sábado, 10 de outubro de 2015

Mané, um brasieiro

Certa vez Eusébio (gênio) disse a Pelé (gênio no superlativo) algo como "nós fomos excepcionais, mas Garrincha foi, entre nós, o melhor de todos". Messi, Cristiano, Ibraimovich e outros são gênios. Mas não são no superlativo como Pelé. E nunca haverá - ou que o futuro desminta - um jogador como Garrincha. Novesfora ser nada atleta, com a coluna torta, joelhos e pernas tortos, cabeça torta, desmentia tudo o que seu corpo mostrava e jogava como ninguém (nem George Best, pra mim um quase ele). Fazia do espaço de um lenço um latifúndio, como escreveu Armando Nogueira. Quando tinha campo aberto à frente, então, era o senhor. Não driblava só pela direita. Fazia muito mais. Nem Pelé, putada, nem Pelé. Garrincha e Pelé (mais aquele timaço que tinha Didi, Vavá...) ganharam a Copa de 58, quando saíram do banco. Em 62, Pelé estourou a perna e Garrincha, que "só driblava pela direita", driblou pelo meio, fez gol de falta, chutou bunda de zagueiro (e foi absolvido em nome do futebol), mandou nos jogos e ganhou a Copa. Em 66, já meio cozido pelo álcool, apanhou feito cachorro, assim como Pelé. Mas aí é depois. Nenhum jogador brasileiro ganhou duas copas dando show. Só Manoel Francisco dos Santos. O maior gênio do futebol de todos os tempos (seu final não importa aqui). Eusébio disse a Pelé e deve ter dito em outra dimensão ao George Best e diria a Messi, Cristiano Ronaldo e a mim: pessoal, jogamos pra caralho, mas esse torto bebeu na encruzilhada.

https://www.youtube.com/watch?v=gycn9hkXRCA

sábado, 29 de agosto de 2015

Um endereço, um pai

Vinha eu (no começo da tarde deste sábado, 29) de volta pra casa, no glorioso bairro do Cristo Rei, quando tive minha caminhada interrompida por um sujeito grandão, bem caipirão, segurando uma jaqueta. Pedido de esmola não era, pois estava bem vestido, mesmo caipirão. Até no jeito de andar.
"Por favor, me desculpe, procuro um endereço aqui na Sete de Setembro", cortou ele meus devaneios.
Acordei e me lembrei que estávamos na Fernando Amaro, a uma quadra da Sete, que, para quem não conhece, é cortada várias vezes depois do Alto da Rua XV.  Vai acima às bandas do Tarumã. No outro sentido, vai assim, picotada, até iniciar seu caminho montanha abaixo, rumo ao centro e além.
"Estamos perto, vou te levar ali", simplifiquei.
No caminho, o gigante gentil, que me fez lembrar o personagem de John Voight em Midnight Cowboy, me explicou, quando lhe perguntei se não tinha uma referência:
"Me desculpe e vou lhe dizer. É que só tenho o endereço. Vim encontrar meu pai. Ele não me conhece e eu não o conheço."
Não lhe perguntei se o pai o esperava. Mas o grandão sabia o que procurava.
Estava um tanto aflito. Levei-o à Sete, pertinho de minha casa, e lhe expliquei os cortes da rua.
Ele agradeceu e se foi, papelzinho na mão enorme, em busca do pai, que pra ele, mesmo longe e perto, deveria ser um gigante como ele.
Eu disse boa sorte e ele devolveu acenando com um obrigado do tamanho da mão.
Neste sábado nada aconteceu de extraordinário. Que eu saiba, o mundo continuou o mesmo.
Só que um filho conheceu seu pai. E deve ter ganhado um abraço do seu tamanho.
Boa sorte, gigante.

domingo, 1 de março de 2015

O Zé que invejamos

Mujica foi pra casa.

Entregou o governo discretamente, como chegou.

Que Tabaré Vasquez, que já presidiu o país, seja um bom presidente.

