Manito foi, de longe, o melhor músico da Jovem Guarda. Nos Incríveis, era show de bola. Fundou o Som Nosso de Cada Dia, um trio bem adiantadinho para a época (já tive o LP deles).
Chamava-se Antonio Rosa Sanchez e era nascido na Galícia, Espanha. Talvez um parente distante. Minha família é de Galícia e tem Sanchez.
Morte gloriosa a Manito.
Aqui ele toca com Raul de Souza, ex-trombonista da banda da Base Aérea do Bacacheri.
Espero que Manito receba as merecidas homenagens.
A minha, humílima, segue aqui.
sexta-feira, 9 de setembro de 2011
"El fin de los paseadores de perros"
Dirceu Martins Pio (publicado originalmente no Observatório da Imprensa).
A educação de qualidade –e só ela – vai conseguir sustentar o desenvolvimento do Brasil ao longo do tempo. Se tomarmos a premissa como verdadeira, descobriremos o quão graves são as informações divulgadas pela imprensa neste 26 de agosto: metade das crianças brasileiras que concluíram o 3º ano (antiga segunda série) em escolas públicas e privadas nas capitais brasileiras não aprendeu os conteúdos esperados para esse nível de ensino, ou seja, estão a caminho de serem transformadas em “analfabetos funcionais”, segundo resultados da prova ABC (Avaliação Brasileira do Final do Ciclo de Alfabetização).
Mais grave que isso: a mídia dedicou ao assunto uma cobertura de rotina, pontual, burocrática, como se não entendesse a importância do assunto que divulgou. Está mais do que na hora de a mídia incentivar o debate, iluminar o assunto em toda a sua profundidade, para assim talvez produzir uma espécie de mutirão nacional pela qualidade do ensino fundamental, tal como aconteceu na iniciativa dos empresários com o seu “Todos pela Educação”. A baixa qualidade da educação deveria ser a nossa prioridade número um. É a grande emergência brasileira.
Minha sugestão é que editores e repórteres brasileiros fizessem uma visita a Buenos Aires na condição de meros turistas. Chegariam à conclusão, em poucos dias, que, se nada for feito para melhorar a qualidade do ensino brasileiro, seremos novamente a Argentina amanhã.
A deletéria reforma do ensino
O país de Cristina Kirchner, pelo que se vê através de sua maior cidade (4 milhões de habitantes num conglomerado metropolitano que beira os 12 milhões), está sem forças para vencer a crise que o assola há tantos anos e que o faz depender cada vez mais de seu único sustentáculo: o agronegócio. Em recente entrevista ao La Nación, o Nobel de economia Joseph Eugene Stiglitz, admirado pelos kirchenistas, apontou as causas dessas dificuldades: “O turismo cresce, há algum crescimento do setor tecnológico, mas não há suficiente diversificação da economia possivelmente porque a qualidade do sistema educativo em seu conjunto não é tão boa.”
Na frente do famoso La Biela, bar e restaurante do bairro La Recoleta, a professora aposentada Nádia Bernaz, com 76 anos, fala alto, para quem quiser ouvir: “O governo destruiu o ensino argentino por razões políticas. Eu era reitora de um grande colégio público de Buenos Aires quando vieram as mudanças, pensadas para que as escolas deixassem de produzir cérebros tão críticos em relação às mazelas da política.”
Bem informado sobre as questões da política Argentina, o jornalista Ricardo Sarmiento não apenas confirma o que diz a professora Nádia Albernaz como mostra que houve conivência da mídia argentina com a deletéria reforma do ensino introduzida pelo governo de Raul Alfonsín (1983/1989): “Como foi o primeiro governo democrático depois do regime militar, a mídia foi complacente com ele, de medo que houvesse retrocesso e os militares retornassem ao poder.”
Comércio popular
Os militares, que haviam abatido com suprema violência quase uma geração inteira de professores, cientistas, pesquisadores e intelectuais, não retornaram, mas os civis nada fizeram para recuperar o antigo modelo educacional do país, que já foi considerado o melhor da América Latina. Em seu primeiro mandato, Cristina Kirchner elevou os investimentos em educação dos tradicionais 1,5 a 2% do PIB para 6%, mas economistas e empresários ponderam que o acréscimo ainda não é suficiente para corrigir os erros do passado. Os sinais das dificuldades que a Argentina enfrenta para safar-se da crise estão por toda a parte de uma Buenos Aires hoje envelhecida (a professora Nádia Bernaz diz que a média da população aproxima-se de 45 anos de idade), onde se enxergam poucos jovens e quase nenhuma criança. “Não há como ter filhos neste país, pois será muito difícil sustentá-los”, diz Nádia Bernaz, que se queixa de que seus netos – todos eles, num total de seis – estudam mandarim e pretendem emigrar em busca de trabalho ou de melhor formação profissional.
Uma profusão de placas de “vende-se” ou “aluga-se” enfeita quase todos os prédios residenciais de bairros como San Telmo, Palermo, Retiro, Mataderos. Há edifícios que têm de duas ou três placas em cada andar.
Os turistas – brasileiros, em maior número – chegam aos milhares nos dois aeroportos, mas a cidade mostra-se desajeitada no modo de tratá-los e às vezes demonstra não ter interesse neles. Nos roteiros de compras – o que reflete a paralisia da indústria, incapaz de se diversificar – as mercadorias à venda se repetem à exaustão – artigos de couro, uma moda que dá sinais de cansaço, vinhos, queijos. E é só. A impressão que dá é que todo o comércio de Buenos Aires está em liquidação. Muitas lojas, contudo, apenas simulam um rebaixamento de preços, algo ilusório para o turista brasileiro, que só raramente consegue tirar proveito do valor de sua moeda, trocada a pesos (câmbio de agosto) à base de 2,5 por um.
As ruas da pequena Tigre – espécie de estância turística da região metropolitana onde as atrações são um cassino e uma feira de artesanato – ficam coalhadas de lixo nos fins de semana e feriados prolongados. Pergunto a um comerciante do lugar se não seria o caso de a comunidade mobilizar-se para limpar a cidade, mas a resposta demonstra uma atitude que parece comum em toda a região metropolitana: “A limpeza é obrigação da prefeitura, mas eles, os políticos, só sabem roubar o nosso dinheiro.” Os garis não dão conta de limpar tanto lixo jogado nas calçadas e nas ruas. E há recepcionistas de hotéis que recomendam aos hóspedes atirar tocos de cigarro e embalagens de plástico diretamente nas calçadas.
O glamour da Calle Florida parece viver seu estertor: com as “liquidações”, a rua tem sido invadida por turistas brasileiros, paraguaios, peruanos e chilenos, que a transformaram numa espécie de 25 de Março, rua de comércio popular de São Paulo. Os “puxadores” do comércio quase arrastam os transeuntes para dentro das lojas, onde há muita pechincha e pouquíssimas vendas.
