sábado, 31 de dezembro de 2011
Grande, enorme 2012 pra vocês, viu?
Tenho 41 seguidores. Prum blog é nada. Pra mim é o que basta. Amigos e desconhecidos - agora amigos - me acompanham. Alguns de favor, outros que - acho - gostam daqui. Anfã, como diziam os árabes. Orgulha-me e orgulham-me.
Busquem e consigam felicidade - pelo menos alguns momentos dela, o que ajuda - em 2012.
Com quem briguei, peço desculpas pelo sangue espanhol. Com quem não briguei, aguardem.
Mas é pra dizer: suerte e salud em 2012.
Pra todos nós.
Inté.
Que 2012 seja como este loco que não joga nada, mas nos encanta - por absolutamente humano. Vamos dar cavadinhas, sim. Se errarmos, jodase. O caminho é por aí. Vamos botar fogo em 2012 em busca da libertê, egalitê e fraternitê. E, com um pouquinho de sorte, que sobre algum pro livrê, pro filmê, pro teatrê, pro cachacê, pro abracê amigo, pro beijê na mulher amada. E, com sortê, pra chupê um chica-bom, como dizê Nelson Rodriguê. Felicitê a quem aqui me vê. Beijê em todo mundê.
Venha, 2012!
Não desisto porque sou teimoso. Apesar de todos os pesares que nos aguardam, vamos sonhar e trabalhar por um Brasil melhor, um mundo melhor. Como dizia o camarada Lamarca, ousar lutar, ousar vencer. Grande 2012 pra quem lê esta merda. Felicidade a todo mundo e a todo o mundo.
quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
domingo, 25 de dezembro de 2011
Varapaus dos campos carecas
Sérgio Augusto, no Estadão de hoje. Craque.
Sete meses atrás, emendei a vitória do Barcelona sobre o Manchester United na Liga dos Campeões com um jogo do Campeonato Brasileiro. Fui de Wembley ao Engenhão. Choque cultural é pouco. Os jogadores nem haviam entrado em campo e já estávamos perdendo; e não me refiro ao meu time, que afinal ganhou a partida, mas ao estado do gramado: careca, cheio de buracos e implantes de areia. É assim a maioria dos campos de futebol do Brasil, que ainda mais medonhos ficam se imediatamente expostos a uma comparação com o de qualquer estádio europeu de primeira e segunda linha.
Com a bola rolando, a derrota ampliou-se. Passes errados de tudo quanto é distância, chutes descalibrados, faltas a granel, jogadas bisonhas, cruzamentos patéticos para varapaus obsoletos. Que esporte é esse?, perguntei-me, perplexo. Se era futebol aquilo que eu acabara de ver na ESPN, o que estava vendo no SporTV - e outras vezes vira e continuaria vendo - precisava ser rebatizado. Pensando bem, aquela cancha estava à altura do insípido esporte que nela botinavam o Botafogo e seu adversário, justo o Santos, que há cinco décadas dividia com o alvinegro carioca o galardão de melhor time de futebol do melhor futebol do mundo.
Acabou-se o que era doce. E não foi no domingo passado não. Aquele olé catalão na arena de Yokohama foi apenas a última faena de uma corrida iniciada faz tempo. Quando? Antes da última Copa do Mundo, que apenas sacramentou a atual superioridade do futebol europeu, mais especificamente do espanhol. Bem antes, portanto, da desclassificação do Internacional pelo congolês Mazembe, no Mundial de Clubes de 2010, e da medíocre temporada da seleção brasileira sob o comando de Mano Menezes, que ainda não conseguiu extirpar todos os vícios da Era Dunga e nos assegurou um sexto lugar (sexto lugar!) no ranking da Fifa.
Estagnamos técnica, tática e filosoficamente. Como na educação, descuidamos do ensino fundamental, do estudo nas escolinhas de base, da formação de jogadores que conheçam bem os fundamentos do futebol e não cresçam semialfabetizados com a bola nos pés e na cabeça, sem uma visão coletiva do que, afinal, se chama football association. A crítica vale para toda a América do Sul. São erros acumulados que, como os problemas econômicos que em parte os determinaram, não se superam de uma hora para outra. A próxima Copa do Mundo já é daqui a dois anos. O Brasil corre o risco de ser o primeiro campeão mundial a perder as duas copas que disputou em casa. Já foi o primeiro a perder um ministro do Esporte por corrupção, durante os preparativos para hospedar um Mundial.
Se ainda vivo e à sombra das chuteiras imortais, Nelson Rodrigues teria escrito que o Santos levou do Barcelona "um banho de Paulina Bonaparte", e que os gandulas de Wembley pegaram mais na bola que os jogadores santistas. Mas não há como saber se o seu "patriotismo inatual e agressivo, digno de um granadeiro bigodudo" o deixaria enxergar o óbvio: que não mais se trata de um confronto entre a "saúde de vaca premiada" e a "velocidade burríssima" dos jogadores europeus e a "morosidade inteligentíssima" dos brasileiros, Fla-Flu retórico dos anos 60, soberbamente superado pela seleção que levantou o caneco em 1970.
No Mundial do México fizemos a maior diferença porque, além de bem preparados fisicamente, ousamos desde a primeira convocação, sem as hesitações que liquidaram nosso time na Copa da Inglaterra, e escalando os melhores até fora de suas habituais posições - Piazza de zagueiro, Rivellino na ponta esquerda, Tostão enfiando-se pelo meio da área -, e adotando o "sistema Dumas": um por todos, todos por um. Mais "association", impossível. E, como havia alguns gênios no time para aumentar a diferença, fizemos a mais fulgurante campanha de um país numa Copa do Mundo.
O que se viu no México foi a culminância de uma revolução a rigor iniciada pelo húngaro Béla Guttman, no início dos anos 50, só ultrapassada pelo "futebol total" que Rinus Michels impôs ao futebol holandês do início da década de 70. Fala-se muito no 16 de julho de 1950, quando perdemos a Jules Rimet para os uruguaios, mas não sei o que é pior, se perder para um time inferior, jogando em casa, ou levar um baile de técnica, tática, disposição e o escambau, como aconteceu com o que sobrara do dream team de Zagalo no dia 3 de julho de 1974, quando a Laranja Mecânica regida por Cruyff nos tirou o tetra em Dortmund.
"Muito tico-tico no fubá", desdenhou Zagallo sobre o alucinante toque de bola dos holandeses, antes da Copa. Tico-tico, sim. Mas o fubá era verde e amarelo.
Depois, como se sabe, Michels levou o futebol tico-tico para o Barcelona, por onde, aliás, passariam duas gerações de craques holandeses. E é por aí que podemos começar a decifrar o enigma da acachapante superioridade do futebol catalão. Ora, direis, fazendo vosso um raciocínio bem rodrigueano, que a Holanda não venceu sequer sua melhor Copa, ao passo que o Brasil, para todo sempre liberto de seu complexo de vira-lata, emplacaria mais dois Mundiais. Ambos, medíocres, diga-se.
Mas o fato é que ganhamos, somos pentacampeões, produzimos e exportamos craques em profusão, como exportávamos ouro e pedras preciosas, e substituímos o complexo de vira-lata pelo que Francisco Bosco muito apropriadamente batizou de "complexo de dálmata", tão ou mais danoso que o outro na medida em que o narcisismo de que se nutre pode nos dar a ilusão de que o futebol jogado pelo Barcelona tem o mesmo pedigree do que jogamos na Copa de 1982. Para encurtar a discussão: quem é o Serginho Chulapa do Barcelona?
Mesmo sem ter visto o Honved de Puskas, o Real Madrid de Di Stéfano, o Santos de Pelé e o Botafogo de Garrincha, Bosco afirma, intrepidamente, que nada se compara ao Barcelona. Eu, que vi todos os citados (os dois primeiros só em imagens), assino embaixo desse juízo e desta explicação: "Os times do passado jogavam o mesmo futebol dos adversários, só que melhor. Esse time do Barcelona não joga o mesmo futebol que os adversários; joga um futebol inédito". Sorte nossa que Mano Menezes também tenha percebido isso.
Sete meses atrás, emendei a vitória do Barcelona sobre o Manchester United na Liga dos Campeões com um jogo do Campeonato Brasileiro. Fui de Wembley ao Engenhão. Choque cultural é pouco. Os jogadores nem haviam entrado em campo e já estávamos perdendo; e não me refiro ao meu time, que afinal ganhou a partida, mas ao estado do gramado: careca, cheio de buracos e implantes de areia. É assim a maioria dos campos de futebol do Brasil, que ainda mais medonhos ficam se imediatamente expostos a uma comparação com o de qualquer estádio europeu de primeira e segunda linha.
Com a bola rolando, a derrota ampliou-se. Passes errados de tudo quanto é distância, chutes descalibrados, faltas a granel, jogadas bisonhas, cruzamentos patéticos para varapaus obsoletos. Que esporte é esse?, perguntei-me, perplexo. Se era futebol aquilo que eu acabara de ver na ESPN, o que estava vendo no SporTV - e outras vezes vira e continuaria vendo - precisava ser rebatizado. Pensando bem, aquela cancha estava à altura do insípido esporte que nela botinavam o Botafogo e seu adversário, justo o Santos, que há cinco décadas dividia com o alvinegro carioca o galardão de melhor time de futebol do melhor futebol do mundo.
Acabou-se o que era doce. E não foi no domingo passado não. Aquele olé catalão na arena de Yokohama foi apenas a última faena de uma corrida iniciada faz tempo. Quando? Antes da última Copa do Mundo, que apenas sacramentou a atual superioridade do futebol europeu, mais especificamente do espanhol. Bem antes, portanto, da desclassificação do Internacional pelo congolês Mazembe, no Mundial de Clubes de 2010, e da medíocre temporada da seleção brasileira sob o comando de Mano Menezes, que ainda não conseguiu extirpar todos os vícios da Era Dunga e nos assegurou um sexto lugar (sexto lugar!) no ranking da Fifa.
Estagnamos técnica, tática e filosoficamente. Como na educação, descuidamos do ensino fundamental, do estudo nas escolinhas de base, da formação de jogadores que conheçam bem os fundamentos do futebol e não cresçam semialfabetizados com a bola nos pés e na cabeça, sem uma visão coletiva do que, afinal, se chama football association. A crítica vale para toda a América do Sul. São erros acumulados que, como os problemas econômicos que em parte os determinaram, não se superam de uma hora para outra. A próxima Copa do Mundo já é daqui a dois anos. O Brasil corre o risco de ser o primeiro campeão mundial a perder as duas copas que disputou em casa. Já foi o primeiro a perder um ministro do Esporte por corrupção, durante os preparativos para hospedar um Mundial.
Se ainda vivo e à sombra das chuteiras imortais, Nelson Rodrigues teria escrito que o Santos levou do Barcelona "um banho de Paulina Bonaparte", e que os gandulas de Wembley pegaram mais na bola que os jogadores santistas. Mas não há como saber se o seu "patriotismo inatual e agressivo, digno de um granadeiro bigodudo" o deixaria enxergar o óbvio: que não mais se trata de um confronto entre a "saúde de vaca premiada" e a "velocidade burríssima" dos jogadores europeus e a "morosidade inteligentíssima" dos brasileiros, Fla-Flu retórico dos anos 60, soberbamente superado pela seleção que levantou o caneco em 1970.
No Mundial do México fizemos a maior diferença porque, além de bem preparados fisicamente, ousamos desde a primeira convocação, sem as hesitações que liquidaram nosso time na Copa da Inglaterra, e escalando os melhores até fora de suas habituais posições - Piazza de zagueiro, Rivellino na ponta esquerda, Tostão enfiando-se pelo meio da área -, e adotando o "sistema Dumas": um por todos, todos por um. Mais "association", impossível. E, como havia alguns gênios no time para aumentar a diferença, fizemos a mais fulgurante campanha de um país numa Copa do Mundo.