Precisamos de bons exemplos.

Ah, Mujica voltou pra casa de fusca.





21 anos do Plano Itamar - Ops, Plano Real

Por Redação do Portal Metrópole







Onde está o professor Fernando na foto?


No dia 28 de fevereiro de 1994, o governo do presidente Itamar Franco editou a medida provisória (MP) para criação da Unidade Real de Valor, que entraria em vigor em março daquele ano, com valor entre US$ 0,80 a US$ 1. Além das novas regras de conversão de valores, a medida também determinava uma nova moeda, o Real, prevista para ser lançada apenas em junho. A decisão da MP do Plano Real aconteceu durante uma reunião ministerial no dia 27, no Palácio do Planalto, que durou mais de oito horas. Também ficou definido que o então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, poderia intervir em casos de abusos de especuladores. Desde 1986, com o Plano Cruzado, o Brasil sofreu uma série de planos e medidas econômicas que resultaram, ao longo de oito anos, em uma inflação total de 689.363.100%. Nes tempo foram oito programas de estabilização, cinco congelamentos de preços e salários, um confisco de ativos financeiros, 54 alterações no sistema de controle de preços, 16 políticas salariais e quatro moedas (cruzado, cruzado novo, cruzeiro e cruzeiro real), o que resultou em um corte de nove zeros em relação ao cruzeiro, que vigorava no início de 1986. Apesar das medidas, a inflação seguia afetando seriamente a economia e o poder de compra dos trabalhadores.

21 anos depois: quem é o pai do Plano Real?

O plano Real, lançado em 28 de fevereiro de 1994, foi um plano influenciado pelas ideias do economista inglês John Maynard Keynes e pelas experiências hiperinflacionárias europeias (da primeira metade do século XX), mas que contou com uma questionável administração de economistas brasileiros e com as (des)orientações do Fundo Monetário Internacional (FMI). Longe de ter sido “idealizado por Fernando Henrique Cardoso”, como afirmam O Globo e outros veículos assemelhados, o plano foi organizado e dirigido exclusivamente pelos economistas do PSDB.

Fernando Henrique Cardoso (FHC) era o ministro da Fazenda durante o período de lançamento do Plano. O presidente era Itamar Franco. Um mês após o lançamento do plano, FHC se desincompatibilizou do cargo para se candidatar à Presidência da República pelo PSDB. Rubens Ricupero assumiu o ministério da Fazenda. Ricupero deveria ser o responsável por toda a condução do plano.

Em um estúdio da TV Globo, antes de uma gravação, o ministro da Fazenda revelou reservadamente ao jornalista Carlos Monforte suas intenções, vontades e ideias sobre o plano Real. Não contava, contudo, que estava em canal aberto para algumas residências que possuíam antena parabólica. Sua conversa com o jornalista foi gravada e divulgada.

O ministro, falando informalmente sobre o plano Real, disse: “O que é bom a gente fatura. O que é ruim, esconde.” Além disso, afirmou que era o principal “cabo eleitoral” de FHC. Ele se considerava também um achado para a Rede Globo porque a emissora poderia fazer a campanha de FHC através das suas aparições - “o tempo todo no ar”, segundo palavras do próprio ministro da Fazenda.

Após a divulgação da sua conversa com o jornalista da Globo, não restou outra alternativa: ele pediu demissão do cargo em 6 de setembro para não contaminar a campanha tucana à Presidência. Contudo, o mais importante para entendimento da economia política do Real foi a proposta econômica que o ministro fez durante a conversa informal e que viria a se tornar o carro-chefe da fase de derrubada da inflação proposta no plano. À frente, este ponto será desenvolvido.

