sábado, 22 de maio de 2010

Código de Hamurábi

14. Se alguém roubar o filho menor de alguém, deve ser condenado à morte.

Na era Dunga, memória forévis

Assim, de cabeça de guri em 1968:
Manga; Moreira, Zé Carlos, Leônidas e Valtencir; Carlos Roberto e Gerson; Rogério, Jairzinho, Roberto e Paulo César.

Brasiu

Na Copa do Mundo de 1934, o mundo assombrado com o crescimento do nazifascismo, o Brasil mandou à Itália o seguinte time titular: Pedrosa; Sylvio Hoffman e Luis Luz;
Tinoco, Martim e Canali; Luisinho (o Pequeno Polegar, lembram?), Valdemar de Brito (o descobridor de Pelé), Armandinho, Leônidas (da Silva, o Diamante Negro) e Patesko (paranaense, se não se engano).

Código de Hamurábi

9. Se alguém perder algo e encontrar este objeto na posse de outro: se a pessoa em cuja posse estiver o objeto disser " um mercador vendeu isto para mim, eu paguei por este objeto na frente de testemunhas" e se o proprietário disser "eu trarei testemunhas para que conhecem minha propriedade", então o comprador deverá trazer o mercador de quem comprou o objeto e as testemunhas que o viram fazer isto, e o proprietário deverá trazer testemunhas que possam identificar sua propriedade. O juiz deve examinar os testemunhos dos dois lados, inclusive o das testemunhas. Se o mercador for considerado pelas provas ser um ladrão, ele deverá ser condenado à morte. O dono do artigo perdido recebe então sua propriedade e aquele que a comprou recebe o dinheiro pago por ela das posses do mercador.
10. Se o comprador não trouxer o mercador e testemunhas ante a quem ante quem ele comprou o artigo, mas seu proprietário trouxer testemunhas para identificar o objeto, então o comprador é o ladrão e deve ser condenado à morte, sendo que o proprietário receberá a propriedade perdida.
11. Se o proprietario não trouxer testemunhas para identificar o artigo perdido, então ele está mal-intencionado, e deve ser condenado à morte.
12. Se as testemunhas não estiverem disponíveis, então o juiz deve estabelecer um limite, que se expire em seis meses. Se suas testemunhas não aparecerem dentro de seis meses, o juiz estará agindo de má fé e deverá pagar a multa do caso pendente.

Não há no Código o 13. É provavelmente um número de azar ou sagrado. Na dúvida, pergunte ao Mazza, que já era colunista naquele tempo. Logo mais, o 14.

Roberto Muggiati, Raul de Souza e tal

Roberto Muggiati trabalhou na Gazeta do Povo - como eu, muitos anos depois dele.
É, para mim, um dos dois maiores conhecedores do jazz "desse país" - entre os jornalistas, claro. O outro é José Domingos Rafaelli, a quem fui apresentado nos 70 por um fã do jazz e também conhecedor, embora mais curioso - como eu, curioso que só -, o imortal Aramis Millarch.
Aliás, Muggiati é também craque em rock. Escreveu um "livrinho" (Rock: a história e a glória) que é obra rara. Rara pela qualidade e porque está fora de catálogo. Tentem a innernet.
No texto que - oi!, há alguém aí? -, publicado no Estadão deste sábado (viva o jornal, qualquer um), ler-se-á abaixo, ele falará de Raul de Souza, o maior trombonista vivo do jazz, um dos maiores de todos os tempos.
Maurício Einhorn vi ao vivo, é gênio também, mas não quero falar dele (em tempo: quando Muggiati fala de Toots, inspirem-se e tentem comprar ou puxar da internet um disco dele com Elis: é infartante).
Voltemos.
Sempre ouvi falar de Raul, que nas velhas bocas dos músicos de Curitiba é chamado de Raulzinho. Sempre ouvi que é um gênio curitibano.
E atesto, do alto de minha sabedoria: é do tipo Cesar Lattes, Newton Freire-Maia, Dalton Trevisan.
Certa noite, em casa do Aramis - sempre ele, meu mestre e amigo querido -, outro gênio, Airto (Guimorvan) Moreira, falou-nos de Raulzinho. Airto quase chorou - e nós também.
Airto é catarina, tocou bateria na zona (na zona, gente) em Guarapuava até vir parar em Curitiba, onde começou tocando (não lembro se ele disse que aqui tocou na zona) em boates (havia boates decentes então).
Mas aí, pelo que diz minha memória anciã, ele e Raulzinho, para tirar uns trocados, foram parar na banda da Base Aérea de Curitiba.
Se eu fosse o brigadeiro os promoveria a, no mínimo, pilotos de música, coronéis, sei lá.
Foram embora. No Rio, consagraram-se.
Ganharam os esteites e o planeta.
Sei mais do Airto, com quem conversei na casa do Aramis por umas seis horas. Ele se hospedava na casa de parentes, no Uberaba (rico, riquíssimo nos EUA, dormia no Uberaba!!!).
Belo dia, ou melhor, bela noite, estamos eu - se me lembro, mais Karam, Zé Beto, Carlinhos Sdroyevski, Kátia Agostin e outros que ficam na geladeira, como dizia Ibrahim - postados em calmo porre no Saul Trumpet (um craque curitibano), na Cruz Machado, quando o Raul aparece.
Pra quem não sabe: o cara tem casas nos EUA (não sei onde) e em Paris (onde vive há séculos), mas não sai daqui.
Pois o Raul aparece, e sem o trombone. Pintou um flugelhorn, um trumpete mais gordinho e mais curto, de som diferente do irmão trumpete, este nos meus velhos tempos: o pistom.
Raul fez chover ali dentro. Quase enfartei, vendo e ouvindo o cara a uns dois metros de mim e de nós.
Num intervalo, dirigi-me ao balcão para pedir outra (bebia mais que um camelo), quando ele se aproximou.
- Cara, esse fluguel é foda. Não estou acostumado. A embocadura é diferente.
Bati-lhe no ombro, lágrimas de esguicho:
- Raul, obrigado, mas você está com os lábios sangrando (poderia mentir dizendo que lhe ofereci meu lenço, o que não fiz, do que me arrependo).
Limpou os geniais beiços com um guardanapo, tomou água (de torneira, acho que), bateu-me no ombro.
- Fluguel é foda.
Foda é Raulzinho da banda da Aeronáutica.
Brigadeiro-do-ar, do som.

