Por Ruth de Aquino, na Época
Mulheres traem pelo mesmo motivo que homens: por desejo, por vontade. A diferença é que elas costumam culpar o marido ou o namorado. “Ele não me dava mais atenção”, dizem. “Não era mais romântico, não me elogiava, nem sexo queria.”
O livro mais recente da antropóloga Mirian Goldenberg desfaz o mito de que o homem trai por sexo e a mulher trai por amor ou desamor. Se assim fosse, o homem seria sempre culpado: quando trai e quando é traído. Não é justo com eles.
Homens e mulheres gostam de acreditar que o marido é safado por natureza, e a mulher casada é santa por dedicação. Esses rótulos podem parecer convenientes, mas contaminam as relações amorosas. Trabalhando há 22 anos com dilemas de casais, Mirian diz, em seu livro Por que homens e mulheres traem?, que a maior diferença entre eles e elas não é o comportamento, mas o discurso.
“Em vez de assumirem o desejo, as mulheres preferem se fazer de vítimas. Sentimentalizam o caso extraconjugal e botam a culpa no marido. Os homens assumem ter sido infiéis porque quiseram. Raramente culpam a própria mulher.”
Cada vez mais, porém, a infidelidade feminina segue os mesmos padrões da infidelidade masculina. No livro da antropóloga, “Mônica” é uma mulher dos novos tempos. “Ela está muito bem em seu casamento e ama o marido. Mas surge um desejo sexual louco e novo em sua vida e ela se joga nele. Rompe a calmaria porque decide viver seu próprio prazer.”
O desejo de se sentir desejada conduz a pequenas e grandes infidelidades femininas. As mulheres escutaram, quando crianças, que seu maior objetivo na vida seria casar e ter filhos. No futuro, elas teriam um único homem para chamar de seu. E seriam únicas para um homem só. A idealização da monogamia romântica não mudou muito, mas a realidade a longo prazo é bem outra.
Mulheres são um pouco Leila Diniz no exercício da sedução, mas não necessariamente na transgressão. As obrigações sociais jogam sua libido num lugar invisível e inatingível. Várias sublimam o prazer ao assumir o papel de mãe. Isso não significa que abram mão de suas fantasias. Conheci mulheres absolutamente certinhas, monogâmicas, que casaram virgens e têm sonhos delirantemente libertários.
Algumas não se contentam em fantasiar. Catherine Deneuve, em A bela da tarde, de Buñuel, é uma das personagens mais enigmáticas do cinema. Bem casada, rica, belíssima, ela se entrega a desconhecidos após o almoço como prostituta de luxo. É um exemplo extremo de desvio.
Mas, se a infidelidade feminina fosse apenas um fetiche, Nélson Rodrigues não teria tocado com tanta propriedade a alma da classe média brasileira. Novelas como a atual Passione soariam falsas. Ali, as protagonistas traem compulsivamente, das cinquentonas às ninfetas. Traem por desejo, por sexo, por diversão.
O psicanalista Contardo Calligaris acha que as mulheres são tão infiéis quanto os homens. Não vê nisso um problema. “As mulheres só são campeãs na fidelidade companheira e solidária. Em hospitais ou presídios, os visitantes são mulheres. Mas, sexualmente, não vejo diferença. Caso contrário, existiria um problema lógico. Se os homens heterossexuais são infiéis, quem são suas amantes – todas solteiras e livres ou também casadas e namorando outros?”
Contardo acha a palavra infidelidade muito pesada para a traição puramente sexual: “Jamais deixaria minha mulher se ela me contasse algo parecido. Mas sou fiel. Acho um saco trair. Ter outra relação dá um trabalho horroroso”.
Nos tribunais do Rio de Janeiro, recentemente, o juiz Paulo Mello Feijó ignorou o pedido de indenização por danos morais de um marido traído. Para o juiz, marido traído é marido relapso. “Homens de meia-idade, já não tão viris, descarregam suas frustrações nas mulheres, chamando-as de gordas e deixando-lhes toda a culpa por seu pobre desempenho. E elas buscam o prazer em outros olhos, outros braços, outros beijos (...) e traem de coração.”
A ideia de que a mulher só trai por razões sublimes, “de coração”, não corresponde à realidade. Se ela for infiel, será por desejo e por vontade própria.
sábado, 31 de julho de 2010
O Príncipe (como ser um maquiavélico virtuoso) - interpretação livre, que de tão livre...
A virtù
É a soma de qualidades – algumas moralmente condenáveis - com as quais o príncipe novo conquista o poder pelas próprias armas e homens, enfeixa-o nas mãos e o conserva. O príncipe precisa ter e exercer energia, vigor, talento, poder de decisão, valor bravio, ferocidade, até. Maquiavel recomenda que o príncipe reúna a astúcia da raposa e a força do leão. Graças à primeira, pode escapar de armadilhas, mas não dos lobos. A força do leão dará conta dos lobos. O príncipe, quando não impõe sua ferocidade leonina, usa a astúcia da raposa para praticar o bem e o mal. O príncipe de virtù sabe aproveitar a ocasião criada pela fortuna para conquistar e manter o poder.
É a soma de qualidades – algumas moralmente condenáveis - com as quais o príncipe novo conquista o poder pelas próprias armas e homens, enfeixa-o nas mãos e o conserva. O príncipe precisa ter e exercer energia, vigor, talento, poder de decisão, valor bravio, ferocidade, até. Maquiavel recomenda que o príncipe reúna a astúcia da raposa e a força do leão. Graças à primeira, pode escapar de armadilhas, mas não dos lobos. A força do leão dará conta dos lobos. O príncipe, quando não impõe sua ferocidade leonina, usa a astúcia da raposa para praticar o bem e o mal. O príncipe de virtù sabe aproveitar a ocasião criada pela fortuna para conquistar e manter o poder.
O olhar de Capitu - décima parte de um romance impublicável
As fronteiras sibilantes se esvaem em sambas e montanhas. Muralhas à tardinha, dirá o vate da valeta, ladino proxeneta. Alvíssaras, alvíssaras! Ladra o ladrão nos desvãos dos macadames educacionais, qualidade apropriada ao muro. Quando, quando?, eis que beija a parede o devasso girassol, em meio ao soluço liberal dos amores saturninos. E logo o fonograma arrebata a tigela rarefeita e esparge, borrifa os personagens galhardos e tímidos dos potentes anzóis desorientados. Alados, livros livres despenteiam isolacionistas siderais, ósculos monocondriais e sálvias longínquas. Séculos e ósculos vos contemplam como hoje os ônibus lusitanos.
sexta-feira, 30 de julho de 2010
Patrimônio da regionalidade
Por Marcos Sá Correa, no Estadão de hoje
O Parque Nacional do Iguaçu está em rota de colisão com seu título de Patrimônio Natural da Humanidade. Aposta essa reputação em mesas avulsas, que o acaso juntou neste mês em Brasília, a capital dos desencontros.