Antes do lançamento da nova moeda, o real, a inflação era elevada. Mais do que isso: existia um regime de alta inflação, isto é, havia uma dança de preços. Alguns preços subiam porque outros tinham subido. E estes subiam porque aqueles haviam subido. E assim os preços aumentavam de forma sucessiva. Havia uma corrida de preços, mas de forma dessincronizada: aumentavam em momentos diferenciados e com percentuais diferentes. Além disso, nenhum contrato era assinado com a moeda corrente, o cruzeiro real. Os contratos usavam moedas fictícias (referências) ou algum índice para indexar o seu valor à inflação e/ou aos desejos dos contratantes.

Muito foi acumulado em termos de discussões e experiências desde o Plano Cruzado de fevereiro de 1986 até o lançamento do Real. Nos meios acadêmicos fervilhavam artigos e debates sobre o assunto. O Plano Cruzado havia dado errado por um simples fato: o seu carro-chefe foi o congelamento de preços. O raciocínio era simples: se os preços sobem porque outros já subiram, então congelam-se os preços e não haverá mais motivos para reajustes. Errado: os preços estavam dessincronizados, então quem ficara “mal na foto” (isto é, ainda não tinha reajustado o seu preço) no momento em que houve o congelamento não aceitou aquela situação e reagiu, reajustando seus preços. Aí... os outros reagiram também. Assim, ruiu o congelamento e o Plano Cruzado. Utilizado eleitoralmente pelo PMDB, o congelamento de preços foi mantido (com a Polícia Federal e fiscais nas ruas) somente até as eleições de novembro de 1986. O resultado: o PMDB ganhou o governo dos estados de todas as unidades da federação, exceto Sergipe.

Além da experiência do Cruzado, havia mais uma lição muito importante na história econômica. Keynes, o economista inglês, foi convidado pelo governo alemão, em 1922, a apresentar um plano para derrubar a hiperinflação alemã.

Os pilares do Plano de Keynes eram os seguintes: (i) a derrubada da inflação deveria ser uma iniciativa do governo, já que desconfiava de qualquer tipo de ajuda externa, (ii) fixação da taxa de câmbio para promover a estabilização, já que os preços estavam perfeitamente indexados ao dólar (isto é, os preços subiam de forma sincronizada todos os dias) e (iii) os déficits públicos seriam curados posteriormente, depois da estabilização e como consequência do crescimento econômico (que possibilitaria aumento da arrecadação).

Estas lições eram bastante conhecidas entre os economistas brasileiros no início dos anos 1990. Minha dissertação de mestrado, defendida em 1993, intitulava-se “As lições do Plano Keynes para um projeto de estabilização”. Muitos economistas escreveram trabalhos acadêmicos relevantes relacionando as ideias de Keynes, os países que conviveram com a hiperinflação e um plano de estabilização para o Brasil. Destacavam-se Paulo Nogueira Batista Jr. e Gustavo Franco. Rudner Dornbusch, um professor americano do MIT – e que com frequência visitava o departamento de economia da PUC-Rio, ninho dos economistas do PSDB – republicou parte do Plano Keynes em 1987 em artigo de sua autoria.

Na primeira parte da década de 1990, havia uma grande lição já apreendida do Plano Keynes e do fracasso do Cruzado: era preciso sincronizar a dança dos preços com a variação diária do valor do dólar. Dado este passo, o próximo seria o lançamento de uma âncora cambial (cuja versão mais recomendada era o congelamento da taxa de câmbio em um patamar de equilíbrio, isto é, que estimulasse exportações e defendesse o mercado doméstico da invasão de produtos importados). O FMI aproveitou este ambiente para lançar mais uma de suas ideias: países “irresponsáveis” não poderiam ter sequer moeda, deveriam utilizar o dólar americano como moeda. O FMI foi o principal incentivador da radical dolarização argentina, que quase extinguiu o peso durante a década de 1990, e do fim da moeda nacional (o sucre) no Equador, que até hoje está sem sua própria moeda – apesar de ser governado pelo antineoliberal Rafael Correa.