População contaminada pela desesperança
Ônibus e trens carregam indícios da severidade da crise: levam placas que informam sobre os subsídios do governo ao transporte coletivo ou de protestos contra a entrada no setor de outras empresas concorrentes. Os trens suburbanos estão quase sucateados. As margens dos trilhos foram transformadas em depósito de lixo e algumas estações viraram abrigos para os indigentes que se multiplicam por toda a cidade. O melhor da viagem é, sem dúvida, a gastronomia, cujos restaurantes preservaram a qualidade de lomitos e bifes de chorizo a preços muito favoráveis aos visitantes brasileiros.
O mais eloquente sintoma da crise é sutil e só vai ser percebido pelas pessoas que estiveram em Buenos Aires 15 ou 20 anos atrás, num momento em que a economia do país vivia momentos bem mais favoráveis: trata-se da ausência, nas belas e extensas praças da cidade, dos paseadores de perros, jovens de ambos os sexos que levavam para passear os cães das famílias abastadas. Cobravam diária de até US$ 100 por animal e conduziam de 10 a 12 cães cada um. Esses personagens estão desaparecidos. Se continuam a existir, levam no máximo dois animais cada um. O que mais se vê em Buenos Aires são hoje homens e mulheres, geralmente de idade avançada, a levar seus cãezinhos para passeio. Na diária paga aos paseadores estava incluída a obrigação de recolher a sujeira que os cães produzem pelos longos passeios. O fim dos paseadores deve explicar a imundície que hoje toma conta do calçamento de ruas e praças dos bairros mais sofisticados de Buenos Aires.
O mais dramático é que a campanha eleitoral (a Argentina elegerá seu novo presidente em outubro e, ao que tudo indica, Cristina Kirchner será reeleita) está longe de empolgar a população da capital do país, contaminada pela desesperança. Pergunto a Nádia Bernaz em quem votará em outubro e sua resposta parece sintetizar o ânimo da maioria portenha: En cualquier uno, menos a Cristina.
Os jornais se preocupam menos com a campanha política e mais com as possíveis consequências para o país da crise internacional. Se continuar a investir em educação em seu provável segundo mandato, é possível que Cristina Kirchner resgate a qualidade do ensino público e assim deixe o país mais preparado para enfrentar os embates do futuro. Até agora, sua maior conquista foi estancar a evasão do ensino fundamental, um problema que no Brasil ainda é bastante grave. O problema que se coloca no momento é se haverá tempo de a Argentina colher os frutos da semeadura realizada com muito atraso.
***
[Dirceu Martins Pio é ex-diretor da Agência Estado e da Gazeta Mercantil]
A educação de qualidade –e só ela – vai conseguir sustentar o desenvolvimento do Brasil ao longo do tempo. Se tomarmos a premissa como verdadeira, descobriremos o quão graves são as informações divulgadas pela imprensa neste 26 de agosto: metade das crianças brasileiras que concluíram o 3º ano (antiga segunda série) em escolas públicas e privadas nas capitais brasileiras não aprendeu os conteúdos esperados para esse nível de ensino, ou seja, estão a caminho de serem transformadas em “analfabetos funcionais”, segundo resultados da prova ABC (Avaliação Brasileira do Final do Ciclo de Alfabetização).
Mais grave que isso: a mídia dedicou ao assunto uma cobertura de rotina, pontual, burocrática, como se não entendesse a importância do assunto que divulgou. Está mais do que na hora de a mídia incentivar o debate, iluminar o assunto em toda a sua profundidade, para assim talvez produzir uma espécie de mutirão nacional pela qualidade do ensino fundamental, tal como aconteceu na iniciativa dos empresários com o seu “Todos pela Educação”. A baixa qualidade da educação deveria ser a nossa prioridade número um. É a grande emergência brasileira.
Minha sugestão é que editores e repórteres brasileiros fizessem uma visita a Buenos Aires na condição de meros turistas. Chegariam à conclusão, em poucos dias, que, se nada for feito para melhorar a qualidade do ensino brasileiro, seremos novamente a Argentina amanhã.
A deletéria reforma do ensino
O país de Cristina Kirchner, pelo que se vê através de sua maior cidade (4 milhões de habitantes num conglomerado metropolitano que beira os 12 milhões), está sem forças para vencer a crise que o assola há tantos anos e que o faz depender cada vez mais de seu único sustentáculo: o agronegócio. Em recente entrevista ao La Nación, o Nobel de economia Joseph Eugene Stiglitz, admirado pelos kirchenistas, apontou as causas dessas dificuldades: “O turismo cresce, há algum crescimento do setor tecnológico, mas não há suficiente diversificação da economia possivelmente porque a qualidade do sistema educativo em seu conjunto não é tão boa.”
Na frente do famoso La Biela, bar e restaurante do bairro La Recoleta, a professora aposentada Nádia Bernaz, com 76 anos, fala alto, para quem quiser ouvir: “O governo destruiu o ensino argentino por razões políticas. Eu era reitora de um grande colégio público de Buenos Aires quando vieram as mudanças, pensadas para que as escolas deixassem de produzir cérebros tão críticos em relação às mazelas da política.”
Bem informado sobre as questões da política Argentina, o jornalista Ricardo Sarmiento não apenas confirma o que diz a professora Nádia Albernaz como mostra que houve conivência da mídia argentina com a deletéria reforma do ensino introduzida pelo governo de Raul Alfonsín (1983/1989): “Como foi o primeiro governo democrático depois do regime militar, a mídia foi complacente com ele, de medo que houvesse retrocesso e os militares retornassem ao poder.”
Comércio popular
Os militares, que haviam abatido com suprema violência quase uma geração inteira de professores, cientistas, pesquisadores e intelectuais, não retornaram, mas os civis nada fizeram para recuperar o antigo modelo educacional do país, que já foi considerado o melhor da América Latina. Em seu primeiro mandato, Cristina Kirchner elevou os investimentos em educação dos tradicionais 1,5 a 2% do PIB para 6%, mas economistas e empresários ponderam que o acréscimo ainda não é suficiente para corrigir os erros do passado. Os sinais das dificuldades que a Argentina enfrenta para safar-se da crise estão por toda a parte de uma Buenos Aires hoje envelhecida (a professora Nádia Bernaz diz que a média da população aproxima-se de 45 anos de idade), onde se enxergam poucos jovens e quase nenhuma criança. “Não há como ter filhos neste país, pois será muito difícil sustentá-los”, diz Nádia Bernaz, que se queixa de que seus netos – todos eles, num total de seis – estudam mandarim e pretendem emigrar em busca de trabalho ou de melhor formação profissional.