Raulzinho (mais Airto, Saul e os demais) forévis.
--

O Brasil tem três mosqueteiros terçando armas na arena do jazz internacional: Maurício Einhorn, gaita de boca; Raul de Souza, trombone; Cláudio Roditi, trompete. Vou perfilá-los - e me perfilar diante deles.


O grande som do pequeno brinquedo Sexta-feira, 30 de abril de 2010, Sala Cecília Meireles, Rio: Maurício Einhorn antecipa a festa dos seus 78 anos, (em 29 de maio), tocando com amigos. Em duas horas de show - com direito a gravação - resume 63 anos de carreira e 73 dedicados à gaita de boca: aos cinco anos ganhou a primeira dos pais, que também a tocavam. Brinquedo (parceria com José Schettini) celebra toda a beleza que Maurício extrai da harmônica de boca (prefere chamá-la assim). Um passeio pela praia dos standards mostra por que é citado entre os maiores do mundo, ao lado de Stevie Wonder e Toots Thielemans (Toots acha que Einhorn é o maior.) Autumn in New York é repetido para corrigir problemas do som (afinal, vai sair em CD!); I Concentrate on You e Night and Day homenageiam Cole Porter. Um solo de Maurício Einhorn é uma espécie de mosaico sonoro, inspirado em suas ricas fontes musicais: o jazz, o cancioneiro popular mundial, as raízes brasileiras, os clássicos ligeiros da Era do Rádio. Holiday for Strings, Rhapsody in Blue, Clair de Lune misturam-se a Waldir Azevedo, Altamiro Carrilho e a frases do Hino Nacional e do Yankee Doodle Dandy. Um improviso sobre a francesa Autumn Leaves passa pela Marselhesa. E também auto-citações do songbook (mais de 400 composições) do próprio Maurício: Tristeza de nós Dois, Batida Diferente e Estamos aí - que encerra a noitada. Favorito de dez entre dez músicos instrumentais brasileiros, Estamos aí tem tudo para ser o nosso 52nd Street Theme, que fecha os sets nos clubes de jazz dos EUA. Valeu, Maurício!

