sexta-feira, 11 de junho de 2010

Notas sobre Paul, John, Michelle ma belle, o tempo que passa... e sobre caetanistas x chiquistas, e coincidências ou não

Sérgio Vaz, o Servaz, é meu amigo e foi meu editor, colega, chefe e o escambau no saudoso Jornal da Tarde (o que houve, dr. Ruy?); idem na Agência Estado, do mesmo grupo. É um dos raros coleguinhas que pesquisam sobre o que escrevem. Quando o Servaz dá opinião, não é só, fundamentalmente, opinião, gosto pessoal: é informação e interpretação. Pena que não haja publicação capitalista (impressa ou na web) que tenha Sérgio Vaz. Escreve como poucos sobre (fora o resto) música em geral, sobre rock em particular e muitas coisas mais. Sabe os Beatles, Bob Dylan (já publiquei aqui), o carajo a quatro. Está aposentado e feliz (eu também estaria, quem me dera, quem me desse?), escrevendo o belo www.50anosdetextos.com.br
Tem uma coleção de discos que nunca vi, mas invejo.
Cinema? Memória de elefante. Sabe pronunciar em russo o Eisenstein.
Sérgio Vaz é imbatível.
Leiam sempre o site do Servaz, porque sempre tem ele e gente dele, craques.
Roubei do site dele (porque ele deixa) e fiz gambiarra para ter sequencia dos textos a seguir.
Mais abaixo, sobre o velho Macca.
Macca e Servaz forévis.



Quando Paul McCartney fez 40 anos, em junho de 1982, o Jornal da Tarde publicou duas páginas com um perfil dele. É um dos meus textos feitos para publicação de que mais gosto.
Já há alguns meses queria botá-lo aqui neste site. Na verdade, queria botá-lo aqui desde que o site foi criado. Foi só por uma coincidência que acabei colocando o post no ar em junho de 2010, no mês em que Paul faz 68, e exatamente na semana em que ele se apresentou na Casa Branca para o casal Barack e Michelle Obama – e, para ela, cantou “Michelle, ma belle, sont de mots que vont très bien ensemble”.

Quando coloquei neste site meu texto sobre os 40 anos de Bob Dylan (publicado também no Jornal da Tarde, em duas páginas inteiras), escrevi que “seria muito esquisito botar no ar um texto escrito em 1981 sem acrescentar mais nada”. E aí fiz um novo e longo texto complementar sobre Dylan, focalizando basicamente o período posterior a 1981.

Gostaria muito de escrever um novo e longo texto complementar sobre Paul, focalizando basicamente o período posterior a 1982. Quero muito fazer esse texto. Mas, como há “distância entre intenção e gesto”, como ando ou preguiçoso ou não tão cheio de energia quanto três décadas atrás, decidi não esperar – aí vai Paul McCartney Volume 1, mesmo que o Volume 2 possa demorar, ou nem vir.

Mas, enquanto isso, me permito anotar duas ou três coisinhas.

* * *

A primeira: foi uma grande, fantástica sorte eu ter podido escrever sobre os 40 anos de Dylan, os 40 anos de Paul, e sobre discos e shows de Chico, Caetano, Nara, Gil, Elis, Milton, Roberto, Gonzaguinha, Renato Teixeira, na época em que tinha 30 anos. Foi, talvez, uma grande, fantástica coincidência – ou não. Sei lá o que é coincidência, se coincidência não existe, como parece que Jung escreveu, ou se a coincidência é a maneira de Deus permanecer anônimo.

Sei que aconteceu – Venus and Mars estava bem, naquela época. Muitos dos meus grandes ídolos são dos anos 40, e faziam 40 no início dos 80, quando eu, por acaso ou mero descaso, tive a oportunidade de escrever sobre música, nas horas vagas, no velho e então bom Jornal da Tarde.

* * *

A segunda: a responsabilidade, ou a culpa, por eu ter feito o texto sobre os 40 anos de Paul foi de Anélio Barreto. Na época, 1982, ele fazia frilas na revista Status, dirigida por outro amigo nosso, Gilberto Mansur; teve a idéia de me encomendar, para a Status, um texto sobre os 40 anos de Paul McCartney, “o beatle quadradão”. Revista mensal se fecha com grande antecedência, e eu tinha que entregar o texto, sei lá, uns dois meses antes de junho. Como li muito, fiz boa pesquisa, tive a idéia de oferecer para o Jornal da Tarde um outro texto para sair na data do aniversário de Paul.

Ficou, na minha opinião, muito melhor que o texto feito para a Status.

