O Departamento de Literatura e Linguística (DELLIN) da UFPR, como participante do processo formativo de professores de português no Estado do Paraná, vem a público denunciar o uso danoso das plataformas digitais no ensino de Língua Portuguesa nas escolas públicas do nosso estado.
As duas plataformas em funcionamento na disciplina de Língua Portuguesa são Leia Paraná e Redação Paraná. O Leia Paraná apresenta os mesmos poucos títulos para todo o Fundamental II e o Ensino Médio; os alunos leem na tela e respondem perguntas de múltipla escolha; as obras são adaptadas, condensadas, com pouquíssimos títulos de literatura brasileira, sugeridos somente para os que vão fazer vestibular. Como o uso da plataforma é obrigatório, a biblioteca escolar, muito mais rica e diversificada, fica abandonada. O Redação Paraná propõe modelos de redação a serem “treinados” pelos alunos, digitados na plataforma e corrigidos automaticamente, sendo os “erros” remetidos a sites como Wikipedia e a blogs duvidosos. O professor de redação faz uma segunda correção e dá aulas de digitação. A retirada da autonomia do professor, a padronização dos conteúdos e a homogeneização dos alunos avançam com aulas em vídeo e slides prontos, com a Prova Paraná e a plataforma “Quizizz” para lições de casa.
Esta não é apenas mais uma ferramenta disponível para o professor, que pode usá-la, ou não, conforme seu planejamento. Os professores e alunos são obrigados a usar as plataformas e sua utilização é contabilizada e vigiada através de um sistema de business intelligence (BI). Essa vigilância se transforma em pontuação e consequente “ranqueamento” de professores, expostos e cobrados pelas direções, que, por sua vez, sofrem a mesma pressão. Adicionalmente, o acesso às plataformas não é disponibilizado aos docentes de cursos de licenciatura, responsáveis pela formação dos professores da rede estadual de ensino.
Com essas constatações, o Dellin denuncia a completa precarização, o total descrédito e a consequente irrelevância atribuída à docência na educação pública no Paraná. Na plataformização do ensino de Língua Portuguesa, tal como implementada aqui, constatamos o fim da função, da autonomia e do trabalho do professor, o fim da formação de um leitor crítico e competente. Professor para quê? Curso de licenciatura para quê?
Nenhum comentário:
Postar um comentário