O que se viu no México foi a culminância de uma revolução a rigor iniciada pelo húngaro Béla Guttman, no início dos anos 50, só ultrapassada pelo "futebol total" que Rinus Michels impôs ao futebol holandês do início da década de 70. Fala-se muito no 16 de julho de 1950, quando perdemos a Jules Rimet para os uruguaios, mas não sei o que é pior, se perder para um time inferior, jogando em casa, ou levar um baile de técnica, tática, disposição e o escambau, como aconteceu com o que sobrara do dream team de Zagalo no dia 3 de julho de 1974, quando a Laranja Mecânica regida por Cruyff nos tirou o tetra em Dortmund.
"Muito tico-tico no fubá", desdenhou Zagallo sobre o alucinante toque de bola dos holandeses, antes da Copa. Tico-tico, sim. Mas o fubá era verde e amarelo.
Depois, como se sabe, Michels levou o futebol tico-tico para o Barcelona, por onde, aliás, passariam duas gerações de craques holandeses. E é por aí que podemos começar a decifrar o enigma da acachapante superioridade do futebol catalão. Ora, direis, fazendo vosso um raciocínio bem rodrigueano, que a Holanda não venceu sequer sua melhor Copa, ao passo que o Brasil, para todo sempre liberto de seu complexo de vira-lata, emplacaria mais dois Mundiais. Ambos, medíocres, diga-se.
Mas o fato é que ganhamos, somos pentacampeões, produzimos e exportamos craques em profusão, como exportávamos ouro e pedras preciosas, e substituímos o complexo de vira-lata pelo que Francisco Bosco muito apropriadamente batizou de "complexo de dálmata", tão ou mais danoso que o outro na medida em que o narcisismo de que se nutre pode nos dar a ilusão de que o futebol jogado pelo Barcelona tem o mesmo pedigree do que jogamos na Copa de 1982. Para encurtar a discussão: quem é o Serginho Chulapa do Barcelona?
Mesmo sem ter visto o Honved de Puskas, o Real Madrid de Di Stéfano, o Santos de Pelé e o Botafogo de Garrincha, Bosco afirma, intrepidamente, que nada se compara ao Barcelona. Eu, que vi todos os citados (os dois primeiros só em imagens), assino embaixo desse juízo e desta explicação: "Os times do passado jogavam o mesmo futebol dos adversários, só que melhor. Esse time do Barcelona não joga o mesmo futebol que os adversários; joga um futebol inédito". Sorte nossa que Mano Menezes também tenha percebido isso.
quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
Então é natal
Roubado do FB do Nilson Monteiro, amigo de muitos anos, sessentão, cidadão honorário de Londrina, Curitiba e Paraná.
Minha forma de desejar bom Natal a todos: um texto que escrevi à minha filha, Ana, na madrugada de seu nascimento, no início dos anos 80.
Ana, amém
Início de noite. Fachos esquisitos, ardentes, brilharam ao mesmo tempo em três distâncias diferentes. Clarão maior que farol de milha. E mágico: não cegava, tampouco atrapalhava a visão. Os três magros, suados, camisetas roídas nos sovacos, largaram para o mesmo destino, os brutões bufando.
Os faróis luziam mais que todas as estrelas - quem acreditasse em cometas do asfalto já teria o que contar para o resto da vida. O risco brilhante dos caminhões podia ser visto em Colorado, Curitiba, Ribeirão Preto, Ipatinga, Manaus, Belém, Areia ou São Paulo. A tocha, como um triângulo, seguia para o encardido Norte do Paraná.
Os caminhantes, os que foram acordados pelo brilho, os assustados, os descrentes, os crentes, uns e outros seguiram Dito, Tião e Mané. Mecânicos, lavadores, bóias-frias, guardas rodoviários, feirantes, políticos, prostitutas, motoristas, ciganos, padres, jornalistas, fazendeiros, ladrões, garçonetes, bancários, empresários, professores, médicos, agricultores, vagabundos, obscuros ou luzentes homens e mulheres que enxergaram os faróis, com ou sem profissão, crentes ou descrentes, nem chegaram a perceber um pó fino, roxo, grudando nos poros, melecando as costas. Ou o cheiro doce de antemanhã. Caminharam.
Maria vencera preconceitos. Caminhoneira, dirigira até não suportar mais as dores. José, seu companheiro, improvisara um berço na banheira onde testava câmeras e pneus remendados.Na borracharia, o cheiro era sujo, cinza, com mosquitos cansados namorando a lâmpada quase morta, cara de tomate.
José abaixou a voz de Sérgio Reis e seu menino da porteira no radinho vermelho de pilha. Olhou as unhas maceradas, as mãos grossas, a roupa engraxada, pneus, câmaras, o batente, rodas, o martelo, o sossego do gato, a torneira pingando mole, nacos de borracha espalhados pelo chão, olhou a vida. E sorriu.
Boca a boca, buzina a buzina, a notícia correu o país. E este meteu o pé na estrada. De Cambará a Paranavaí, de Presidente Prudente a Ortigueira, de São José dos Pinhais a Vitória, de Foz do Iguaçu a Fortaleza, de Curitiba a Campo Grande, feito rastilho a mão virou única: atrás do Dito, Mané e Tião.
Foram noite-dia-ano, secas e tempestades, calarões e geadas, meninos e velhos, orações e brigas, poeira soprando nos carreadores, relâmpagos tricando trilhas, trilhos e camilhos misturados, lágrimas caudalosas, espontâneas, quase inexplicáveis.
Dito, Tião e Mané brecaram os brutos. Bufavam. Cheiro de lona. Nas mãos, uma garrafa de cachaça, um quilo de feijão e meio quilo de carne de sol. Os fachos se encontraram, único, varando o mato beira-de-linha.
Maria ardia. Por um instante se fez silêncio. Absoluto. Absurdo. O mundo estacionado no acostamento, entre Londrina e Ibiporã. Até os grilos e pererecas aquietaram. Tião, Dito e Mané, as mãos ensebadas de direção e câmbio, arderam, abraçados a José, em brasa.
Um berro cortou a madrugada. Os sinos desembestaram. Feito loucos, um carrilhão descabelado, badalaram em todo país, vararam o mundo. A moda sertaneja comeu solta em cada barraco. Forró de sons, imagens e signos. E na borracharia Brasil começaram a aparecer coisas fantásticas como pães, goiabada, café, lápis, queijo, cadernos, roupas, peixes, um pedaço de rapadura, banana, arroz, mel, cachaça, espigas maduras, feijão, calçados, açúcar, respeito, sal, liberdade, prazer, laranjas, solidariedade, bifes, água, dignidade, terra...
Ana chorava, miúda e melecada. Era Natal!
Nilson Monteiro
Minha forma de desejar bom Natal a todos: um texto que escrevi à minha filha, Ana, na madrugada de seu nascimento, no início dos anos 80.
Ana, amém
Início de noite. Fachos esquisitos, ardentes, brilharam ao mesmo tempo em três distâncias diferentes. Clarão maior que farol de milha. E mágico: não cegava, tampouco atrapalhava a visão. Os três magros, suados, camisetas roídas nos sovacos, largaram para o mesmo destino, os brutões bufando.
Os faróis luziam mais que todas as estrelas - quem acreditasse em cometas do asfalto já teria o que contar para o resto da vida. O risco brilhante dos caminhões podia ser visto em Colorado, Curitiba, Ribeirão Preto, Ipatinga, Manaus, Belém, Areia ou São Paulo. A tocha, como um triângulo, seguia para o encardido Norte do Paraná.
Os caminhantes, os que foram acordados pelo brilho, os assustados, os descrentes, os crentes, uns e outros seguiram Dito, Tião e Mané. Mecânicos, lavadores, bóias-frias, guardas rodoviários, feirantes, políticos, prostitutas, motoristas, ciganos, padres, jornalistas, fazendeiros, ladrões, garçonetes, bancários, empresários, professores, médicos, agricultores, vagabundos, obscuros ou luzentes homens e mulheres que enxergaram os faróis, com ou sem profissão, crentes ou descrentes, nem chegaram a perceber um pó fino, roxo, grudando nos poros, melecando as costas. Ou o cheiro doce de antemanhã. Caminharam.
Maria vencera preconceitos. Caminhoneira, dirigira até não suportar mais as dores. José, seu companheiro, improvisara um berço na banheira onde testava câmeras e pneus remendados.Na borracharia, o cheiro era sujo, cinza, com mosquitos cansados namorando a lâmpada quase morta, cara de tomate.
José abaixou a voz de Sérgio Reis e seu menino da porteira no radinho vermelho de pilha. Olhou as unhas maceradas, as mãos grossas, a roupa engraxada, pneus, câmaras, o batente, rodas, o martelo, o sossego do gato, a torneira pingando mole, nacos de borracha espalhados pelo chão, olhou a vida. E sorriu.
Boca a boca, buzina a buzina, a notícia correu o país. E este meteu o pé na estrada. De Cambará a Paranavaí, de Presidente Prudente a Ortigueira, de São José dos Pinhais a Vitória, de Foz do Iguaçu a Fortaleza, de Curitiba a Campo Grande, feito rastilho a mão virou única: atrás do Dito, Mané e Tião.
Foram noite-dia-ano, secas e tempestades, calarões e geadas, meninos e velhos, orações e brigas, poeira soprando nos carreadores, relâmpagos tricando trilhas, trilhos e camilhos misturados, lágrimas caudalosas, espontâneas, quase inexplicáveis.
Dito, Tião e Mané brecaram os brutos. Bufavam. Cheiro de lona. Nas mãos, uma garrafa de cachaça, um quilo de feijão e meio quilo de carne de sol. Os fachos se encontraram, único, varando o mato beira-de-linha.
Maria ardia. Por um instante se fez silêncio. Absoluto. Absurdo. O mundo estacionado no acostamento, entre Londrina e Ibiporã. Até os grilos e pererecas aquietaram. Tião, Dito e Mané, as mãos ensebadas de direção e câmbio, arderam, abraçados a José, em brasa.
Um berro cortou a madrugada. Os sinos desembestaram. Feito loucos, um carrilhão descabelado, badalaram em todo país, vararam o mundo. A moda sertaneja comeu solta em cada barraco. Forró de sons, imagens e signos. E na borracharia Brasil começaram a aparecer coisas fantásticas como pães, goiabada, café, lápis, queijo, cadernos, roupas, peixes, um pedaço de rapadura, banana, arroz, mel, cachaça, espigas maduras, feijão, calçados, açúcar, respeito, sal, liberdade, prazer, laranjas, solidariedade, bifes, água, dignidade, terra...
Ana chorava, miúda e melecada. Era Natal!
Nilson Monteiro
terça-feira, 13 de dezembro de 2011
A lista das pautas indigestas
Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa.
O ruidoso silêncio dos jornais de circulação nacional em torno do livro A privataria tucana, do jornalista Amaury Ribeiro Jr., diz muito sobre o que tem sido, nos últimos anos, o viés político da imprensa brasileira. Mas deixa ainda mais obscuros os escaninhos da relação entre o ex-governador, ex-ministro, ex-prefeito e ex-senador José Serra com a cúpula das empresas de comunicação dos principais centros do país.
Repórteres que acompanham a carreira desse político paulista se habituaram há muito tempo a aceitar como normal sua ascendência sobre as cabeças coroadas da imprensa tradicional. Nunca ocorreu a ninguém – ou se ocorreu, nunca antes qualquer profissional havia enfrentado essa tarefa – vasculhar os segredos dessa estranha relação.
