quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

WikiLeaks ou a vingança do mundo vigiado

Tirado de O Estado de S. Paulo
Eugênio Bucci*

Sorria, você está sendo filmado. Ou chore, você está sendo filmado.

A propósito, não é improvável que você esteja sendo filmado enquanto lê este artigo. Os seus hábitos de consumo estão catalogados em bancos de dados que são vendidos por aí. A marca de papel higiênico que você compra no supermercado faz parte da sua ficha pessoal em algum arquivo de marketing. Os exames do seu check-up, realizados naquele laboratório todo informatizado, bem, eles podem cair na rede. As chamadas do seu celular são rastreáveis, todas elas. A que horas você ligou para quem e de que lugar você chamou, tudo se sabe. Pelas pesquisas que você faz no Google, os administradores podem levantar o seu rol de preferências, mesmo aquelas que você não gostaria de declarar em público. Os radares da cidade registram por onde você passeia de automóvel. As consultas que você faz na Amazon fazem parte do seu perfil, devidamente armazenado. Pelo seu cartão de crédito, podem saber os restaurantes em que você anda almoçando, os vinhos que você pede, a dieta que você segue. As portarias de prédios que você cruzou, as catracas que atravessou, os elevadores em que subiu ou desceu, tudo isso é sabido.

E aqui não estamos falando de vírus espiões instalados em seu computador, das escutas encomendadas pelos rivais (amorosos, religiosos, políticos ou econômicos), mas apenas dos mecanismos supostamente lícitos pelos quais, como já foi dito, você está sendo filmado. Não é bem que a privacidade tenha diminuído de uns tempos para cá. A privacidade, nos moldes em que costumávamos imaginá-la, virou uma categoria impossível, irrealizável. A privacidade foi extinta pela História.

Mais ainda: no nosso tempo a vigilância se massificou. Todos da massa são potencialmente vigiados, o que, em lugar de incomodar, parece excitar o público. A bisbilhotice ganhou status de um gênero lucrativo da indústria do entretenimento, com os reality shows se disseminando como epidemia. Quanto à massa, além de usufruir a vigilância indiscreta, pratica alegremente o esporte de espionar os semelhantes. Câmeras instaladas em celulares fizeram de cada cidadão um agente voluntário a serviço da grande rede de vigilância global. O "Grande Irmão" não é mais o ditador imaginado por George Orwell, aquele que tudo via, protegido em seu bunker supertecnológico. Hoje, o "Grande Irmão" é a massa. Todo mundo bisbilhota todo mundo.

Para chegar a esse estado passamos por duas grandes inversões. A primeira delas transformou o controle de presidiários numa forma de controle dos cidadãos. Há séculos o inglês Jeremy Bentham (1748-1832) imaginou uma prisão que permitiria aos carcereiros verificar a qualquer instante os movimentos de cada um dos prisioneiros. As celas seriam dispostas numa linha circular, alinhadas e empilhadas num imenso edifício arredondado. A parede externa desse edifício, aquela voltada para o lado de fora da circunferência, seria opaca, mas, e aí vem o detalhe perverso, a parede interna do edifício seria transparente, de tal modo que quem se postasse no miolo da prisão poderia ver, ao mesmo tempo, o interior de todas as celas. Por uma fresta em seu escritório central, o carcereiro veria todos, mas não seria visto pelos presidiários, que também não poderiam ver uns aos outros. Muitos anos depois, como se sabe, o filósofo francês Michel Foucault (1926-1984) refletiu caudalosamente sobre esse sistema, identificando nele uma forma de dominação que extrapolaria em muito a penitenciária de Jeremy Bentham. O panóptico estaria presente em todos os campos sociais e, ao saber-se visível o tempo todo, o sujeito, solto ou encarcerado, não importa, estaria intimidado, controlado, perderia a sua privacidade, a sua liberdade, a sua espontaneidade.

A segunda inversão tem um sabor de anedota: os vigiados, longe de se lamentar, entraram com tudo na brincadeira. Nas redes sociais, intimidades as mais improváveis roubam a cena; as pessoas encenam e vazam suas próprias privacidades. O exibicionismo e o voyeurismo digitais são a marca por excelência do século 21. Foi então que o voyeurismo, cansado de obscenidades da extinta vida privada, começou a explorar os segredos mais valiosos dos que bisbilhotam o planeta em nome dos governos mais poderosos da atualidade. Era inevitável: mais cedo ou mais tarde, a indústria da vigilância total cairia na rede ela também.

Dentro disso, qual a grande surpresa do WikiLeaks? Ora, ora, nenhuma.

Pelo WikiLeaks, a espionagem oficial, antes guardada pelos carimbos de "secreto" ou "confidencial" nos gabinetes diplomáticos, vai-se convertendo em divertimento planetário. A profusão dos documentos vazados e a irrelevância da imensa maioria das informações conferem ao circo um certo ar de banalidade, como se segredos de Estado não fossem lá grande coisa. E talvez não sejam mesmo. O WikiLeaks sobrevém, assim, como a vingança dos que não têm mais privacidade contra os que ainda se imaginavam controladores das privacidades dos comuns. Não há mais segredos bem guardados, nem mesmo na Casa Branca. O panóptico estilhaçou-se, caiu como a velha Bastilha. Reis e rainhas trafegam nus. Os esconderijos esfacelam-se.