Uma profusão de placas de “vende-se” ou “aluga-se” enfeita quase todos os prédios residenciais de bairros como San Telmo, Palermo, Retiro, Mataderos. Há edifícios que têm de duas ou três placas em cada andar.
Os turistas – brasileiros, em maior número – chegam aos milhares nos dois aeroportos, mas a cidade mostra-se desajeitada no modo de tratá-los e às vezes demonstra não ter interesse neles. Nos roteiros de compras – o que reflete a paralisia da indústria, incapaz de se diversificar – as mercadorias à venda se repetem à exaustão – artigos de couro, uma moda que dá sinais de cansaço, vinhos, queijos. E é só. A impressão que dá é que todo o comércio de Buenos Aires está em liquidação. Muitas lojas, contudo, apenas simulam um rebaixamento de preços, algo ilusório para o turista brasileiro, que só raramente consegue tirar proveito do valor de sua moeda, trocada a pesos (câmbio de agosto) à base de 2,5 por um.
As ruas da pequena Tigre – espécie de estância turística da região metropolitana onde as atrações são um cassino e uma feira de artesanato – ficam coalhadas de lixo nos fins de semana e feriados prolongados. Pergunto a um comerciante do lugar se não seria o caso de a comunidade mobilizar-se para limpar a cidade, mas a resposta demonstra uma atitude que parece comum em toda a região metropolitana: “A limpeza é obrigação da prefeitura, mas eles, os políticos, só sabem roubar o nosso dinheiro.” Os garis não dão conta de limpar tanto lixo jogado nas calçadas e nas ruas. E há recepcionistas de hotéis que recomendam aos hóspedes atirar tocos de cigarro e embalagens de plástico diretamente nas calçadas.
O glamour da Calle Florida parece viver seu estertor: com as “liquidações”, a rua tem sido invadida por turistas brasileiros, paraguaios, peruanos e chilenos, que a transformaram numa espécie de 25 de Março, rua de comércio popular de São Paulo. Os “puxadores” do comércio quase arrastam os transeuntes para dentro das lojas, onde há muita pechincha e pouquíssimas vendas.
População contaminada pela desesperança
Ônibus e trens carregam indícios da severidade da crise: levam placas que informam sobre os subsídios do governo ao transporte coletivo ou de protestos contra a entrada no setor de outras empresas concorrentes. Os trens suburbanos estão quase sucateados. As margens dos trilhos foram transformadas em depósito de lixo e algumas estações viraram abrigos para os indigentes que se multiplicam por toda a cidade. O melhor da viagem é, sem dúvida, a gastronomia, cujos restaurantes preservaram a qualidade de lomitos e bifes de chorizo a preços muito favoráveis aos visitantes brasileiros.
O mais eloquente sintoma da crise é sutil e só vai ser percebido pelas pessoas que estiveram em Buenos Aires 15 ou 20 anos atrás, num momento em que a economia do país vivia momentos bem mais favoráveis: trata-se da ausência, nas belas e extensas praças da cidade, dos paseadores de perros, jovens de ambos os sexos que levavam para passear os cães das famílias abastadas. Cobravam diária de até US$ 100 por animal e conduziam de 10 a 12 cães cada um. Esses personagens estão desaparecidos. Se continuam a existir, levam no máximo dois animais cada um. O que mais se vê em Buenos Aires são hoje homens e mulheres, geralmente de idade avançada, a levar seus cãezinhos para passeio. Na diária paga aos paseadores estava incluída a obrigação de recolher a sujeira que os cães produzem pelos longos passeios. O fim dos paseadores deve explicar a imundície que hoje toma conta do calçamento de ruas e praças dos bairros mais sofisticados de Buenos Aires.
O mais dramático é que a campanha eleitoral (a Argentina elegerá seu novo presidente em outubro e, ao que tudo indica, Cristina Kirchner será reeleita) está longe de empolgar a população da capital do país, contaminada pela desesperança. Pergunto a Nádia Bernaz em quem votará em outubro e sua resposta parece sintetizar o ânimo da maioria portenha: En cualquier uno, menos a Cristina.
Os jornais se preocupam menos com a campanha política e mais com as possíveis consequências para o país da crise internacional. Se continuar a investir em educação em seu provável segundo mandato, é possível que Cristina Kirchner resgate a qualidade do ensino público e assim deixe o país mais preparado para enfrentar os embates do futuro. Até agora, sua maior conquista foi estancar a evasão do ensino fundamental, um problema que no Brasil ainda é bastante grave. O problema que se coloca no momento é se haverá tempo de a Argentina colher os frutos da semeadura realizada com muito atraso.
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[Dirceu Martins Pio é ex-diretor da Agência Estado e da Gazeta Mercantil]
quarta-feira, 7 de setembro de 2011
terça-feira, 6 de setembro de 2011
O olhar de Capitu - 18.º capítulo de um romance inelutável
E o que sei é mais ou menos. O que é a política, apesar da constatação sobre a queda do combustível dos hipopótamos circunavegantes e seus planos? Instáveis os humanos. Gatos perpassam no tempo e redigem, otimistas, patamares oportunos. Sabem ser galos e calos, passeiam com estrangeiras amígdalas faceiras, cestas de ruas altaneiras.
Voltem, voltem, ventos e eventos. Traumáticas expansões vivenciadas, escassos cossacos nas praias. Espraiem-se. Imagéticos. Magnéticos. Solo de água de bateria. Muriáticos sentimentos. Pentimentos. Economia resumida. Diretivas felinas, opções ursinas. Impactos sem tato. Patos sem rimas.
Voltem, voltem, ventos e eventos. Traumáticas expansões vivenciadas, escassos cossacos nas praias. Espraiem-se. Imagéticos. Magnéticos. Solo de água de bateria. Muriáticos sentimentos. Pentimentos. Economia resumida. Diretivas felinas, opções ursinas. Impactos sem tato. Patos sem rimas.
Código de Hamurábi
127. Se alguém "apontar o dedo" (enganar) a irmã de um deus ou a esposa de outro alguém e não puder provar o que disse, esta pessoa deve ser levada frente aos juízes e sua sobrancelha deverá ser marcada.
128. Se um homem tomar uma mulher como esposa, mas não tiver relações com ela, esta mulher não será esposa dele.
129. Se a esposa de alguém for surpreendida em flagrante com outro homem, ambos devem ser amarrados e jogados dentro d'água, mas o marido pode perdoar a sua esposa, assim como o rei perdoa a seus escravos.
130. Se um homem violar a esposa (prometida ou esposa-criança) de outro homem, o violador deverá ser condenado à morte, mas a esposa estará isenta de qualquer culpa.