O livro de Ribeiro Jr., pelo menos nos trechos já divulgados em entrevistas que circulam pela internet e reproduzidos por blogs, levanta hipóteses que podem conduzir a conclusões perigosas demais para serem tratadas com leviandade. Talvez seja essa exatamente a razão pela qual os grandes jornais ainda não se dispuseram a entrar no assunto com a dedicação que ele merece.
Silêncio da imprensa
Se é verdade metade do que já se disse sobre a investigação de Ribeiro Jr., deve haver motivos para preocupações em muitas casas de boa reputação. Mais alguns dias e os primeiros compradores terão completado a leitura das 334 páginas do livro, e então o silêncio da chamada grande imprensa será de pouca valia.
Argumentando-se que é apenas a cautela do jornalismo responsável o motivo de tamanha retração – pois seria leviano conceder o aval da imprensa ao livro e seu autor sem uma leitura cuidadosa da obra – ainda assim não se pode escapar de uma comparação com outros livros sobre políticos publicados recentemente.
Não é mistério para as pessoas afeitas ao mister do jornalismo que muitas das resenhas publicadas pela nossa imprensa são produzidas por osmose, sem que os redatores de cadernos de cultura tenham que se dar o trabalho de ler inteiramente a obra analisada. O método é descrito deliciosa e ironicamente pelo escritor Ronaldo Antonelli, ex-redator do jornalismo cultural, em seu romance O crepúsculo das letras.
Foi assim, claramente, que alguns livros sobre políticos ganharam destaque recentemente. Principalmente aqueles escritos por seus desafetos, como foram os casos daqueles que têm como personagem o ex-presidente Lula da Silva.
Se o caso é de esperar que algum bom resenhista termine sua leitura, louvado seja o silêncio da imprensa em torno do livro-bomba de Amaury Ribeiro Jr. Caso contrário, pode-se dizer que se trata do silêncio dos indecentes.
Choque de realidade
Há evidências de que o viés conservador da imprensa nacional se transforma em padecimento mental. A possibilidade de que um livro venha a desfazer a imagem pública de um aliado político parece paralisar as grandes redações.
Mesmo a hipótese de que se trate de uma grande farsa, a esta altura muito improvável, seria motivo para que o tema atiçasse a curiosidade dos editores. Se nem a possibilidade de provar que se trata de uma armação, com a consequente canonização midiática de José Serra, é capaz de mover os grandes jornais, pode-se afirmar que a imprensa precisa de um choque de realidade.
Uma imprensa ruim ainda é melhor que nenhuma imprensa, mas para merecer o respeito da sociedade é preciso algum sinal vital de jornalismo, ainda que tênue. A imobilidade das grandes redações diante de um escândalo potencial como o que representa o livro de Amaury Ribeiro Jr. alimenta de argumentos aqueles que defendem o controle externo da mídia.
A melhor defesa é o esforço pelo jornalismo de qualidade, que inclui banir a prática da lista negra de pautas indigestas.
O ruidoso silêncio dos jornais de circulação nacional em torno do livro A privataria tucana, do jornalista Amaury Ribeiro Jr., diz muito sobre o que tem sido, nos últimos anos, o viés político da imprensa brasileira. Mas deixa ainda mais obscuros os escaninhos da relação entre o ex-governador, ex-ministro, ex-prefeito e ex-senador José Serra com a cúpula das empresas de comunicação dos principais centros do país.
Repórteres que acompanham a carreira desse político paulista se habituaram há muito tempo a aceitar como normal sua ascendência sobre as cabeças coroadas da imprensa tradicional. Nunca ocorreu a ninguém – ou se ocorreu, nunca antes qualquer profissional havia enfrentado essa tarefa – vasculhar os segredos dessa estranha relação.
O livro de Ribeiro Jr., pelo menos nos trechos já divulgados em entrevistas que circulam pela internet e reproduzidos por blogs, levanta hipóteses que podem conduzir a conclusões perigosas demais para serem tratadas com leviandade. Talvez seja essa exatamente a razão pela qual os grandes jornais ainda não se dispuseram a entrar no assunto com a dedicação que ele merece.
Silêncio da imprensa
Se é verdade metade do que já se disse sobre a investigação de Ribeiro Jr., deve haver motivos para preocupações em muitas casas de boa reputação. Mais alguns dias e os primeiros compradores terão completado a leitura das 334 páginas do livro, e então o silêncio da chamada grande imprensa será de pouca valia.
Argumentando-se que é apenas a cautela do jornalismo responsável o motivo de tamanha retração – pois seria leviano conceder o aval da imprensa ao livro e seu autor sem uma leitura cuidadosa da obra – ainda assim não se pode escapar de uma comparação com outros livros sobre políticos publicados recentemente.
Não é mistério para as pessoas afeitas ao mister do jornalismo que muitas das resenhas publicadas pela nossa imprensa são produzidas por osmose, sem que os redatores de cadernos de cultura tenham que se dar o trabalho de ler inteiramente a obra analisada. O método é descrito deliciosa e ironicamente pelo escritor Ronaldo Antonelli, ex-redator do jornalismo cultural, em seu romance O crepúsculo das letras.
Foi assim, claramente, que alguns livros sobre políticos ganharam destaque recentemente. Principalmente aqueles escritos por seus desafetos, como foram os casos daqueles que têm como personagem o ex-presidente Lula da Silva.
Se o caso é de esperar que algum bom resenhista termine sua leitura, louvado seja o silêncio da imprensa em torno do livro-bomba de Amaury Ribeiro Jr. Caso contrário, pode-se dizer que se trata do silêncio dos indecentes.
Choque de realidade
Há evidências de que o viés conservador da imprensa nacional se transforma em padecimento mental. A possibilidade de que um livro venha a desfazer a imagem pública de um aliado político parece paralisar as grandes redações.
Mesmo a hipótese de que se trate de uma grande farsa, a esta altura muito improvável, seria motivo para que o tema atiçasse a curiosidade dos editores. Se nem a possibilidade de provar que se trata de uma armação, com a consequente canonização midiática de José Serra, é capaz de mover os grandes jornais, pode-se afirmar que a imprensa precisa de um choque de realidade.
Uma imprensa ruim ainda é melhor que nenhuma imprensa, mas para merecer o respeito da sociedade é preciso algum sinal vital de jornalismo, ainda que tênue. A imobilidade das grandes redações diante de um escândalo potencial como o que representa o livro de Amaury Ribeiro Jr. alimenta de argumentos aqueles que defendem o controle externo da mídia.
A melhor defesa é o esforço pelo jornalismo de qualidade, que inclui banir a prática da lista negra de pautas indigestas.
sábado, 10 de dezembro de 2011
O Barça e a bola
Alberto Helena Jr., no IG
Estádio lotado de merengues e o Real vindo de quinze vitórias consecutivas, time azeitado, pleno de estrelas, líder do Campeonato Espanhol, sensação da Liga dos Campeões e tal e cousa e lousa e maripousa.
Eis que, logo de cara, o goleiro Victor Valdés, do Barça, faz uma lambança e Benzema abre a contagem. A tragédia catalã se desenha no ar do Santiago Bernabeu.
Que nada, espie só o Barça. É como se nada tivesse acontecido e tudo estivesse ainda por acontecer, pois o jogo, para ele, nem era realmente no Santiago Bernabeu, em Madrid, ou qualquer outro recanto real que a bola rolava. Era num campo dos sonhos, flutuando acima de qualquer paixão.
Perceba como esses caras não dão a menor pelota para o placar, o adversário, o juiz, a torcida. Seu negócio é a bola. Onde ela estiver, eles a tratam com ternura e cuidados. Mesmo sob intensa pressão, apesar do erro grotesco do goleiro, nenhum chutão pra frente, nenhum despacho sem endereço certo, nenhum temor.
Como cunhou certa vez o técnico Muricy: a bola pune. Sim, pune quem a trata mal, mas premia quem lhe dispensa tanto respeito e carinho. E, lá vai a bichinha ronronando de prazer de pé em pé, submissa, agradecida, seduzida, até se deitar na rede branca por três vezes ainda antes do apito final.
Há quem consiga traçar e retraçar, durante o jogo, todos os meandros desse time maravilhoso, construindo e reconstruindo fórmulas as mais cabalísticas possíveis; mas, para mim, o mistério desse Barcelona é a simplicidade em seu estado mais puro, como a primeira lição das cartilhas d’antanho, que começava assim: O Menino e a Bola.
Estádio lotado de merengues e o Real vindo de quinze vitórias consecutivas, time azeitado, pleno de estrelas, líder do Campeonato Espanhol, sensação da Liga dos Campeões e tal e cousa e lousa e maripousa.
Eis que, logo de cara, o goleiro Victor Valdés, do Barça, faz uma lambança e Benzema abre a contagem. A tragédia catalã se desenha no ar do Santiago Bernabeu.
Que nada, espie só o Barça. É como se nada tivesse acontecido e tudo estivesse ainda por acontecer, pois o jogo, para ele, nem era realmente no Santiago Bernabeu, em Madrid, ou qualquer outro recanto real que a bola rolava. Era num campo dos sonhos, flutuando acima de qualquer paixão.
Perceba como esses caras não dão a menor pelota para o placar, o adversário, o juiz, a torcida. Seu negócio é a bola. Onde ela estiver, eles a tratam com ternura e cuidados. Mesmo sob intensa pressão, apesar do erro grotesco do goleiro, nenhum chutão pra frente, nenhum despacho sem endereço certo, nenhum temor.
Como cunhou certa vez o técnico Muricy: a bola pune. Sim, pune quem a trata mal, mas premia quem lhe dispensa tanto respeito e carinho. E, lá vai a bichinha ronronando de prazer de pé em pé, submissa, agradecida, seduzida, até se deitar na rede branca por três vezes ainda antes do apito final.
Há quem consiga traçar e retraçar, durante o jogo, todos os meandros desse time maravilhoso, construindo e reconstruindo fórmulas as mais cabalísticas possíveis; mas, para mim, o mistério desse Barcelona é a simplicidade em seu estado mais puro, como a primeira lição das cartilhas d’antanho, que começava assim: O Menino e a Bola.
quinta-feira, 8 de dezembro de 2011
Ao inferno com esses esqueitistas
As desautoridades de trânsito de Curitiba, que, com categoria, transformaram as ruas - e calçadas - da cidade numa verdadeira zona, desprezam agora um novo personagem que já se transforma em problemão: o esqueitista, ou skatista, como preferem os puristas.
Depois de infestarem as ruas dos bairros, metendo-se entre os carros e sempre à beira de serem atropelados, esses (alguns nem tão) garotos boçais começam a ocupar até as ruas do centro. Por volta de 9h25 de hoje, na Carlos de Carvalho, entre Visconde do Rio Branco e Visconde de Nacar, um escrotinho a bordo de um esqueite descia a rua na contramão e, gozando da cara de todo mundo, falava ao celular. Passou por ele a Kombi 510 da Diretran, placa ATE-9647, lotada de tirivas de blocos à mão. A viatura apenas desviou do babaca e continuou seu caminho. Tirar o garoto da rua e colocá-lo calçada, apreender-lhe o esqueite, dar-lhe umas palmadas? Que nada. As desautoridades estavam mais preocupadas em chegar aos locais do EstaR para começar a distribuir suas notificações. E vai ser assim até que o primeiro motorista desça do carro e aplique uma surra num desses moleques estúpidos.
