terça-feira, 13 de maio de 2025

Para onde vai e para onde deveria ir o jornalismo para não desaparecer

Uma nova missão para um tempo radicalmente novo

 Por Rodrigo Mesquita

Artigo publicadooriginalmente em 12 de maio na Folha SP e no portal articulaconfins.com


O jornalismo nasceu como um sistema de mediação. Foi, durante décadas, a principal arena pública da cidade. No Brasil, Júlio Mesquita cunhou uma frase que precisa ser resgatada: “Jamais ousei imaginar que tinha o direito ou o dever de formar a opinião pública. Tudo que fiz foi procurar sondá-la e me deixar levar tranquilo e sossegado pelas correntes que me pareciam mais acertadas.”

 

Essa ideia – a de que o jornal é ponto de encontro, não púlpito – está mais viva do que nunca. Mas o jornalismo precisa reencarnar essa missão na arquitetura digital da sociedade contemporânea.

 

É hora de investir em plataformas temáticas dinâmicas, baseadas em curadoria, escuta pública, agregação de saberes e construção de redes de confiança. O jornalismo deve parar de disputar centavos por mil impressões com o Google e o Facebook e começar a oferecer serviços informacionais estruturantes para as comunidades.

 

Isso exige novas ferramentas, novas mentalidades, novas alianças. Jornalistas devem tornar-se arquitetos de sistemas de informação comunitária, mediadores de processos de escuta e articulação — atuando dentro das redes, e não apenas sobre elas.

 

A narrativa é a mensagem

 

Vivemos uma revolução profunda. A segmentação, a interatividade, a personalização e o poder de computação levaram a uma nova era informacional, onde a narrativa – e não mais a notícia – é o elemento estruturante da percepção pública. Quem controla as narrativas controla a memória, a imaginação e, por consequência, a política.

 

Nesse mundo, a arquitetura da informação é política pública. E o jornalismo que quiser continuar existindo como força civilizatória precisa disputar essa arquitetura. Isso significa abandonar o papel de emissor e assumir o papel de organizador das redes sociais de sentido e ação.

 

O rejuvenescimento da economia analógica depende da vitalidade da economia digital. E o rejuvenescimento do jornalismo depende de reencontrar seu papel como mediador qualificado das inteligências públicas.

 

Do púlpito à praça digital

 

O jornalismo precisa ir além do entendimento técnico das tecnologias publicitárias e das plataformas. Precisa enfrentá-las, hackeá-las e superá-las. Não com códigos, mas com visão. Com estratégia. Com serviços que respondam à necessidade de articulação social em um mundo hiperconectado.

 

Não existem dois mundos – analógico e digital. Existe um só tecido social em transformação, e ele precisa de novas infraestruturas públicas de informação.

 

A imprensa só voltará a ser relevante quando voltar a ser parceira da sociedade. A narrativa é a mensagem. E a mensagem agora é: precisamos reinventar o jornalismo.

 

Rodrigo Mesquita

Jornalista, conselheiro do InovaUSP e pesquisador do ecossistema informacional. Ex-diretor do Jornal da Tarde e da Agência Estado.