Por Jason Martin*
Tradução de Roseli Andrade
Nos tempos atuais, todos os
países da América Latina são exemplo do que acontece quando você deixa os
nativos sobreviveram. Embora os impérios europeus tenham feito um grande
esforço para matar o maior número possível de nativos, todos os laços formais
com seus mestres europeus foram desfeitos. Mais tarde, quando os Estados Unidos
dominaram a América Latina, instalaram um grande número de governos e ditadores
lacaios e mataram e torturaram o maior número de opositores possível. Mesmo
assim, atualmente têm visto quase todos
tentando criar asas. Primeiro foi a Venezuela, e agora o Brasil, Equador,
Argentina e muitos outros cortejando a Rússia e outros membros do BRICS. Logo
eles terão de destruí-los (como recentemente tentaram com a Venezuela) ou perdê-los.
A Inglaterra perdeu o controle
psicológico da maioria de suas colônias, e certamente perdeu a Índia, por causa
disso, embora ainda mantenha algum controle econômico.
Então, qual é o plano final de
Israel? É precisamente o que precisa ser e o que acontece sempre no
estabelecimento de um novo estado: a
destruição completa e a dispersão da população nativa que possa reivindicar a
terra.
A destruição de um povo pode ser
feita de duas maneiras: genocídio ou absorção. O método de absorção era
frequentemente utilizado pelos romanos, especialmente por Júlio César, por ser
a opção mais misericordiosa. Absorver um povo é garantir direitos plenos e
cidadania e integrar o novo território o mais breve possível ao Estado. Durante
o movimento dos Direitos Civis na década de 1960, os negros, embora não
necessariamente “nativos”, apresentaram um problema real para as elites
americanas. A solução para o problema foi uma completa absorção dessa
população, que até o momento nada mais era do que mão-de-obra barata.
Os Estados Unidos atualmente
ocupam o Reino do Havaí e já absorveram quase que completamente sua população. Embora haja um ressurgimento da
cultura e idioma havaianos, é quase
exclusivamente "a Cultura Americana Havaiana".
A França obteve um grande êxito
na absorção das regiões de Aquitaine e Languedoc no que é atualmente o sul do
país, enquanto que a Espanha enfrenta muitos problemas em
relação ao País Basco e Catalunha porque permitiu que esses povos mantivessem
sua língua e cultura. O principal componente na absorção de um povo é a
proibição e repressão de sua cultura nativa e forçá-lo
a aprender uma linguagem e
história alternativas, aquela que justifica normalmente a sua absorção.
O problema com essa opção por
Israel é que seria apenas uma questão de tempo, ao conceder a cidadania aos refugiados
palestinos, que a região se tornasse predominantemente de população
palestina. É difícil imaginar que o menor possa absorver o maior. Visto que o
Sionismo está interessado em criar um estado “Judeu”, isso se torna duplamente
impossível. A menos que, é claro, os palestinos possam ser coagidos a abraçar o
judaismo e aprender hebraico. Mesmo assim isso continua inaceitável devido aos
padrões étnicos do Sionismo: os judeus são tanto uma religião e uma etnia. Os palestinos
jamais poderiam ser judeus “reais” porque eles são semitas.
Isso leva a uma única opção:
matar todos os palestinos, o que é essencialmente o que Israel tem feito desde
que foi criado.
O problema que se apresenta à elite israelense é que
o resto do mundo já percorreu um
longo caminho desde os "Tempos
do Velho Testamento”, em que matar
populações inteiras era prática comum. O
senso de justiça, humanitarismo e tolerância simplesmente não permite mais
isso, a menos, é claro, que as pessoas sendo exterminadas sejam suficientemente desumanizadas. O pior é
que o atual sentido de civilização não permite do mesmo modo até mesmo uma
absorção total.
A França, atualmente, enfrentado problemas com os
descendentes dos povos de suas antigas colônias, tanto que começaram a proibir
determinadas vestimentas como o uso de véu em público, o que tem causado grande
alvoroço.
As pessoas normais, em geral, não
matam cães à toa. Entretanto, há duas situações em que a morte de um cão é
aceita: 1) se ele está muito doente e 2) se está raivoso e representa um perigo
aos outros. O objetivo final dos israelenses é criar uma situação em que
possam, ou pelo menos esperam poder, sacrificar o povo palestino para "um
bem maior" Falando sinceramente, eles querem que todos creiam que os palestinos
são cães raivosos.
O que é
preciso para a desumanização de um povo? Bem menos do que se possa imaginar.
Basta demonstrar que os indivíduos mortos eram desumanos e criminosos. Assim
como os nativos americanos foram provocados até a revolta e sua forma primitiva
de guerra considerada como “bárbara”. É claro que eles eram “bárbaros”; eles
praticamente só possuiam como arma machados de sílex e é mesmo difícil matar
alguém rapidamente com machados de sílex.