Depois de infestarem as ruas dos bairros, metendo-se entre os carros e sempre à beira de serem atropelados, esses (alguns nem tão) garotos boçais começam a ocupar até as ruas do centro. Por volta de 9h25 de hoje, na Carlos de Carvalho, entre Visconde do Rio Branco e Visconde de Nacar, um escrotinho a bordo de um esqueite descia a rua na contramão e, gozando da cara de todo mundo, falava ao celular. Passou por ele a Kombi 510 da Diretran, placa ATE-9647, lotada de tirivas de blocos à mão. A viatura apenas desviou do babaca e continuou seu caminho. Tirar o garoto da rua e colocá-lo calçada, apreender-lhe o esqueite, dar-lhe umas palmadas? Que nada. As desautoridades estavam mais preocupadas em chegar aos locais do EstaR para começar a distribuir suas notificações. E vai ser assim até que o primeiro motorista desça do carro e aplique uma surra num desses moleques estúpidos.
sábado, 3 de dezembro de 2011
Meu Glorioso
O Coritiba pode ganhar o Atletiba, classificar-se à Libertadores e, ao mesmo tempo, enfiar o Atlético na Segundona. Tomara, claro. Mas não muda o que importa. Já disse alguém que o futebol é, das coisas desimportantes, a mais importante que existe.
Parafraseio e digo que, das coisas mais importantes, o futebol é a mais desimportante.
Glória ao Glorioso, mas na segunda-feira terei de tomar banho, fazer a barba, beijar minha mulher e ir trabalhar como sempre faço. Um pouco melhor, um pouco pior. Tanto faz. Talvez mude de ideia amanha. Mas aí será outro dia. Haja o que houver. Sempre com esse desimportante Coxa chutando o meu coração.
-
Agora meu comentário ao que eu mesmo escrevi acima no FB.
Levei anos para alcançar esse estado quase zen - nunca indiferente - diante do futebol e do meu clube do coração.
Foi graças à profissão de jornalista, que exige postura e compostura. E à idade, claro, que nos torna chatos, porém equilibrados, algo sábios.
Sou piá do Alto da Glória, aonde fui viver aos três para quatro anos numa casa na General Carneiro, no sopé de um morro em cujo cume hoje está o HC, que conheci antes da inauguração e cujas entranhas conheci com a molecada do bairro antes que o primeiro médico e o primeiro doente lá aportassem (pra quem não sabe, fui o primeiro coroinha de sua capela, repetindo em latim as ladainhas aos doentes).
Subia mais além e lá estava eu no campo do Glorioso, onde, criança, ficava de gandula nos treinos e, em dias de jogo, vendia refrigerante (em garrafa) pra ganhar o meu e comprar pipoca.
Corta e lá estou eu, séculos depois, cobrindo o clube como jornalista (ou eterna tentativa de) do Estadinho, do Estadão e tal.
Aprendi a ter distanciamento e, de tanto ver futebol, tornei-me um cético.
Quando voltei a ser um mero torcedor, via os jogos como crítico. Fez-me mal, concordo, mas isso me tornou aquele apaixonado que acha defeito em tudo.
Estou mudando, pero no mucho.
Resumo para falar de amanhã.
Reitero o que disse acima, mas é só um jogo de futebol.
Porém, passarei mal, a pressão se elevará, provavelmente me embriagarei e torcerei como nunca ou como sempre.
Quero voltar aos meus dez anos de idade, quando chorava ao ver meu time perder, cantava quando ele ganhava.
Ando meio sem expressão, meio frio - mas sinto calafrios.
Quero ver meu time ganhar, sim.
Quero que o Atlético sucumba e desça aos infernos como lá estivemos, claro.
Ficarei um pouco mais feliz se o Glorioso for à Libertadores.
Mas não vou morrer se não for.
A vida é um pouco assim: curtir as alegrias, saber lidar com as frustrações.
Você entendeu?
Entonces, quem piscar primeiro, adiós.
Até amanhã.
Parafraseio e digo que, das coisas mais importantes, o futebol é a mais desimportante.
Glória ao Glorioso, mas na segunda-feira terei de tomar banho, fazer a barba, beijar minha mulher e ir trabalhar como sempre faço. Um pouco melhor, um pouco pior. Tanto faz. Talvez mude de ideia amanha. Mas aí será outro dia. Haja o que houver. Sempre com esse desimportante Coxa chutando o meu coração.
-
Agora meu comentário ao que eu mesmo escrevi acima no FB.
Levei anos para alcançar esse estado quase zen - nunca indiferente - diante do futebol e do meu clube do coração.
Foi graças à profissão de jornalista, que exige postura e compostura. E à idade, claro, que nos torna chatos, porém equilibrados, algo sábios.
Sou piá do Alto da Glória, aonde fui viver aos três para quatro anos numa casa na General Carneiro, no sopé de um morro em cujo cume hoje está o HC, que conheci antes da inauguração e cujas entranhas conheci com a molecada do bairro antes que o primeiro médico e o primeiro doente lá aportassem (pra quem não sabe, fui o primeiro coroinha de sua capela, repetindo em latim as ladainhas aos doentes).
Subia mais além e lá estava eu no campo do Glorioso, onde, criança, ficava de gandula nos treinos e, em dias de jogo, vendia refrigerante (em garrafa) pra ganhar o meu e comprar pipoca.
Corta e lá estou eu, séculos depois, cobrindo o clube como jornalista (ou eterna tentativa de) do Estadinho, do Estadão e tal.
Aprendi a ter distanciamento e, de tanto ver futebol, tornei-me um cético.
Quando voltei a ser um mero torcedor, via os jogos como crítico. Fez-me mal, concordo, mas isso me tornou aquele apaixonado que acha defeito em tudo.
Estou mudando, pero no mucho.
Resumo para falar de amanhã.
Reitero o que disse acima, mas é só um jogo de futebol.
Porém, passarei mal, a pressão se elevará, provavelmente me embriagarei e torcerei como nunca ou como sempre.
Quero voltar aos meus dez anos de idade, quando chorava ao ver meu time perder, cantava quando ele ganhava.
Ando meio sem expressão, meio frio - mas sinto calafrios.
Quero ver meu time ganhar, sim.
Quero que o Atlético sucumba e desça aos infernos como lá estivemos, claro.
Ficarei um pouco mais feliz se o Glorioso for à Libertadores.
Mas não vou morrer se não for.
A vida é um pouco assim: curtir as alegrias, saber lidar com as frustrações.
Você entendeu?
Entonces, quem piscar primeiro, adiós.
Até amanhã.
domingo, 20 de novembro de 2011
Negrón - Viva España
Após 113 anos de história, o Athletic Bilbao, tradicional clube da Espanha, utilizou neste domingo pela primeira vez uma jogador negro em uma partida oficial.
O zagueiro e lateral Jonás Ramalho, 18, foi o responsável por quebrar o tabu. Ele substituiu Iñigo Pérez aos 41min do segundo tempo da vitória por 2 a 1 sobre o Sevilla, fora de casa, pelo Campeonato Espanhol. O resultado quebrou um jejum de 18 anos sem triunfos da equipe basca, diante do adversário, na cidade de Sevilha.
Quando tinha 14 anos, Ramalho já havia se tornado o primeiro negro a jogar um amistoso pelo time adulto do Athletic. Aos 16, chegou a ser relacionado para um confronto da Liga Europa.
Independentemente da cor, o zagueiro cumpre os requisitos históricos para defender o Athletic, ou seja, ter nascido no País Basco ou ser descendente do povo daquela região.
Ramalho nasceu em Baracaldo, nos arredores de Bilbao, e tem mãe basca.
Seu pai é angolano.
Coincidentemente, hoje é comemorado o Dia da Consciência Negra no Brasil.
O zagueiro e lateral Jonás Ramalho, 18, foi o responsável por quebrar o tabu. Ele substituiu Iñigo Pérez aos 41min do segundo tempo da vitória por 2 a 1 sobre o Sevilla, fora de casa, pelo Campeonato Espanhol. O resultado quebrou um jejum de 18 anos sem triunfos da equipe basca, diante do adversário, na cidade de Sevilha.
Quando tinha 14 anos, Ramalho já havia se tornado o primeiro negro a jogar um amistoso pelo time adulto do Athletic. Aos 16, chegou a ser relacionado para um confronto da Liga Europa.
Independentemente da cor, o zagueiro cumpre os requisitos históricos para defender o Athletic, ou seja, ter nascido no País Basco ou ser descendente do povo daquela região.
Ramalho nasceu em Baracaldo, nos arredores de Bilbao, e tem mãe basca.
Seu pai é angolano.
Coincidentemente, hoje é comemorado o Dia da Consciência Negra no Brasil.
Ave Dante
Mendonça, Dante - o mais novo cidadão honorário de Curitiba. Catarina de Nova Trento. Conheci sua casa e sua belíssima mamãe.
Pretendi escrever aqui sobre ele, mas antes li o Adherbal e agora o Zé Maria Correia.
Faço minhas - por preguiça, timidez e falta de talento - as palavras do Zé.
Viva o Dante. E viva a Maí, que, dizia o Karam, por doce maldade, era a verdadeira autora dos textos do cidadão curitibano.
Fala, Zé, o delegado poeta (e karateka, OSS!):
Ave Dante o mago dos sete instrumentos e das sete artes . Ave mestre da Banda Polaca, memorialista das portas emparedadas dos grandes bares e das alcovas desaparecidas . Dono da pena , da tinta e dos sentimentos maiores entre todos os soluços menores , testemunha dos porres imemoriais , dos romances eternos e dos casamentos desfeitos . Poeta da noite e dos cantos, distraido e fiel pai de familia nunca traido e não ainda admirado como deveria. Nós os curitibanos sempre invejosos das terras solares dos catarinas onde brotam e vicejam abundantes e bundosas loiras Veras Fischers não as daqui tão autênticas nas cores como os táxis argentinos cabeças amareladas e pentelhos negros como nossas manhãs e tardes , reunidos em solene casmurrice te saudamos com a imperceptível amizade eterna das criaturas soturnas que somos .
Pretendi escrever aqui sobre ele, mas antes li o Adherbal e agora o Zé Maria Correia.
Faço minhas - por preguiça, timidez e falta de talento - as palavras do Zé.
Viva o Dante. E viva a Maí, que, dizia o Karam, por doce maldade, era a verdadeira autora dos textos do cidadão curitibano.
Fala, Zé, o delegado poeta (e karateka, OSS!):
Ave Dante o mago dos sete instrumentos e das sete artes . Ave mestre da Banda Polaca, memorialista das portas emparedadas dos grandes bares e das alcovas desaparecidas . Dono da pena , da tinta e dos sentimentos maiores entre todos os soluços menores , testemunha dos porres imemoriais , dos romances eternos e dos casamentos desfeitos . Poeta da noite e dos cantos, distraido e fiel pai de familia nunca traido e não ainda admirado como deveria. Nós os curitibanos sempre invejosos das terras solares dos catarinas onde brotam e vicejam abundantes e bundosas loiras Veras Fischers não as daqui tão autênticas nas cores como os táxis argentinos cabeças amareladas e pentelhos negros como nossas manhãs e tardes , reunidos em solene casmurrice te saudamos com a imperceptível amizade eterna das criaturas soturnas que somos .
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
Amy Winehouse - Our Day Will Come: Amy Winehouse Tribute
Amy-a forévis. Eis o primeiro clip póstumo.
Brasil desafía a Europa proponiendo crecimiento y gasto social contra recortes
Por Oscar Arias, correspondente do El País, no seu blog Vientos de Brasil.
Brasil está decidido, en la persona de su Presidenta Dilma Rousseff, una economista, a seguir el camino opuesto al que se anuncia en Europa. No minimiza la posibilidad de que la crisis mundial pueda tambien afectar al emergente Brasil, pero tampoco la dramatiza.
Es más, el antídoto que propone para hacer frente a la posible crisis, es el opuesto al que pretende Europa. Brasil propone más crecimiento y más gasto público en vez de recortes, austeridad o pérdida de privilegios sociales para los más pobres.
El crédito, sobretodo a la nueva clase media que empieza a surgir, que había sido desacelerado, ha vuelto a abrirse. Se cree y apuesta en el mercado interno, que en este país tiene aún márgenes muy grandes con sus casi 200 millones de habitantes y con una capacidad de adquirir bienes fundamentales.
