terça-feira, 2 de setembro de 2014

Genocídio em Gaza: opções palestinas estratégicas diante das táticas israelenses - final

Por Jason Martin*

Última parte de três

Tradução de Roseli Andrade


O script completo do Hamas x Israel parece um filme de Roland Emmerich.
As pessoas criticam os filmes de Emmerich pelo uso excessivo de efeitos visuais, muitos diálogos clichê, narrativa frágil e estereotipada, inúmeras imprecisões científicas e históricas, um desenvolvimento ilógico da trama, e falta de profundidade de caráter.

~ Wikipedia
O Hamas é um grupo sem nenhuma sofisticação e caricato de radicais impotentes impostos aos palestinos, que estão desesperados e foram privados de uma sociedade democrática. A alusão de que o Hamas foi democraticamente eleito é uma farsa. A Palestina é um território ocupado e controlado por Israel. Não existe democracia lá. Não existe democracia porque não existe nenhuma Palestina. Há somente Israel e algumas favelas onde os desprestigiados palestinos estão presos.

O que Israel precisa é que os palestinos “os ajudem” adotando um diálogo militante na mídia e lançando foguetes ineficazes que raramente conseguem alcançar uma distância significativa para até mesmo ser notada pelos Israelenses. O Hamas consegue isso como ninguém.

Lembre-se que o objetivo de Israel é um Estado Judaico Permanente. Isso quer dizer “permanente” em centenas de anos – até mesmo, de acordo com sua fantasia, milhares de anos.

Resumo até agora:
1.            O objetivo de Israel é ter um Estado Judaico; todo o resto é secundário.
2.            Para ter o Estado Judaico, eles simplesmente não podem absorver os numerosos árabes; então eles têm que matá-los todos.
3.            Para matar a todos, eles têm que desumanizá-los e radicalizá-los; politicamente têm que reclassificá-los como combatentes, insurgentes, terroristas ou escudos humanos voluntários.
4.            Israel precisa (e, “magicamente”, consegue) de um movimento político como o Hamas na Palestina para ajudá-lo a se militarizar. Para justificar sua agressão contra o povo palestino como parte de uma “Guerra ao Terror”.

A última coisa que Israel precisa para destruir os palestinos é uma situação em que ninguém note o que está acontecendo. Ou se for percebido, numa posição na qual não se possa fazer nada. Uma crise econômica mundial multiplica os jogos de guerra (ênfase em “jogos”). Oops, parece que isso está acontecendo.

Uma vez que o abate termine, tudo o que Israel tem de fazer é esperar. Depois de algumas décadas, os palestinos estarão mortos e Israel será um estado realizado, como praticamente todas as outras nações modernas, construídas sobre os ossos de nativos assassinados.

O que pode ser feito?

As chances de os palestinos sobreviverem na próxima década são mínimas. Na medida em que o tempo avança, sua probabilidade de sobrevivência acelera.

Israel é uma nação moderna e capaz, com um exército bem treinado, tecnologias militares inovadoras, uma economia impressionante, com incríveis acordos e tratados comerciais com praticamente todas as nações modernas. Além de tudo isso, é uma potência nuclear. Possui um grande arsenal nuclear e pode jogar e lutar em todos os níveis políticos concebíveis. Está numa situação tal que qualquer tentativa de interferência seria ou um fracasso completo, ou, com motivação suficiente, uma vitória de Pirro.

Israel é um produtor de armas e equipamentos militares para o Ocidente. Também é um produtor de tecnologia essencial de computadores (como os chips da Intel). Sanções contra Israel não são realmente possíveis, pois é uma importante fonte de tecnologia de guerra. Isso surtiria um efeito inverso, visto que fabrica e distribui as armas que poderiam ou iriam ser usadas contra eles; isso significa que também tem essas mesmas armas, e, portanto, pode ou não, ter desenvolvido defesas contra elas.

Visto que sanções de qualquer natureza (fora, talvez, algumas simbólicas) não são possíveis, e invasão não seria uma atitude viável, o que pode ser feito contra Israel? Bem, nada. Pelo menos a respeito dos palestinos. Nenhum país está disposto a entrar em Guerra contra Israel, pois os palestinos seriam mortos do mesmo jeito e o número de mortos do lado de qualquer nação que atacasse Israel seria enorme.

A regra para esse tipo de situação é: Quando você não pode vencer, capitule.

A atitude beligerante de Israel é perdoada pelo Ocidente porque a “Guerra ao Terror” o condicionou a aceitar que todos os muçulmanos são terroristas até que se prove o contrário. Ao mesmo tempo em que massacrar palestinos é justificado como necessário para pacificar uma população insurgente. Esforçar-se para desmascarar essasmentiras plausíveis, divulgadas astutamente durante décadas por Israel, é uma contra-estratégia possível para todos que conseguem ver o horror da situação.