Numa rodada, o governo afia a língua para convencer a comissão da Unesco, instalada na cidade, de que o parque vai bem, obrigado. Há queixas contra ele nos relatórios técnicos que precederam o encontro. Eles lamentam, para começo de conversa, a afobação para bater recordes de visitação ano após ano, em prejuízo da conservação da fauna e da flora.
Mas, até aí, a Garganta do Diabo fala mais alto. O título continuaria no papo, se não tivesse chegado a Brasília, pouco antes da comissão, mais uma proposta para reabrir a Estrada do Colono, cortando ao meio a floresta do Iguaçu. À Unesco se creditou, nove anos atrás, o empenho do governo brasileiro para interditar depressa a estrada, com o Exército e a Polícia Federal.
A ideia de reabri-la se apresentou no Ministério do Meio Ambiente pela mão do desembargador Álvaro Eduardo Junqueira. O Tribunal Regional Federal da 4.ª Região o encarregou de promover a conciliação entre o parque e seus tradicionais invasores, em vez de julgar o processo. E ele passou a cuidar disso pessoalmente.
Com a conciliação em marcha, o projeto, que era assunto de políticos locais, ganhou padrinho federal. E mudou de estilo. A reabertura da estrada agora é chamada de "restauração". Dispensa a força e a coreografia da luta armada que usou para ocupar o parque em 1997 e 2001. Mas ainda não perdeu ao ar de fato consumado.
Semanas atrás, os municípios paranaenses ouviram do desembargador, em assembleia, a sugestão de que se contentassem com uma estrada "mais ecológica". Imediatamente, materializou-se o projeto de Estrada Ecológica, assinada pelas associações de municípios do oeste e do sudoeste do Paraná.
O deputado paranaense Assis do Couto (PT), de quebra, apresentou na Câmara o projeto de lei 7.123, que cria a "Estrada-Parque Caminho do Colono". Vai relatá-lo outro deputado paranaense, o engenheiro Eduardo Sciarra (DEM) ? que, como sócio da construtora CRE, tem um pé na Cataratas S/A, a empresa que explora legalmente os serviços turísticos terceirizados no Iguaçu. E agora outro pé na informalidade.
Iniciativa "histórica". A estrada-parque é um atalho para a entrada no parque de concessionários que se credenciam, sobretudo, como detentores da "memória dos prisioneiros". Em outras palavras, da lenda que atribui aos colonos gaúchos e catarinenses a iniciativa "histórica" de rasgar na selva o tal caminho, aberto em terras da União pelo governo estadual. Isso, na década de 1950. Portanto, no mínimo 11 anos depois do decreto que instituiu o parque.
Mas trunfo histórico nunca falta, como ensinou o historiador Sérgio Buarque de Holanda em Visões do Paraíso. Arisco mesmo é o futuro. E ele escapa pelas frinchas do projeto, que fala em calçar os 17,6 quilômetros do caminho de terra com lascas de basalto, para que o piso irregular obrigue os veículos a trafegar em baixa velocidade. Garantindo, portanto, "a travessia segura da fauna". Mas, por via das dúvidas, manda cortar todas as árvores a 1,5 metro da pista, "para evitar acidentes".
Indica "ônibus elétricos" nos passeios turísticos, sem dar a menor pista de onde pretende encontrá-los. Enumera 15 investimentos. Não apresenta um só custo. Cabe inteiro em menos de dez páginas, apesar da farta ilustração. Dá para atravessá-lo, de ponta a ponta, em minutos. Se cair nas mãos da Unesco, o governo brasileiro terá muito o que explicar à comissão do Patrimônio Natural da Humanidade.
O Parque Nacional do Iguaçu está em rota de colisão com seu título de Patrimônio Natural da Humanidade. Aposta essa reputação em mesas avulsas, que o acaso juntou neste mês em Brasília, a capital dos desencontros.
Numa rodada, o governo afia a língua para convencer a comissão da Unesco, instalada na cidade, de que o parque vai bem, obrigado. Há queixas contra ele nos relatórios técnicos que precederam o encontro. Eles lamentam, para começo de conversa, a afobação para bater recordes de visitação ano após ano, em prejuízo da conservação da fauna e da flora.
Mas, até aí, a Garganta do Diabo fala mais alto. O título continuaria no papo, se não tivesse chegado a Brasília, pouco antes da comissão, mais uma proposta para reabrir a Estrada do Colono, cortando ao meio a floresta do Iguaçu. À Unesco se creditou, nove anos atrás, o empenho do governo brasileiro para interditar depressa a estrada, com o Exército e a Polícia Federal.
A ideia de reabri-la se apresentou no Ministério do Meio Ambiente pela mão do desembargador Álvaro Eduardo Junqueira. O Tribunal Regional Federal da 4.ª Região o encarregou de promover a conciliação entre o parque e seus tradicionais invasores, em vez de julgar o processo. E ele passou a cuidar disso pessoalmente.
Com a conciliação em marcha, o projeto, que era assunto de políticos locais, ganhou padrinho federal. E mudou de estilo. A reabertura da estrada agora é chamada de "restauração". Dispensa a força e a coreografia da luta armada que usou para ocupar o parque em 1997 e 2001. Mas ainda não perdeu ao ar de fato consumado.
Semanas atrás, os municípios paranaenses ouviram do desembargador, em assembleia, a sugestão de que se contentassem com uma estrada "mais ecológica". Imediatamente, materializou-se o projeto de Estrada Ecológica, assinada pelas associações de municípios do oeste e do sudoeste do Paraná.
O deputado paranaense Assis do Couto (PT), de quebra, apresentou na Câmara o projeto de lei 7.123, que cria a "Estrada-Parque Caminho do Colono". Vai relatá-lo outro deputado paranaense, o engenheiro Eduardo Sciarra (DEM) ? que, como sócio da construtora CRE, tem um pé na Cataratas S/A, a empresa que explora legalmente os serviços turísticos terceirizados no Iguaçu. E agora outro pé na informalidade.
Iniciativa "histórica". A estrada-parque é um atalho para a entrada no parque de concessionários que se credenciam, sobretudo, como detentores da "memória dos prisioneiros". Em outras palavras, da lenda que atribui aos colonos gaúchos e catarinenses a iniciativa "histórica" de rasgar na selva o tal caminho, aberto em terras da União pelo governo estadual. Isso, na década de 1950. Portanto, no mínimo 11 anos depois do decreto que instituiu o parque.