Sin duda, las condiciones de Brasil no son, por ejemplo, las de Europa. Son dos caminos casi opuestos: Europa se encoje y Brasil se estiende. Europa se desacelera y Brasil crece. Para Dilma, como lo había sido para Lula, las conquistas sociales son sagradas. Más aún, está dispuesta a acelerarlas y aumentarlas. Quiere acrecentar la cifra de los cerca de 14 millones que reciben ya la “Bolsa familia” y está abriendo nuevos programas de ayuda social, como el aumento de los asilos nido para que las madres, que hoy trabajan casi todas, puedan hacerlo sin el drama de no saber donde dejar a sus hijos.
Se ha comprometido tambien a acabar con los aún 12 millones de pobres o miserables que aún no consiguen vivir con la dignidad de un simple ciudadano. Está bajando los tipos de interés para ayudar a crecer a las empresas y piensa crear cientos de centros de formación técnica para preparar a los jóvenes al mercado de trabajo en un país que tiene que importar mano de obra especializada de Europa o Japón, por ejemplo.
Sabe Dilma que cuenta con la llegada de miles de empresas extranjeras dispuestas a invertir en Brasil y que China seguirá necesitando de sus materias primas. Hoy Brasil es la mayor exportadora de carne y soja del mundo, sin contar los minerales.
Se trata de un reto que algunos, desde la oposición, le critican, como por ejemplo el analista político Cesar Maia, exalcalde de Rio, que juzga que se trata más bien de una temeridad, de un “voluntarismo peligroso”, ese apostar en este momento por un mayor crecimiento, por más obras públicas y más gasto del Estado en lo social. Se basa el analista en que el PIB de Brasil está bajando, que este año superará de poco un 3% si es que llega, algo que considera muy poco para un país emergente y rico como Brasil, que la inflacción está desbocada y que el empleo, por primera vez, ha empezado a disminuir.
¿Quién tiene razón? A Lula se le hacían las mismas objeciones cuando enfrentó la crisis del 2008. Ganó la batalla y Brasil salió casi ileso. ¿Repetirá Dilma, su sucesora, aquella hazaña? Es aún una incógnita. El futuro inmediato juzgará su osadía. Ella cree en su receta. Le duelen sólo esos cerca de 40.000 millones de euros, según datos oficiales ( en realidad son muchos más) que se pierden en el sistema de corrupción política que atenaza al país y que ella está tentando de atajar alejando de su gobierno a los ministros más involucrados en ese atentado al dinero público.
Brasil está decidido, en la persona de su Presidenta Dilma Rousseff, una economista, a seguir el camino opuesto al que se anuncia en Europa. No minimiza la posibilidad de que la crisis mundial pueda tambien afectar al emergente Brasil, pero tampoco la dramatiza.
Es más, el antídoto que propone para hacer frente a la posible crisis, es el opuesto al que pretende Europa. Brasil propone más crecimiento y más gasto público en vez de recortes, austeridad o pérdida de privilegios sociales para los más pobres.
El crédito, sobretodo a la nueva clase media que empieza a surgir, que había sido desacelerado, ha vuelto a abrirse. Se cree y apuesta en el mercado interno, que en este país tiene aún márgenes muy grandes con sus casi 200 millones de habitantes y con una capacidad de adquirir bienes fundamentales.
Sin duda, las condiciones de Brasil no son, por ejemplo, las de Europa. Son dos caminos casi opuestos: Europa se encoje y Brasil se estiende. Europa se desacelera y Brasil crece. Para Dilma, como lo había sido para Lula, las conquistas sociales son sagradas. Más aún, está dispuesta a acelerarlas y aumentarlas. Quiere acrecentar la cifra de los cerca de 14 millones que reciben ya la “Bolsa familia” y está abriendo nuevos programas de ayuda social, como el aumento de los asilos nido para que las madres, que hoy trabajan casi todas, puedan hacerlo sin el drama de no saber donde dejar a sus hijos.
Se ha comprometido tambien a acabar con los aún 12 millones de pobres o miserables que aún no consiguen vivir con la dignidad de un simple ciudadano. Está bajando los tipos de interés para ayudar a crecer a las empresas y piensa crear cientos de centros de formación técnica para preparar a los jóvenes al mercado de trabajo en un país que tiene que importar mano de obra especializada de Europa o Japón, por ejemplo.
Sabe Dilma que cuenta con la llegada de miles de empresas extranjeras dispuestas a invertir en Brasil y que China seguirá necesitando de sus materias primas. Hoy Brasil es la mayor exportadora de carne y soja del mundo, sin contar los minerales.
Se trata de un reto que algunos, desde la oposición, le critican, como por ejemplo el analista político Cesar Maia, exalcalde de Rio, que juzga que se trata más bien de una temeridad, de un “voluntarismo peligroso”, ese apostar en este momento por un mayor crecimiento, por más obras públicas y más gasto del Estado en lo social. Se basa el analista en que el PIB de Brasil está bajando, que este año superará de poco un 3% si es que llega, algo que considera muy poco para un país emergente y rico como Brasil, que la inflacción está desbocada y que el empleo, por primera vez, ha empezado a disminuir.
¿Quién tiene razón? A Lula se le hacían las mismas objeciones cuando enfrentó la crisis del 2008. Ganó la batalla y Brasil salió casi ileso. ¿Repetirá Dilma, su sucesora, aquella hazaña? Es aún una incógnita. El futuro inmediato juzgará su osadía. Ella cree en su receta. Le duelen sólo esos cerca de 40.000 millones de euros, según datos oficiales ( en realidad son muchos más) que se pierden en el sistema de corrupción política que atenaza al país y que ella está tentando de atajar alejando de su gobierno a los ministros más involucrados en ese atentado al dinero público.
Os meios e as mensagens
Nelson Motta, no Estadão.
Na adolescência fui um leitor apaixonado de ficção científica, viajava para cidades futurísticas em astronaves interplanetárias com armas mortíferas, o radinho de pulso do Dick Tracy era o máximo da tecnologia, só depois viria o telefone com imagem dos Jetsons. Mas nunca li ou ouvi falar de nenhuma fantasia semelhante a uma caixinha chata com uma tela, um teclado e uma câmera, em que se falava com qualquer um no mundo inteiro, de graça, e ainda se via filmes, fotos e quadros, se ouvia a música que se quisesse, se lia e se dava opinião sobre tudo, se comprava o que o seu crédito suportasse. Seria absolutamente inverossímil e risível, sem nenhuma base científica, nem um adolescente idiota do final dos anos 50 acreditaria.
Na juventude distante fui um leitor entusiasmado de pensadores anarquistas, Bakunin, Proudhom, sonhando com um império da liberdade e da responsabilidade individual, com o fim do Estado como pai, mãe, patrão, ou religião. Para Proudhom, ser governado era "ser observado, fiscalizado, controlado, numerado, doutrinado, avaliado, punido, autorizado, taxado, explorado, corrigido, licenciado, comandado - sob o pretexto da utilidade pública - por criaturas que não têm o direito, nem a sabedoria e nem a virtude para isto".
Ainda vale o escrito, mas o que Proudhom pensaria no mundo da internet, com sua liberdade sem limites e sem controles do Estado, de monopólios ou burocracias partidárias? Os velhos anarquistas aposentariam as bombas e alistariam hackers libertários?
E Marx? E Freud? E Jung? Que teorias teriam desenvolvido em um mundo com essas liberdades e possibilidades, com o planeta todo interligado e interagindo, sem intermediários, como nem a mais delirante ficção científica ousou oferecer? O que escreveriam Machado de Assis, Eça de Queiroz e Proust com um Google? Que filmes o adolescente Glauber Rocha faria com uma câmera de celular? O que Camões, nas caravelas com seu laptop, postaria em seu blog Lusíadas.com, hospedado em uma nuvem à prova de naufrágio? Que Ilíadas e Odisseias Homero digitaria em seu tablete roubado dos deuses do Olimpo?
Na adolescência fui um leitor apaixonado de ficção científica, viajava para cidades futurísticas em astronaves interplanetárias com armas mortíferas, o radinho de pulso do Dick Tracy era o máximo da tecnologia, só depois viria o telefone com imagem dos Jetsons. Mas nunca li ou ouvi falar de nenhuma fantasia semelhante a uma caixinha chata com uma tela, um teclado e uma câmera, em que se falava com qualquer um no mundo inteiro, de graça, e ainda se via filmes, fotos e quadros, se ouvia a música que se quisesse, se lia e se dava opinião sobre tudo, se comprava o que o seu crédito suportasse. Seria absolutamente inverossímil e risível, sem nenhuma base científica, nem um adolescente idiota do final dos anos 50 acreditaria.
Na juventude distante fui um leitor entusiasmado de pensadores anarquistas, Bakunin, Proudhom, sonhando com um império da liberdade e da responsabilidade individual, com o fim do Estado como pai, mãe, patrão, ou religião. Para Proudhom, ser governado era "ser observado, fiscalizado, controlado, numerado, doutrinado, avaliado, punido, autorizado, taxado, explorado, corrigido, licenciado, comandado - sob o pretexto da utilidade pública - por criaturas que não têm o direito, nem a sabedoria e nem a virtude para isto".
Ainda vale o escrito, mas o que Proudhom pensaria no mundo da internet, com sua liberdade sem limites e sem controles do Estado, de monopólios ou burocracias partidárias? Os velhos anarquistas aposentariam as bombas e alistariam hackers libertários?
E Marx? E Freud? E Jung? Que teorias teriam desenvolvido em um mundo com essas liberdades e possibilidades, com o planeta todo interligado e interagindo, sem intermediários, como nem a mais delirante ficção científica ousou oferecer? O que escreveriam Machado de Assis, Eça de Queiroz e Proust com um Google? Que filmes o adolescente Glauber Rocha faria com uma câmera de celular? O que Camões, nas caravelas com seu laptop, postaria em seu blog Lusíadas.com, hospedado em uma nuvem à prova de naufrágio? Que Ilíadas e Odisseias Homero digitaria em seu tablete roubado dos deuses do Olimpo?
domingo, 13 de novembro de 2011
Beber e dirigir não tem graça nenhuma
TAC Campaign - 20 year Anniversary retrospective montage "Everybody Hurt...
sábado, 12 de novembro de 2011
Brasiu!!!
É hoje (amanhã), negada.
Quem curte luta - e quem não gosta não me venha com arengas humanistas - vai ter de aturar o Galvão Bueno na tv aberta (eu não tenho o Canal Combate) e torcer para o Júnior Cigano, um catarina preparado pelo Minotauro, derrotar o Cain Velasquez pelos pesadões do UFC.
Cigano é craque no boxe, sabe de queda (pra cair e derrubar) e se defende no chão. Tem gás pra 25 minutos (5 rounds de 5 min). Se não for nocauteado pelo mexicano (nascido nos EUA, mas com alma latina), vai fazer uma boa luta.
Aqui até o cachorro vai ficar acordado.
Veja o previu.
Dá-lhe Cigano.
P.S.: Mas eu prefiro o vale-tudo do UFC antigo, quando o Royce mostrava o que é o jiu-jitsu, e o Pride (Japão), com Vanderlei Silva, Shogun e tal.
Quem curte luta - e quem não gosta não me venha com arengas humanistas - vai ter de aturar o Galvão Bueno na tv aberta (eu não tenho o Canal Combate) e torcer para o Júnior Cigano, um catarina preparado pelo Minotauro, derrotar o Cain Velasquez pelos pesadões do UFC.
Cigano é craque no boxe, sabe de queda (pra cair e derrubar) e se defende no chão. Tem gás pra 25 minutos (5 rounds de 5 min). Se não for nocauteado pelo mexicano (nascido nos EUA, mas com alma latina), vai fazer uma boa luta.