Os economistas do PSDB inventaram uma dolarização disfarçada para a economia brasileira. Uma boa invenção, originária nas proposições de André Lara Rezende e Pérsio Arida (proposição conhecida à época por “Larida”). Lançaram no dia 1º de março de 1994 a Unidade Real de Valor (URV), que valia 1 dólar americano e tentaram por 4 meses (de março a junho) URVerizar todos os preços. Em outras palavras, estimularam que os preços subissem todos os dias de forma sincronizada e referenciada na URV que valia 1 dólar – e que variava de valor todos os dias.

A tentativa de dolarização/sincronização de preços à brasileira foi um fiasco. Somente os contratos públicos (energia elétricas e outros) aderiram, de fato, à URV. Existem trabalhos científicos (nunca contestados) publicados na Revista de Economia Política que demonstram esta afirmação. Na época, surgiu um racha entre os economistas do PSDB. Uns avaliavam que seria necessário que o período de dolarização/sincronização tivesse pelo menos um ano para que todos os preços aderissem à URV. Outros, não. O motivo para o tiro curto de apenas quatros meses foi essencialmente eleitoral.

Óbvio que uma boa sincronização seria desejada para que a fase seguinte, a da estabilização, fosse bem sucedida – afinal, a lição do Cruzado estava viva na memória dos economistas. Mas a parte vencedora argumentou que tal fase deveria ser curta (não havia tempo, diziam). A fase de estabilização deveria chegar logo, deveria ocorrer pelo menos quatro meses antes das eleições de novembro de 1994. Caso contrário, perderiam as eleições, já que Lula estava bem na frente de FHC – em maio, as pesquisas apontavam a vitória do petista no primeiro turno (43% contra 17% de FHC) – a reviravolta eleitoral somente ocorreu depois de 1º de julho, quando entrou em cena a nova moeda, o real, em substituição à velha, o cruzeiro real.

A fase de sincronização da dança de preços via URV foi um fiasco econômico. Então, alguns céticos do plano Real pensaram que tudo daria errado porque os preços voltariam a dançar e subir, tal como no Plano Cruzado. Os economistas do PSDB sabiam que isto, de fato, poderia ocorrer. Lançaram mão de uma “âncora” inovadora: câmbio megavalorizado e abertura comercial. A âncora lançada em 1º julho não foi a do câmbio fixo e equilibrado, tal como estava no Plano Keynes, mas sim a do câmbio flutuante (para baixo) e do câmbio megavalorizado (inicialmente com R$ 1 comprava-se US$ 1,mas logo em seguida com 84 centavos de real comprava-se 1 dólar americano). Com esse câmbio e com a abertura comercial, as pressões por reajuste foram dissolvidas de forma truculenta com uma invasão avassaladora de produtos importados.

O caminho foi exatamente aquele anunciado pelo ministro Ricupero na conversa reservada que foi capitada pelas antenas parabólicas. Ele considerava que quem desejava fazer reajustes eram “bandidos” e que ele daria uma “pancada” promovendo importações. Disse:

- Eu vou fazer um troço firme.

- É pra tudo quanto é bem de consumo e tal. Importação de tudo. ... Bens duráveis também.

- Vou fazer uma coisa grande.

- É tudo bandido.

O que manteve os preços estabilizados, após o lançamento da nova moeda em 1º de julho de 1994, foi a concorrência desleal de produtos importados – essa foi a principal “âncora” do plano Real – não existiu qualquer âncora cambial, tal como sugerida por Keynes ou aplicada em diversas experiências. Não houve acomodação de preços, mas sim o deslocamento de produtos nacionais e a introdução de produtos importados no mercado doméstico brasileiro. O valor das importações de bens de consumo era, em 1993, US$ 3,2 bilhões; em 1998, alcançou US$ 10,8 bilhões – mais que triplicou!

Dessa forma, os preços foram controlados e as pressões foram, dissolvidas pela exclusão de produtos domésticos do mercado brasileiro. Logo em seguida, para fazer crer que o que estava funcionando era a âncora cambial, foi permitida a concessão de crédito bancário em dólares – a operação era feita em real, mas era convertida de acordo com a taxa de câmbio do dia. Também a dívida pública interna foi, em boa parte, dolarizada para fazer crer que até o governo não aceitaria uma desvalorização.