Nesse meio tempo, as reações do poder - econômico e político - contra o WikiLeaks revelam uma mentalidade pateticamente totalitária. Num jogo combinado, típico de coalizões militares, as instituições financeiras internacionais fecham o cerco. Governos agem de modo análogo. Será que esse pessoal acreditava que controlava a sociedade de modo tão absoluto?

Quem acreditou nisso errou. O WikiLeaks não é um site, mas uma possibilidade da era digital que se materializou num site. Outros virão. O vazamento indiscriminado vai continuar. Outras caixas de Pandora estão para cair. Que caiam.

*Jornalista, é professor da ECA-USP e da ESPM

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Michael Moore paga fiança de Julian Assange

Retirado do blog de Michael Moore: http://www.michaelmoore.com/words/mike-friends-blog/why-im-posting-bail-money

Yesterday, in the Westminster Magistrates Court in London, the lawyers for WikiLeaks co-founder Julian Assange presented to the judge a document from me stating that I have put up $20,000 of my own money to help bail Mr. Assange out of jail.

Furthermore, I am publicly offering the assistance of my website, my servers, my domain names and anything else I can do to keep WikiLeaks alive and thriving as it continues its work to expose the crimes that were concocted in secret and carried out in our name and with our tax dollars.

We were taken to war in Iraq on a lie. Hundreds of thousands are now dead. Just imagine if the men who planned this war crime back in 2002 had had a WikiLeaks to deal with. They might not have been able to pull it off. The only reason they thought they could get away with it was because they had a guaranteed cloak of secrecy. That guarantee has now been ripped from them, and I hope they are never able to operate in secret again.

So why is WikiLeaks, after performing such an important public service, under such vicious attack? Because they have outed and embarrassed those who have covered up the truth. The assault on them has been over the top:

**Sen. Joe Lieberman says WikiLeaks "has violated the Espionage Act."

**The New Yorker's George Packer calls Assange "super-secretive, thin-skinned, [and] megalomaniacal."

**Sarah Palin claims he's "an anti-American operative with blood on his hands" whom we should pursue "with the same urgency we pursue al Qaeda and Taliban leaders."

**Democrat Bob Beckel (Walter Mondale's 1984 campaign manager) said about Assange on Fox: "A dead man can't leak stuff ... there's only one way to do it: illegally shoot the son of a bitch."

**Republican Mary Matalin says "he's a psychopath, a sociopath ... He's a terrorist."

**Rep. Peter A. King calls WikiLeaks a "terrorist organization."

And indeed they are! They exist to terrorize the liars and warmongers who have brought ruin to our nation and to others. Perhaps the next war won't be so easy because the tables have been turned -- and now it's Big Brother who's being watched ... by us!

WikiLeaks deserves our thanks for shining a huge spotlight on all this. But some in the corporate-owned press have dismissed the importance of WikiLeaks ("they've released little that's new!") or have painted them as simple anarchists ("WikiLeaks just releases everything without any editorial control!"). WikiLeaks exists, in part, because the mainstream media has failed to live up to its responsibility. The corporate owners have decimated newsrooms, making it impossible for good journalists to do their job. There's no time or money anymore for investigative journalism. Simply put, investors don't want those stories exposed. They like their secrets kept ... as secrets.

I ask you to imagine how much different our world would be if WikiLeaks had existed 10 years ago. Take a look at this photo. That's Mr. Bush about to be handed a "secret" document on August 6th, 2001. Its heading read: "Bin Ladin Determined To Strike in US." And on those pages it said the FBI had discovered "patterns of suspicious activity in this country consistent with preparations for hijackings." Mr. Bush decided to ignore it and went fishing for the next four weeks.

But if that document had been leaked, how would you or I have reacted? What would Congress or the FAA have done? Was there not a greater chance that someone, somewhere would have done something if all of us knew about bin Laden's impending attack using hijacked planes?

But back then only a few people had access to that document. Because the secret was kept, a flight school instructor in San Diego who noticed that two Saudi students took no interest in takeoffs or landings, did nothing. Had he read about the bin Laden threat in the paper, might he have called the FBI? (Please read this essay by former FBI Agent Coleen Rowley, Time's 2002 co-Person of the Year, about her belief that had WikiLeaks been around in 2001, 9/11 might have been prevented.)

Or what if the public in 2003 had been able to read "secret" memos from Dick Cheney as he pressured the CIA to give him the "facts" he wanted in order to build his false case for war? If a WikiLeaks had revealed at that time that there were, in fact, no weapons of mass destruction, do you think that the war would have been launched -- or rather, wouldn't there have been calls for Cheney's arrest?

Openness, transparency -- these are among the few weapons the citizenry has to protect itself from the powerful and the corrupt. What if within days of August 4th, 1964 -- after the Pentagon had made up the lie that our ship was attacked by the North Vietnamese in the Gulf of Tonkin -- there had been a WikiLeaks to tell the American people that the whole thing was made up? I guess 58,000 of our soldiers (and 2 million Vietnamese) might be alive today.

