Por Roberto José da Silva, no blog do Zé Beto (www.jornale.com.br)Alguém que começava a falar e escrever sempre com um doce “meus amigos”… Era para o povo que o entendia, porque, além de tudo, ele era o João Sem Medo. Gaúcho de Alegrete, carioca de coração, jogador e técnico campeão do Botafogo, chegou à seleção brasileira e montou o time de feras, as Feras do Saldanha, craques que passearam nas Eliminatórias e serviram de base para a seleção tricampeã de 1970. Comunista de carteirinha, nunca levou desaforo pra casa. Peitou os milicos por causa dos palpites do ditador Garrastazu Médici. Mostrou o berro para Yustrich, técnico falastrão que criticou seu trabalho. Um dia, quando escrevia para a revista Placar, esteve em Curitiba, que adorava e onde mantinha grandes amizades, como Anfrisio Siqueira, presidente da Boca Maldita. Apareceu na sucursal e entregou os originais da coluna. As letrinhas estavam em vermelho. Fiz questão de passar pelo telex. Momento raro de beber na fonte antes de ela ser publicada. Morreu na Itália, durante a Copa do Mundo. Fazendo o que sempre gostou. Amém e Saravá!
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Só uma correção: não chegou a mostrar o berro a Yustrich, pois este se mandou antes de João chegar.
Estava na sucursal da Abril quando João apareceu com sua coluna, as laudas meio amarfanhadas, a ortografia vencida, mas o raciocínio perfeito, admirável.
Segue uma historinha que ouvi:
Saldanha, já doente e de cadeira de rodas, encontrou-se com o comentarista Juca Kfoury no aeroporto de Roma, às vésperas da Copa.
- Grande Saldanha. Que saudade. Tudo bem?
- Tudo bem, Juca. Estou sentado aqui só de sacanagem.
Em tempo: não deixe de ler "João Saldanha", de Sandro Moreyra, obra da série Perfis do Rio, da Relume Dumará.
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