei e exige algo mais que uma cerimônia pública de arrependimento ou pagamentos financiados pela Igreja: exige justiça e punição.”

Acrescentou ainda Mark Stephens, o advogado de ambos ativistas ateus: “Os tribunais examinarão as reivindicações de imunidade. No meu entender, no entanto, acredito que um tribunal inglês as rejeitará.”

Richard Dawkins, no domingo passado, lá estava na primeira página de mais de um jornal: “Eu vou prender o papa”.

O Vaticano, até o momento em que estas linhas foram batidas, não respondera e a visita continua de pé.

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