Aqui até o cachorro vai ficar acordado.
Veja o previu.
Dá-lhe Cigano.
P.S.: Mas eu prefiro o vale-tudo do UFC antigo, quando o Royce mostrava o que é o jiu-jitsu, e o Pride (Japão), com Vanderlei Silva, Shogun e tal.
Código de Hamurábi
141. Se a esposa de um homem, que vive em sua casa, desejar partir, mas incorrer em débito e tentar arruinar a casa deste homem, negligenciando-o, esta mulher deverá ser condenada. Se seu marido oferecer-lhe a liberdade, ela poderá partir, mas ele poderá nada lhe dar em troca. Se o marido não quiser dar a liberdade a esta mulher, esta deverá permanecer como criada na casa de seu marido.
142. Se uma mulher brigar com seu marido e disser "Você não é compatível comigo", as razões do desagrado dela para com ele devem ser apresentadas. Caso ela não tiver culpa alguma e não houver erro de conduta no seu comportamento, ela deverá ser eximida de qualquer culpa. Se o marido for negligente, a mulher será eximida de qualquer culpa, e o dote desta mulher deverá ser devolvido, podendo ela voltar para casa de seu pai.
143. Se ela não for inocente, mas deixar seu marido e arruinar sua casa, negligenciando seu marido, esta mulher deverá ser jogada na água.
142. Se uma mulher brigar com seu marido e disser "Você não é compatível comigo", as razões do desagrado dela para com ele devem ser apresentadas. Caso ela não tiver culpa alguma e não houver erro de conduta no seu comportamento, ela deverá ser eximida de qualquer culpa. Se o marido for negligente, a mulher será eximida de qualquer culpa, e o dote desta mulher deverá ser devolvido, podendo ela voltar para casa de seu pai.
143. Se ela não for inocente, mas deixar seu marido e arruinar sua casa, negligenciando seu marido, esta mulher deverá ser jogada na água.
O olhar de Capitu - 22.º capítulo de um romance ilegível
Mas há o mar. Ah, o mar. Água de sal e de soluços de saudades de luas e planetas sob os pés de múltiplos dedos e pegadas. Sal, saudade, abraços e tombos no sem-fim em busca dela. Buscadela. A cadela que se esvai e se apruma, toma o rumo do céu e do créu, onda que se apruma rumo ao prumo do enxerto da lava de quem lavra e se morre como se pra sempre fosse navegar.
Navego, nêgo, nego, cândida embarcação que se busca e se perde.
Náufrago, naufrago.
Navego, nêgo, nego, cândida embarcação que se busca e se perde.
Náufrago, naufrago.
Lendas do fracasso
Por Paul Krugman, retirado da Folha de hoje.
É assim que o euro termina -não com uma explosão, mas com bunga bunga. Não muito tempo atrás, os líderes europeus insistiam em que a Grécia podia continuar na zona do euro e pagar suas dívidas na íntegra. Agora, com a Itália caindo em um precipício, é difícil imaginar de que modo o euro poderia sobreviver.
Mas qual é o significado do fiasco do euro? Que lições extrair?
Ouço duas alegações, ambas falsas: os problemas da Europa refletem o fracasso dos Estados de bem-estar social como um todo, e a crise europeia confirma a necessidade de austeridade imediata nos EUA.
A primeira alegação está sendo feita por republicanos como Mitt Romney, que acusou Obama de se inspirar nos "socialistas democratas" europeus e disse que "a Europa não está funcionando nem na Europa". A ideia é que os países em crise enfrentam problemas devido ao peso dos gastos governamentais.
Mas os fatos dizem o oposto.
É verdade que toda a Europa oferece benefícios sociais mais generosos -entre os quais serviços universais de saúde- e registra gastos governamentais mais altos que os EUA. Mas os países hoje em crise não oferecem mais bem-estar social do que os que estão se saindo bem.
Na verdade, a correlação indica o oposto. A Suécia, famosa por benefícios generosos, tem ótimo desempenho e é um dos poucos países cujo PIB atual é maior que o de antes da turbulência. E o "gasto social" em todos os países hoje em crise era menor do que na Alemanha.
A crise do euro, portanto, nada diz sobre a sustentabilidade dos Estados de bem-estar social. Mas justifica a necessidade de apertar os cintos numa economia já deprimida? Dizem-nos que os EUA têm de cortar gastos agora ou poderemos terminar como a Grécia. Os fatos também contam história diferente.
Primeiro, o fator determinante para os juros não é a dívida do governo, mas sim se a captação é feita em moeda nacional ou não. O Japão tem dívida bem maior que a italiana, mas os juros sobre os títulos japoneses de longo prazo são de cerca de 1%, ante 6% na Itália. As perspectivas fiscais britânicas parecem piores que as espanholas, mas o Reino Unido pode captar pagando 2% de juros; a Espanha paga quase 6%.
Na prática, ao adotar o euro, Espanha e Itália se reduziram à situação de países do Terceiro Mundo que precisam tomar empréstimos na moeda alheia, com toda a perda de flexibilidade que isso implica.
Por não poderem imprimir mais dinheiro em situações de emergência, os países da zona do euro ficam sujeitos a perturbações em sua captação que não afligem países capazes de tomar empréstimos em suas próprias moedas, como os EUA.
A austeridade, por sua vez, fracassou em todo lugar no qual foi tentada. Nenhum país com dívidas significativas conseguiu cortar gastos a ponto de recuperar o apreço dos mercados. A Irlanda, por exemplo, é o bom menino da Europa: respondeu à crise com medidas ferozes, que levaram o desemprego a mais de 14%. Mas os juros pagos pelos títulos irlandeses ainda superam os 8% -mais altos que os italianos.
Moral da história: devemos ter cuidado com ideólogos que tentam aproveitar a crise europeia para promover suas agendas. Se ouvirmos o que eles dizem, agravaremos ainda mais os nossos problemas.
É assim que o euro termina -não com uma explosão, mas com bunga bunga. Não muito tempo atrás, os líderes europeus insistiam em que a Grécia podia continuar na zona do euro e pagar suas dívidas na íntegra. Agora, com a Itália caindo em um precipício, é difícil imaginar de que modo o euro poderia sobreviver.
Mas qual é o significado do fiasco do euro? Que lições extrair?
Ouço duas alegações, ambas falsas: os problemas da Europa refletem o fracasso dos Estados de bem-estar social como um todo, e a crise europeia confirma a necessidade de austeridade imediata nos EUA.
A primeira alegação está sendo feita por republicanos como Mitt Romney, que acusou Obama de se inspirar nos "socialistas democratas" europeus e disse que "a Europa não está funcionando nem na Europa". A ideia é que os países em crise enfrentam problemas devido ao peso dos gastos governamentais.
Mas os fatos dizem o oposto.
É verdade que toda a Europa oferece benefícios sociais mais generosos -entre os quais serviços universais de saúde- e registra gastos governamentais mais altos que os EUA. Mas os países hoje em crise não oferecem mais bem-estar social do que os que estão se saindo bem.
Na verdade, a correlação indica o oposto. A Suécia, famosa por benefícios generosos, tem ótimo desempenho e é um dos poucos países cujo PIB atual é maior que o de antes da turbulência. E o "gasto social" em todos os países hoje em crise era menor do que na Alemanha.
A crise do euro, portanto, nada diz sobre a sustentabilidade dos Estados de bem-estar social. Mas justifica a necessidade de apertar os cintos numa economia já deprimida? Dizem-nos que os EUA têm de cortar gastos agora ou poderemos terminar como a Grécia. Os fatos também contam história diferente.
Primeiro, o fator determinante para os juros não é a dívida do governo, mas sim se a captação é feita em moeda nacional ou não. O Japão tem dívida bem maior que a italiana, mas os juros sobre os títulos japoneses de longo prazo são de cerca de 1%, ante 6% na Itália. As perspectivas fiscais britânicas parecem piores que as espanholas, mas o Reino Unido pode captar pagando 2% de juros; a Espanha paga quase 6%.
Na prática, ao adotar o euro, Espanha e Itália se reduziram à situação de países do Terceiro Mundo que precisam tomar empréstimos na moeda alheia, com toda a perda de flexibilidade que isso implica.
Por não poderem imprimir mais dinheiro em situações de emergência, os países da zona do euro ficam sujeitos a perturbações em sua captação que não afligem países capazes de tomar empréstimos em suas próprias moedas, como os EUA.
A austeridade, por sua vez, fracassou em todo lugar no qual foi tentada. Nenhum país com dívidas significativas conseguiu cortar gastos a ponto de recuperar o apreço dos mercados. A Irlanda, por exemplo, é o bom menino da Europa: respondeu à crise com medidas ferozes, que levaram o desemprego a mais de 14%. Mas os juros pagos pelos títulos irlandeses ainda superam os 8% -mais altos que os italianos.
Moral da história: devemos ter cuidado com ideólogos que tentam aproveitar a crise europeia para promover suas agendas. Se ouvirmos o que eles dizem, agravaremos ainda mais os nossos problemas.
terça-feira, 1 de novembro de 2011
sábado, 29 de outubro de 2011
Como tirar ouro da calça cagada
Já publiquei no FB e no tuíter (estou ficando moderno).
O judoca brasileiro Felipe Kitadai teve um desarranjo intestinal e borrou a calça do gi (pronuncia-se gui e este é o nome japa do uniforme dos lutadores de "quimono") na semifinal de hoje no judo, categoria até 60 quilos, no Pan do México. Ganhou. Foi à final, lavou a bunda e, de gi limpinho, bateu o mexicano na decisão.
Mais um ouro no esporte de luta que mais dá medalhas ao Brasil. Meu querido karate chega perto.
É pra dizer que o lutador não se rende, nem na mais humilhante situação. Imagine cagar-se em público, num campeonato transmitido pela TV.
Kitadai merece minha admiração.
Se fosse numa luta de vida ou morte você se renderia - e morreria - se largasse um pum errado?
Muitos anos atrás, Luiz Shinohara, hoje técnico da equipe brasileira masculina, disputava um campeonato importante (acho que era um Pan, mas não tenho certeza) quando sentiu-se mal antes de uma luta e falou ao treinador, seu pai, o mestre 9.º dan (acho que já é 10.º) Massao Shinohara, que temia borrar a calça do gi na luta. Pensava em desistir para ir ao banheiro (o regulamento não permite esperas desse tipo), o que daria WO para o adversário.
O mestre ordenou: "Pois vá e lute. Se tiver que cagar no gi, cague. Mas lute."
Shinohara filho segurou o intestino, lutou e venceu.
Kitadai (ninguém lembra da história de Shinohara, só eu, ele e os arquivos da época) nem teve tempo de consultar seu técnico Shinohara filho, o cagão primeiro. Ou será que consultou?
Pois cagou-se e venceu.
Na luta você não pede licença pra espirrar, coçar-se ou largar um pum. Quanto mais para sair e ir ao banheiro.
James Fixx, em seu guia de corrida, conta a história de uma maratonista que teve desarranjo e continuou correndo. As pessoas jogavam-lhe toalhas molhadas e copos de água e ela continuou - cagando e se lavando. Não me lembro direito do trecho do livro, mas acho que é finlandesa e chegou entre as primeiras. (Teve um brasieiro que correu pra moita e chegou, mas não me lembro da história e não vou chutar aqui).
Não importa: poderia ter chegado em último.
O bacana é que o atleta se supera e mesmo com a natureza complicando, deixa de lado a vergonha e continua na luta.
Tenho inveja do Kitadai. Nos meus tempos de sofrível karate-ka, pediria licença ao companheiro para ir ao banheiro.
