Leio nas folhas que morreu de câncer, aos 66, o ator, crítico e jornalista Alberto Guzik. Era um dos papas do teatro paulistano.
Confessar-lhes-eis, meus raros 17 leitores, uma pequena história que se passou entre mim, Guzik e o patife que a construiu.
Corria o ano de 1993 e o grupo Estado resolveu fechar sua sucursal de Curitiba (fechou todas, fora Brasília e Rio).
Estava de férias, curtindo Cuba e Jamaica junto com meus amores Sonia e Gustavo, mais o glorioso deputado Rosinha e sua então amada Yara.
Quando voltei, fui transferido, sem prévia consulta, para a redação de São Paulo.
Passei a operar com Castilho de Andrade, eu em segundo, na chefia de reportagem e pauta das editorias de esportes do Estadão e do Jornal da Tarde.
Castilho era – e continua sendo, espero – um palhaço.
Alberto Guzik, crítico de teatro do JT, ocupava posto numa ilha a uns cinco metros de nós, com o pessoal de uma editoria chamada (ridículo) Variedades.
Eu o cumprimentava todos os dias, como aos demais, e ele sempre respondia, educadamente, sem saber meu nome, o que eu era e o que fazia ali.
Até que passou a cumprimentar-me e a espiar-me (tenho admirável visão periférica) de forma diferente.
Guzik era assumidamente gay, como vários há em todas as redações, em todos os ambientes de trabalho.
Eu não era feio: tinha cabelo, era espadaúdo, pernas fortes graças ao karatê, mãos bonitas, a barriga não era barrica.
Mas a mulherada era só educada comigo.
Fora a Annamaria Marchesini, amiga desde os tempos de faculdade, que me suportava (longa vida à Annamaria, apelidada, pelo personagem biltre abaixo, de Boeing).
Voltando: passei a estranhar o olhar do Guzik, a maneira como dava-me um bom-dia.
Até que acordei e falei: “Castilho, que merda, o cara fica me olhando, me comendo com os olhos, o que há, carajo?”
Aí entra em cena o canalha do Castilho:
“Jorjão, eu falei que você está interessado nele, que você me pergunta como ele é, se é casado, que você não tem preconceito, que foi com a cara dele, que gosta do trabalho dele, que quer conhecê-lo mais de perto, e tal.”
Filho da puta o Castilho de Andrade.
Eu, bem casado, embora paquerando as bundas das meninas (a da Mariela Lazaretti é inesquecível), e só paquerando, e ele me cafetinando.
Logo depois, por enfado, Guzik voltou ao normal e a me cumprimentar protocolarmente. E eu a ele, sempre, claro, idem.
Castilho de Andrade, piadista, aprontador, filho de uma ronquifuça.
Guzik, craque em tudo que fez, que nunca soube direito quem eu era e sou, deve estar no céu do teatro, conversando com Sófocles, Vianinha, Shakespeare, Paulo Autran e outros raros.
Eu continuo aqui, louco pra dar uma porrada na cara do Castilho de Andrade.
Guzik e Castilho de Andrade (longa vida ao poltrão) forévis.
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