Uma nova missão para um tempo radicalmente novo
Por Rodrigo Mesquita
Artigo publicadooriginalmente em 12 de maio na Folha SP e no portal articulaconfins.com
O jornalismo nasceu como um sistema de mediação. Foi,
durante décadas, a principal arena pública da cidade. No Brasil, Júlio Mesquita
cunhou uma frase que precisa ser resgatada: “Jamais ousei imaginar que tinha o
direito ou o dever de formar a opinião pública. Tudo que fiz foi procurar
sondá-la e me deixar levar tranquilo e sossegado pelas correntes que me
pareciam mais acertadas.”
Essa ideia – a de que o jornal é ponto de encontro,
não púlpito – está mais viva do que nunca. Mas o jornalismo precisa reencarnar
essa missão na arquitetura digital da sociedade contemporânea.
É hora de investir em plataformas temáticas dinâmicas,
baseadas em curadoria, escuta pública, agregação de saberes e construção de
redes de confiança. O jornalismo deve parar de disputar centavos por mil
impressões com o Google e o Facebook e começar a oferecer serviços
informacionais estruturantes para as comunidades.
Isso exige novas ferramentas, novas mentalidades,
novas alianças. Jornalistas devem tornar-se arquitetos de sistemas de informação
comunitária, mediadores de processos de escuta e articulação — atuando dentro
das redes, e não apenas sobre elas.
A narrativa é a mensagem
Vivemos uma revolução profunda. A segmentação, a
interatividade, a personalização e o poder de computação levaram a uma nova era
informacional, onde a narrativa – e não mais a notícia – é o elemento
estruturante da percepção pública. Quem controla as narrativas controla a
memória, a imaginação e, por consequência, a política.
Nesse mundo, a arquitetura da informação é política
pública. E o jornalismo que quiser continuar existindo como força civilizatória
precisa disputar essa arquitetura. Isso significa abandonar o papel de emissor
e assumir o papel de organizador das redes sociais de sentido e ação.
O rejuvenescimento da economia analógica depende da
vitalidade da economia digital. E o rejuvenescimento do jornalismo depende de
reencontrar seu papel como mediador qualificado das inteligências públicas.
Do púlpito à praça digital
O jornalismo precisa ir além do entendimento técnico
das tecnologias publicitárias e das plataformas. Precisa enfrentá-las,
hackeá-las e superá-las. Não com códigos, mas com visão. Com estratégia. Com
serviços que respondam à necessidade de articulação social em um mundo
hiperconectado.
Não existem dois mundos – analógico e digital. Existe
um só tecido social em transformação, e ele precisa de novas infraestruturas
públicas de informação.
A imprensa só voltará a ser relevante quando voltar a
ser parceira da sociedade. A narrativa é a mensagem. E a mensagem agora é:
precisamos reinventar o jornalismo.
Rodrigo Mesquita
Jornalista, conselheiro do InovaUSP e pesquisador do ecossistema informacional. Ex-diretor do Jornal da Tarde e da Agência Estado.