* * *

A terceira: sempre tinha sido um lennonista ferrenho. Meu lennonismo se acentuou ainda mais com o assassinato dele, em 1980. Sempre ouvi muito John, não perdi um disco solo dele (e perdi vários de Paul, que só iria ouvir direito mais tarde.) As canções políticas de John me encantavam absolutamente, faziam minha felicidade total. A partir de dezembro de 1980, então, ouvi John Lennon desesperadamente. Babava com a passagem dele do político para o pessoal, com a mistura que ele como ninguém soube fazer na vida mixando o político e o pessoal.

Vejo agora que foi durante a pesquisa para escrever sobre Paul – primeiro para a Status, e depois para o JT – que me transformei, definitivamente, num macartista empedernido.

Hoje, bem perto dos 64 – que eles, em 1967, John com 27, Paul com 25, achavam que estava longe demais –, poucas vezes paro para ouvir um disco de John, e ouvir Paul é um prazer sempre renovado.

* * *

Quando publiquei neste site meu texto sobre os dez anos sem John Lennon – encomendado por Regina Lemos em 1990, para publicação na revista que ela então dirigia, a Moda Brasil –, fiz uma boa consideração:

“Será sinal dos tempos, de maturidade (ser macartista, e não lennonista)? Maturidade, provavelmente, seria ser sempre lennon-mccartista – seria compreender que a genialidade era exatamente a soma-multiplicação-exponencial daqueles talentos tão díspares e, ao menos durante um bom tempo, tão complementares.

“Essa é uma bobagem-brincadeira tão velha quanto ser chiquista ou caetanista, ‘Sabiá’ ou ‘Caminhando’. Sempre fui fã de carteirinha de Caetano, desde antes do LP Domingo, seu primeiro, de 1966, mas, se entrasse em alguma discussão sobre a bobagem-brincadeira chiquismo x caetanismo, era chiquista desde criancinha. Mas como manter o chiquismo quando Chico apóia a Cuba dos Castro e Caetano tem a coragem maravilhosa de mostrar que o rei está nu, cultiva o anafabetismo e o país hoje cultiva uma idolatria à lá Stálin ou Mao?

“Bem, mas estes – tanto o lennonismo x mccartismo quanto o chiquismo x caetanismo – são temas que podem render bons e longos textos.”

Ainda virão aqui longos textos sobre esse tema.

Sir Paul na casa do senhor do Império

Ah, sim, Paul na Casa Branca. Gostaria de registrar um pouco sobre isso.

Sir Paul, cidadão do Reino Unido, aquela monarquia milenar, nascido na working class e transformado em cavaleiro por seus méritos, foi à Casa Branca receber o prêmio Gershwin da Biblioteca do Congresso americano, em sua terceira edição. Nas edições anteriores, o prêmio havia sido concedido a Stevie Wonder e Paul Simon. Um ser humano de pele negra, um ser humano de origem judaica, um ser humano nascido na working class do Império Britânico e transformado em Sir pela Rainha Elizabeth II, a que não morre nunca.

Me ocorre que, neste mesmo ano da graça de 2010, Sir Paul havia comparecido a outro evento na antiga colônia britânica além mar, um evento mais, como se diz hoje em dia, midiático: a cerimônia de entrega dos Globos de Ouro. Sentou-se, na ocasião, à mesma mesa em que estava Julia Roberts, a atriz mais bem paga do mundo. A pretty girl faria um comentário interessante: nunca tinha recebido tantos telefonemas na vida – amigos dela que estavam excitadíssimos porque ela, a atriz mais bem paga do mundo, estava à mesma mesa que Paul McCartney.

Relatou-se que Sir Paul, brincalhão, bobão como sempre, pediu licença a Barack para fazer um galanteio à sua mulher, e só então cantou “Michelle, ma belle, sont des mots que vont très bien ensemble…”

No East Room da Casa Branca, Sir Paul, cavaleiro do antigo Império Britânico, brincou de fazer galanteios à primeira dama do único Império da face da terra – fascinantemente, uma senhora de formação universitária respeitável, histórico de conquistas pessoais um pouco maiores do que, digamos, a bela Tereza Goulart ou a atual ocupante do posto semelhante no Palácio da Alvorada.

Epa: divago.

Transcrevo então como a notícia foi dada pelo Washington Post, versão online:

“Provavelmente o músico vivo mais influente, o arquiteto do pop de 67 anos estava no East Room para receber o Prêmio Gershwin da Biblioteca do Congresso para a Canção Popular, celebrando uma carreira sem paralelo que vai de seus anos com os Beatles, com os Wings, e sozinho. ‘Em uns poucos anos, eles mudaram a maneira como ouvimos música’, disse Obama sobre os Beatles, antes de entregar o prêmio a McCartney. Ele acrescentou estar “grato por um jovem inglês ter partilhado esse sonho”.

Hip, hip, hurrah, Sir Paul!

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