Dueto para búfalo e trombone

Faz 52 anos que ouço Raul de Souza, desde as loucas noites de Curitiba em que tocava para um búfalo amigo do Passeio Público - por pura falta de público. Mas a solidão durou pouco: público não tem faltado para Raul desde os anos 60 e posso afirmar que hoje, em seus vibrantes 75 anos, ele está soprando seu trombone melhor que nunca. Morando metade do ano em Paris e metade no Brasil, Raul é presença obrigatória nos festivais de jazz. Já ouviram falar da Ilha da Reunião, um pontinho remoto no meio do Oceano Índico? Pois Raul tocou lá recentemente com o NaTocaia, o quarteto curitibano que o acompanha desde 2004. Mas a gana de tocar é tanta que Raul topa qualquer parada. Nos últimos dois anos eu o ouvi lançando o CD Jazzmim com o NaTocaia; o CD com João Donato, Bossa Eterna (Mauricio Einhorn é convidado numa das faixas); três shows (Rio, Curitiba e Niterói) da turnê Circular BR com o trio do gaitista Gabriel Grossi; e um megaencontro no Rio com Robertinho Silva e Wagner Tiso no projeto Batucadas Brasileiras. Raul, que começou com trombone de pisto, evoluiu para o trombone de vara e inventou ainda o Souzabone, de quatro pistos. Um arsenal e tanto para tocar a sua jazzfieira...

Nosso homem na Grande Maçã

O caçula da trinca faz 64 anos em 28 de maio. Cláudio Roditi foi finalista do Concurso Internacional de Jazz em Viena, estudou no Berklee College de Boston e em 1976 mordeu a Grande Maçã... e não a largou mais. Trinta e quatro anos tocando trompete e flugelhorn em Nova York não é para qualquer um. Atuou com o flautista Herbie Mann, o saxofonista Charlie Rouse, com os pianistas Horace Silver e McCoy Tyner e os astros do jazz cubano Arturo Sandoval e Paquito D''Rivera. Em 1988 Dizzy Gillespie o chamou para coliderar sua United Nation Orchestra. Com duas dezenas de álbuns em seu nome, Roditi lançou em março um CD autoral, Simpático, que abre com Spring Samba, boa amostra do seu estilo - a doce fusão da bossa carioca com os trompetes melodiosos do hard-bop: Lee Morgan, Art Farmer, Freddie Hubbard. O crítico Thomas Conrad destaca que, dos brasileiros do grupo, todos moram nos Estados Unidos desde os anos 1980 e "suas raízes no Rio são tão profundas quanto suas afinidades com Nova York."

Curioso lembrar que Cláudio conheceu Maurício e Raul no tempo lendário do Beco das Garrafas, em Copacabana, quando tinha de mentir a idade para poder tocar. A última vez que ouvi Cláudio foi no Rio, há um ano, na Modern Sound, numa breve canja com o trio de Mauro Senise. Sacou o instrumento e solou maravilhosamente em três ou quatro peças, A Night in Tunisia, e sua canção-fetiche Speak Low (Kurt Weill). Discretamente como chegou, Cláudio botou o trompete no estojo e seguiu em frente para suas gigs pelo mundo.

ROBERTO MUGGIATI É PESQUISADOR, AUTOR DO LIVRO "IMPROVISANDO SOLUÇÕES"




sexta-feira, 21 de maio de 2010

Na era Dunga, memória forévis

Gilmar, Mauro, Dalmo e Calvet; Zito e Lima; Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe

O olhar de Capitu - segunda parte de um romance interminável

É assim que se galgam plátanos e lhamas desalmadas. Retira a parada do clamor singular, espeta-se a nave que rufa, a trufa que navega solerte sobre a mula inerte. Ah, as paixões, os borbotões, os passes triunfantes percorrendo a saliva e a chuva a cobrar seixos, a língua a percorrer seios. A intermediária da área cai à noite. Levanta as dragonas, vidros ilíquidos, destarte classifica os vitupérios sefarditas que dividem os macadames indefesos. Nádegas da metalurgia e da teurgia a apontar focos de palmas e sandálias.

Poeminha de cem anos atrás

Olho no olho
Séria a tua sobrancelha
Íris coral
Indecifrável menina
Agarrada na retina
Não me deixa
Iridológico recheio da calcinha
Que faz sonhar a minha mão

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Microconto 6 de 100

Wolfgang, o aluno predileto de Kant, subiu à torre e adiantou o relógio da igreja.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Código de Hamurábi

8. Se alguém roubar gado ou ovelhas, ou uma cabra, ou asno, ou porco, se este animal pertencer a um deus ou à corte, o ladrão deverá pagar trinta vezes o valor do furto; se tais bens pertencerem a um homem libertado que serve ao rei, este alguém deverá pagar 10 vezes o valor do furto, e se o ladrão não tiver com o que pagar seu furto, então ele deverá ser condenado à morte.

A paella do Lula

Por Clóvis Rossi, na Folha on-line.

Jornalista da minha geração estranha quando vira notícia. Eu, a bem da verdade, estranho até quando vejo meu nome na capa da Folha, encimando um texto, como se o nome fosse a notícia, não o texto.

Por isso, fiquei chocado ao virar notícia por conta de uma queda na terça-feira à noite, aqui em Madri, que causou a fratura de duas costelas.