Os israelenses têm trabalhado muito para desumanizar os palestinos. E desumanizá-los é uma defesa importante. A posição de Israel a respeito dos palestinos é muito tênue, porque Israel é tão forte e a Palestina é tão fraca que a sua propaganda tem que dar muito ênfase na manutenção da ilusão de que os palestinos são militantes e perigosos. Os números simplesmente não batem. Os mortos pelo lado israelense e os mortos pelo lado palestino normalmente ficam em 1 para 1.000, ou mais.

Na antiga Roma, e em muitos outros países onde a população era escravizada, a punição comum por um escravo matar seu senhor era matar o escravo e todos imediatamente próximos a ele. Até 200 escravos, ou mais, eram mortos. Esse método é atualmente usado contra os palestinos. Se um palestino comete um crime, como por exemplo, lançar um foguete contra Israel, inevitavelmente Israel responde matando centenas ou milhares de palestinos em “retribuição”. Isso levou a uma situação em que os palestinos foram condenados à desesperança.

Isso se torna pior pelo fato de que a maioria das pessoas que cometem tais crimes são geralmente adolescentes emocionalmente instáveis ​​e manipuláveis. A fonte da manipulação é discutível, porque sabemos que os serviços de segurança israelenses exercem influência sobre o Hamas e outras organizações terroristas, mas não sabemos exatamente em que medida eles incentivam a prática de lançar foguetes contra Israel e fornecer a Israel munição para mais propaganda. Então, novamente, como Joe Quinn apontou, pode até ser que os agentes de Israel estejam, de alguma forma, por trás do sequestro e assassinato dos três jovens israelenses para justificar o massacre de mais de 2.000 palestinos.

Revelou-se recentemente que o F.B.I. esteve diretamente envolvido em TODAS as tramas terroristas desde 9/11 (mais especificamente, que eles forneceram ou financiaram material em todas). Isso prova que é bastante provável que o Shin Bet esteja fazendo o mesmo. Visto que essa revelação é oficial e foi publicada a partir de um documento oficial, é difícil negar.

Re-humanizar os “insurgentes” e “terroristas” é importante para que eles possam ter direito a um tratamento legal em vez de militar. Terrorismo é crime. Disparar foguetes contra civis israelenses é tão injustificável quanto disparar foguetes contra civis palestinos. O que importa aqui é a forma como a sociedade lida com tais crimes. Eles devem estar sob a jurisdição de mecanismos tradicionais da lei e da ordem. Mesmo que o aparato militar seja usado para capturar ou efetuar uma prisão, ele deve invariavelmente estar a serviço do poder judiciário das partes interessadas.

Existe o argumento de que estando a Palestina ocupada por um estado estrangeiro, os palestinos têm o direito de usar qualquer forma de resistência. Isso é fundamentalmente verdade, mas estrategicamente inútil. Apenas Israel ganha com foguetes sendo disparados contra alvos civis. Eu não estou dizendo que a resistência é inútil, mas essa forma de resistência é certamente prejudicial para os interesses palestinos. Os palestinos não são militarmente nem politicamente sofisticados; dessa forma, toda e qualquer resistência violenta simplesmente reforça os objetivos dos israelenses. A forma correta de resistência é a resistência pacífica, embora os palestinos não sejam espertos (ou melhor, psicopatas) o suficiente para empregar, e mesmo assim é um pouco tarde demais para adotá-la.

Existe, também, o problema dos ataques de foguetes contra Israel feitos por agentes israelenses, vestidos em trajes civis, que, ou entram em Gaza, ou determinam a outros agentes infiltrados que façam alguns disparos. A única resposta estratégica viável a esta prática é reiterar que: 1) todos os ataques com foguetes são condenáveis e 2) insistir que se trata de uma questão jurídica, e não militar.

Enfatizar que não existem forças armadas na Palestina; portanto, não há necessidade do uso do exército israelense.

A respeito do Hamas, ou outras organizações políticas que possam praticar tais atos, pelo fato de terem praticado tais atos: 1) eles não representam os Palestinos e 2) eles são criminosos.

O ponto fraco desse argumento é que leva novamente ao: “O que mais podemos fazer?” A resposta adequada, claro, é: não matar mulheres e crianças. A partir desse argumento pode declarar: "Israel não está à altura do desafio de segurança."

