sábado, 18 de novembro de 2023

João Pereira Coutinho publica na Folha uma belíssima homenagem ao autor, ao cineasta, ao personagem marcante na história do cinema e na vida de quem bebeu ovo cru e subiu escadarias correndo, como se na Filadélfia


 

O belíssimo texto foi retirado da edição da Folha SP deste sábado (18).

Os entendedores entenderão e verterão lágrimas de esguicho. 

Um beijo para Stallone, o maior boxeador de todos os filmes (com o perdão de todos os reis da nobre arte).

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Os anos passam, a criança fica. Homem feito, a caminho da meia-idade, viajando entre Washington e Nova York, resolvi parar na Filadélfia.


Quem me acompanhava estranhou. Eu não menti: "Quero ir ao museu de arte da cidade", justifiquei-me. E fui lá.


O táxi avançou pelas ruas e, ao longe, como uma grande visão do paraíso, lá estava o museu. Mas não era o recheio que me interessava. Não eram os quadros pintados por Cézanne, Rodin e Pollock.


Era aquela escadaria exterior, que nos meus sonhos era imponente, imensa, interminável e que eu queria subir, correndo, dois degraus de cada vez, ou três, até chegar no cimo e, com a cidade aos meus pés, levantar os braços como o lutador Rocky Balboa.


Os anos passam, a criança fica, mas não era o único: multidões de todas as idades corriam pelas escadas acima e eu, que sempre fugi das aulas de ginástica com as justificações mais absurdas —por apendicite, enxaqueca, coceira desgraçada e novamente apendicite—, também fui lá.



Começar é fácil, acabar é difícil. Parei a meio, só para recuperar o fôlego, mas quando cheguei ao topo, com a música composta por Bill Conti a soar na minha memória, era simplesmente o grande campeão do mundo de pesos-pesados.


A minha senhora, que mantém a sanidade, ria e filmava e ria, mas eu ainda não tinha acabado. Eu desci as escadas e pedi uma foto ao lado da estátua de Rocky Balboa, nem que para isso tivesse que esperar uma hora ou duas —a fila estava gigantesca, afinal.


Não esperei tanto, mas, durante a espera, em conversa com uma criança da minha idade, ela dizia-me que o filho, um menino de oito ou nove anos que também ali estava, pensava mesmo que Rocky Balboa tinha existido, que ele era nascido naquela Filadélfia, que ele conseguira triunfar contra todos os obstáculos.


"Nunca acabei com a fantasia", dizia-me o pai, que viera da periferia naquele domingo. "É uma inspiração para ele."


E eu pensei: haverá algum personagem na história do cinema americano que tenha furado a tela para se misturar com os mortais desta forma? Rocky Marciano ou Rocky Balboa —qual é a diferença?


O segredo, creio, não está na qualidade dos filmes: com a grande exceção do primeiro, os restantes vão mergulhando na mediocridade. A opinião é pessoal, obviamente.


Ou, como afirma Quentin Tarantino no documentário "Sly", disponível na Netflix, um filme-homenagem a Sylvester Stallone, hoje beirando aos 80 anos, o primeiro Rocky foi sendo substituído por heróis de BD, básicos e inverossímeis.


Mas aquele primeiro vale uma carreira —e até vale o documentário. Nascido em família pobre e com um pai tirânico e violento, Stallone foi um produto das ruas, tal como o Rocky que interpretou nas telonas.


Aprende-se muito nas ruas só pela observação de quem passa. E escuta-se muito também —linguagens diversas, eruditas ou chulas, e que o ator foi absorvendo como esponja.


É por isso que, no primeiro "Rocky", de 1976, aqueles diálogos que Stallone escreveu soam tão verdadeiros, porque são toscos, profundos, falhados, vulneráveis, risíveis, belos. Tal como o são na vida real.


E, tal como na vida de Stallone, porque existia em Rocky a urgência desesperada de não ser apenas mais um vira-lata.


O roteiro foi escrito em três dias. E quando lhe ofereceram uma quantia apreciável, mais de US$ 200 mil, para que não fosse ele o ator, para que fosse Burt Reynolds ou Ryan O’Neal —dá para imaginar?—, o vira-lata recusou. Só ele era Rocky porque só ele era Stallone.


O sucesso foi imediato, mas acabou sendo também uma maldição. É o próprio quem o confessa, com um humor inteligente e melancólico: a privacidade evaporou-se, a família ficou esquecida, outros filmes vieram e foram sem deixar rastro, artisticamente falando.


E a vida tornou-se uma busca desesperada por aquele primeiro momento, único e irrepetível, porque única e irrepetível era a fome que o movera.


Uma fome tão imensa que criação e criatura passaram a habitar o mesmo mundo. O nosso mundo.


 Rocky Balboa nasceu e morreu na Filadélfia, tão certo quanto dois mais dois é igual a quatro.


Ainda visitei o museu. Ainda vi os Cézannes, os Rodins, os Pollocks. Mas não era o dia para prestar homenagem à grande arte. Só à grande memória.


Quando saí do museu, já anoitecia na Filadélfia e a escadaria se encontrava deserta.


