sábado, 21 de novembro de 2009

Hino do expedicionário

Lembrei-me, a respeito do texto sobre Lula, do brasileiro - eu, tu, eles e elas.
Fui cantor de coral do glorioso Colégio Estadual do Paraná e do coral da não menos fantástica UFPR (um dia escrevo sobre ser cantor regido por Isaac Karabtchevsky. Nunca consegui terminar este hino sem verter lágrimas de esguicho - salve, Nelson - (não escreverei lágrimas nos olhos, seu leitor, pois lágrimas saem sempre dos olhos, assim como só há sorriso no rosto etc.)
Vi e ouvi nossos valentes pracinhas cantando esta canção e sempre desabei. Cantei com eles.
Emociono-me não pela nossa participação numa guerra, que não nos salvou de nada. Mas pela valentia ou covarida deles e pela beleza da poesia e da canção.
Tem a ver com nóis, brasileiros.
A canção, cantada, você acha no Gugou.


Letra: Guilherme de Almeida
Música: Spartaco Rossi


Você sabe de onde eu venho ?
Venho do morro, do engenho,
Das selvas, dos cafezais,
Da boa terra do coco,
Da choupana onde um é pouco,
Dois é bom, três é demais.
Venho das praias sedosas,
Das montanhas alterosas,
Dos pampas, do seringais,
Das margens crespas dos rios,
Dos verdes mares bravios,
Da minha terra natal.


Por mais terra que eu percorra,
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá.
Sem que leve por divisa
Este "V" que simboliza
A vitória que virá.
Nossa vitória final,
Que é a mira do meu fuzil,
A ração do meu bornal,
A água do meu cantil,
As asas do meu ideal,
A glória do meu Brasil.

Eu venho da minha terra,
Da casa branca da serra
E do luar do meu sertão.
Venho da minha Maria,
Cujo nome principia
Na palma da minha mão.
Braços mornos de Moema,
Lábios de mel de Iracema
Estendidos para mim.
Ó minha terra querida,
Da Senhora Aparecida
E do Senhor do Bonfim!

Por mais terra que eu percorra,
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá.
Sem que leve por divisa
Este "V" que simboliza
A vitória que virá.
Nossa vitória final,
Que é a mira do meu fuzil,
A ração do meu bornal,
A água do meu cantil,
As asas do meu ideal,
A glória do meu Brasil.

Você sabe de onde eu venho?
É de uma Pátria que eu tenho.
No bôjo do meu violão,
Que de viver em meu peito,
Foi até tomando jeito
De um enorme coração.
Deixei lá atrás meu terreiro,
Meu limão, meu limoeiro,
Meu pé de jacarandá,
Minha casa pequenina
Lá no alto da colina,
Onde canta o sabiá.

Por mais terra que eu percorra,
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá.
Sem que leve por divisa
Este "V" que simboliza
A vitória que virá.
Nossa vitória final,
Que é a mira do meu fuzil,
A ração do meu bornal,
A água do meu cantil,
As asas do meu ideal,
A glória do meu Brasil.

Venho do além deste monte
Que ainda azula o horizonte,
Onde o nosso amor nasceu,
Do rancho que tinha ao lado,
Um coqueiro que, coitado,
De saudade já morreu.
Venho do verde mais belo,
Do mais dourado amarelo.
Do azul mais cheio de luz,
Cheio de estrelas prateadas
Que se ajoelham deslumbradas,
Fazendo o sinal da Cruz !

Por mais terra que eu percorra,
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá.
Sem que leve por divisa
Este "V" que simboliza
A vitória que virá.
Nossa vitória final,
Que é a mira do meu fuzil,
A ração do meu bornal,
A água do meu cantil,
As asas do meu ideal,
A glória do meu Brasil.
A Glória do meu Brasil.
Meu Brasil.
Oh, meu Brasil.

Lula, do Brasiuuuuu!!!

