Vilas-Bôas Corrêa
A onda de solidariedade que mobilizou amigos, parentes próximos e distantes com o acidente de segunda-feira, dia 7, às 11,30 que deixou em coma profunda o meu filho Marcos de Sá Corrêa, estimulou-me a batucar esta linhas, que não refletem apenas a mortificação dos pais e da família, mas o desabafo da amargura aquecida pela chama de esperança da primeira e ligeira esperança da avaliação da equipe de médicos, os mais competentes e famosos deste país e do mundo civilizado.
Marcos é o nosso filho mais velho, com 63 anos, um ano a mais do que o Marcelo. Ambos, desde a escola primária, empatavam como os primeiros da turma.
Tomariam rumo diferente na luta pela vida. Marcelo é um professor de matemática com quase um milhão de alunos.
E o texto brilhante de Marcos foi como um trator abrindo caminhos. Desde a revista Veja, convidado pelo amigo de sempre, o Elio Gaspari dos primeiros a chegar de São Paulo, com a mulher Dorrit Arrazim, e passar a tarde no Hospital São Vicente. Os amigos não têm faltado. O Xico Vargas e a mulher Carla Rodrigues, o Alfredo Ribeiro, o Kiko Brito, o Ancelmo Góis, o Flávio Pinheiro e a mulher, Vera; o Silvio Ferraz e uma legião de amigos.
Marcos continua em coma induzida, com os primeiros sinais de reação.
Marcos passou um ano em Sete Quedas, hospedado na chácara do Diretor. Caminhou léguas em todas as horas do dia, da noite e da madrugada na estrada palmilhada por onças. Era um andarilho incansável, capaz de emendar dia e noite nas caminhadas pela matas e caminhos de vários paises.
Estava decidido e fazer afinal o que realmente gosta. Leu uma biblioteca sobre os mistérios e segredos da natureza. Nunca o vi mais otimista, bem humorado e decidido a mudar de vida.
Nada explica racionalmente a fatalidade da sua queda na noite de segunda-feira, dia 7. Estudara e escrevera o dia inteiro. Às 11,30, depois de refeição ligeira, subiu a escada de madeira que liga a sala aos quartos. Daí em diante, o drama do inexplicável. Já nos últimos degraus não caiu, mas despencou e bateu com a cabeça no assoalho. À volta uma poça de sangue. E o Marcos em coma profunda, com grave risco de vida. Levado para o excelente Hospital Miguel Couto, recebeu os primeiros socorros.
Minha nora Ângela, que estava em Lecco, na Itália, onde nasceu, para cuidar de documentos, veio da Europa no primeiro avião, com o filho único, Rafael, que está fazendo um curso na França.
E assim um acidente inexplicável, mas que os médicos atribuem a um surto, pode mudar o curso de uma vida, quando as perspectivas eram as mais favoráveis. Marcos escrevia artigos semanais para O Globo, o Estado de S. Paulo, além de colaborar em várias revistas.
Poliglota, falando e lendo em cinco línguas – português, espanhol, francês, inglês e italiano - sua vasta biblioteca cobre as paredes dos dois andares da casa na Gávea.
A torcida da família que se espalha por vários países, além do Brasil é maior do que a de muitos times de futebol. E certamente muito mais fanática. E já tem razões para torcer. O rosto deformado pela queda, com cortes profundos já está quase normal.
Depois da semana da escuridão, com os mais sombrios prognósticos, afinal brilha a chama da esperança.
Mas, ainda resta uma longa caminhada. Não é apenas a vida ainda em risco. É toda uma e lenta recuperação. Para a qual toda a família e os amigos estão de prontidão para uma longa batalha com muitos desafios.
Seu filho Rafael que deixou na Alemanha a mulher grávida de 4 meses é o exemplo da família. E na solidão do seu quarto a Vovó Regina apela para os seus santos de fé e emenda rezas e rosários.
Tudo isto não pode deixar de dar certo.
www.vbcorrea.com.br
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