Mas trunfo histórico nunca falta, como ensinou o historiador Sérgio Buarque de Holanda em Visões do Paraíso. Arisco mesmo é o futuro. E ele escapa pelas frinchas do projeto, que fala em calçar os 17,6 quilômetros do caminho de terra com lascas de basalto, para que o piso irregular obrigue os veículos a trafegar em baixa velocidade. Garantindo, portanto, "a travessia segura da fauna". Mas, por via das dúvidas, manda cortar todas as árvores a 1,5 metro da pista, "para evitar acidentes".
Indica "ônibus elétricos" nos passeios turísticos, sem dar a menor pista de onde pretende encontrá-los. Enumera 15 investimentos. Não apresenta um só custo. Cabe inteiro em menos de dez páginas, apesar da farta ilustração. Dá para atravessá-lo, de ponta a ponta, em minutos. Se cair nas mãos da Unesco, o governo brasileiro terá muito o que explicar à comissão do Patrimônio Natural da Humanidade.
quinta-feira, 29 de julho de 2010
Código de Hamurábi
36. O campo, o jardim e a casa do capitão, do homem ou de outrém, não podem ser vendidos.
37. Se comprar o campo, o jardim e a casa do capitão, ou deste homem, a tábua de contrato deve ser quebrada (declarada inválida) e a pessoa perderá dinheiro. O campo, jardim e casa devem retornar a seus donos.
38. Um capitão, homem ou alguém sujeito a despejo não pode responsabilizar por a manutenção do campo, jardim e casa a sua esposa ou filha, nem pode usar este bem para pagar um débito.
39. Ele pode, entretanto, assinalar um campo, jardim ou casa que comprou e que mantém como sua propriedade, para sua esposa ou filha e dar-lhes como débito.
40. Ele pode vender campo, jardim e casa a um agente real ou a qualquer outro agente público, sendo que o comprador terá então o campo, a casa e o jardim para seu usufruto.
41. Se fizer uma cerca ao redor do campo, jardim e casa de um capitão ou soldado, quando do retorno destes, a campo, jardim e casa deverão retornar ao proprietário.
42. Se alguém trabalhar o campo, mas não obtiver colheita dele, deve ser provado que ele não trabalhou no campo, e ele deve entregar os grãos para o dono do campo.
43. Se ele não trabalhar o campo e deixá-lo pior, ele deverá retrabalhar a terra e então entregá-la de volta ao seu dono.
37. Se comprar o campo, o jardim e a casa do capitão, ou deste homem, a tábua de contrato deve ser quebrada (declarada inválida) e a pessoa perderá dinheiro. O campo, jardim e casa devem retornar a seus donos.
38. Um capitão, homem ou alguém sujeito a despejo não pode responsabilizar por a manutenção do campo, jardim e casa a sua esposa ou filha, nem pode usar este bem para pagar um débito.
39. Ele pode, entretanto, assinalar um campo, jardim ou casa que comprou e que mantém como sua propriedade, para sua esposa ou filha e dar-lhes como débito.
40. Ele pode vender campo, jardim e casa a um agente real ou a qualquer outro agente público, sendo que o comprador terá então o campo, a casa e o jardim para seu usufruto.
41. Se fizer uma cerca ao redor do campo, jardim e casa de um capitão ou soldado, quando do retorno destes, a campo, jardim e casa deverão retornar ao proprietário.
42. Se alguém trabalhar o campo, mas não obtiver colheita dele, deve ser provado que ele não trabalhou no campo, e ele deve entregar os grãos para o dono do campo.
43. Se ele não trabalhar o campo e deixá-lo pior, ele deverá retrabalhar a terra e então entregá-la de volta ao seu dono.
Os tuiteiros e as marcas de olho nos tuiteiros
Publicado pela metaAnálise
Análise conduzida pela Predicta durante o Mundial de Futebol da FIFA avaliou a percepção dos tuiteiros a respeito das marcas participantes do evento e mostra o ranking das marcas mais admiradas, lembradas e populares.
Ao contrário do que se fala ou imagina, as pessoas estão cada vez mais atentas às ações publicitárias. Durante o Mundial da África do Sul percebeu-se um comportamento curioso nos intervalos dos jogos da Seleção Brasileira, quando os tuiteiros aproveitavam para postar mensagens sobre as marcas que investiram em ações de marketing ou patrocínio na competição.
Essas e outras conclusões foram obtidas a partir da análise realizada pela Predicta, consultoria especializada no comportamento do consumidor nos meios digitais, durante o principal evento esportivo do ano. A Copa das Marcas (www.copadasmarcas.com.br) foi um estudo exploratório do comportamentos dos usuários no Twitter, com o objetivo de compreender como as grandes marcas seriam percebidas pelos brasileiros no microblog durante o Mundial.
Segundo André Freitas, Diretor de Novos Negócios da Predicta, a análise foi um grande exercício para a consultoria e para as marcas conhecerem mais sobre sua ressonância das redes sociais no mundo comtemporâneo. “O grande apredizado que tiramos desse estudo é que, cada vez mais, as organizações precisam estar atentas à importância do crossmedia”, afirma Freitas. O executivo aponta que na análise foi possível perceber que as campanhas de TV das marcas eram
constantemente comentadas pelos tuiteiros, assim como anúncios na mídia impressa.
Enquanto os demais meios de comunicação são uma via de mão única, onde as pessoas apenas recebem informação passivamente, as redes sociais permitem que as pessoas interajam com o conteúdo, possibilitando assim que as empresas estabelçam um diálogo em tempo real com estas pessoas. “Tendo em vista essa realidade, é imprescindível que as empresas estejam atentas ao que estão falando sobre elas nas redes sociais, para terem a capacidade de agir rapidamente quando preciso”, analisa Freitas.
Um bom exemplo de crossmedia pôde ser percebido ao longo da Copa. Como o caso do Extra, em que o presidente Abílio Diniz usou o Twitter para dar seu parecer sobre a publicação equivocada de um anúncio publicitário da marca na mídia impressa. A marca rapidamente percebeu a quantidade de pessoas que comentaram sobre o assunto na internet, e agiu rapidamente para que sua credibilidade não fosse ferida, esclarecendo o ocorrido no mesmo dia.
Isso comprova que utilizar o Twitter como fonte de informação para avaliar a percepção das pessoas sobre sua marca, produto, serviço ou campanha publicitária, por exemplo, é uma estratégia acertada por parte das empresas. “O Twitter traz ondas de informações. Se a empresa tem condições de aproveitar essas ondas que aparecem, certamente terão um retorno positivo”, destaca.