Embora vendessem a fantasia do câmbio fixo, o crucial para os economistas do PSDB, à época, não era se o câmbio estava congelado, mas sim se ele estava megavalorizado para ser combinado com uma estratégia de abertura comercial. As importações cresceram, o saldo negativo com o exterior aumentou e os preços foram estabilizados, mas com taxas de juros estratosféricas com o objetivo de atrair dólares para o país. Essas taxas de juros bancavam a avalanche de importações de bens de consumo. Em 1994, a taxa de juros Selic média foi superior a 70% ao ano; em 1995, superior a 54%. No período que vigorou o plano Real, entre 1º de julho de 1994 a meados de 1999 (quando foi implantado o regime de metas de inflação), a taxa de juros Selic média foi de 38% ao ano.

Em 1998, a taxa de câmbio super-hiper-megavalorizada já não era mais suportável. Houve muitos debates internos entre economistas do PSDB e foi decidido pelo presidente-candidato à reeleição que a desvalorização somente ocorreria após as eleições de novembro. Vitorioso nas urnas com a promessa que não haveria desvalorização (veja a capa de O Globo de 31 de agosto de 1998: FH GARANTE QUE NÃO MEXE NOS JUROS NEM NO CÂMBIO). Mas em janeiro de 1999, FHC substituiu o presidente do Banco Central, que estava provavelmente entre aqueles que não queriam a desvalorização, e autorizou o desmonte da farsa eleitoral e econômica: o câmbio foi desvalorizado.

Os céticos erraram novamente. Pensaram: “agora a coisa afunda”. Não percebiam que a âncora do Real era outra. Apesar da desvalorização ocorrida dentro de uma “banda diagonal transversa”, segundo os termos quase ininteligíveis do novo presidente do Banco Central, o dólar continuava muito barato.

Esta foi a história do Plano Real. Entre 1999 e 2003/4 houve somente o aprofundamento dos fundamentos macroeconômicos ditados pelos economistas liberais do PSDB e pelo FMI. Os resultados dos anos de Plano Real foram dramáticos em termos de criação de empregos formais, de crescimento e concentração de renda.

A “responsabilidade” fiscal apregoada (pelo FMI e os economistas do PSDB) foi transformada em elevação da carga tributária e da dívida líquida pública como proporção do PIB. Os resultados fiscais somente viriam a melhorar (e muito) com o crescimento econômico da era Lula – tal como sugeria o Plano Keynes. Cabe lembrar que a primeira fase do Real, anterior à suposta sincronização de preços e à estabilização da inflação, era a fase da busca do equilíbrio das contas públicas. Neste ponto talvez resida o maior desastre do plano Real. A dívida líquida do setor público em relação ao PIB, de 38,2% em 1993, saltou para 48,7% em 1999.

A maior herança benigna do Plano Real foi a consciência antiinflacionária absorvida pela sociedade (para a qual o plano Cruzado também contribuiu). Sim, a inflação foi controlada, mas isso não isenta os organizadores e condutores do plano Real de seus graves equívocos. Por outras vias, mais aderentes ao plano Keynes, a inflação também teria sido debelada – é o que mostram inúmeras experiências. Não foi somente o Brasil que enfrentava um regime de alta inflação e não foi somente o Brasil que conseguiu superá-lo. Por exemplo, na Argentina, nos cinco primeiros anos pós-estabilização, a economia cresceu em média 7,8% ao ano – em seguida as orientações do FMI levaram a Argentina para uma crise profunda. Mas, no Brasil, o crescimento foi medíocre e, em decorrência, os custos sociais foram altos demais.