131. Se um homem acusar a esposa de outrém, mas ela não for surpreendida com outro homem, ela deve fazer um juramento e então voltar para casa.
132. Se o "dedo for apontado" para a esposa de um homem por causa de outro homem, e ela não for pega dormindo com o outro homem, ela deve pular no rio por seu marido.
128. Se um homem tomar uma mulher como esposa, mas não tiver relações com ela, esta mulher não será esposa dele.
129. Se a esposa de alguém for surpreendida em flagrante com outro homem, ambos devem ser amarrados e jogados dentro d'água, mas o marido pode perdoar a sua esposa, assim como o rei perdoa a seus escravos.
130. Se um homem violar a esposa (prometida ou esposa-criança) de outro homem, o violador deverá ser condenado à morte, mas a esposa estará isenta de qualquer culpa.
131. Se um homem acusar a esposa de outrém, mas ela não for surpreendida com outro homem, ela deve fazer um juramento e então voltar para casa.
132. Se o "dedo for apontado" para a esposa de um homem por causa de outro homem, e ela não for pega dormindo com o outro homem, ela deve pular no rio por seu marido.
Keith Jarrett - Summertime
Falando em Keith Jarrett.
Absoluto.
Certa vez, o fotógrafo Orlando Kissner, acompanhado por uma loura, tipo Maria-Nikon, adentrou (sim, adentrou) ao recinto do Saul Trumpet, com o Saul tocando e, num intervalo, interrompeu: "Toca ´Summertime` que a moça é de primeira."
Então, ao Orlando, o querido Polaco, a homenagem deste blog, com o Keith Jarrett roubado do You Tube.
Absoluto.
Certa vez, o fotógrafo Orlando Kissner, acompanhado por uma loura, tipo Maria-Nikon, adentrou (sim, adentrou) ao recinto do Saul Trumpet, com o Saul tocando e, num intervalo, interrompeu: "Toca ´Summertime` que a moça é de primeira."
Então, ao Orlando, o querido Polaco, a homenagem deste blog, com o Keith Jarrett roubado do You Tube.
Miles e Airto (e Keith Jarret et al)
Airto Guimorvan Moreira é catarina. Tocou bateria na zona em Guarapuava. Veio para Curitiba e tocou na noite, sobrevivendo. Arrumou uma boquinha na banda da Aeronáutica, no Bacacha. Morava no Uberaba. Conheci-o na casa do Aramis Millarch, Airto já rico e famoso. Visitava (não sei se ainda) os parentes no bairro. Sucesso nos EUA, pra onde foi em busca de sua Flora, com passagem paga pelo Chico Buarque e pelo Lanny Dale. É um gênio da música. Foi muito gentil comigo, na casa do Aramis e, depois, na XV, na boca dos músicos, onde os caras me acharam quem é esse? Anos 70, quando o conheci. Nunca mais o vi pessoalmente. É um raro. Longa vida a Airto Moreira, que mostrou a Miles Davis o que é a percussão brasileira. Chegou a fazer show com Miles para a Máfia. Apresentou Hermeto a Miles. Miles roubou duas músicas de Hermeto. Veja e ouça Airto com Miles na Ilha de Wight. Pós-Woodstock. Longa vida a Airto.
O julgamento de Otelo, no Guairão
É tradição nos (bons) cursos de direito promover julgamentos de figuras da história, da mitologia e da literatura. Jesus, Judas Iscariotis, Julio Cesar, Napoleão, Hitler, Sacco e Vanzetti, o casal Rosenberg e outros que essa cabeça de abóbora agora esquece sentaram-se no banco dos réus mundo afora.
Como você, raro leitor, verá abaixo, dia 23 deste setembro, uma sexta-feira, o Guairão receberá professores, estudantes, curiosos e ratos de tribunal para acompanhar o julgamento de Otelo - o de Shakespeare, que matou Desdêmona pelas fofocas de Iago (um casal de amigos tem um filho com este nome, bonito por sinal, mas feio por sina literária).
Será um julgamento pra valer, com feras do direito penal, ator, diretor e jurados. A lei penal e o processo idem serão brasileiros, creio. Programa melhor que muito teatrinho que anda por aí.
Como ex-aluno da faculdade de direito da Federal - pela qual não me formei, por razões que não me cabem aqui comentar -, pretendo estar na plateia. No palco, feras que admiro, como o professor René Dotti, de quem fui aluno, e o professor Jacinto Coutinho, de quem fui veterano na faculdade. Jacinto foi também namorado da Annamaria Marchesini, que entrou comigo no curso de comunicação da Federal, em 75 (a dama em primeiro lugar, este cavalheiro em segundo).
O evento comemora os 80 anos do glorioso Centro Acadêmico Hugo Simas, do qual fui associado. E ao qual concorri, como orador da chapa de oposição encabeçada pelo amigo Haroldo Montanha Teixeira (colega também do Colégio Estadual do Paraná), bestamente falecido pouco tempo atrás. Faziam parte de nossa chapa colegas insatisfeitos com os rumos do CAHS, claramente de direita, entre eles o Xixo Ramos, baita advogado trabalhista. Era 1976 e eu tinha 21 anos. Ditadura Geisel, lembre-se.
O candidato da situação era o Luís Eduardo de Mello Leitão Salmon - salvo engano, hoje promotor em Paranaguá -, mas quem assustava era o orador da chapa adversária: Luiz Carlos de Lima Vianna, que ainda no segundo ano do curso dava a aula trote nos calouros. Era, e tenho certeza de que ainda é, um craque da oratória, um sujeito imponente pela voz e pelo seu mais de 1,90 metro de altura, barba bem cortada, pose de lorde, discurso irretocável. Vianna já estava no terceiro ou quarto ano do curso. Já mostrava seu talento, hoje hospedado na Procuradoria da Justiça do Paraná. Sério: quando eu for governador, vou brigar para que seja procurador-geral da justiça do estado.
Do lado dele, da situação, quase toda a minha turma, torcendo pra que nós nós fodêssemos. Inimigos. Até o turco Riad, festeiro, mais Cícero Portugal, Juraci Barbosa Sobrinho, Marta Weber, Mary Nogueira e tal. "Traidores". Do nosso lado, algumas meninas tímidas, o Tidinho (Aristides Prado), Emilson Schafron e uns poucos.
Pois houve o debate entre as chapas, e quem as defendiam eram, por óbvio, os oradores. Vianna de lá, eu de cá. Minha turma me escalou meio na marra. Na manhã do debate - programado para uma sala igual a um tribunal (existirá ainda?) no prédio central da UFPR - levaram-me a um bar do outro lado da rua. Conhaque pra criar coragem. Haroldo me ajudou. Devo ter tomado uns três Domecqs pra quebrar a timidez e o respeito pelo Vianna, de quem, antes disso, tornara-me amigo via Riad.
