Vinha eu (no começo da tarde deste sábado, 29) de volta pra casa, no glorioso bairro do Cristo Rei, quando tive minha caminhada interrompida por um sujeito grandão, bem caipirão, segurando uma jaqueta. Pedido de esmola não era, pois estava bem vestido, mesmo caipirão. Até no jeito de andar.
"Por favor, me desculpe, procuro um endereço aqui na Sete de Setembro", cortou ele meus devaneios.
Acordei e me lembrei que estávamos na Fernando Amaro, a uma quadra da Sete, que, para quem não conhece, é cortada várias vezes depois do Alto da Rua XV. Vai acima às bandas do Tarumã. No outro sentido, vai assim, picotada, até iniciar seu caminho montanha abaixo, rumo ao centro e além.
"Estamos perto, vou te levar ali", simplifiquei.
No caminho, o gigante gentil, que me fez lembrar o personagem de John Voight em Midnight Cowboy, me explicou, quando lhe perguntei se não tinha uma referência:
"Me desculpe e vou lhe dizer. É que só tenho o endereço. Vim encontrar meu pai. Ele não me conhece e eu não o conheço."
Não lhe perguntei se o pai o esperava. Mas o grandão sabia o que procurava.
Estava um tanto aflito. Levei-o à Sete, pertinho de minha casa, e lhe expliquei os cortes da rua.
Ele agradeceu e se foi, papelzinho na mão enorme, em busca do pai, que pra ele, mesmo longe e perto, deveria ser um gigante como ele.
Eu disse boa sorte e ele devolveu acenando com um obrigado do tamanho da mão.
Neste sábado nada aconteceu de extraordinário. Que eu saiba, o mundo continuou o mesmo.
Só que um filho conheceu seu pai. E deve ter ganhado um abraço do seu tamanho.
Boa sorte, gigante.
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