A idéia de que uma força de comando altamente treinada seja batida por alguns poucos civis armados é, claro, ridícula. Os palestinos não estão suficientemente armados para opor qualquer resistência significativa contra os comandos de Israel, o que tem sido demonstrado a cada invasão da Faixa de Gaza. A invasão atual levou a cerca de 2.000 vítimas (a maioria civis), até agora, do lado palestino e 66 do lado de Israel. Como foi demonstrado no passado, a maioria das perdas do lado israelense pode ser atribuída mais a fogo amigo e erros táticos. Ou seja, muitas vezes, os israelenses acidentalmente matam um ao outro. Isso porque Gaza é muito pequena, militarmente falando, e as lutas são tão próximas que é difícil atirar indiscriminadamente em civis sem matar algum dos seus próprios.

Todas as nações desenvolvidas lidam com crimes. Isso inclui caçar e encontrar criminosos que se escondem nos subúrbios populosos. Elas não precisam bombardear subúrbios inteiros somente porque uma determinada pessoa pode estar fabricando drogas em uma garagem. Então, por que Israel precisa fazer isso? Frequentemente, foras-da-lei se escondem em blocos de apartamentos. Pode-se dizer que estejam usando seus vizinhos como escudos humanos, mas isso não quer dizer que a polícia precisa responder com ataques de helicóptero e mísseis Hellfire.

Uma questão séria com esses argumentos é que no Ocidente, e Israel apoia fortemente, existe a crença de que a Palestina é uma nação-estado como muitas outras. Não é! É um território ocupado. Não é nem mesmo um estado. Existem planos para tornar a Palestina um estado; mas a Palestina não é e nunca foi um estado no significado real do termo. Era antes uma região do Império Otomano, depois ficou sob o Mandato Britânico (i.e. uma região ocupada pelos britânicos) e mais tarde foi ocupada por Israel.

Nesse momento, em todo o mundo, a maioria das pessoas não deseja a morte dos palestinos; é a Elite Psicopata Israelense que deseja isso. Nesse momento, a grande maioria dos palestinos dentro da Faixa de Gaza está lá porque foi separada do rebanho em Israel para que os judeus se tornassem a maioria nas eleições. A maneira mais correta e humana de resolver a situação seria absorver todos os palestinos e torná-los cidadãos. Todos os terroristas dentro dessa população deveriam ser julgados de acordo com as leis e tratados de acordo com as regras estabelecidas.

Dessa forma, Israel poderia continuar fazendo o que é certo fazer – um estado – e os palestinos poderiam sobreviver e se tornar uma parte da comunidade israelense. Isso, essencialmente, já está meio caminho andado. Israel já mantém controle completo sobre a faixa de Gaza e a Cisjordânia, e, por isso, a propaganda israelense é completamente enganosa. Não existe uma verdadeira Autoridade Palestina. apenas um punhado de palestinos escolhidos a dedo que ficam na TV e vomitar um monte de besteiras sempre que Israel precisa. Não há Estado Palestino. Existe apenas Israel. O único estado palestino que já existiu na história estava sob o Mandato Britânico. Palestina tem sido, mais ou menos, uma região semi-autônoma (leia-se: gueto) de Israel desde 1948.

A ocupação completa da Palestina é fato consumado. Os colonos da Cisjordânia nunca vão devolvê-la.

E os direitos de autodeterminação dos palestinos? Imagine se todos os negros nos Estados Unidos decidissem que preferem dividir o país em dois, o que será que aconteceria? A solução de dois estados não vai funcionar e, e se um dia isso acontecer, será o fim definitivo do povo palestino. Assim que for criado um estado oficial, Israel irá forjar alguma fantasia de ataque de foguetes por parte dos palestinos e irá declarar guerra à "Palestina" e bombardeá-la até que não reste pedra sobre pedra. Assim que a Palestina tornar-se um verdadeiro estado, os dias dos palestinos estarão contados.
Tudo se resume a o que você quer: um Estado Palestino ou um povo palestino. Israel tem trabalhado muito duro, e de modo muito inteligente, para garantir que não haja nenhum.

É claro que não é isto que os Palestinos querem, mas como diz a canção:
Não, você não pode ter sempre tudo que quer
você não pode ter sempre tudo que quer
você não pode ter sempre tudo que quer
Mas, se você tentar, um dia você vai descobrir,
Que tem tudo que precisa.

Nesse caso, ter o que querem é uma armadilha, e eles não conseguem perceber isso. Será que os palestinos realmente acham que a obtenção de um estado, de alguma forma magicamente irá protegê-los de Israel? Toda a lei internacional, os organismos da ONU, organizações dos direitos humanos em todo o mundo não têm sido capazes de protegê-los até agora. Não há absolutamente nenhuma razão para supor que eles serão menos impotentes se houver um Estado Palestino. Não deseje o que não pode ter.