Instead, secrets killed them.

For those of you who think it's wrong to support Julian Assange because of the sexual assault allegations he's being held for, all I ask is that you not be naive about how the government works when it decides to go after its prey. Please -- never, ever believe the "official story." And regardless of Assange's guilt or innocence (see the strange nature of the allegations here), this man has the right to have bail posted and to defend himself. I have joined with filmmakers Ken Loach and John Pilger and writer Jemima Khan in putting up the bail money -- and we hope the judge will accept this and grant his release today.

Might WikiLeaks cause some unintended harm to diplomatic negotiations and U.S. interests around the world? Perhaps. But that's the price you pay when you and your government take us into a war based on a lie. Your punishment for misbehaving is that someone has to turn on all the lights in the room so that we can see what you're up to. You simply can't be trusted. So every cable, every email you write is now fair game. Sorry, but you brought this upon yourself. No one can hide from the truth now. No one can plot the next Big Lie if they know that they might be exposed.

And that is the best thing that WikiLeaks has done. WikiLeaks, God bless them, will save lives as a result of their actions. And any of you who join me in supporting them are committing a true act of patriotism. Period.

I stand today in absentia with Julian Assange in London and I ask the judge to grant him his release. I am willing to guarantee his return to court with the bail money I have wired to said court. I will not allow this injustice to continue unchallenged.

P.S. You can read the statement I filed today in the London court here.

P.P.S. If you're reading this in London, please go support Julian Assange and WikiLeaks at a demonstration at 1 PM today, Tuesday the 14th, in front of the Westminster court.

Federal forma primeira indígena

Da assessoria de comunicação da UFPR

Em cerimônia marcada pela emoção, o reitor Zaki Akel Sobrinho concedeu o grau de cirurgiã dentista para a primeira aluna indígena da UFPR. Tenile Mendes, que na língua kaigang se chama Kring Mág, estrela grande ou estrela da manhã, "porque era muito branquinha quando nasceu", será a primeira dentista em sua aldeia.

Após fazer o juramento do dentista e receber o diploma, a nova profissional se apresentou: "Eu agora sou Tenile Mendes, kaigang, cirurgiã dentista, de Chapecó, Santa Catarina, da aldeia Pinhalzinho, e agradeço a acolhida na Universidade Federal do Paraná". Agora, a cirurgiã dentista vai voltar para a aldeia, onde pretende trabalhar para ajudar sua comunidade.

Tenile ingressou na UFPR através do programa de políticas afirmativas, aprovado em 2004 e implementado no ano seguinte. No caso das cotas para índios, a UFPR tem parceria com a Funai. São dez vagas destinadas aos povos indígenas de qualquer região do país. No discurso do paraninfo, o professor Jairo Bordini Junior, que também foi tutor de Tenile, ressaltou a validade e a importância da inclusão social. "A inclusão é um caminho que deve ser seguindo e incentivado. As dificuldades quanto ao aprendizado são as mesmas para todos os alunos, mas não podia deixar que a pressão social interferisse no avanço dentro do curso. E com esforço e dedicação, a Tenile conseguiu".

Para o representante dos povos indígenas do Sul, Rildo Mendes, a iniciativa da UFPR é "um primeiro passo para o futuro", ao preparar "profissionais índios para tabalhar nas terras indígenas". Na ocasião, o reitor recebeu de Rildo um colar confeccionado na aldeia Pinhalzinho e que simboliza o desejo de um futuro de grandes conquistas na parceria entre UFPR com os povos indígenas.

A democratização do acesso à universidade, com mais alunos de diferentes comunidades sem esquecer a excelência do ensino, da pesquisa e da extensão foi lembrada pela pró-reitora de Graduação, Maria Amélia Sabbag Zainko. "É uma satisfação colher resultados de uma política colocada em prática, de excelência acadêmica com inclusão social. Ver alunos bem formados para atuar de maneira adequada, com competência e como agentes transformadores da sociedade", diz Maria Amélia.

"A formatura de Tenile vai passar para a história da UFPR", disse o reitor Akel ao parabenizar a primeira indígena a se formar na instituição. "Tenile vai fazer a diferença, é um paradigma para todos os povos, não só os indígenas, mas para todo o povo brasileiro". Ao lembrar a gestão do reitor Carlos Moreira, que implantou as políticas afirmativas, Akel afirmou que a tarefa atual é ampliar, aprofundar e fazer avançar a inclusão social, conciliando inclusão, expansão e excelência acadêmica.

Etnia: brasileira
Tenile Mendes tem 22 anos e sempre viveu na aldeia Pinhalzinho. Saiu de Chapecó e deixou a família para estudar na UFPR. É filha de uma mistura bem brasileira. A mãe, Janete, é descendente de italianos e largou tudo para viver na aldeia quando se casou com o índio kaigang Reny. Agora, é o irmão Tales quem quer seguir os passos da irmã dentista e estudar na universidade. Assim como Tales, outros jovens índios da aldeia querem seguir o exemplo de Tenile.