Foi uma pugna febril. Ele batia em minha chapa e eu batia no Salmon - coisa de briga de rua, quando você, mais fraco, escolhe um - e, de quebra, nos pontos fracos deles. Vianna batia e eu devolvia. Eu batia e Vianna me destroçava.
No final, perdemos, cobertos de hematomas. A pressão da situação era muito forte e a campanha deles, no boca-a-boca, cartazes, promessas e tal, era mesmo imbatível. Mas, contados os votos, eis que tive 12 votos individuais para o orador. Nem lembro quantos foram os do Vianna, mas minha fantasia me leva a acreditar que o venci. Afinal, fui inseguro, mas incisivo, verdadeiro, sincero, livre atirador. Tive 12 votos como orador, vejam só, eu, o tímido eterno, calado. Falei pra carajo.
Memórias, meu bem, memórias de um quase senhor.
Longa vida a todos nós. Minhas homenagens ao Vianna.
O CAHS continuou dominado pela direita - que o Vianna definitivamente não era, mas navegava sobre as circunstâncias -, e a esquerda só veio a tomar o CAHS muito tempo depois.
Pois essa pequena viagem me veio a essa cabeça de porongo por causa desse belo espetáculo do CAHS. Será um debate e tanto, e quero estar lá pra rever os amigos e reverenciar a bela e trágica história do bardo inglês.
Gosto do Otelo e sei que o Jacinto fará um belo trabalho. Mas, convenhamos: no teatro e na vida real, em qualquer tempo, Otelo, meu caro infeliz, você perdeu.
Quanto ao Iago (nem falo do babaca do Cassio), esse é um grande filhodaputa.
Todos ao Guairão, pois.
Segue o reliss.
Um julgamento que nem Shakespeare poderia prever: este é o mote do espetáculo O Julgamento de Otelo, montagem que homenageia os 80 anos do Centro Acadêmico Hugo Simas (CAHS). No próximo dia 23 de setembro, juristas de renome sobem ao palco do Guairão para julgar o general mouro da literatura shakespeariana pelo assassinato de sua esposa, Desdêmona. Seria possível culpar Otelo pela morte da amada? Seria impulso, motivado pelas armações do traiçoeiro Iago? Ou será que o general poderia ser inocentado pelo homicídio que cometera tomado pela vingança?
A ideia de montar o espetáculo surge da proposta de resgate histórico da gestão O Tempo Não Para (CAHS 2010/2011). Isso porque O Julgamento de Otelo foi já foi realizado uma vez, há exatos 50 anos, pelo Centro Acadêmico, à época presidido pelo desembargador do Tribunal de Justiça, Munir Karam. O próprio desembargador, já aposentado, por sinal, coordena o evento ao lado do professor René Ariel Dotti, um dos maiores juristas do país. Aproveitando a data comemorativa dos 80 anos do Centro Acadêmico, a gestão do CAHS não demorou a solicitar a tutoria de ambos, pela experiência com a apresentação anterior.
A edição atual contará com o advogado Técio Lins e Silva na acusação, e o professor titular de direito penal da UFPR, Jacinto Nelson de Miranda Coutinho, como defesa. O juiz Daniel Ribeiro Surdi de Avelar, do Tribunal do Júri de Curitiba, será o responsável pela presidência d’O Julgamento, e, como protagonista do espetáculo, o ator Danilo Avelleda interpretará o réu, Otelo. A direção cênica ficou por conta de José Plínio Taques Martins. E, para quem pensa que o resultado pode ser previsível, esta edição contará com um diferencial que, necessariamente, a torna diferente da anterior: enquanto a primeira teve o júri composto pelo modelo inglês, com doze participantes, a nova será feita pelo modelo brasileiro, composto por sete jurados. Deste modo, o empate, como no resultado da adaptação de 1961, fica impossibilitado.
Outro diferencial é que toda a renda líquida do evento será doada a uma instituição de caridade, o Centro de Educação Dom Pedro II. O espetáculo tem o apoio do HSBC, da OAB/PR, do Curso Prof. Luiz Carlos, da EMAP, do Teatro Guaíra e da Faculdade de Direito da UFPR. Os ingressos já estão à venda na bilheteria e site do Teatro Guaíra, no Tribunal do Júri, na Escola da Magistratura e com os membros do CAHS (Mayara, Amália, André Luiz, Ananda e Sérgio). O valor do ingresso é R$ 30 (trinta reais), sendo R$ 15 (quinze reais) a meia-entrada, para os estudantes.
Participe deste grande evento cultural e jurídico, que marcará época na já gloriosa história do Centro Acadêmico Hugo Simas.
O JULGAMENTO DE OTELO
Auditório Bento Munhoz da Rocha Neto – Guairão
Endereço: Rua XV de Novembro, 971
Data: 23/09/2011
Horário: 20h30
Ingressos: R$ 30 e R$ 15 (meia-entrada)
Locais de venda: Teatro Guaíra, Tribunal do Júri, EMAP e CAHS
Informações: contato@cahs.or
Como você, raro leitor, verá abaixo, dia 23 deste setembro, uma sexta-feira, o Guairão receberá professores, estudantes, curiosos e ratos de tribunal para acompanhar o julgamento de Otelo - o de Shakespeare, que matou Desdêmona pelas fofocas de Iago (um casal de amigos tem um filho com este nome, bonito por sinal, mas feio por sina literária).
Será um julgamento pra valer, com feras do direito penal, ator, diretor e jurados. A lei penal e o processo idem serão brasileiros, creio. Programa melhor que muito teatrinho que anda por aí.
Como ex-aluno da faculdade de direito da Federal - pela qual não me formei, por razões que não me cabem aqui comentar -, pretendo estar na plateia. No palco, feras que admiro, como o professor René Dotti, de quem fui aluno, e o professor Jacinto Coutinho, de quem fui veterano na faculdade. Jacinto foi também namorado da Annamaria Marchesini, que entrou comigo no curso de comunicação da Federal, em 75 (a dama em primeiro lugar, este cavalheiro em segundo).
O evento comemora os 80 anos do glorioso Centro Acadêmico Hugo Simas, do qual fui associado. E ao qual concorri, como orador da chapa de oposição encabeçada pelo amigo Haroldo Montanha Teixeira (colega também do Colégio Estadual do Paraná), bestamente falecido pouco tempo atrás. Faziam parte de nossa chapa colegas insatisfeitos com os rumos do CAHS, claramente de direita, entre eles o Xixo Ramos, baita advogado trabalhista. Era 1976 e eu tinha 21 anos. Ditadura Geisel, lembre-se.
