sábado, 7 de novembro de 2009

Por que nossa cozinha é a mais criativa do planeta

Não suporto bacalhau, mas gosto de receitas. É como o jazz. Pega-se um tema, cria-se sobre ele e se desenvolve a arte. Retirei esta da Globo Rural. Imagino que alguém faça jazz e varie com o insumo básico, ou seja, invente algo com outra carne: camarão, filé minhon, por exemplo. Mantenho todo o texto. Molho de mandioca? Deve ser do céu. Boa mesa, boas almas. Suerte.

Texto Camila Pastorelli
Fotos (que aqui não aparecem, não sei por quê) de Fernanda Bernardino



A receita inicial do prato era do pai, Seu João Guauberto Nunes, que pegava o pintado e o deixava secar no varal até chegar no ponto. O 'peixe seco', como ele chamava, era feito para a quaresma. A família comia o peixe durante os 40 dias até a Sexta-feira Santa. Inspirada pelo pai, cozinheiro de mão cheia, a sul-mato-grossense Catarina Nunes, de 48 anos, resolveu inventar mais um pouco e acrescentou o molho de mandioca. Pronto. Surgiu, assim, o 'bacalhau pantaneiro'.

Nascida na cidade de Corumbá, MS, essa produtora rural de sorriso fácil conta que cozinha desde os 8 anos de idade. Já teve restaurante, mas hoje realiza cursos de alimentação alternativa, nos quais ensina maneiras de aproveitar as sobras de alimentos, como cascas de banana e escamas de peixe.

Aliás, por estar em uma região com uma vasta variedade de peixes, usa e abusa do animal: faz quibe, hambúrguer e até linguiça. 'Do peixe, a gente só não aproveita o espinho', diz a animada Catarina. A receita do 'Bacalhau Pantaneiro' venceu o segundo Salão de Turismo de Mato Grosso do Sul, em maio, e o prato foi escolhido para representar o estado na quarta edição do Salão Nacional do Turismo, realizada em São Paulo, no mês de julho.

Para encontrar o pintado seco e salgado, basta dar uma passada no porto de Corumbá e procurar pela Banca da Bibiana, que, de acordo com a culinarista, é a única que além dela sabe como preparar o peixe. Caso você esteja sem tempo para viajar para o Mato Grosso do Sul nos próximos dias, não se preocupe, Catarina compartilha o segredo. 'É só abrir o pintado ao meio, colocar bastante sal (grosso ou fino) e o deixar descansando por meia hora. Depois você deixa o peixe secando no varal, igual roupa mesmo, por dois ou três dias.'

O 'bacalhau de pintado' é também uma deliciosa alternativa para o bolso, além de valorizar a diversidade da gastronomia brasileira. A inventiva Catarina se diz fascinada pelo ambiente da culinária. 'A cozinha é uma arte que abrange todos os sentidos.' Seu João, falecido há mais de 30 anos, ficaria orgulhoso de ver a filha levando seu peixe seco da quaresma para os paladares de todo o país.



BACALHAU PANTANEIRO
(Corumbá, Mato Grosso do Sul)


Ingredientes
• 1 kg de pintado seco e salgado;
• 600 g de batatas em rodelas;
• 2 cebolas médias em rodelas;
• 200 g de azeitonas pretas;
• 100 ml de azeite de oliva;
• 50 ml de coloral;
• 100 g de mandioca ralada crua;
• 500 ml de água ou caldo de bacalhau (pintado);
• 1 xícara de água fervendo.
• 1 pimentão vermelho em rodelas;
• 1 pimentão verde em rodelas;

Como fazer
Pegue uma travessa e faça camadas com os ingredientes. Coloque as batatas pré-cozidas, o pintado pré-cozido e dessalgado, as cebolas, as azeitonas e o azeite. Separe a água do cozimento do pintado para fazer um molho com a mandioca.

Molho: Cozinhe a mandioca ralada, com azeite e sal, no caldo de pintado com água. Depois, adicione o coloral e deixe ferver. A consistência é a de um mingau. Depois de intercalar as camadas com o molho, feche a travessa com papel alumínio e leve ao forno a 180º por cerca de 40 minutos. Ao retirar do forno, adicione mais azeite e sirva com arroz.

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