Desci os degraus, sem pressa, e chamei um táxi. Com o carro andando, olhei para trás, pelo vidro, pela última vez, e a escadaria foi ficando menor, e menor, e menor, até caber no bolso.


sábado, 28 de outubro de 2023

Festa para os Ernanis: viva o jornalista, o publicitário, o cartola do bem, o advogado, o festeiro, o acadêmico, o homem de bem Ernani Buchmann, como ele só

 Cole no seu navegador e dê um clic. E apareça com muitos abraços a eles. Longa vida ao mestre na arte de viver e a vida.


https://cartunistasolda.com.br/75-anos-de-ernani-buchmann/

sexta-feira, 22 de setembro de 2023

A educação pública no Paraná está que é uma beleza. Leia o que dizem os professores da UFPR sobre o ensino da nossa língua. RATATUIA

 O Departamento de Literatura e Linguística (DELLIN) da UFPR, como participante do processo formativo de professores de português no Estado do Paraná, vem a público denunciar o uso danoso das plataformas digitais no ensino de Língua Portuguesa nas escolas públicas do nosso estado.

As duas plataformas em funcionamento na disciplina de Língua Portuguesa são Leia Paraná e Redação Paraná. O Leia Paraná apresenta os mesmos poucos títulos para todo o Fundamental II e o Ensino Médio; os alunos leem na tela e respondem perguntas de múltipla escolha; as obras são adaptadas, condensadas, com pouquíssimos títulos de literatura brasileira, sugeridos somente para os que vão fazer vestibular. Como o uso da plataforma é obrigatório, a biblioteca escolar, muito mais rica e diversificada, fica abandonada. O Redação Paraná propõe modelos de redação a serem “treinados” pelos alunos, digitados na plataforma e corrigidos automaticamente, sendo os “erros” remetidos a sites como Wikipedia e a blogs duvidosos. O professor de redação faz uma segunda correção e dá aulas de digitação. A retirada da autonomia do professor, a padronização dos conteúdos e a homogeneização dos alunos avançam com aulas em vídeo e slides prontos, com a Prova Paraná e a plataforma “Quizizz” para lições de casa.

Esta não é apenas mais uma ferramenta disponível para o professor, que pode usá-la, ou não, conforme seu planejamento. Os professores e alunos são obrigados a usar as plataformas e sua utilização é contabilizada e vigiada através de um sistema de business intelligence (BI). Essa vigilância se transforma em pontuação e consequente “ranqueamento” de professores, expostos e cobrados pelas direções, que, por sua vez, sofrem a mesma pressão. Adicionalmente, o acesso às plataformas não é disponibilizado aos docentes de cursos de licenciatura, responsáveis pela formação dos professores da rede estadual de ensino.

Com essas constatações, o Dellin denuncia a completa precarização, o total descrédito e a consequente irrelevância atribuída à docência na educação pública no Paraná. Na plataformização do ensino de Língua Portuguesa, tal como implementada aqui, constatamos o fim da função, da autonomia e do trabalho do professor, o fim da formação de um leitor crítico e competente. Professor para quê? Curso de licenciatura para quê?

segunda-feira, 18 de setembro de 2023

Os 500 homens e mulheres mais influentes da América Latina, segundo o Bloomberg

 https://www.bloomberglinea.com.br/especiais/500-pessoas-mais-influentes-america-latina-2023/


Copie, cole no seu navegador e dê dois cliques.

quinta-feira, 7 de setembro de 2023

Brasil Paralelo é o caralho

Está rolando no FB acesso ao filme 1984, baseado na obra do xará Orwell. Assista e caia fora. Cancele o acesso dessa turma.
Brasil Paralelo
Empresa
A Brasil Paralelo Entretenimento e Educação S/A, mais conhecida por seu nome fantasia Brasil Paralelo, é uma empresa brasileira fundada em 2016, em Porto Alegre, que produz vídeos sobre política e história baseando-se e utilizando um viés de extrema-direita e neoliberal. Wikipédia
Fundação: 2016, Porto Alegre, Rio Grande do Sul
Fundador(es): Filipe Valerim, Henrique Viana e Lucas Ferrugem
Razão social: Brasil Paralelo Entretenimento e Educação S/A
Sede: São Paulo, SP

Tipo: Sociedade anônima


 

quarta-feira, 6 de setembro de 2023

A direita ladra e espertalhona agradece com seu sorriso nojento

 https://www.youtube.com/watch?v=wvvnDmXcr_k


 

Lula, a Ana Moser não é só uma ex-jogadora da seleção brasileira de vôlei. Ela é uma instituição nacional, como a Isabel, que seria ministra se não tivesse morrido. Você retirou a Ana Moser da equipe para dar lugar ao Fufuca (é nome de batedor de carteiras, convenhamos, o mesmo nome do pai dele). Está pagando alto demais para se acertar com essas organizações criminosas. Se você mexer com as outras mulheres, principalmente a Nísia da Saúde e outras, terá entregado anéis e dedos a essa quadrilha chamada Centrão. Vai ser assim no STF? Você é diabólico. Nomeou pessoas de bem como descartes (a gente faz isso com matérias chatas na faculdade) para depois correr pro abraço com gente do mal. Maquiavel de araque. Você virou refém dos bolsonaristas e outros vagabundos que vão te sacanear no Congresso e agora no ministério, roubando numa orgia de criminosos jamais vista. Você não vai governar: será governado. Triste Brasiu.


PS: a Isabel ia te matar.