sábado, 12 de junho de 2010

O jornalista e o assassino

Li, uns 15 anos atrás, e reforcei - acredito - o que penso sobre a moral na profissão. Procuro trabalhar - e o jornalismo é trabalho, embora divertido e, às vezes, muito doído - moralmente correto. É o que falam: ético. Ética é aquele ramo da filosofia que analisa o comportamento em sociedade, a moral.
Li e leio Maquiavel, o mestre, sei dele e ele sabe de mim.
Procuro ser ético - prefiro moral.
Todo mundo escorrega, e eu, talvez, algumas vezes, tenha pisado no quiabo.
Nada que me envergonhe, não. Nada que envergonhe meu filho e minha mulher.
Sou pobre de marredeci, rico de discos e livros e bela família, o que não dá recibo a ninguém, concordo.
Absolvo-me pela intenção.
Sou profissionalmente feliz. Um dia conto minha pequena história.
Acho que, moralmente, cheguei lá. Cuidei-me, saí-me de encrencas várias, sobrevivi. Eu e muitos amigos. Vivo disso e morro disso. Anfã...


Fala Janet, abaixo do reliss:


O livro "O jornalista e o assassino - Uma questão de ética", de Janet Malcolm, Companhia das Letras (011/826-1822), é obra indispensável aos que se interessam pelos procedimentos da mídia. É uma reportagem acre sobre um jornalista (Joe McGinniss), que escreveu um livro (Fatal Vision) sobre um assassino (Jeffrey MacDonald) , e depois foi processado por ele. Janet, jornalista free lancer, dedicou-se ao caso, investigou os dois lados, deu razão ao assassino e arrasou com o jornalista. A abertura do livro tornou-se famosa pela severidade do julgamento:
"Qualquer jornalista que não seja demasiado obtuso ou cheio de si para perceber o que está acontecendo sabe que o que ele faz é moralmente indefensável. Ele é uma espécie de confidente, que se nutre da vaidade, da ignorância ou da solidão das pessoas. Tal como a viúva confiante, que acorda um belo dia e descobre que aquele rapaz encantador e todas as suas economias sumiram, o indivíduo que consente em ser tema de um escrito não-ficcional aprende - quando o artigo ou livro aparece - a sua própria dura lição. Os jornalistas justificam a própria traição de várias maneiras, de acordo com o temperamento de cada um. Os mais pomposos falam em liberdade de expressão e do "direito do público de saber"; os menos talentosos falam sobre Arte; os mais decentes murmuram algo sobre ganhar a vida.
A catástrofe, para aquele que é tema do escrito, não é uma simples questão de um retrato pouco lisonjeiro, ou de uma apresentação errada de suas opiniões; o que dói, o que envenena e algumas vezes leva a extremos de desejo de vingança, é o engano de que foi vítima. Ao ler o artigo ou livro em questão, ele tem de enfrentar o fato de que o jornalista - que parecia tão amigável e solidário, tão interessado em entendê-lo plenamente, tão notavelmente sintonizado com o seu modo de ver as coisas - nunca teve a menor intenção de colaborar com ele na sua história, mas pretendia, o tempo todo, escrever a sua própria história".

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