O candidato da situação era o Luís Eduardo de Mello Leitão Salmon - salvo engano, hoje promotor em Paranaguá -, mas quem assustava era o orador da chapa adversária: Luiz Carlos de Lima Vianna, que ainda no segundo ano do curso dava a aula trote nos calouros. Era, e tenho certeza de que ainda é, um craque da oratória, um sujeito imponente pela voz e pelo seu mais de 1,90 metro de altura, barba bem cortada, pose de lorde, discurso irretocável. Vianna já estava no terceiro ou quarto ano do curso. Já mostrava seu talento, hoje hospedado na Procuradoria da Justiça do Paraná. Sério: quando eu for governador, vou brigar para que seja procurador-geral da justiça do estado.
Do lado dele, da situação, quase toda a minha turma, torcendo pra que nós nós fodêssemos. Inimigos. Até o turco Riad, festeiro, mais Cícero Portugal, Juraci Barbosa Sobrinho, Marta Weber, Mary Nogueira e tal. "Traidores". Do nosso lado, algumas meninas tímidas, o Tidinho (Aristides Prado), Emilson Schafron e uns poucos.
Pois houve o debate entre as chapas, e quem as defendiam eram, por óbvio, os oradores. Vianna de lá, eu de cá. Minha turma me escalou meio na marra. Na manhã do debate - programado para uma sala igual a um tribunal (existirá ainda?) no prédio central da UFPR - levaram-me a um bar do outro lado da rua. Conhaque pra criar coragem. Haroldo me ajudou. Devo ter tomado uns três Domecqs pra quebrar a timidez e o respeito pelo Vianna, de quem, antes disso, tornara-me amigo via Riad.
Foi uma pugna febril. Ele batia em minha chapa e eu batia no Salmon - coisa de briga de rua, quando você, mais fraco, escolhe um - e, de quebra, nos pontos fracos deles. Vianna batia e eu devolvia. Eu batia e Vianna me destroçava.
No final, perdemos, cobertos de hematomas. A pressão da situação era muito forte e a campanha deles, no boca-a-boca, cartazes, promessas e tal, era mesmo imbatível. Mas, contados os votos, eis que tive 12 votos individuais para o orador. Nem lembro quantos foram os do Vianna, mas minha fantasia me leva a acreditar que o venci. Afinal, fui inseguro, mas incisivo, verdadeiro, sincero, livre atirador. Tive 12 votos como orador, vejam só, eu, o tímido eterno, calado. Falei pra carajo.
Memórias, meu bem, memórias de um quase senhor.
Longa vida a todos nós. Minhas homenagens ao Vianna.
O CAHS continuou dominado pela direita - que o Vianna definitivamente não era, mas navegava sobre as circunstâncias -, e a esquerda só veio a tomar o CAHS muito tempo depois.
Pois essa pequena viagem me veio a essa cabeça de porongo por causa desse belo espetáculo do CAHS. Será um debate e tanto, e quero estar lá pra rever os amigos e reverenciar a bela e trágica história do bardo inglês.
Gosto do Otelo e sei que o Jacinto fará um belo trabalho. Mas, convenhamos: no teatro e na vida real, em qualquer tempo, Otelo, meu caro infeliz, você perdeu.
Quanto ao Iago (nem falo do babaca do Cassio), esse é um grande filhodaputa.
Todos ao Guairão, pois.
Segue o reliss.
Um julgamento que nem Shakespeare poderia prever: este é o mote do espetáculo O Julgamento de Otelo, montagem que homenageia os 80 anos do Centro Acadêmico Hugo Simas (CAHS). No próximo dia 23 de setembro, juristas de renome sobem ao palco do Guairão para julgar o general mouro da literatura shakespeariana pelo assassinato de sua esposa, Desdêmona. Seria possível culpar Otelo pela morte da amada? Seria impulso, motivado pelas armações do traiçoeiro Iago? Ou será que o general poderia ser inocentado pelo homicídio que cometera tomado pela vingança?
A ideia de montar o espetáculo surge da proposta de resgate histórico da gestão O Tempo Não Para (CAHS 2010/2011). Isso porque O Julgamento de Otelo foi já foi realizado uma vez, há exatos 50 anos, pelo Centro Acadêmico, à época presidido pelo desembargador do Tribunal de Justiça, Munir Karam. O próprio desembargador, já aposentado, por sinal, coordena o evento ao lado do professor René Ariel Dotti, um dos maiores juristas do país. Aproveitando a data comemorativa dos 80 anos do Centro Acadêmico, a gestão do CAHS não demorou a solicitar a tutoria de ambos, pela experiência com a apresentação anterior.
A edição atual contará com o advogado Técio Lins e Silva na acusação, e o professor titular de direito penal da UFPR, Jacinto Nelson de Miranda Coutinho, como defesa. O juiz Daniel Ribeiro Surdi de Avelar, do Tribunal do Júri de Curitiba, será o responsável pela presidência d’O Julgamento, e, como protagonista do espetáculo, o ator Danilo Avelleda interpretará o réu, Otelo. A direção cênica ficou por conta de José Plínio Taques Martins. E, para quem pensa que o resultado pode ser previsível, esta edição contará com um diferencial que, necessariamente, a torna diferente da anterior: enquanto a primeira teve o júri composto pelo modelo inglês, com doze participantes, a nova será feita pelo modelo brasileiro, composto por sete jurados. Deste modo, o empate, como no resultado da adaptação de 1961, fica impossibilitado.
Outro diferencial é que toda a renda líquida do evento será doada a uma instituição de caridade, o Centro de Educação Dom Pedro II. O espetáculo tem o apoio do HSBC, da OAB/PR, do Curso Prof. Luiz Carlos, da EMAP, do Teatro Guaíra e da Faculdade de Direito da UFPR. Os ingressos já estão à venda na bilheteria e site do Teatro Guaíra, no Tribunal do Júri, na Escola da Magistratura e com os membros do CAHS (Mayara, Amália, André Luiz, Ananda e Sérgio). O valor do ingresso é R$ 30 (trinta reais), sendo R$ 15 (quinze reais) a meia-entrada, para os estudantes.
Participe deste grande evento cultural e jurídico, que marcará época na já gloriosa história do Centro Acadêmico Hugo Simas.