Passado o choque, lembrei-me da insistência de meu amigo Sérgio Leo ("Valor Econômico"), um desses jornalistas que dão orgulho da profissão, para que eu escreva um livro contando bastidores de coberturas jornalísticas.

Ainda não me convenceu, mas, já que a notícia está no ar, ouso contar detalhes da queda e dos desdobramentos posteriores porque imagino que há coisas de que o leitor nem desconfia.

O presidente Lula havia terminado de discursar, após receber prêmio. Sempre que isso acontece, os jornalistas (e muitos outros no auditório) tentam se aproximar do presidente, para arrancar uma frase ou, simplesmente, mostrar a cara.

Foi o que tentei fazer, mas pela via errada. Em vez de subir pela escadinha que levava ao palco, tentei escalar o degrauzão do meio. Escorreguei, cai de costas e fraturei as costelas.

Ainda assim, me levantei, usei a escadinha mas, ao chegar perto do bolo, estava como Jorge Araujo, um extraordinário fotógrafo da Folha, costuma brincar: "Já vi cadáveres mais corados que você".

Descrição perfeita para meu estado naquele momento. Se não fosse Patrícia Chiarello, misto de diplomata (da assessoria de imprensa do Itamaraty) e anjo-da-guarda de jornalistas, me mandar sentar e tomar água, teria desmaiado no meio do palco.

O presidente Lula se aproximou e constatou o mesmo que o Jorge Araujo: "Você está branco e suando frio".

Não me lembro se foi antes ou depois da frase de Lula que o coronel Cléber Ferreira, médico da Presidência, me examinou. No momento em que apalpou minhas costas, detectou a fratura e iniciou as providências para que eu fosse levado ao hospital.

Tentei resistir, dizendo que precisava terminar os textos do dia e enviá-los para a Folha. Aí, baixou o coronel no médico, e as ordens foram cumpridas.

Ele fez questão de me acompanhar na ambulância e no hospital, enquanto fazia as radiografias e um exame de urina para ver se a queda trouxera outras complicações.

Primeira observação que, imagino, o leitor não desconfia: é possível, sim, a um médico da Presidência abandonar o presidente para dar atenção a um jornalista. É verdade que, naquela altura, o jornalista precisava dele mais que o presidente, mas o gesto fica.

Como ele me contou no caminho, foi só o seu lado coronel que forçou Lula a não viajar para Davos, em janeiro, quando passou mal em Recife.

Segunda observação: Patrícia e também a Ana Maria, da Comunicação Social da Presidência, seguiram a ambulância até o hospital para, depois, me resgatar e levar para o hotel. Fizeram mais: reservaram um apartamento no hotel em que estava a delegação brasileira, o Intercontinental, para que eu ficasse próximo do médico, delas próprias e também da Janaína e da Sylvia, outras moças da assessoria.

É verdade que tenho, desde sempre, bom relacionamento com o pessoal do Itamaraty, mas, francamente, não esperava tanta atenção e cuidado.

Já no começo da madrugada, outra cena de que o leitor talvez tampouco desconfie: aparecem no hotel os companheiros Andrei Netto ("Estadão"), sua mulher, a Lu ("Portal Terra"), Assis Moreira ("Valor Econômico") e Fernando Duarte ("O Globo").

Todos eles haviam me amparado no local da queda e acompanhado meu percurso na cadeira de rodas até a ambulância. Ou seja, a competição no meio jornalístico pode ser intensa e às vezes selvagem, mas a solidariedade entre alguns também é formidável.

Na atitude dos três, nada que me tenha surpreendido. Embora Andrei e Fernando sejam de uma geração bem mais jovem, trabalhamos juntos em várias ocasiões, sempre competindo, mas lealmente, e sempre pondo o companheirismo acima da concorrência.

Nenhum de nós acha que é preciso dar uma facada nas costas do concorrente para fazer melhor o seu próprio trabalho, sem adversários.

Pouco antes da chegada deles, aparecera no meu quarto uma quentinha, enviada pelo presidente Lula.

Eu já havia jantado, no próprio quarto. Por isso, ofereci a paella (o conteúdo da quentinha) aos companheiros. Assis Moreira não se fez de rogado. Comeu toda a paella do presidente.

Aí, chegaram Lula e sua turma. O assessor diplomático Marco Aurélio Garcia, os ministros Nélson Jobim e Franklin Martins, Nelson Breve, também da SECOM, Carlos Villanova, diplomata que é o segundo de Franklin na Comunicação Social da Presidência, em geral encarregado com competência das viagens internacionais de Lula. Talvez houvesse mais alguém com eles, mas eu não tinha condições físicas de girar o corpo para ver quem se postou atrás de mim.

