quarta-feira, 3 de junho de 2009

A diarista

Divagando & Katilografando
Depois de um dia atípico no atendimento do Banco do Brasil, eis que, surge um daqueles finais de expediente, onde, você tem o esperado prazer de ir para casa mais cedo. Nem era horário de verão, o sol ainda brilhava no horizonte, durante o percurso de quinhentos e cinquenta metros feito a pé para a minha casa, idealizei que aproveitaria aquelas quase duas horas de folga para colocar a minha caixa postal em dia; muita coisa havia que ser excluída, outras para serem enviadas e outras tantas para serem lidas.
Como sempre, cheguei a minha casa sem fazer qualquer barulho ou estardalhaço - não sou desconfiado, não tenho e nem me foram dados motivos para isso, é do meu temperamento. Introduzi a chave à fechadura, e vi que a porta não estava trancada – aqui em Curitiba fala-se chaveada – entrei; minha intenção de subir para ligar o computador logo foi sobrestada. Nesse instante percebi que a nossa diarista ainda se encontrava em nossa casa; eu não a conhecia, já fazia mais de seis meses que ela estava nos prestando esse valoroso serviço, todavia, a dona Márcia a conhecia muito bem, gostava dos seus serviços – ela veio para substituir a nossa empregada que, desde que chegamos a Curitiba estava conosco, por motivo de assuntos familiares teve que nos deixar, entretanto essa diarista nos foi, digo, só a dona Márcia foi por ela apresentada.
Para minha surpresa, passei a conhecer a dona Flaurerta ou Flawerta - esse é nome dela, se é assim que se escreve eu não sei; mas é assim que se pronuncia – de uma maneira inteiramente bizarra. Por alguns milésimos de segundos eu pensei que aquela maneira, tal como estava para mim se apresentando, não fosse exatamente uma apresentação, mas, sim, um ritual que, sei lá, por motivos unicamente religiosos; não sei de qual religião ela é (aqui tem de tudo! Talvez fosse uma Menonita) ela estivesse finalizando o seu dia de trabalho com um ritual.
Portanto, em não sendo uma apresentação e sim, um ritual, achei-o bastante estranho. Ela gemia; deitada no chão da cozinha contorcia-se toda, balbuciava algumas palavras até então, para mim, ininteligíveis. Apesar do dia ainda claro a nossa cozinha já estava em penumbra, e ela lá deitada. Dirigi-me à escadaria, ainda no segundo degrau, percebi que entre o que ela balbuciava havia uma pergunta: o senhor é o seu Francisco? Da escada mesmo respondi que sim. Num fio de voz ela retrucou: por Cristo, me ajude! Nesse instante eu pensei: o ritual requer mais de uma pessoa, e eu não entendo nada dessas religiões estrangeiras. Dei meia volta, e fui para a cozinha.
Ao entrar na cozinha, providencialmente liguei a luz. A minha surpresa aumentou. Nunca tinha visto bunda mais branca em toda a minha vida; a saia dela estava acima dos quadris, a sua calcinha não a envergonhava, eu acho, ou pelo menos eu achei que não, todavia, estava quase um fio dental! Os seus braços estavam estendidos para debaixo do fogão; o fogão estava ligado e uma panela de pressão, com o seu chiado denunciavam a máxima pressão, quanta pressão! Naquele instante percebi o quanto aquela senhora estava em apuros. O sangue que lhe faltava na bunda estava todo no seu rosto. Questionar agora se era porque estava se sentindo envergonhada ou, pelo risco grave ao qual a dona Flawerta estava exposta, isso eu não vou questionar.
Que foi que lhe aconteceu dona..? – Respondeu ela: Flawerta, seu Francisco, Flawerta! Continuou ela: Depois que eu terminei a minha tarefa, resolvi colocar a aipim que a Márcia me pediu para que cozinhasse antes de sair. Assim eu fiz – disse ela – depois eu percebi que o fogão estava torto e descentralizado (acho que aí estava muito do preciosismo da alemã), resolvi então ajeitá-lo, e o pé de rodinha acabou se soltando e a panela ameaçou cair; foi então, que eu me deitei para ajeitar o pé do fogão. Ajeitava um, soltava o outro; e a panela a cada movimento ameaçava cair em cima de mim, - disse a dona Flawerta.
Para que não houvesse naquele instante qualquer risco de a panela cair, desliguei o fogão e peguei a panela e coloquei-a no balcão da pia e abaixei-me para auxiliar na recolocação do pezinho do fogão; a dona Flawerta num pulo levantou-se, ajeitou a saia no exato momento em que a minha filha Ingrid entrou e assistiu a cena. Papai, que é que vocês estão fazendo? À perguntou da Ingrid, eu respondi com outra pergunta: você não quer me ajudar? – Naquele instante quem estava com o pepino agora era eu; a dona Flawerta ou Flaurerta já devia estar lá no ponto do ônibus, escafedeu-se!
Tá bom papai vou te ajudar! – Respondeu a Ingrid; mas, vai me explicar direitinho o que acabei de flagrar! Vamos, Ingrid, anda logo me ajude aqui! Ajudar no que papai? No pé do fogão filhinha, ele se soltou. Ingrid observou: papai, o pé do fogão está no lugar de sempre, ele não está fora do lugar! - Ué! Então eu já consegui consertá-lo? Ele estava totalmente fora e ameaçava cair o fogão com a panela aí em cima. Ingrid retrucou: papai não tem panela alguma em cima do fogão! Tem sim, uma no balcão da pia! Vamos papai, estou esperando que o senhor me explique por que estás deitado aí no pé do fogão e a dona Flawerta ajeitava a calcinha e baixava a saia no momento em que entrei aqui em casa?
É verdade, tem coisas que, por mais que procuremos dar explicações mais acabamos por nos enrolarmos. Para a dona Márcia tudo, tudinho mesmo, ficou bastante esclarecido. Mas, a menina Ingrid, mesmo tendo se passado dois anos, - hoje ela tem quinze anos – ela ainda não aceitou as minhas explicações. Como diz o meu querido amigo e colega do Banco do Brasil, o Eiras, gerente da Agência Água Verde aqui em Curitiba: “Chico meu amigo velho, ISSO É BATOM NA CUECA MESMO!”
Francisco Silva Filho – Curitiba-PR

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