O JULGAMENTO DE OTELO
Auditório Bento Munhoz da Rocha Neto – Guairão
Endereço: Rua XV de Novembro, 971
Data: 23/09/2011
Horário: 20h30
Ingressos: R$ 30 e R$ 15 (meia-entrada)
Locais de venda: Teatro Guaíra, Tribunal do Júri, EMAP e CAHS
Informações: contato@cahs.or
Reinaldo Azevedo, o mais novo seguidor de Lula, o Nosso Guia
Por Marco Damiani, no portal Brasil 247 (www.brasil247.com.br)
Foi o que eu entendi. O Reinaldo Azevedo quer jogar o ex-presidente Lula em prisão domiciliar. Ou mandá-lo para o exílio. Ou para uma cadeia mesmo, cela de dois por dois, latrina, aquelas coisas. Matar, ele disse hoje que não quer. Na melhor das hipóteses, pelo que eu entendi, o Reinaldo Azevedo quer mudar a Constituição da República Federativa do Brasil. Para incluir um artigo, unzinho apenas.
Algo assim: à exceção do sr. Luiz Inácio Lula da Silva (seguindo-se, para não errar, dos qualificativos R.G., CPF, endereço, todas aquelas certidões para provar que se está falando mesmo de Lula, este que os brasileiros fizeram presidente da República duas vezes), os demais brasileiros podem falar, escrever, ir, vir, estacionar, assistir a uma sessão de cinema, comer pipoca, expressar com palavras, gestos e atos o que pensam.
E já que, na melhor das hipóteses, Reinaldo Azevedo pleiteia uma mudança na Constituição, no momento da redação certamente virá aquela coceirinha autoritária e, então, a alteração ficaria completa: outros brasileiros que falarem o que o sr. Reinaldo Azevedo não gostar de ouvir, e também os brasileiros que se movimentarem de forma “saliente” no tabuleiro da política, não mais poderão falar ou se movimentar.
Fica bom assim, Reinaldo? Pode ser melhor? Ok, então vá ao seu dicionário de sinônimos, rapaz, pesque lá umas palavras inusuais, dessas que impressionam, e experimente uma redação melhorada para os novos artigos constitucionais. Vai dar no mesmo, o importante será manter o espírito da nova lei: quem falar, escrever, expressar, divulgar etc o que o sr. Reinaldo Azevedo não gostar de ler, ouvir ou saber por terceiros ou quaisquer outras fontes, tem de ficar quieto no seu canto. Se insistir – e já temos aqui mais um artigo --, prisão no atrevido “saliente”. Domiciliar, em xilindró, por tempo indeterminado – ou, apenas, perseguição pela internet, com direito a comentários humilhantes, toda a sorte de enxovalhamentos.
Chega a ser engraçado. Lula perdeu três no voto, ganhou duas, levou sua candidata aos palanques, desceu a rampa e agora anda pelo País. Por que ele não pode fazer isso, xará? Ao contrário do FHC, que arrancou para si, no cargo, a reeleição, Lula jamais tentou mudar a regra do jogo com o jogo em andamento. Ele sempre foi pela democracia. Se na outra ponta do seu artigo de hoje você diz que o remédio para ele é mais democracia, o melhor é passar a outro tema, porque essa lição o Lula não precisa ouvir. Ele é o cara das assembléias de 100 mil trabalhadores diante dele, você não se lembra? Eu estava lá, reportando, para a Voz da Unidade (o jornal dos "comunas", como você diz, nós que recebíamos cartas que podiam explodir). Ele é o cara que foi preso por falar o que pensava e, isso mesmo, guiar a massa para o avanço. Ele é o cara que sempre foi do voto, da disputa leal, dentro das regras estabelecidas. Cite um, unzinho gesto autoritário do Lula, de suprimir regras, inverter ordens, suplantar códigos. Qual foi o dia que ele teve medo de voto? Onde é que esse cara solapou a democracia? Na boa, ensinar democracia para o Lula ou sobre o Lula é absolutamente desnecessário, vai por mim.
E lá está Getúlio Vargas. Sai prá lá não só ele, é o que você diz, como a CLT, os sindicatos (quase 400 categorias profissionais obtiveram reajustes salariais acima da inflação no primeiro semestre), as associações de moradores, de cidadãos, o MST. Saiam para lá todos, porque não é assim que o sr. Reinaldo Azevedo quer. Aqui, de resto, temos mais elementos para mais um capítulo da nova Constituição: o povo está terminantemente proibido de se organizar. Nessa frase eu não mexeria, Reinaldo, está claríssima na defesa do seu interesse.
E que tal, para comemorar a reforma constitucional, uma fogueira com carteiras de trabalho, no melhor estilo dos nazis? Não seria legal coroar a desorganização completa do povo – assim P-O-V-O – com a queima do pouquinho que temos de garantias trabalhistas, aquelas que se não fosse Getúlio Vargas, de muitos erros, contradições e também monstruosidades, mas de impressionantes benfeitorias ao Brasil, talvez não existissem até hoje? Pensa só no tamanho da fogueira, tantos foram os empregos criados nos últimos tempos...
Caro, na boa, passe lá na Saraiva e procure na obra de Voltaire, o iluminista, a frase famosa. Aquela que diz: “Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las”. Mas vê se não esquece: Voltaire, aquele a que somos apresentados no segundo ano do colégio. Porque, em matéria de democracia, eu tô achando que você precisa começar do começo.
Entenda: o Lula pode falar sobre o que quiser, em qualquer lugar, a qualquer hora. É um direito (D-I-R-E-I-T-O) dele. Não dá para caçar assim, como se fazia antes.
Eu nunca usei meu tempo lendo o que o Reinaldo Azevedo escreve. Fui até sua página uma vez só, lá atrás, e deu para perceber que é um autoritário. Estou enganado? Pode ser, mas tenho mais o que fazer para tirar a dúvida. Não vi motivo para ler mais. Não tem informação, não tem entrevista, não tem fato. É opinião. Beleza! Entre aqueles textos longos e a recém publicada autobiografia do patriota comunista Gregório Bezerra (Memórias, Boitempo Editorial), você acha que eu prefiro qual? Ontem, porém, mandei para o Reinaldo Azevedo um e-mail buscando uma entrevista com ele para o 247. Ele não respondeu. Direito dele, normal. Ele não merece um plantão, não vou insistir. Hoje, recebi por e-mail a coluna dele. Com a tal campanha #desencarnalula, o que ele vai conseguir é mobilizar o outro lado, o do Lula, e perder por maioria (sendo que esta maioria em seguida será desqualificada pelo próprio Reinaldo Azevedo). O colunista diz que Lula barra o assunto 2014 exatamente para levantar 2014. E se for isso? Qual é o problema? E se o Lula quer mesmo ser candidato outra vez? É isso que vai desestabilizar o governo (bem que você gostaria, será que não?)? Isso é uma "doença"? Ele é uma "doença"? Quanta grosseria, Reinaldo!
O certo é que o próprio Reinaldo Azevedo, pela antítese, embarcou na do Lula, e também passou a falar de 2014 agora. Tornou-se um seguidor do, como diz o Elio, Nosso Guia. Por essa eu não esperava.