Outra percepção obtida com o estudo foi em relação aos tweets durante os intervalos dos jogos da Seleção Brasileira. As menções sobre as marcas nesses períodos foram maiores que durante a partida. Após o jogo de eliminação do Brasil, o volume de menções sobre as marcas foi ainda maior; os usuários utilizaram a rede social para reclamar sobre o fato de as empresas já terem os anúncios da eliminação prontos. “Sabemos que nas fases eliminatórias a produção de campanhas para a vitória e para a eliminação são comuns. Porém, durante esse Mundial conseguimos perceber o quanto essa prática do mercado publicitário incomoda as pessoas, que encararam o fato como um 'agouro' e utilizarm as redes sociais para reclamar”, afirma Freitas.
A ação
A consultoria uniu duas áreas de expertise: produtos e inteligência para realizar a medição. A captura dos tweets foi realizada diariamente por intermediário da ferramenta Radian6. Na sequência, o setor de inteligência avaliou o material, racionalizou e categorizou os dados. Foi necessário criar indicadores específicos para ponderar o volume de tweets, as características de cada um e a afinidade com a campanha veiculada. No total, foram analisados, ao longo de um mês, cerca de 300 mil tweets que mencionavam as marcas monitoradas. O ranking final com as marcas admiradas, lembradas e populares ficou assim:
Marcas Mais Amadas
1 - Adidas 95,26%
2 - Visa 94,81%
3 - Coca-Cola 93,16%
4 - Sony 91,95%
5 - Brahma 91,09%
6 - McDonald’s 86,40%
7 - Pepsi 86,24%
8 - Seara 82,43%
9 - Volkswagen 79,59%
10 - Itaú 70,53%
Share of Voice
1 - Coca-Cola 20,73%
2 - Nike 13,97%
3 - McDonald’s 9,67%
4 - Sony 9,55%
Marcas Mais Populares
1 - Seara 41,76%
2 - Vivo 17,26%
3 - Adidas 14,29%
4 - Itaú 12,27%
Análise conduzida pela Predicta durante o Mundial de Futebol da FIFA avaliou a percepção dos tuiteiros a respeito das marcas participantes do evento e mostra o ranking das marcas mais admiradas, lembradas e populares.
Ao contrário do que se fala ou imagina, as pessoas estão cada vez mais atentas às ações publicitárias. Durante o Mundial da África do Sul percebeu-se um comportamento curioso nos intervalos dos jogos da Seleção Brasileira, quando os tuiteiros aproveitavam para postar mensagens sobre as marcas que investiram em ações de marketing ou patrocínio na competição.
Essas e outras conclusões foram obtidas a partir da análise realizada pela Predicta, consultoria especializada no comportamento do consumidor nos meios digitais, durante o principal evento esportivo do ano. A Copa das Marcas (www.copadasmarcas.com.br) foi um estudo exploratório do comportamentos dos usuários no Twitter, com o objetivo de compreender como as grandes marcas seriam percebidas pelos brasileiros no microblog durante o Mundial.
Segundo André Freitas, Diretor de Novos Negócios da Predicta, a análise foi um grande exercício para a consultoria e para as marcas conhecerem mais sobre sua ressonância das redes sociais no mundo comtemporâneo. “O grande apredizado que tiramos desse estudo é que, cada vez mais, as organizações precisam estar atentas à importância do crossmedia”, afirma Freitas. O executivo aponta que na análise foi possível perceber que as campanhas de TV das marcas eram
constantemente comentadas pelos tuiteiros, assim como anúncios na mídia impressa.
Enquanto os demais meios de comunicação são uma via de mão única, onde as pessoas apenas recebem informação passivamente, as redes sociais permitem que as pessoas interajam com o conteúdo, possibilitando assim que as empresas estabelçam um diálogo em tempo real com estas pessoas. “Tendo em vista essa realidade, é imprescindível que as empresas estejam atentas ao que estão falando sobre elas nas redes sociais, para terem a capacidade de agir rapidamente quando preciso”, analisa Freitas.
Um bom exemplo de crossmedia pôde ser percebido ao longo da Copa. Como o caso do Extra, em que o presidente Abílio Diniz usou o Twitter para dar seu parecer sobre a publicação equivocada de um anúncio publicitário da marca na mídia impressa. A marca rapidamente percebeu a quantidade de pessoas que comentaram sobre o assunto na internet, e agiu rapidamente para que sua credibilidade não fosse ferida, esclarecendo o ocorrido no mesmo dia.
Isso comprova que utilizar o Twitter como fonte de informação para avaliar a percepção das pessoas sobre sua marca, produto, serviço ou campanha publicitária, por exemplo, é uma estratégia acertada por parte das empresas. “O Twitter traz ondas de informações. Se a empresa tem condições de aproveitar essas ondas que aparecem, certamente terão um retorno positivo”, destaca.
Outra percepção obtida com o estudo foi em relação aos tweets durante os intervalos dos jogos da Seleção Brasileira. As menções sobre as marcas nesses períodos foram maiores que durante a partida. Após o jogo de eliminação do Brasil, o volume de menções sobre as marcas foi ainda maior; os usuários utilizaram a rede social para reclamar sobre o fato de as empresas já terem os anúncios da eliminação prontos. “Sabemos que nas fases eliminatórias a produção de campanhas para a vitória e para a eliminação são comuns. Porém, durante esse Mundial conseguimos perceber o quanto essa prática do mercado publicitário incomoda as pessoas, que encararam o fato como um 'agouro' e utilizarm as redes sociais para reclamar”, afirma Freitas.
A ação
A consultoria uniu duas áreas de expertise: produtos e inteligência para realizar a medição. A captura dos tweets foi realizada diariamente por intermediário da ferramenta Radian6. Na sequência, o setor de inteligência avaliou o material, racionalizou e categorizou os dados. Foi necessário criar indicadores específicos para ponderar o volume de tweets, as características de cada um e a afinidade com a campanha veiculada. No total, foram analisados, ao longo de um mês, cerca de 300 mil tweets que mencionavam as marcas monitoradas. O ranking final com as marcas admiradas, lembradas e populares ficou assim:
Marcas Mais Amadas
1 - Adidas 95,26%
2 - Visa 94,81%
3 - Coca-Cola 93,16%
4 - Sony 91,95%
5 - Brahma 91,09%
6 - McDonald’s 86,40%
7 - Pepsi 86,24%
8 - Seara 82,43%
9 - Volkswagen 79,59%
10 - Itaú 70,53%
Share of Voice
1 - Coca-Cola 20,73%
2 - Nike 13,97%
3 - McDonald’s 9,67%
4 - Sony 9,55%
Marcas Mais Populares
1 - Seara 41,76%
2 - Vivo 17,26%
3 - Adidas 14,29%
4 - Itaú 12,27%
Camone
Varissimo, retirado do Estadão de hoje
Não deixa de ser irônico que o analista econômico mais à esquerda - se é que cabe o termo - da grande imprensa brasileira seja um americano. Paul Krugman é publicado no Brasil porque ganhou um Nobel e escreve bem, mas está na contramão do pensamento econômico dominante do seu país, que é a opinião dominante por aqui também.