~ Provérbio Oriental
Em último caso, o que acontece é: morrer em pé ou viver de joelhos. Ambos possuem seus méritos. Mas existe uma terceira via.

Você deve ser como a água. Quando você derrama água em um copo, ela se torna o copo. Quando você coloca água em uma garrafa, ela se torna a garrafa. Quando você derrama água em um bule de chá, ela se torna o bule. A água se adapta. Torne-se como a água, meu amigo.

~ Bruce Lee
Às vezes, render-se é o meio mais rápido de obter a vitória.

Roma conquistou a Grécia. Mas a Grécia se tornou a linguagem de Roma. No final, Roma foi conquistada por seus próprios escravos. Isso levou algum tempo, mas aconteceu. A cultura árabe é forte. Os judeus viveram 2.000 anos como cidadãos sem pátria em qualquer país que os acolhesse. E, no entanto, atualmente eles possuem seu próprio estado e fazem aos outros o que foi feito a eles.

Quando os judeus se transferiram para a América, eles se tornaram judeus americanos; quando se mudaram para a França, se tornaram judeus franceses. Eles se integravam, mas, mesmo assim, se mantinham à parte. Mantinham sua cultura, sua religião, mas eram espertos o suficiente para saber que não se pode medir forças.

Agora, usam a manipulação e a mentira, assim como todo mundo, exceto que são particularmente bons nisso.

Os palestinos perderam suas terras. Talvez eles nunca tenham tido. Mas não têm de perder sua cultura ou identidade.

Outra Opção

É claro que se render aos israelenses será particularmente oneroso, especialmente com toda a história entre os dois povos. O problema para os palestinos é que são politicamente inúteis em um mundo globalizado dirigido por psicopatas. Israel é fornecedora mundial de máquinas de matar de alta tecnologia. A elite de todos os países ocidentais gosta de ter brinquedos novos para brincar e para usar em suas operações clandestinas e alvos escolhidos para desestabilizar as nações.

Como os palestinos são, no geral, pobres e despossuídos, para o Ocidente parecem ser apenas um peso morto.

Se, no entanto, eles insistirem em sua fantasia de ter um país, e é o que têm tentado, será muito difícil imaginar seu lugar entre as nações desenvolvidas. No caso, eles podem tentar, o melhor possível, seguir o exemplo e a perseverança da China, tornando-se escravos do mundo, vendendo sua mão-de-obra barata em montadoras estrangeiras. Na realidade, o futuro dos palestinos é a servidão; disso eles não podem escapar agora, mas eles podem no futuro se jogarem as cartas certas.

Para que isso aconteça, seria necessário instalar um regime extremamente repressivo para evitar toda e qualquer inclinação terrorista e uma política de tolerância zero para encrenqueiros. Infelizmente, eles teriam de ser amigáveis com Israel. Eles precisariam convencer Israel de que seriam bons trabalhadores e mão-de-obra barata que iria ajudar a alavancar o crescimento econômico de Israel.

Esse cenário é muito improvável, mas é a uma das poucas maneiras possíveis para a sobrevivência dos palestinos se eles continuarem a desejar um estado.

Na verdade, devido à sua falta de sofisticação política (eles têm o péssimo hábito de dizer a verdade às pessoas erradas) eles vão rapidamente dar um passo em falso, que Israel usará como pretexto para conquistar os territórios restantes. Haverá um protesto em massa no Twitter e no Facebook. Ban Ki Moon irá espernear sobre crimes de guerra e prometer investigações. Os Estados Unidos vão prometer sanções e uma investigação internacional. E tudo vai dar em nada, como sempre.

O objetivo de Israel é o mesmo de todas as nações de todos os tempos quando conquistam um novo território: matar os nativos. Ou a maioria deles (de 90 a 95%). A única esperança para os palestinos é se render a Israel e ser completamente absorvidos e lutar por plena cidadania. Eles não vão conseguir de imediato. Vai funcionar apenas no papel, mas na prática vão continuar por um tempo a ser vítimas de racismo e segregação. Depois de duas a três gerações, serão capazes de lutar pacificamente por uma cidadania real. A essa altura, Israel, provavelmente, irá concedê-lo. O único problema é que parte de sua rendição será adotar a língua e os costumes de Israel, e, até certo ponto, suas crenças. Pelo menos abertamente. Entre eles, podem continuar a praticar a sua língua e costumes. Mas, publicamente, terão de se integrar à sociedade israelense.


Até lá, mantenha seu apoio aos direitos fundamentais dos palestinos, de liberdade e justiça e não se esqueça de que são seus direitos também, pelo menos na teoria.




*Filósofo republicano, conservador libertário, Jay passa seus dias estudando a história da guerra, da violência e das artes marciais. É programador de computador, artista e ilustrador.