Todos os psicopatas desejam que suas ações
depravadas sejam aceitas e admiradas. Em última análise, isso não
acontece, mas o custo de vidas humanas é o assunto aqui. A
história julgará o silêncio do
ocidente mais duramente do que
a brutalidade israelense. Os israelenses têm uma posição pragmática e lógica (o pragmatismo e a lógica não têm nada a ver com a humanidade e moralidade). Mas que
aceitemos a sua lógica cruel
e desumana é o maior crime do mundo atual.
Parte do
objetivo de destruir os palestinos é o esforço de desumanizá-los. O mito do
suicida-bomba é uma das táticas que os israelenes usam; a idéia de que os
palestinos usam suas próprias crianças como “escudos humanos” é outra; uma
tática tão velha quanto as colinas. Nos tempos antigos era costume trocar
reféns. A diferença-chave é que era também costume garantir o bem estar desses
reféns.
É curioso olhar pra trás e notar
que em cada conflito significativo e importante em que o Ocidente se meteu
antes da I. Guerra Mundial, sempre que apareciam imagens de civis mortos, as
autoridades estabelecidas imediatamente proclamavam que se tratava de “escudos
humanos”.
O Manual Britânico de Lei
Militar, publicado quando eclodiu a I Guerra Mundial, observou que colocar
civis em trens nos territórios ocupados para evitar ataques “não pode ser
considerada uma prática condenável”. E a Convenção de Genebra Relativa à
Proteção de Civis em Temos de Guerra (IV): Comentário 208 (ICRC, J. Pictet ed.,
1958) observa:
"...a opinião pública ficou
chocada devido a ocasiões (felizmente raras) em que os combatentes obrigavam os
civis a permanecerem em lugares de importância estratégica (como estações de
trens, viadutos, barragens, usinas e fábrica, ou a acompanhar comboios
militares, ou servir de tela de proteção para as tropas em combate. Tais
práticas, cujo objetivo é desviar o fogo inimigo, têm sido altamente condenadas
como cruéis e bárbaras..."
Michael N. Schmitt nota essa
pequena pérola no Escudos Humanos na
Lei Internacional Humanitária:
"Na maioria das vezes, a dramática assimetria que caracteriza
muitos dos conflitos atuais faz surgir escudos humanos. Confrontada pela esmagadora superioridade tecnológica, as partes mais fracas têm-se utilizado
de escudos humanos como “tática de guerra” para se defender do que eles não podem derrotar efetivamente,
utilizando as forças e armas que dispõem”.
Ao mesmo tempo em que a lei
internacional tem muito a dizer sobre escudos humanos, e destaca que se trata,
de modo inequívoco, de um crime de guerra, diz muito pouco sobre o que se deve
fazer quando confrontado por escudos humanos. A prática atual, principalmente
usada por Israel, é bem específica naquele documento:
A segunda, e correta, abordagem a escudos humanos voluntários
evita resultados insatisfatórios, tratando-os como participantes diretos
nas hostilidades. A
racionalidade desta posição foi descrita acima. Desde
que participantes
diretos são
objetivos militares legítimos,
escudos humanos voluntários,
obviamente, não merecem consideração,
quer na avaliação da proporcionalidade ou
durante a análise de planos alternativos
de ataque que poderia minimizar os danos à população civil.
Muito tem sido feito pelo Ocidente
e por Israel para reclassificar civis como militantes ou insurgentes para
justificar sua transformação em alvos militares. Isso pode ser feito facilmente
porque a maioria dos ocidentais está a uma distância segura do conflito e
recebe poucas informações confiáveis. E soa muito mais razoável ouvir nos
jornais que “100 insurgentes foram mortos” a “100 crianças foram mortas”.
Penso que esse método de
reclassificação de civis como insurgentes apresenta um desenvolvimento
importante na política porque é essencialmente a “antiestratégia de Ghandi”. As
elites ocidentais no Século XX sofreram uma série de reveses devido a protestos
pacíficos contra suas ações violentas. Sua resposta é de duas mãos: se uma
população evita a violência, elas enviam agents provocateurs; se isso não dá certo, usam operações de falsa
bandeira. Falsa bandeira simplesmente
significa mover um destacamento de soldados sob outra bandeira ou símbolo de
modo que os sobreviventes reportem terem visto a bandeira de outro grupo e o
culpem. Nos dias atuais, isso significa se vestir e falar como os palestinos ou
árabes e praticar alguma ação terrorista para culpá-los.
Tem se tornado atualmente uma
prática padrão quando civis são mortos, mesmo por acidente, reclassificá-los como
insurgentes, combatentes ou escudos humanos (especialmente voluntários).
Existem dois tipos de pessoas em um conflito armado: soldados e civis. Toda e qualquer tentativa de alterar essa
definição é fundamentalmente imoral. Um soldado é uma pessoa recrutada pelo
serviço militar de um estado estabelecido. Ele é pago pelo estado para
defendê-lo contra seus inimigos. Quando não há estado nem exército, então
somente há civis. Se esses civis cometem atos de violência contra os cidadãos
de seu próprio país, ou de outro, então se trata de um ato “criminoso”.