Critica o monetarismo clássico, os preceitos da escola de Chicago e os mitos do mercado autorregulador e ultimamente tem batido muito na opção da União Europeia de vencer sua crise atual com medidas de austeridade e cortes em gastos públicos - segundo ele um exemplo da velha prática perversa de fazer os pobres pagarem pelas lambanças dos ricos.
Krugman defende a ação dos governos para estimular economias e desobediência a todas as receitas de autoflagelação vendidas aos pobres como "responsabilidade fiscal" e sacrifício depurador. Quer dizer, é um estranho em dois mundos, o dos economistas ortodoxos americanos que ainda ditam a política do país, mesmo no governo do Baraca, e o dos economistas locais que seguem a linha americana. Sem falar na estranheza de vê-lo publicado nos nossos principais jornais conservadores, no que também pode ser visto como uma admirável demonstração de pluralismo de enfoques.
Mas me lembrei de quando eu era guri e brincava de "mocinho", ou caubói, com outros garotos da vizinhança, todos com reluzentes revólveres de espoleta metidos em seus coldres, até os sacarmos para matar bandidos ou índios. Eu tinha morado nos Estados Unidos e sabia inglês mas o máximo que os outros sabiam era enrolar a língua e fingir que falavam como nos filmes. Seu vocabulário era "Camone" e pouco mais, mas não importava. Nos comunicávamos naquele inglês imaginário, e vivíamos juntos a glória de ser americanos. Ninguém tinha a pontaria de um americano. Ninguém brigava a socos e saía da briga sem uma marca no rosto como um americano.
Um americano era perfeito. Um americano podia tudo. Depois, claro, crescemos e descobrimos que nem todo americano era "mocinho". Mas daquele tempo ficou a ideia inconsciente de que ser americano é credencial suficiente, de que basta dizer "camone" para dispensar qualquer outro tipo de aferição.
O que tudo isto tem a ver com o Paul Krugman? Talvez o fato de ser americano tenha facilitado sua entrada nas páginas econômicas sem que checassem suas convicções. Tudo teria a ver com a infância de todos nós.
Não deixa de ser irônico que o analista econômico mais à esquerda - se é que cabe o termo - da grande imprensa brasileira seja um americano. Paul Krugman é publicado no Brasil porque ganhou um Nobel e escreve bem, mas está na contramão do pensamento econômico dominante do seu país, que é a opinião dominante por aqui também.
Critica o monetarismo clássico, os preceitos da escola de Chicago e os mitos do mercado autorregulador e ultimamente tem batido muito na opção da União Europeia de vencer sua crise atual com medidas de austeridade e cortes em gastos públicos - segundo ele um exemplo da velha prática perversa de fazer os pobres pagarem pelas lambanças dos ricos.
Krugman defende a ação dos governos para estimular economias e desobediência a todas as receitas de autoflagelação vendidas aos pobres como "responsabilidade fiscal" e sacrifício depurador. Quer dizer, é um estranho em dois mundos, o dos economistas ortodoxos americanos que ainda ditam a política do país, mesmo no governo do Baraca, e o dos economistas locais que seguem a linha americana. Sem falar na estranheza de vê-lo publicado nos nossos principais jornais conservadores, no que também pode ser visto como uma admirável demonstração de pluralismo de enfoques.
Mas me lembrei de quando eu era guri e brincava de "mocinho", ou caubói, com outros garotos da vizinhança, todos com reluzentes revólveres de espoleta metidos em seus coldres, até os sacarmos para matar bandidos ou índios. Eu tinha morado nos Estados Unidos e sabia inglês mas o máximo que os outros sabiam era enrolar a língua e fingir que falavam como nos filmes. Seu vocabulário era "Camone" e pouco mais, mas não importava. Nos comunicávamos naquele inglês imaginário, e vivíamos juntos a glória de ser americanos. Ninguém tinha a pontaria de um americano. Ninguém brigava a socos e saía da briga sem uma marca no rosto como um americano.
Um americano era perfeito. Um americano podia tudo. Depois, claro, crescemos e descobrimos que nem todo americano era "mocinho". Mas daquele tempo ficou a ideia inconsciente de que ser americano é credencial suficiente, de que basta dizer "camone" para dispensar qualquer outro tipo de aferição.
O que tudo isto tem a ver com o Paul Krugman? Talvez o fato de ser americano tenha facilitado sua entrada nas páginas econômicas sem que checassem suas convicções. Tudo teria a ver com a infância de todos nós.
quarta-feira, 28 de julho de 2010
Os 80 anos de Plínio de Arruda Sampaio
http://www.youtube.com/projetosocialista#p/p/B26E7F0C3A0F605B/10/igVZ6BlnXFM
A vida e a morte de John Lennon
Ainda bem que ninguém lê esta merda. Errei nas contas da morte do John Lennon. Em 8 de dezembro serão 30 e não 20 anos. O texto está agora corrigido. Se alguém já leu, não me critique, desculpe-me. Herrar é umano. Abraço.
John Lennon da Rocha, 20 anos, auxiliar, filho de Inês da Rocha. Sep. ontem.
A nota, breve como a vida do John Lennon curitibano, está publicada na lista de falecimentos da Gazeta do Povo de hoje - aquele rol de mortos da cidade dantes chamado Obituário.
John Lennon da Rocha nasceu dez anos depois da morte de John Winston Lennon (a 8 de dezembro), em 1980, na porta do edifício Dakota, em Nova York, cidade onde vivia feliz com a mulher, Yoko, e o (segundo) filho Sean.
John Lennon da Rocha tinha metade da idade do John Winston Lennon morto. Este se foi aos 40 anos, no auge da felicidade e da criatividade. O nosso (nosso porque curitibano e porque toda morte compunge) morreu aos 20 anos, no auge ou no fundo do poço de alguma coisa.