A primeira fase do Real promoveria um ajuste fiscal e melhoraria os resultados das contas públicas. Ocorreu o inverso. A segunda fase, a da sincronização do reajuste de preços, foi apenas “para inglês ver”. E a terceira fase, a da estabilização, obteve êxito, mas alcançou seu objetivo à custa de juros altos para conter a perda de reservas, desnacionalização da economia, geração de poucos empregos formais, baixo crescimento e concentração de renda. Poderia ter sido bem sucedida sem estes custos.

Ainda sobre a última fase do Real, a fase de estabilização, que foi de julho de 1993 a meados de 1999, vale uma observação muito importante: a inflação média desse período foi superior a 12% ao ano – uma inflação muito superior à inflação dos últimos dez anos, que é inferior a metade daquela registrada nos anos que são hoje comemorados pelo PSDB. Portanto, o que o plano Real fez, de fato, foi lançar as bases da estabilização consagrada apenas no último decênio – é o que está provado pelos números. Mas cabe uma observação: a sociedade brasileira precisa de muito mais do que uma economia com inflação controlada – e tudo o que vai além disso não foi sequer iniciado nos governos do PSDB.

Vale o exame de alguns outros números. A concentração de renda foi extraordinária nos anos do plano Real: a participação dos salários no PIB caiu de 45,1% em 1993 para 38,2% em 1999. A carga tributária aumentou 11% entre 1993 e 1999. A taxa média de crescimento econômico foi de 2% (a mesma taxa de crescimento do governo Dilma). No primeiro mandato de FHC, que corresponde à aproximadamente ao período do plano Real, foram criados apenas 824 mil empregos formais (em 4 anos), um número ridículo se comparado à média da última década, que tem sido a criação de mais de 1 milhão de empregos formais por ano.

A concepção original do Plano Real era excepcional e tinha base teórica e histórica – contudo, não foi uma invenção de economistas brasileiros. Coube, sim, aos economistas do PSDB patrocinar o não aprofundamento da fase de sincronização dos preços, a promoção de uma enorme substituição de produtos nacionais por produtos importados durante a fase de estabilização e o agravamento da situação fiscal brasileira. Mas hoje, 20 anos depois, somente lembram do que chamam de derrubada da inflação. Não possuem sequer a honestidade intelectual para reconhecer os erros e os custos sociais pagos em nome de estratégias eleitorais e crenças neoliberais.

Confira o artigo original no Portal Metrópole: http://www.portalmetropole.com/2015/02/ha-21-anos-itamar-franco-assinava.html#ixzz3TAXHNUDI

Antonio Machado

Caminante no hay camino




Extracto de Proverbios y cantares (XXIX)

Caminante, son tus huellas
el camino y nada más;
Caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.
Al andar se hace el camino,
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.
Caminante no hay camino
sino estelas en la mar.

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Este blog acorda, por um testemunho tocante, maravilhoso