Mas aprendi. Hoje, nas aulas de jiu-jitsu, em que se espreme o corpo o tempo todo, é preciso ter alimentação leve, mas peidar, humanamente peidar, mesmo diante de 30 marmanjos e moças, é normal.
Então, minhas homenagens ao Felipe Kitadai.
O marrom no gi na semifinal virou dourado na final.
Só não vale peidar no elevador, pessoal. Aí é falta de educação mesmo.
O judoca brasileiro Felipe Kitadai teve um desarranjo intestinal e borrou a calça do gi (pronuncia-se gui e este é o nome japa do uniforme dos lutadores de "quimono") na semifinal de hoje no judo, categoria até 60 quilos, no Pan do México. Ganhou. Foi à final, lavou a bunda e, de gi limpinho, bateu o mexicano na decisão.
Mais um ouro no esporte de luta que mais dá medalhas ao Brasil. Meu querido karate chega perto.
É pra dizer que o lutador não se rende, nem na mais humilhante situação. Imagine cagar-se em público, num campeonato transmitido pela TV.
Kitadai merece minha admiração.
Se fosse numa luta de vida ou morte você se renderia - e morreria - se largasse um pum errado?
Muitos anos atrás, Luiz Shinohara, hoje técnico da equipe brasileira masculina, disputava um campeonato importante (acho que era um Pan, mas não tenho certeza) quando sentiu-se mal antes de uma luta e falou ao treinador, seu pai, o mestre 9.º dan (acho que já é 10.º) Massao Shinohara, que temia borrar a calça do gi na luta. Pensava em desistir para ir ao banheiro (o regulamento não permite esperas desse tipo), o que daria WO para o adversário.
O mestre ordenou: "Pois vá e lute. Se tiver que cagar no gi, cague. Mas lute."
Shinohara filho segurou o intestino, lutou e venceu.
Kitadai (ninguém lembra da história de Shinohara, só eu, ele e os arquivos da época) nem teve tempo de consultar seu técnico Shinohara filho, o cagão primeiro. Ou será que consultou?
Pois cagou-se e venceu.
Na luta você não pede licença pra espirrar, coçar-se ou largar um pum. Quanto mais para sair e ir ao banheiro.
James Fixx, em seu guia de corrida, conta a história de uma maratonista que teve desarranjo e continuou correndo. As pessoas jogavam-lhe toalhas molhadas e copos de água e ela continuou - cagando e se lavando. Não me lembro direito do trecho do livro, mas acho que é finlandesa e chegou entre as primeiras. (Teve um brasieiro que correu pra moita e chegou, mas não me lembro da história e não vou chutar aqui).
Não importa: poderia ter chegado em último.
O bacana é que o atleta se supera e mesmo com a natureza complicando, deixa de lado a vergonha e continua na luta.
Tenho inveja do Kitadai. Nos meus tempos de sofrível karate-ka, pediria licença ao companheiro para ir ao banheiro.
Mas aprendi. Hoje, nas aulas de jiu-jitsu, em que se espreme o corpo o tempo todo, é preciso ter alimentação leve, mas peidar, humanamente peidar, mesmo diante de 30 marmanjos e moças, é normal.
Então, minhas homenagens ao Felipe Kitadai.
O marrom no gi na semifinal virou dourado na final.
Só não vale peidar no elevador, pessoal. Aí é falta de educação mesmo.
Inimigo, pero...
Quase nunca leio o colunista Reinaldo Azevedo na Veja on-line porque acho que ele é raivoso demais e, em sua estupidez sardônica, mais ofende do que critica. Hoje, porém, vejo-o elegante, sincero, solidário com o ex-presidente Lula, sua vidraça favorita. Republico aqui seu texto de hoje na Veja (http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/), de uma gentileza admirável. Ao final, chuta a canela do Lula, claro. Mas é de se ler - em se tratando de quem escreve - como lágrimas de esguicho, como diria Nelson Rodrigues, que se vivo fosse bateria no companheiro como se fosse o zagueiro Píndaro.
--
O câncer não é instrumento de vingança política, não é uma lição de vida, não é um livro didático! Ele só ensina que é preciso vencê-lo. Nada mais!
Eu espero, de verdade!, que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se recupere plenamente. E peço aos leitores que sejam comedidos ao relacionar críticas de natureza política ao estado de saúde do petista. Cortei alguns comentários que me pareceram além do aceitável, o que não quer dizer que eu concorde com muitos outros que foram publicados. A doença de Lula não pode cercear a liberdade de expressão, mas costumo apelar, em momentos assim, a uma palavra que me é muito cara: decoro. Não existe decoro sem ponderação.
Boa parte do que Lula representa, a meu juízo, tem de ser vencido se quisermos um país responsável, mas é o amadurecimento da sociedade brasileira que tem de lograr esse propósito. Que ele continue com saúde para que possa ser enfrentado por aquilo que pensa, diz e faz. Repito aqui, pois, a recomendação que fiz por ocasião da doença da então ministra Dilma Rousseff. Sim, foram os petistas a transformar o câncer da agora presidente em ativo eleitoral, o que apontei aqui. Marco Aurélio Garcia chegou a sugerir que aquilo poderia render votos. Talvez façam o mesmo com Lula, tão logo ele esteja bem, sendo apontado como a nova Fênix nos palanques de 2012. Hugo Chávez leva ao paroxismo a exploração vigarista de seu mal. Se os petistas repetirem a dose, cumpre denunciá-los, como denunciei a manipulação no caso Dilma. Mas nada disso deve levar os que não simpatizam com o petismo a cruzar a linha do bom senso e do bom gosto. Comportamento de petista não é um padrão que se deva usar para balizar o nosso próprio comportamento.
Já escrevi isso aqui e lembro ainda uma vez. Quando extraí dois tumores do crânio, em 2006, conheci de perto as piores baixezas — e, de certo modo, conheço ainda. Basta eu informar aqui que me ausentei por algum tempo ou que atrasei um pouco a postagem porque tinha ido ao médico, e lá vem a corrente dos sórdidos, fazendo sempre os piores votos: os delicados pedem a minha morte; os brutos não são tão generosos…
Nada disso, minhas caras, meus caros! Somos gente de outra natureza. Naquele 2006, uma pessoa que eu considerava amiga, mas com quem mantinha severas divergências, enviou-me, um dia antes da minha internação, um e-mail — que ela deve ter julgado muito terno e amigo —, em que misturava as nossas diferenças ideológicas com o meu estado de saúde. Eu sou cristão, fazer o quê? Confesso que já tentei renunciar à fé, mas não consegui. Consolar os aflitos é coisa que voa nas asas dos anjos. Fazer votos para que um doente “saia melhor” e “mais lúcido” do sofrimento cheira a enxofre. Nunca mais foi minha amiga, nunca mais mereceu nada além do meu desprezo e do meu asco.
Que Lula se recupere, sim! Para que possamos dizer a ele que está errado em muita coisa. Para que sirva de referência, saudável e lúcida — dada a lucidez possível de seu pensamento —, de uma porção de coisas que não queremos para o Brasil.
O câncer não é instrumento de vingança política, não é uma lição de vida, não é um livro didático! Ele só ensina que é preciso vencê-lo. Nada mais!
A educação pelo câncer
Enviam-me aqui um texto de Gilberto Dimenstein, um dos monopolistas da bondade de que a nossa imprensa anda cheia. O título de sua crônica é este: “Câncer de Lula vai servir de lição”. Santo Deus! Segundo o jornalista, “o país vai conhecer, como nunca conheceu, os efeitos no cigarro, apesar de tantas campanhas realizadas há tanto tempo.” Ele lembra que o tumor do ex-presidente apareceu “justamente na laringe, por onde passa a habilidade de Lula em convencer as pessoas em seus discursos.” Achou que era pouco e avançou na conclusão: “Infelizmente é desse jeito, com as pessoas sentindo-se próximas e vulneráveis diante de uma ameaça, que se consegue mudar atitudes.”
Dimenstein lembra aquele meu interlocutor, que passou a merecer o meu desprezo. O sentido de sua crônica horrível é este: “Viu? Quem mandou fumar?” Não pára aí: “Justo na laringe, hein???” E encerra com um norte moral: O terror é didático.
É claro que já antevejo todas as pautas que vão pipocar sobre o câncer de laringe e sua relação com o cigarro. Dado o contexto, fazem sentido. Lula é personalidade pública. O que acontece a pessoas como ele tem sempre grande repercussão. Mas eu realmente repudio essa tentativa de se ver a doença pelas lentes de uma espécie de moral, ainda mais quando se conclui que o medo ilumina a razão.
Em síntese: Lula não está doente porque quer, não está doente porque merece, não está doente para ter uma lição de vida. Estará hoje nas minhas orações. Doenças não tornam a gente nem melhor nem pior. Elas só nos ensinam que é preciso vencê-las. O resto é mistificação de tolos que acreditam na didática ou na pedagogia do tumor. Por alguma razão, certo cretinismo pretende que um nódulo vai ensinar aos doentes o que não lhes ensinaram nem Deus nem a ciência.
Torço para que Lula saia incólume dessa. Força aí, meu Apedeuta!
--
O câncer não é instrumento de vingança política, não é uma lição de vida, não é um livro didático! Ele só ensina que é preciso vencê-lo. Nada mais!
Eu espero, de verdade!, que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se recupere plenamente. E peço aos leitores que sejam comedidos ao relacionar críticas de natureza política ao estado de saúde do petista. Cortei alguns comentários que me pareceram além do aceitável, o que não quer dizer que eu concorde com muitos outros que foram publicados. A doença de Lula não pode cercear a liberdade de expressão, mas costumo apelar, em momentos assim, a uma palavra que me é muito cara: decoro. Não existe decoro sem ponderação.
Boa parte do que Lula representa, a meu juízo, tem de ser vencido se quisermos um país responsável, mas é o amadurecimento da sociedade brasileira que tem de lograr esse propósito. Que ele continue com saúde para que possa ser enfrentado por aquilo que pensa, diz e faz. Repito aqui, pois, a recomendação que fiz por ocasião da doença da então ministra Dilma Rousseff. Sim, foram os petistas a transformar o câncer da agora presidente em ativo eleitoral, o que apontei aqui. Marco Aurélio Garcia chegou a sugerir que aquilo poderia render votos. Talvez façam o mesmo com Lula, tão logo ele esteja bem, sendo apontado como a nova Fênix nos palanques de 2012. Hugo Chávez leva ao paroxismo a exploração vigarista de seu mal. Se os petistas repetirem a dose, cumpre denunciá-los, como denunciei a manipulação no caso Dilma. Mas nada disso deve levar os que não simpatizam com o petismo a cruzar a linha do bom senso e do bom gosto. Comportamento de petista não é um padrão que se deva usar para balizar o nosso próprio comportamento.
Já escrevi isso aqui e lembro ainda uma vez. Quando extraí dois tumores do crânio, em 2006, conheci de perto as piores baixezas — e, de certo modo, conheço ainda. Basta eu informar aqui que me ausentei por algum tempo ou que atrasei um pouco a postagem porque tinha ido ao médico, e lá vem a corrente dos sórdidos, fazendo sempre os piores votos: os delicados pedem a minha morte; os brutos não são tão generosos…
Nada disso, minhas caras, meus caros! Somos gente de outra natureza. Naquele 2006, uma pessoa que eu considerava amiga, mas com quem mantinha severas divergências, enviou-me, um dia antes da minha internação, um e-mail — que ela deve ter julgado muito terno e amigo —, em que misturava as nossas diferenças ideológicas com o meu estado de saúde. Eu sou cristão, fazer o quê? Confesso que já tentei renunciar à fé, mas não consegui. Consolar os aflitos é coisa que voa nas asas dos anjos. Fazer votos para que um doente “saia melhor” e “mais lúcido” do sofrimento cheira a enxofre. Nunca mais foi minha amiga, nunca mais mereceu nada além do meu desprezo e do meu asco.