Obviamente, sua mãe, Inês da Rocha, deveria gostar muito do John Lennon original. Ou, talvez, nem curtisse os Beatles ou John sozinho. Mas era um cara importante, melhor que os Máicons e Suellens da nossa terra. Ela talvez tenha tentado passar ao filho algo de bom que John deixou às artes e aos corações e mentes de seres humanos de todo o planeta.
Não procurei no noticiário policial para saber se algum John Lennon da periferia foi morto pela PM ou num acerto de contas com traficantes. Talvez tenha sido levado por uma doença incontrolável, por um acidente de trânsito ou, pior, um acidente de trabalho, desses que vitimam tantos brasileiros todos os dias.
Pela nota do jornal, sabe-se que John Lennon da Rocha, 20 anos, filho de Inês da Rocha, era solteiro e auxiliar. E só.
Seria auxiliar de escritório, de depósito, de serviços gerais? A rigor, era apenas mais um auxiliar, provavelmente um pobre sujeito que tinha um emprego, mas sem ter concluído o ensino médio, sem chance de ser algo mais que auxiliar.
Sabe-se também que foi criado pela mãe, já que não consta da nota o nome do pai.
Quase igual ao John Lennon inglês, criado sem pai e quase sem mãe, mais perto da tia Mimi. Quando era um Beatle, o pai, Alfred, tentou uma reaproximação, mas foi repelido.
O pai de John Lennon da Rocha, se é que um sabia da existência do outro, nunca o procurou, ou, se o fez, não lhe emprestou o nome para a carteira de identidade.
Assim morreu John Lennon da Rocha, 20 anos, sem pai, filho de Inês da Rocha, solteiro, auxiliar.
Foi sepultado ontem.
Só isso.
John Lennon da Rocha, 20 anos, auxiliar, filho de Inês da Rocha. Sep. ontem.
A nota, breve como a vida do John Lennon curitibano, está publicada na lista de falecimentos da Gazeta do Povo de hoje - aquele rol de mortos da cidade dantes chamado Obituário.
John Lennon da Rocha nasceu dez anos depois da morte de John Winston Lennon (a 8 de dezembro), em 1980, na porta do edifício Dakota, em Nova York, cidade onde vivia feliz com a mulher, Yoko, e o (segundo) filho Sean.
John Lennon da Rocha tinha metade da idade do John Winston Lennon morto. Este se foi aos 40 anos, no auge da felicidade e da criatividade. O nosso (nosso porque curitibano e porque toda morte compunge) morreu aos 20 anos, no auge ou no fundo do poço de alguma coisa.
Obviamente, sua mãe, Inês da Rocha, deveria gostar muito do John Lennon original. Ou, talvez, nem curtisse os Beatles ou John sozinho. Mas era um cara importante, melhor que os Máicons e Suellens da nossa terra. Ela talvez tenha tentado passar ao filho algo de bom que John deixou às artes e aos corações e mentes de seres humanos de todo o planeta.
Não procurei no noticiário policial para saber se algum John Lennon da periferia foi morto pela PM ou num acerto de contas com traficantes. Talvez tenha sido levado por uma doença incontrolável, por um acidente de trânsito ou, pior, um acidente de trabalho, desses que vitimam tantos brasileiros todos os dias.
Pela nota do jornal, sabe-se que John Lennon da Rocha, 20 anos, filho de Inês da Rocha, era solteiro e auxiliar. E só.
Seria auxiliar de escritório, de depósito, de serviços gerais? A rigor, era apenas mais um auxiliar, provavelmente um pobre sujeito que tinha um emprego, mas sem ter concluído o ensino médio, sem chance de ser algo mais que auxiliar.
Sabe-se também que foi criado pela mãe, já que não consta da nota o nome do pai.
Quase igual ao John Lennon inglês, criado sem pai e quase sem mãe, mais perto da tia Mimi. Quando era um Beatle, o pai, Alfred, tentou uma reaproximação, mas foi repelido.
O pai de John Lennon da Rocha, se é que um sabia da existência do outro, nunca o procurou, ou, se o fez, não lhe emprestou o nome para a carteira de identidade.
Assim morreu John Lennon da Rocha, 20 anos, sem pai, filho de Inês da Rocha, solteiro, auxiliar.
Foi sepultado ontem.
Só isso.
Internet pode transformar os humanos em dementes
Da Galileu
Nas décadas de 1970 e 1980, o neurocientista norte-americano Michael Merzenich conduziu uma série de experimentos em cérebros de primatas que revelaram como os circuitos neurais e sinapses dos animais mudavam rapidamente de acordo com sua experiência ou atividade. Merzenich reorganizou os nervos na mão de um macaco, e, como resposta, as células neurais do córtex sensorial do animal rapidamente se organizaram para criar um novo mapa mental daquela mão. “Da mesma maneira, um fenômeno cultural recente como a internet pode alterar o funcionamento das nossas cabeças por funcionar como um mediador”, diz.
Segundo Merzenich, a web está treinando o cérebro dos usuários a tentar fazer várias coisas simultanteamente, enquanto ignora os circuitos neurais responsáveis pela reflexão e pensamento aprofundado – mesmo quando estamos longe de um computador. Ele disse a Galileu que a internet deverá atrapalhar o desenvolvimento intelectual da humanidade a longo prazo, podendo até causar uma “epidemia futura de senilidade”. Confira a conversa:
Nossos cérebros são remodelados pelo uso intenso de internet?
Eles mudam com a evolução da cultura, isso está acontecendo agora, com o jeito que absorvemos quantidades elevadas de informação na internet. É claro que o cérebro de cada um é diferente, e a pessoa comum que tem essa dose pesada de informação tem mais tendência a mudar. Há milhares de anos, a leitura universal não estava espalhada, e agora nós passamos uma boa parte dos nossos dias lendo. Os nossos cérebros se especializaram nisso, e estão muito diferentes do cérebro de uma pessoa normal há milhares de anos. Da mesma maneira, o cérebro de uma pessoa que usa muita internet é diferente do cérebro de alguém há 10 ou 20 anos.
Isso é bom ou ruim?
Há algo incrivelmente positivo sobre a internet, temos uma quantidade enorme de informação com aquisição muito mais eficiente. É um recurso incrível, como se tivéssemos todas as bibliotecas do mundo perto das nossas mãos. Carregar seu cérebro com bastante informação dá várias maneiras dela ser usada, integrada ou afeta sua imaginação, criatividade e atenção.