A questão de haver ou não a
formação de escudos humanos, na verdade, é uma questão errada. A verdadeira
questão é: por que os palestinos não usam meios militares mais eficazes para se
proteger? Por que proteger as pessoas com “foguetes” quando se pode proteger
com tanques? Ou com escudo de defesa antimísseis? É porque eles não possuem
nada disso. Eles não possuem capacidade defensiva alguma. Desde que Israel nunca se preocupou em matar civis para alcançar até
mesmo um objetivo militar tênue,
por que usar escudos humanos? Eles
simplesmente não funcionam contra os
israelenses. Alguma coisa cheira a podre no Reino da Dinamarca.
Trata-se de
um processo de desumanização – ou mais especificamente, de “de-civilização” –
dos Palestinos para assim ser mais fácil abatê-los. E se trata realmente de
abate porque, da perspectiva do establishment político de Israel, os palestinos
são uma praga interferindo em seus grandiosos planos de um estado judaico. E de
determinado ponto de vista, embora psicopata, eles estão certos. Os palestinos
realmente representam uma ameaça primitiva ao estado de Israel. Mas não como
“terroristas”, antes como pretendentes
legítimos à terra.
Lembre-se que Israel existe
graças à compaixão. O Império Britânico teve dó dos judeus por eles terem
sofrido tanto e deu a eles um território. Quem pode garantir que no futuro
alguém não sintará também compaixão pelos palestinos e dê a eles o direito de
retornaram à Palestina?
Esse é especificamente o motivo
pelo qual os israelitas encaixotaram os palestinos e não permitirão que eles
saiam. Eles não têm para onde ir e nunca terão. Israel se assegurará que nenhum
número significativo de palestinos permaneça vivo para voltar e reivindicar
suas terras.
Resumo até agora:
1.
O objetivo de Israel é ter um Estado Judaico;
qualquer outra coisa é secundária;
2.
Para ter esse Estado Judaico, eles simplesmente não
podem absorver os numerosos árabes; dessa forma, eles têm que matá-los;
3.
Para matá-los, eles precisam desumanizá-los e
torná-los radicais; além disso, politicamente precisam reclassificá-los como
combatentes, insurgentes, terroristas ou escudos humanos voluntários.
Israel soube até agora controlar
a situação na Palestina de modo muito inteligente. Eles utilizaram o método da
colonização na forma de “assentamentos” para expandir seu território. Depois
escolheram alvos específicos para destruir a fim de revoltar a população palestina. Um rato encurralado luta com um gato. E,
finalmente, instalaram um governo lacaio, neste caso, Governos Lacaios.
Lembre-se do que disse Maquiavel:
Como tenho dito, quanto àqueles estados que são conquistados
e costumam ter suas próprias leis e viver em liberdade, existem três modos de
mantê-los: o primeiro é destruí-lo; o
segundo é ir viver no local; o
terceiro é permitir que continuem a viver de acordo com suas próprias leis,
forçando-os a pagar tributos e criando, dessa forma, um governo composto por
poucas pessoas que manterão o estado como
seu aliado.
É aqui que muitas pessoas se
perdem. A expressão mais correta é interpretam mal: "Que manterão o estado
como seu aliado". Seria melhor dizer "que manterão o estado
trabalhando para alcançar os seus objetivos." Israel não quer a paz com
os palestinos; eles querem uma autoridade militante, mesmo que completamente
incompetente, para irritar a população e dizer coisas violentas e ignorantes
para a mídia.
A partir dessa perspectiva, o
Hamas é o pior grupo de líderes para os palestinos. Eles são quase como caricaturas
de uma organização terrorista. Um de seus maiores hits, usado com bom efeito
por Israel é:
"A hora do julgamento não
virá até que os muçulmanos lutem contra os judeus e os matem, então os judeus
se esconderão atrás de árvores e pedras, e cada árvore e pedra dirá: “Oh, Muçulmanos,
oh, servos de Alá, há um judeu atrás de mim, venha e o mate, exceto pela árvore
Gharqad, pois essa é a árvore dos judeus”.
Sério? Eles são mesmo tão imbecis
assim? Que tipo de organização terrorista se apresenta como terrorista? Citando
árvores e pedras falantes? A verdade, claro, é que o Hamas serve às
necessidades de Israel mais do que qualquer um. Sua constante retórica é feita
sob medida para sempre paralisar o processo de paz... e feita sob medida por
Israel.
O lema do Mossad, a agência de inteligência de Israel é (mais ou menos): "Por meio de trapaças". E elas são muito eficazes, por natureza. É bem conhecido
e aceito que a rede de inteligência
do Mossad é uma das melhores do
mundo. Todos sabem disso. Então,
exatamente como é possível acreditar que eles não tenham conseguido se infiltrar no Hamas?
(continua)
*O autor é filósofo republicano, conservador libertário. Jay passa seus dias estudando a história da guerra, da violência e das artes marciais. É programador de computador, artista e ilustrador.