Lula chegou no exato momento em que eu havia iniciado assim o texto: "Sem se manifestar desde que deixou o Irã na segunda-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu ontem tempo para "amadurecer as reações" em torno do acordo com os iranianos (e os turcos) antes de se pronunciar".

Ordenei: "Senta aí e escreve o resto, vai. Você sabe melhor do que eu o que você pensa e diz".

Observação final: minha relação com o presidente (e também com o seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso) sempre foi cordial, como pessoas físicas. Como pessoas jurídicas, critiquei um e critico o outro, às vezes impiedosamente, mas esse é o jogo certo (acho eu) entre jornalismo e política.

Com FHC, a relação era mais formal, pela idade de cada um. Com Lula, é mais relaxada, até porque o conheço desde o tempo em que eu é que podia mandar quentinhas para ele, não o contrário.

Tanto que me despedi brincando: "Você é um péssimo presidente, mas um notável ser humano".

Agora, chega. Vou obedecer as ordens do doutor e coronel Cléber e me recolher ao repouso por tempo indeterminado mas que espero seja breve.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Favela em Cannes

Do El País
El común denominador entre Wesley, Ademir, Marlon, Jota, Marcinha y Flávio es inventarse cada día el arte de vivir. No precisamente 'el arte de vivir' en cuanto hipócrita concepto parido por la sociedad del bienestar y recogido hasta la extenuación por esas páginas mágicas de suplemento dominical que tanto nos tranquilizan y nos alivian a este lado de la línea que separa el primer mundo de los demás. No. El arte de vivir así, en sentido literal: convertir la aventura de levantarse y afrontar la masa informe de los días en una obra de arte personal e intransferible, en un truco y en un ardid, en una caja repleta de tretas y de golfería, en un arsenal de picaresca que les dé de comer para que, al final del círculo, la cosa se titule ya de otra forma: 'el arte de... sobrevivir'.

Eso pasa en la sucesión de los días y de las noches allá arriba, en las favelas de Río, en auténticas urbes de hojalata encaramadas a las colinas que circundan la floresta de Tijuca, en ciudades de cartón que, como Rocinha, superan en habitantes a muchas capitales de provincia españolas. Eso pasa allá arriba y los productores brasileños Carlos Diegues y Renata de Almeida decidieron utilizar ese material humano y creativo para poner en pie un insólito proyecto sociocultural que, con el apoyo del gobierno municipal de Río de Janeiro, dio como resultado esta película, 5 X favela : un fresco de ficción sobre base desgraciadamente real firmado por cineastas jóvenes e inexpertos que saben de lo que hablan: guionistas, directores, operadores, actores y técnicos noveles que, tras haber pasado por las aulas de cursos impartidos por prohombres del nuevo cine brasileño como Ruy Guerra, Walter Salles o Fernando Meirelles, han acabado asistiendo incrédulos a lo impensable: aterrizar en la sección oficial del Festival de Cannes .

5 X favela navega entre cinco historias independientes, cinco cuentos cinematográficos sin complejos y plagados de sinceridad, valentía e incorrección política. Nada es lo que parece, o mejor dicho todo es lo que no parecía que era, en esta película. Los corruptos policías sellan acuerdos con los sanguinarios jefes de clan, los niños bien de Copacabana o Ipanema encargan a sus compañeros de facultad menos 'favorecidos por la vida' que les traigan el paquetito de coca que otorgará el pasaporte a la felicidad, la exclusión no sólo va por razas, países, ciudades o favelas, también va por barrios... y los finales de la vida, y por lo tanto de estos cuentos, no son siempre 'happy ends' sino todo lo contrario. Como ese tremebundo último plano de 'Un concierto de violín', en el que el jefe de la policía acaba brutal pero piadosamente a tiros con la vida de sus dos amigos del colegio para ahorrarles un final mucho más espantoso.

Las amistades de infancia rotas por el curso del tiempo, el amor filial en medio del desastre, la puñetera dictadura del destino -que, no hay duda, existe según en qué casos- las ilusiones en forma de cometa volando por el aire... estos son algunos de los temas que tratan estos 'meninos da rua' reconvertidos en cineastas en 5 X favela . Los productores han puesto a su alcance medios similares a los que hubieran tenido directores profesionales. Si a esto se une la originalidad y calidad de las historias y la inacabable frescura en el planteamiento de estas cinco pequeñas películas -la frescura inherente al recién llegado- el resultado es una pequeña joya de hora y media hecha cine. Un diamante