Por outro lado, a internet muda a maneira que você usa seu cérebro para adquirir informação. O internauta não precisa enfrentar uma luta pessoal para encontrar o que precisa. Agora, ele lida com uma tabela prática de referências, e não precisa mais raciocinar tanto. Passou a usar uma estratégia de pesquisa e busca, e deixou de exercitar várias habilidades cognitivas. É muito fácil resolver qualquer problema olhando sua resposta em vez de tentar resolvê-lo com inteligência e raciocínio. Esse é o perigo real, porque envolve uma manipulação de informação muito menos agressiva, do uso de suas habilidades cognitivas.
Agora, nós olhamos para outra pessoa para fazermos um julgamento, para comprar uma viagem ou produto. Não estamos pensando neles. Procuramos uma conclusão tomada por alguém, para escolhermos a direção em que pularemos. Muita gente está tão imersa nisso que não percebe o que está acontecendo.
E qual seria o efeito a longo prazo?
O internauta, enquanto consome informação, terá que lidar com uma série de dados desnecessários, de “ruídos”, que podem afetar o cérebro. Em um experimento, se acostumarmos o cérebro de um animal a um ambiente continuamente “ruidoso”, visual ou auditivo, seu desempenho é degradado. Tem mais dificuldade em realizar suas tarefas e parece ter vivenciado menos coisas. Há diferenças até em seus hábitos e brincadeiras.
É um engano pensar o excesso de informação é inofensivo. Toda ação que contribui para as operações do seu cérebro ficarem “ruidosas” aumentará o risco de você ter uma saúde mental ruim no futuro. Alguns outros experimentos apontam que a senilidade tem relação com o comportamento cerebral “ruidoso” da pessoa quando ela ainda é jovem. A internet talvez possa contribuir para uma epidemia futura de senilidade. Há dados que mostram um crescimento enorme de indivíduos senis. Não há uma conexão comprovada e direta com a internet, mas creio que há demonstrações indiretas disso.
Qual é a melhor coisa que podemos fazer a respeito? Precisamos balancear o uso da internet com a leitura de livros?
É preciso lembrar que a vida cultural moderna é bem bizarra. Não fomos construídos para ler. Na verdade, a leitura é uma aventura. O mesmo serve para estas ferramentas que nos permitem passar todo esse tempo na internet. Há muito pouco a fazer em relação ao que realmente fomos feitos para fazer – operarmos em ambientes reais, físicos, tomando decisões rápidas e táticas sobre o que estamos vendo e sentindo.
Agora evoluímos para estes comportamentos complicados e abstratos. Certamente haverá consequências neurológicas nisso. É importante pensar num balanço não somente em termos de leitura. Em um senso geral, talvez devêssemos operar em um mundo sem máquinas, pensando em uma humanidade fundamental, para voltarmos a ter a saúde original do cérebro. Mas isso é um pouco complicado.
Ainda temos tempo para mudar?
A humanidade provavelmente perceberá as consequências do uso da internet quando elas ficarem mais visíveis. Isso porque somos muito ignorantes para compreender os riscos que estamos passando agora. Uma das coisas básicas que as pessoas não entendem é que nosso cérebro é plástico, e essa plasticidade é bidirecional.
Posso pegar qualquer outra pessoa e destruir sua habilidade de entender o que falo, degradar sua capacidade de controlar as mãos ou de compreender o que está vendo. Assim como posso treiná-lo para refinar sua habilidade de usar suas mãos, entender melhor o que está vendo. As pessoas não entendem que o que elas fazem mudam seu cérebro, suas características operacionais e de performance. O ideal seria que elas soubessem das consequências neurológicas antes delas começarem a acontecer.
Nas décadas de 1970 e 1980, o neurocientista norte-americano Michael Merzenich conduziu uma série de experimentos em cérebros de primatas que revelaram como os circuitos neurais e sinapses dos animais mudavam rapidamente de acordo com sua experiência ou atividade. Merzenich reorganizou os nervos na mão de um macaco, e, como resposta, as células neurais do córtex sensorial do animal rapidamente se organizaram para criar um novo mapa mental daquela mão. “Da mesma maneira, um fenômeno cultural recente como a internet pode alterar o funcionamento das nossas cabeças por funcionar como um mediador”, diz.
Segundo Merzenich, a web está treinando o cérebro dos usuários a tentar fazer várias coisas simultanteamente, enquanto ignora os circuitos neurais responsáveis pela reflexão e pensamento aprofundado – mesmo quando estamos longe de um computador. Ele disse a Galileu que a internet deverá atrapalhar o desenvolvimento intelectual da humanidade a longo prazo, podendo até causar uma “epidemia futura de senilidade”. Confira a conversa:
Nossos cérebros são remodelados pelo uso intenso de internet?
Eles mudam com a evolução da cultura, isso está acontecendo agora, com o jeito que absorvemos quantidades elevadas de informação na internet. É claro que o cérebro de cada um é diferente, e a pessoa comum que tem essa dose pesada de informação tem mais tendência a mudar. Há milhares de anos, a leitura universal não estava espalhada, e agora nós passamos uma boa parte dos nossos dias lendo. Os nossos cérebros se especializaram nisso, e estão muito diferentes do cérebro de uma pessoa normal há milhares de anos. Da mesma maneira, o cérebro de uma pessoa que usa muita internet é diferente do cérebro de alguém há 10 ou 20 anos.
Isso é bom ou ruim?
Há algo incrivelmente positivo sobre a internet, temos uma quantidade enorme de informação com aquisição muito mais eficiente. É um recurso incrível, como se tivéssemos todas as bibliotecas do mundo perto das nossas mãos. Carregar seu cérebro com bastante informação dá várias maneiras dela ser usada, integrada ou afeta sua imaginação, criatividade e atenção.
Por outro lado, a internet muda a maneira que você usa seu cérebro para adquirir informação. O internauta não precisa enfrentar uma luta pessoal para encontrar o que precisa. Agora, ele lida com uma tabela prática de referências, e não precisa mais raciocinar tanto. Passou a usar uma estratégia de pesquisa e busca, e deixou de exercitar várias habilidades cognitivas. É muito fácil resolver qualquer problema olhando sua resposta em vez de tentar resolvê-lo com inteligência e raciocínio. Esse é o perigo real, porque envolve uma manipulação de informação muito menos agressiva, do uso de suas habilidades cognitivas.
Agora, nós olhamos para outra pessoa para fazermos um julgamento, para comprar uma viagem ou produto. Não estamos pensando neles. Procuramos uma conclusão tomada por alguém, para escolhermos a direção em que pularemos. Muita gente está tão imersa nisso que não percebe o que está acontecendo.
E qual seria o efeito a longo prazo?