Foi o que eu entendi. O Reinaldo Azevedo quer jogar o ex-presidente Lula em prisão domiciliar. Ou mandá-lo para o exílio. Ou para uma cadeia mesmo, cela de dois por dois, latrina, aquelas coisas. Matar, ele disse hoje que não quer. Na melhor das hipóteses, pelo que eu entendi, o Reinaldo Azevedo quer mudar a Constituição da República Federativa do Brasil. Para incluir um artigo, unzinho apenas.
Algo assim: à exceção do sr. Luiz Inácio Lula da Silva (seguindo-se, para não errar, dos qualificativos R.G., CPF, endereço, todas aquelas certidões para provar que se está falando mesmo de Lula, este que os brasileiros fizeram presidente da República duas vezes), os demais brasileiros podem falar, escrever, ir, vir, estacionar, assistir a uma sessão de cinema, comer pipoca, expressar com palavras, gestos e atos o que pensam.
E já que, na melhor das hipóteses, Reinaldo Azevedo pleiteia uma mudança na Constituição, no momento da redação certamente virá aquela coceirinha autoritária e, então, a alteração ficaria completa: outros brasileiros que falarem o que o sr. Reinaldo Azevedo não gostar de ouvir, e também os brasileiros que se movimentarem de forma “saliente” no tabuleiro da política, não mais poderão falar ou se movimentar.
Fica bom assim, Reinaldo? Pode ser melhor? Ok, então vá ao seu dicionário de sinônimos, rapaz, pesque lá umas palavras inusuais, dessas que impressionam, e experimente uma redação melhorada para os novos artigos constitucionais. Vai dar no mesmo, o importante será manter o espírito da nova lei: quem falar, escrever, expressar, divulgar etc o que o sr. Reinaldo Azevedo não gostar de ler, ouvir ou saber por terceiros ou quaisquer outras fontes, tem de ficar quieto no seu canto. Se insistir – e já temos aqui mais um artigo --, prisão no atrevido “saliente”. Domiciliar, em xilindró, por tempo indeterminado – ou, apenas, perseguição pela internet, com direito a comentários humilhantes, toda a sorte de enxovalhamentos.
Chega a ser engraçado. Lula perdeu três no voto, ganhou duas, levou sua candidata aos palanques, desceu a rampa e agora anda pelo País. Por que ele não pode fazer isso, xará? Ao contrário do FHC, que arrancou para si, no cargo, a reeleição, Lula jamais tentou mudar a regra do jogo com o jogo em andamento. Ele sempre foi pela democracia. Se na outra ponta do seu artigo de hoje você diz que o remédio para ele é mais democracia, o melhor é passar a outro tema, porque essa lição o Lula não precisa ouvir. Ele é o cara das assembléias de 100 mil trabalhadores diante dele, você não se lembra? Eu estava lá, reportando, para a Voz da Unidade (o jornal dos "comunas", como você diz, nós que recebíamos cartas que podiam explodir). Ele é o cara que foi preso por falar o que pensava e, isso mesmo, guiar a massa para o avanço. Ele é o cara que sempre foi do voto, da disputa leal, dentro das regras estabelecidas. Cite um, unzinho gesto autoritário do Lula, de suprimir regras, inverter ordens, suplantar códigos. Qual foi o dia que ele teve medo de voto? Onde é que esse cara solapou a democracia? Na boa, ensinar democracia para o Lula ou sobre o Lula é absolutamente desnecessário, vai por mim.
E lá está Getúlio Vargas. Sai prá lá não só ele, é o que você diz, como a CLT, os sindicatos (quase 400 categorias profissionais obtiveram reajustes salariais acima da inflação no primeiro semestre), as associações de moradores, de cidadãos, o MST. Saiam para lá todos, porque não é assim que o sr. Reinaldo Azevedo quer. Aqui, de resto, temos mais elementos para mais um capítulo da nova Constituição: o povo está terminantemente proibido de se organizar. Nessa frase eu não mexeria, Reinaldo, está claríssima na defesa do seu interesse.
E que tal, para comemorar a reforma constitucional, uma fogueira com carteiras de trabalho, no melhor estilo dos nazis? Não seria legal coroar a desorganização completa do povo – assim P-O-V-O – com a queima do pouquinho que temos de garantias trabalhistas, aquelas que se não fosse Getúlio Vargas, de muitos erros, contradições e também monstruosidades, mas de impressionantes benfeitorias ao Brasil, talvez não existissem até hoje? Pensa só no tamanho da fogueira, tantos foram os empregos criados nos últimos tempos...
Caro, na boa, passe lá na Saraiva e procure na obra de Voltaire, o iluminista, a frase famosa. Aquela que diz: “Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las”. Mas vê se não esquece: Voltaire, aquele a que somos apresentados no segundo ano do colégio. Porque, em matéria de democracia, eu tô achando que você precisa começar do começo.
Entenda: o Lula pode falar sobre o que quiser, em qualquer lugar, a qualquer hora. É um direito (D-I-R-E-I-T-O) dele. Não dá para caçar assim, como se fazia antes.
Eu nunca usei meu tempo lendo o que o Reinaldo Azevedo escreve. Fui até sua página uma vez só, lá atrás, e deu para perceber que é um autoritário. Estou enganado? Pode ser, mas tenho mais o que fazer para tirar a dúvida. Não vi motivo para ler mais. Não tem informação, não tem entrevista, não tem fato. É opinião. Beleza! Entre aqueles textos longos e a recém publicada autobiografia do patriota comunista Gregório Bezerra (Memórias, Boitempo Editorial), você acha que eu prefiro qual? Ontem, porém, mandei para o Reinaldo Azevedo um e-mail buscando uma entrevista com ele para o 247. Ele não respondeu. Direito dele, normal. Ele não merece um plantão, não vou insistir. Hoje, recebi por e-mail a coluna dele. Com a tal campanha #desencarnalula, o que ele vai conseguir é mobilizar o outro lado, o do Lula, e perder por maioria (sendo que esta maioria em seguida será desqualificada pelo próprio Reinaldo Azevedo). O colunista diz que Lula barra o assunto 2014 exatamente para levantar 2014. E se for isso? Qual é o problema? E se o Lula quer mesmo ser candidato outra vez? É isso que vai desestabilizar o governo (bem que você gostaria, será que não?)? Isso é uma "doença"? Ele é uma "doença"? Quanta grosseria, Reinaldo!
O certo é que o próprio Reinaldo Azevedo, pela antítese, embarcou na do Lula, e também passou a falar de 2014 agora. Tornou-se um seguidor do, como diz o Elio, Nosso Guia. Por essa eu não esperava.
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