por Gerson Guelmann
publicado originalmente no Blog do Zé Beto
Esta era minha família até 7 de fevereiro de 1965. Naquela data, numa viagem de São Paulo para Curitiba, meu pai, minha mãe e minhas duas irmãs faleceram num acidente de automóvel. Em poucos dias meu pai, Isaac, completaria 42 anos e minha mãe, Selda, 40. As meninas, Gisele e Gilce, em alguns meses fariam 12 e 9, respectivamente. Éramos 5 filhos  e ficamos os 3 homens: o mais velho, Gilberto, com quase 19, eu com 17, e o Gilson com pouco mais de 13. As circunstâncias de como se deu a tragédia, os detalhes, tudo é tão absurdo e incompreensível, que ainda hoje, 50 anos depois, prefiro não pensar em como aquilo aconteceu. Era uma manhã de domingo com pouquíssimo trânsito, tempo excelente, num trecho reto da estrada, já asfaltada, e tudo faz supor que a viagem transcorria tranquila. Minha mãe dirigia e meu pai viajava no banco do passageiro, onde lia um jornal. As meninas iam no banco de trás do automóvel, que foi esmagado por um trator de uso em obras rodoviárias. O equipamento, pesadíssimo, não estava autorizado a trafegar na estrada e deveria ser transportado por caminhão. Um defeito mecânico fez com que o operador perdesse o controle e passasse por cima do carro, cruzando a via na contramão. Em segundos e sem nenhuma possibilidade de reação, as vidas deles acabaram e as nossas mudaram para sempre. A natureza humana é incrível. Já há muito tempo tenho dificuldade para desenhar seus rostos na memória, o que me parece ser um bloqueio de defesa. Nos primeiros dias, meses e anos, a dor misturava-se à revolta, à incerteza com relação ao futuro, ao desejo de fazer o tempo retroceder para que um minuto a mais ou a menos no trajeto pudesse evitar a dor. As memórias hoje são esparsas. A mente divaga e nem sempre sei o que é lembrança ou sonho. O pensamento mais frequente é o que me faz imaginar como poderia ter sido a vida da família. Como teriam sido as vidas deles e as nossas? Eu teria continuado a estudar?  Meus pais ainda estariam vivos? Eles teriam alcançado os netos, meus filhos e os de meus irmãos, e os que as meninas poderiam ter lhes dado? E viveriam para conhecer um bisneto hoje com quase 20 anos? As vezes acho que ter passado por esse trauma não me fez diferente das outras pessoas. Não me tornei melhor ou pior do que poderia ter sido, ainda que “o homem seja o homem e a sua circunstância”, como disse Ortega y Gasset. Tive altos e baixos, momentos bons e ruins, gestos dos quais me orgulho e atitudes que me envergonharam. Por muito tempo fui autoindulgente e culpei a tragédia por minhas falhas como ser humano, marido e pai. Isso passou à custa de análise, introspecção e pela percepção de que a vida é realmente muito difícil, mas fica ainda mais dura se você não a enfrentar. Hoje me julgo uma pessoa um pouco melhor, um marido razoável, mas tenho a certeza inabalável de que deixarei para o mundo filhos melhores do que eu. Neste 7 de fevereiro de 2015, por ser “shabat”, o Cemitério Israelita estará fechado. Mas domingo irei lá, cumprindo um ritual de 50 anos. O escritor israelense Amós Óz disse que uma pessoa só morre verdadeiramente quando morrer a última pessoa que se lembrava dela. Ainda estamos vivos: filhos, sobrinhos, primos, e muitos amigos. Então, eles estão vivos em nossas lembranças. Ademais, meu sentimento é o que o imortal Fernando Pessoa disse em uma carta a João Gaspar Simões: “Tenho, do passado, somente saudades de pessoas idas, a quem amei; mas não é saudade do tempo em que as amei, mas a saudade delas; queria-as vivas hoje, e com a idade que hoje tivessem, se até hoje tivessem vivido.”

sábado, 17 de janeiro de 2015

A maior luta com punhos de todos os tempos

https://www.youtube.com/watch?v=55AasOJZzDE

O deus das lutas

Veja Cassius Marcellus Clay, ou, melhor, Muhammad Ali, o gênio a raça humana.

https://www.youtube.com/watch?v=W4IKMX-5JLk

Cassius Marcellus Clay, ou, melhor, Muhammad Ali, o eterno campeão

Muhammad Ali faz 73 anos hoje. Guri. Sofre de Doença de Parkinson, não comprovadamente produto do boxe, até porque ele apanhava muito pouco na cabeça. Acho que teria a doença se fosse professor ou médico. De todo modo, é um gênio da raça humana, por sua condição atlética, por seu papel como cidadão (recusou-se a lutar no Vietnã e etc., por brigar pelos negros e seus direitos civis), por ser quem é. Em 64 ele conquistou o título mundial, sem nocaute. Sonny Liston não voltou de um intervalo. Quem gosta, assista ao show que ele deu - e saiu com a cara limpa, como sempre. Muhammad Ali forévis.