O internauta, enquanto consome informação, terá que lidar com uma série de dados desnecessários, de “ruídos”, que podem afetar o cérebro. Em um experimento, se acostumarmos o cérebro de um animal a um ambiente continuamente “ruidoso”, visual ou auditivo, seu desempenho é degradado. Tem mais dificuldade em realizar suas tarefas e parece ter vivenciado menos coisas. Há diferenças até em seus hábitos e brincadeiras.
É um engano pensar o excesso de informação é inofensivo. Toda ação que contribui para as operações do seu cérebro ficarem “ruidosas” aumentará o risco de você ter uma saúde mental ruim no futuro. Alguns outros experimentos apontam que a senilidade tem relação com o comportamento cerebral “ruidoso” da pessoa quando ela ainda é jovem. A internet talvez possa contribuir para uma epidemia futura de senilidade. Há dados que mostram um crescimento enorme de indivíduos senis. Não há uma conexão comprovada e direta com a internet, mas creio que há demonstrações indiretas disso.
Qual é a melhor coisa que podemos fazer a respeito? Precisamos balancear o uso da internet com a leitura de livros?
É preciso lembrar que a vida cultural moderna é bem bizarra. Não fomos construídos para ler. Na verdade, a leitura é uma aventura. O mesmo serve para estas ferramentas que nos permitem passar todo esse tempo na internet. Há muito pouco a fazer em relação ao que realmente fomos feitos para fazer – operarmos em ambientes reais, físicos, tomando decisões rápidas e táticas sobre o que estamos vendo e sentindo.
Agora evoluímos para estes comportamentos complicados e abstratos. Certamente haverá consequências neurológicas nisso. É importante pensar num balanço não somente em termos de leitura. Em um senso geral, talvez devêssemos operar em um mundo sem máquinas, pensando em uma humanidade fundamental, para voltarmos a ter a saúde original do cérebro. Mas isso é um pouco complicado.
Ainda temos tempo para mudar?
A humanidade provavelmente perceberá as consequências do uso da internet quando elas ficarem mais visíveis. Isso porque somos muito ignorantes para compreender os riscos que estamos passando agora. Uma das coisas básicas que as pessoas não entendem é que nosso cérebro é plástico, e essa plasticidade é bidirecional.
Posso pegar qualquer outra pessoa e destruir sua habilidade de entender o que falo, degradar sua capacidade de controlar as mãos ou de compreender o que está vendo. Assim como posso treiná-lo para refinar sua habilidade de usar suas mãos, entender melhor o que está vendo. As pessoas não entendem que o que elas fazem mudam seu cérebro, suas características operacionais e de performance. O ideal seria que elas soubessem das consequências neurológicas antes delas começarem a acontecer.
O pescoço da evolução
Da Agência Fapesp
Aquele pequeno pedaço do corpo entre a cabeça e os ombros foi mais importante para a evolução humana do que se pensava. Segundo um novo estudo, o pescoço deu ao homem tamanha liberdade de movimentos que teve papel fundamental na evolução.
A conclusão deriva da análise genética do homem e de peixes e foi publicada nesta terça-feira (27) na revista on-line Nature Communications, em artigo com acesso livre.
Cientistas achavam que as nadadeiras peitorais em peixes e os membros superiores (braços e mãos) em humanos fossem inervados (recebessem nervos) a partir dos mesmos neurônios. Afinal, nadadeiras e braços parecem estar no mesmo local no corpo.
Não exatamente. De acordo com a pesquisa, durante a transição ocorrida entre peixes e animais que passaram a caminhar sobre a terra – que deu origem aos mamíferos –, a fonte dos neurônios que controlam diretamente os membros superiores se deslocou do cérebro para a medula espinhal, à medida que o tronco se distanciou da cabeça e entrou em cena o pescoço.
Os braços no homem, assim como as asas de aves e morcegos, separaram-se da cabeça e ficaram posicionados no tronco, abaixo do pescoço, indica o estudo feito por Andrew Bass, da Universidade Cornell, nos Estados Unidos, e colegas.
“O pescoço possibilitou o avanço em movimentos e na destreza em ambientes terrestres e aéreos. Essa inovação em biomecânica ocorreu simultaneamente a mudanças no modo em que o sistema nervoso controla os membros”, disse Bass.
De acordo com o pesquisador, o surgimento desse nível de plasticidade evolutiva provavelmente é responsável pela grande variedade de funções dos membros superiores, do voo em aves e do nadar em baleias e golfinhos às habilidades humanas.
O artigo Ancestry of motor innervation to pectoral fin and forelimb (doi:10.1038/ncomms1045), de Andrew Bass e outros, pode ser lido na Nature Communications em www.nature.com/ncomms/journal/v1/n4/full/ncomms1045.html.
Aquele pequeno pedaço do corpo entre a cabeça e os ombros foi mais importante para a evolução humana do que se pensava. Segundo um novo estudo, o pescoço deu ao homem tamanha liberdade de movimentos que teve papel fundamental na evolução.
A conclusão deriva da análise genética do homem e de peixes e foi publicada nesta terça-feira (27) na revista on-line Nature Communications, em artigo com acesso livre.
Cientistas achavam que as nadadeiras peitorais em peixes e os membros superiores (braços e mãos) em humanos fossem inervados (recebessem nervos) a partir dos mesmos neurônios. Afinal, nadadeiras e braços parecem estar no mesmo local no corpo.
Não exatamente. De acordo com a pesquisa, durante a transição ocorrida entre peixes e animais que passaram a caminhar sobre a terra – que deu origem aos mamíferos –, a fonte dos neurônios que controlam diretamente os membros superiores se deslocou do cérebro para a medula espinhal, à medida que o tronco se distanciou da cabeça e entrou em cena o pescoço.
Os braços no homem, assim como as asas de aves e morcegos, separaram-se da cabeça e ficaram posicionados no tronco, abaixo do pescoço, indica o estudo feito por Andrew Bass, da Universidade Cornell, nos Estados Unidos, e colegas.
“O pescoço possibilitou o avanço em movimentos e na destreza em ambientes terrestres e aéreos. Essa inovação em biomecânica ocorreu simultaneamente a mudanças no modo em que o sistema nervoso controla os membros”, disse Bass.
De acordo com o pesquisador, o surgimento desse nível de plasticidade evolutiva provavelmente é responsável pela grande variedade de funções dos membros superiores, do voo em aves e do nadar em baleias e golfinhos às habilidades humanas.
O artigo Ancestry of motor innervation to pectoral fin and forelimb (doi:10.1038/ncomms1045), de Andrew Bass e outros, pode ser lido na Nature Communications em www.nature.com/ncomms/journal/v1/n4/full/ncomms1045.html.
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