Pelo genial Celso Rocha de Barros em genial artigo roubado da edição digital de hoje, que pode ser lido amanhã na edição impressa da Folha SP.
As marcações sublinhadas não linkam a nada. Apenas leia e não invente.
Na última manifestação da Paulista, ali entre a hora em que Ricardo Nunes fugiu e a hora em que Pablo Marçal fez questão de chegar atrasado, Jair Bolsonaro discursou a favor de uma anistia para os golpistas de 8 de janeiro.
No fundo, apelou para o artigo zero de todas as
Constituições anteriores à de 1988, que dizia que lei é bonito, democracia é
legal, mas, quando a direita quiser dar golpe, está liberado. Ives Gandra lutou
a vida inteira para que o artigo zero fosse recepcionado na atual Lei Magna.
Eu entendo que Jair defenda os golpistas presos.
Quem vai participar da próxima rodada golpista
sabendo que os veteranos do golpe passado estão na cadeia? Quem vai atender à
próxima convocação para invadir o STF sabendo que, em caso de fracasso, os
militantes vão para cana e o Jair vai para uma mansão paga pelo Valdemar Costa Neto?
Todo mundo viu você fugindo para a Disney para
preservar seu álibi, Jair. Todo mundo viu Eduardo fugindo
para ver Copa do Mundo. Os idiotas acampados em frente ao quartel, e vocês dois
lá, um fugindo de burca, outro vestido de Cinderela.
Por outro lado, a narrativa "velhinhas do
golpe" cria dificuldades para Bolsonaro. Será que vale a pena soltar quem
está cumprindo pena no seu lugar, Jair?
Quem defende a anistia argumenta que os golpistas
presos são doces velhinhas que entraram no golpe achando que ali era um bingo.
Gente sem muita sofisticação política que teria
sido usada como massa de manobra. Gente que teria entrado no ônibus achando que
ia passar o feriado em Brasília, conhecer
os monumentos, esfaquear o quadro do Di Cavalcanti, linchar jornalista, essas
coisas que todo turista faz, e quando viu estava no meio de um golpe de Estado.
O problema é o seguinte: se os executores do golpe
foram só massa de manobra, aumenta a culpa do mandante.
Se os golpistas do 8 de janeiro foram manipulados,
quem os manipulou? Se sofreram lavagem cerebral, quem lavou? Se eram só peões
em um jogo maior, quem era o rei? Se eram apenas soldados rasos, quem era o
general?
Era você, Jair. Você e seus aliados políticos, que
hoje estão lá no Congresso, felizes da vida, fingindo que não tentaram fechar a
instituição que os sustenta. Você e os militares que fracassaram em tentar o
golpe, mas ainda estão lá na fila da promoção para general.
Agora, se você e sua turma convencerem os juízes
que não tiveram nada a ver com o 8 de janeiro, então a velhinha do golpe
torna-se a vanguarda do movimento que tentou explodir o aeroporto de Brasília
na véspera de Natal de 2022, que colocou os caminhoneiros para fechar estradas
pedindo golpe, que conspirou com os quartéis para derrubar quem venceu a
eleição, que colocou Paulo Figueiredo para ler manifesto de militar golpista na
Jovem Pan, que convenceu Eduardo Girão a convocar a reunião de 30 de novembro
no Congresso. Já dizia Carlos Marighella: a ação faz a vanguarda.
Se a velhinha do golpe foi capaz de organizar isso
tudo sem ser, sei lá, presidente da República, ela é uma gênia do mal, Jair,
ela é o Coringa, ela é o Lex Luthor. Pelo amor de Deus, tranquem essa facínora
na cadeia e joguem fora a chave. Talvez fosse o caso inclusive de investigar se
não foi ela que causou aquelas mortes todas durante a pandemia.