Acabo de ler em (no meu tempo de repórter abrilesco a gente escrevia em, e não na) Veja a matéria sobre o filme do Fábio Barreto, "Lula, o filho do Brasil", produzido pelo pai Barretão e coisa e tal.
Não vi, não gostei e gostei. Não importa.
O filme, obviamente, é uma apologia de Lula; a crítica de Veja, obviamente, é um pau de dar em doido no filme da família Barreto.
O erro da (ou de) Veja é forçar a barra e comparar o desenvolvimento da história com a saga de Jesus. Concede a Lula suas qualidades, mas dá-lhe pau no próprio e na fita.
Imagino como é o filme: fotografia bacana, planos amplos no sertão, depois câmera fechada na cara dos personagens, som de primeira.
A saga da família nordestina, foco na dona Lindu (a maravilhosa Glória Pires, atriz de prima, uma de minhas ídolas), a matriarca que deu ao Brasil o primeiro presidente da República vindo da miséria Severina e, depois, do sindicalismo operário do ABC (não falemos aqui que o personagem veio de uma elite sindical- vide Mosca & Pareto).
Dizem que é tipo "Dois filhos de Francisco", do qual vi aos pedaços, achei muito bom e forçado às lágrimas.
Pode ser fácil ou muito difícil fazer filmes assim.
É o tipo do filme que dá o flanco pra tomar porrada da direita e até da esquerda.
Fábio Barreto forçou aqui, amenizou ali, aplainou o terreno, dando aos olhos do espectador a história oficial.
Repito: não vi, não assisti ao filme.
Mas deve ser bonito.
Não vi e não gostei, não vi e gostei.
Só a história contemporânea - aí com livros e filmes, principalmente, contará tudo ou quase tudo.
Parafraseando o companheiro Fidel, a história, provavelmente, absolverá e dará a taça de campeão ao companheiro Lula.
Não o comparemos a JK, Getúlio, Fernando Henrique, Sarney et cetera.
Eles são eles e suas circunstâncias.
Que se façam filmes e que se escrevam livros, imediatos ou com o tal distanciamento crítico, sobre todosm eles.
O filme de Fábio Barreto é romântico e chapa-branca?
O filme do Bruno "O que é isso, companheiro?" é meio chapa-branca da esquerda.
Os Barreto são bons de cinema.
Mas ainda prefiro os bons documentários.
Os bons livros.
Documentaristas e historiadores, mexam-se.
Ainda quero ver um grande filme - e um grande livro -, sem salamaleques e sem pancada de graça.
Um baita documentário, ainda que de quatro ou quarenta horas.
No qual caibamos todos nós: achadores, índios, bandeirantes, escravos negros, brancos, estrangeiros, nobres, imigrantes, trabalhadores, vencedores e derrotados, Pelé & Coutinho, meninos e meninas do Brasil, de todas as classes (um dia não haverá mais isso), cores, tamanhos, nomes - nosso emocionante universo de gente que vive em florestas, campos, cidades, montanhas e praias.
Uma sinfonia de imagens, palavras, música riquíssima, sonhos.
Retiro o título do grande brasileiro Antônio Maria:
"Brasileiro, profissão: esperança."
Somos nós, os filhos do Brasil.

Upa! Upa!

Embalado por mamãe, nos tempos em que eu era gente, os homens voavam e os bichos falavam

Ary Barroso

Lá vai o meu trolinho
Vai rodando de mansinho
Pela estrada além
Vai levando pro seu ninho
Meu amor e o meu carinho
Que eu não troco por ninguém

Upa, upa, upa
Cavalinho alazão
Hei, hei, hei
Não erre de caminho não

Vai assim
Vai assim
Sempre assim
Pra minha sorte não ter fim

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Melô do Caetano

Por Antonio Barreto, natural de Santa Bárbara (BA), residente em Salvador.

Eu já estava estressado
Temendo até por vingança.
Meus alunos na escola
Leitores da ‘cordelança’
E a galera em geral
Sempre a me fazer cobrança.

Todo mundo me acusando
De cordelista medroso
Omisso, conservador
Educador preguiçoso
Por não me pronunciar
Sobre Caetano Veloso.

Logo eu, trabalhador,
Um pouco alfabetizado
Baiano de Santa Bárbara
Sertanejo antenado
Acima de tudo um forte…
E por que ficar calado?

Resolvi tomar coragem
E entrei logo em ação.
Fui dialogar com o povo
E colher a opinião
Se Caetano está correto
Ou merece punição.

Lápis e papel na mão
Comecei a anotar
Tudo em versos de cordel
Da cultura popular
A respeito de Caetano
Conforme vou relatar.

— Artista santo-amarense
Amante da burguesia
Esse baiano arrogante
Cheio de filobostia
Discrimina o presidente
Esbanjando ironia.

— Caro artista prepotente
Tenha mais discernimento.
Seja um Chico Buarque
Seja Milton Nascimento
Seja a luz do Raul Seixas
Deixe de ser rabugento.

— O Caetano deveria
Ser modesto e mais gentil
Porém o seu narcisismo
Que não é nada sutil
Faz dele um homem frustrado
Por ser bem menor que Gil.

— Seu comportamento vil
É algo de outra vida
Ele insiste em muitos erros
Não cura sua ferida
Por isso sua falação
É de alma involuída.

— Caetano é um arrogante
Partidário da exclusão
O que ele fez com Lula
Faz com qualquer cidadão
Sobretudo gente humilde
Que não tem diplomação.

— Por que este cidadão
( o Caetano escleroso )
Não criticou Figueiredo
Presidente desastroso ?
Além de aproveitador
O Caetano é medroso.

— Esse Cae que ora vejo
Não representa a Bahia.
Ser o chefe da Nação
Esse invejoso queria
Mas a sua paranóia
Pouco a pouco lhe atrofia.

— Já pensou se o Caetano
Fosse então educador ?!
“Mataria” os seus alunos
Pela falta de pudor
Pela discriminação
Pelo brio de ditador.

— Ele não leu Marcos Bagno
Pois é leitor displicente.
Seu preconceito lingüístico
Contra o nosso presidente
Discrimina Santo Amaro
Terra de Assis Valente.

— Ele ofende até os mortos:
Paulo Freire, Gonzagão
Patativa do Assaré
O Catulo da Paixão
Ivone Lara, Cartola
Pixinguinha, Jamelão…

— Caetano é um imbecil
Da ditadura um amante.
Um artista egocêntrico
Decadente ambulante
Se julga intelectual
Mas é mesmo arrogante.

— A Bahia está de luto
Diante da piração
Desse artista rabugento
Que adora a exclusão,
Vaca profana, ególatra
Que quer chamar a atenção.

— Vai de reto, Caetanaz
Pega o Menino do Rio
Garoto alfabetizado
Que te provoca arrepio.
Esse sim, não é grosseiro
Nem cafona pro teu cio.

— Um burguês reacionário
Que odeia a pobreza.
Ele não gosta de negro
E só vive na moleza.
Sempre foi um lambe-botas
Do Toninho Malvadeza.

— Vou atender meu cachorro
Pois é algo salutar
Muito mais que prazeroso
Que parar pra escutar
O Caetano elitista
Que começa a definhar.

— Certamente o Caetano
Esqueceu do Gardenal.
Bem na hora da entrevista
Lá se foi o bom astral
Desandou no Estadão
Dando um show de besteiral !

— Caetano ‘Cardoso’ segue
Sempre a favor do “vento”
Por entre fotos e nomes
Sem lenço nem argumento
Vivendo só do passado,
Cada vez mais ciumento.

— Eu respeito a sua arte
Mas preciso declarar
Que quando não tá na mídia
Cae começa a atacar
Sobre tudo as pessoas
De origem popular.

— O Caetano gosta mesmo
É de gente diplomada:
Serra, Aécio, Jereissati,
Toda tribo elitizada…
Bajulou FHC
Que fez muita trapalhada.

— O Caetano discrimina
Pois está enciumado.
Na verdade, o nosso Lula
É um homem educado.
Um nordestino sensível
Muito mais que antenado.

— Dona Canô, com 102 anos
Não perdeu a lucidez.
Mas seu filho Caetano
Ficou pirado de vez
Transformando-se num “cara”
De profunda insensatez.

— Ofendeu Marina Silva
Através do Silogismo
Mistura de Lula e Obama
Logo quer dizer racismo:
Mulher cafona, grosseira
Analfabeta – que abismo!

Adoro Mabel Veloso,
Betânia, dona Canô…
Para toda essa família
Meu carinho, meu alô.
Mas o mestre Caetanaz
Já está borocoxô!

É proibido proibir
O cordelista versar
Pois conforme disse Cae
“Gente é para brilhar”.
Então permita ao poeta
Liberdade de pensar.

Brasileiros, brasileiras
A Bahia está de luto.
Racistas em nossa terra
Radicalmente eu refuto.
Estamos envergonhados,
Todos fomos humilhados
Oh Caetano ‘involuto’.

FIM

Salvador, triste primavera de 2009