Que Lula se recupere, sim! Para que possamos dizer a ele que está errado em muita coisa. Para que sirva de referência, saudável e lúcida — dada a lucidez possível de seu pensamento —, de uma porção de coisas que não queremos para o Brasil.
O câncer não é instrumento de vingança política, não é uma lição de vida, não é um livro didático! Ele só ensina que é preciso vencê-lo. Nada mais!
A educação pelo câncer
Enviam-me aqui um texto de Gilberto Dimenstein, um dos monopolistas da bondade de que a nossa imprensa anda cheia. O título de sua crônica é este: “Câncer de Lula vai servir de lição”. Santo Deus! Segundo o jornalista, “o país vai conhecer, como nunca conheceu, os efeitos no cigarro, apesar de tantas campanhas realizadas há tanto tempo.” Ele lembra que o tumor do ex-presidente apareceu “justamente na laringe, por onde passa a habilidade de Lula em convencer as pessoas em seus discursos.” Achou que era pouco e avançou na conclusão: “Infelizmente é desse jeito, com as pessoas sentindo-se próximas e vulneráveis diante de uma ameaça, que se consegue mudar atitudes.”
Dimenstein lembra aquele meu interlocutor, que passou a merecer o meu desprezo. O sentido de sua crônica horrível é este: “Viu? Quem mandou fumar?” Não pára aí: “Justo na laringe, hein???” E encerra com um norte moral: O terror é didático.
É claro que já antevejo todas as pautas que vão pipocar sobre o câncer de laringe e sua relação com o cigarro. Dado o contexto, fazem sentido. Lula é personalidade pública. O que acontece a pessoas como ele tem sempre grande repercussão. Mas eu realmente repudio essa tentativa de se ver a doença pelas lentes de uma espécie de moral, ainda mais quando se conclui que o medo ilumina a razão.
Em síntese: Lula não está doente porque quer, não está doente porque merece, não está doente para ter uma lição de vida. Estará hoje nas minhas orações. Doenças não tornam a gente nem melhor nem pior. Elas só nos ensinam que é preciso vencê-las. O resto é mistificação de tolos que acreditam na didática ou na pedagogia do tumor. Por alguma razão, certo cretinismo pretende que um nódulo vai ensinar aos doentes o que não lhes ensinaram nem Deus nem a ciência.
Torço para que Lula saia incólume dessa. Força aí, meu Apedeuta!
Zezé di Camargo e Luciano
As duplas breganejas são, para mim, o que há de quase pior na música brasileira. Pior é o pancadão dos vileiros, com seus concursos de som mais alto naqueles carros podrões, como ouço aqui ao lado, nos cafundós onde vivo com minha nega.
O sertanojo, agora sertanejo universitário - genial jogada de marketing pra dizer que isso não é coisa de ignorantes - ofende a cultura brasileira, agride o sertanejo de Tonico e Tinoco, Tião Carreiro e Pardinho, Renato Teixeira e vários e até o oportunista do Sérgio Reis ("Se você pensa que meu coração é de papel / não vá pensando, pois não é...").
Tenho sincera piedade intelectual de quem gosta de ouvir esse tipo de música (???), mas não posso fazer nada.
O Estado poderia, sim. E deve, por obrigação constitucional, sim.
Massificar a boa cultura, levar a boa música, o bom teatro às camadas ditas menos favorecidas.
O ingresso para o show do Chico está caro? Por que o Estado não banca o Chico - e ele vale, oh, Zeus - em praça pública, como eu vi em 66, quando ele veio a Curitiba só para cantar "A banda" na Marechal Deodoro e juntou mais gente que o papa?
Sociólogos já disseram que, graças ao plano real, os pobres passaram a ter aparelho pra tocar CD, ir ao cinema, comer no Mac e tal. Com Lula, a coisa melhorou: aqui pertinho de casa o vigia de uma construção, que mora num barracão com a família, tem carro e - já vi pela porta aberta nos finais de semana - TV de plasma, computador pras crianças.
Fico feliz mesmo com e por isso.
Mas o Brasil, ao promover os menos favorecidos, esqueceu-se de dar-lhes suporte e orientação: econômica, para que aprendam a poupar; de saúde, para que se cuidem e apareçam no dentista, frequentem os postos médicos, etc.; pra não alongar demais, cultural, até negociando com as rádios e TVs para que tragam essa gente ao bom nível e não desçam a qualiade de sua programação para o nível de quem está vindo lá de baixo.
Parece óbvio, não? Mas não foi isso que aconteceu.
Não, não quero que o Luciano se foda. Ele é produto desse desnível. Milionário, nem sabe o que faz da vida. Talvez nunca tenha lido um livro inteiro (fora o roteiro de Filhos de Francisco, produto da Carolina Kotscho, filha do Ricardo idem).
Quero que o Luciano se recupere e volte a cantar ao lado do irmão Zezé. Quero que Mirosmar e Welson (é o nome deles) sejam felizes e gastem um pouco de sua fortuna com a educação dos filhos.
O que o Xororó fez com a Sandy, uma lady que ficou rica na breguice e hoje encanta a todos cantando jazz em pequenos shows em São Paulo.
Fico triste. O Brasil de Noel, Ismael, Nelson Cavaquinho, João e Aldir, Paulinho, Edu, Tom, Sérgio Ricardo, Chico e tal não merece tanta breguice.
Sorte ao Luciano, é o que digo solidariamente humano.
E sem carreira solo dos filhos de Francisco. Eu não mereço.
P.S.: Eu sei que o Guairão estava lotado de gente com grana. Tinha muito bacana lá. Mas esses não têm jeito. Que enfiem suas picapes barulhentas a diesel, suas casas com piscina em condomínio fechado, suas mulheres em salões de beleza (ou de feiúra) no Batel, seus filhos idiotas quebrando tudo nas baladas da Bispo Dom José, suas filhas fazendo sacanagem nos carrões dos namorados. Esses serão bregas forévis. Desses, tenho pena.
O sertanojo, agora sertanejo universitário - genial jogada de marketing pra dizer que isso não é coisa de ignorantes - ofende a cultura brasileira, agride o sertanejo de Tonico e Tinoco, Tião Carreiro e Pardinho, Renato Teixeira e vários e até o oportunista do Sérgio Reis ("Se você pensa que meu coração é de papel / não vá pensando, pois não é...").
Tenho sincera piedade intelectual de quem gosta de ouvir esse tipo de música (???), mas não posso fazer nada.
O Estado poderia, sim. E deve, por obrigação constitucional, sim.
Massificar a boa cultura, levar a boa música, o bom teatro às camadas ditas menos favorecidas.
O ingresso para o show do Chico está caro? Por que o Estado não banca o Chico - e ele vale, oh, Zeus - em praça pública, como eu vi em 66, quando ele veio a Curitiba só para cantar "A banda" na Marechal Deodoro e juntou mais gente que o papa?
Sociólogos já disseram que, graças ao plano real, os pobres passaram a ter aparelho pra tocar CD, ir ao cinema, comer no Mac e tal. Com Lula, a coisa melhorou: aqui pertinho de casa o vigia de uma construção, que mora num barracão com a família, tem carro e - já vi pela porta aberta nos finais de semana - TV de plasma, computador pras crianças.
Fico feliz mesmo com e por isso.
Mas o Brasil, ao promover os menos favorecidos, esqueceu-se de dar-lhes suporte e orientação: econômica, para que aprendam a poupar; de saúde, para que se cuidem e apareçam no dentista, frequentem os postos médicos, etc.; pra não alongar demais, cultural, até negociando com as rádios e TVs para que tragam essa gente ao bom nível e não desçam a qualiade de sua programação para o nível de quem está vindo lá de baixo.
Parece óbvio, não? Mas não foi isso que aconteceu.
Não, não quero que o Luciano se foda. Ele é produto desse desnível. Milionário, nem sabe o que faz da vida. Talvez nunca tenha lido um livro inteiro (fora o roteiro de Filhos de Francisco, produto da Carolina Kotscho, filha do Ricardo idem).
Quero que o Luciano se recupere e volte a cantar ao lado do irmão Zezé. Quero que Mirosmar e Welson (é o nome deles) sejam felizes e gastem um pouco de sua fortuna com a educação dos filhos.
O que o Xororó fez com a Sandy, uma lady que ficou rica na breguice e hoje encanta a todos cantando jazz em pequenos shows em São Paulo.
Fico triste. O Brasil de Noel, Ismael, Nelson Cavaquinho, João e Aldir, Paulinho, Edu, Tom, Sérgio Ricardo, Chico e tal não merece tanta breguice.
Sorte ao Luciano, é o que digo solidariamente humano.
E sem carreira solo dos filhos de Francisco. Eu não mereço.
P.S.: Eu sei que o Guairão estava lotado de gente com grana. Tinha muito bacana lá. Mas esses não têm jeito. Que enfiem suas picapes barulhentas a diesel, suas casas com piscina em condomínio fechado, suas mulheres em salões de beleza (ou de feiúra) no Batel, seus filhos idiotas quebrando tudo nas baladas da Bispo Dom José, suas filhas fazendo sacanagem nos carrões dos namorados. Esses serão bregas forévis. Desses, tenho pena.
Suerte, companheiro
Lula - e os brasileiros - soube hoje que tem um câncer na laringe, provavelmente resultante de seus humanos excessos com o tabaco (cigarrilhas são piores que os cigarros comuns) e o álcool.
Sou da teoria segundo a qual - eu que criei - o humano nasce com predisposições genéticas assim:
1 - Se você fumar e beber, ou só fumar, ou só beber, vai produzir câncer em seu organismo e, por consequência, se não for salvo a tempo, vai morrer;
2 - Se você fumar e beber, ou só fumar, ou só beber, vai produzir câncer em seu organismo e, por consequência, mesmo tratado, vai morrer;
3 - Se você fumar e beber, ou só fumar, ou só beber, não vai produzir câncer em seu organismo e vai morrer um dia por outras causas;
4 - Se você não fumar e não beber, não vai produzir câncer em seu organismo e vai morrer um dia por outras causas;
5 - Se você não fumar e não beber, vai produzir câncer em seu organismo e, por consequência, vai morrer se não for salvo a tempo;
6 - Se você não fumar e não beber, vai produzir câncer em seu organismo e, por consequência, vai morrer, mesmo sendo tratado a tempo;
Nascemos programados em nosso DNA. O diabo é saber se estamos programados para morrer de câncer se fumarmos e/ou bebermos ou se vamos morrer de câncer mesmo sem fumar e sem beber. Se a medicina pode nos salvar ou se não tem jeito em qualquer circunstância.
Minha teoria não absolve fumantes e bebentes, lógico. Melhor não fumar e beber só de vez em quando.
Mas minha teoria é instigante, não?
Pra dizer, ao final e ao cabo, que torço sinceramente pela recuperação de Lula. E de Sócrates. E de Aldir Blanc.
Torço pelos homens de bem.
Sou da teoria segundo a qual - eu que criei - o humano nasce com predisposições genéticas assim:
1 - Se você fumar e beber, ou só fumar, ou só beber, vai produzir câncer em seu organismo e, por consequência, se não for salvo a tempo, vai morrer;
2 - Se você fumar e beber, ou só fumar, ou só beber, vai produzir câncer em seu organismo e, por consequência, mesmo tratado, vai morrer;
3 - Se você fumar e beber, ou só fumar, ou só beber, não vai produzir câncer em seu organismo e vai morrer um dia por outras causas;
4 - Se você não fumar e não beber, não vai produzir câncer em seu organismo e vai morrer um dia por outras causas;
5 - Se você não fumar e não beber, vai produzir câncer em seu organismo e, por consequência, vai morrer se não for salvo a tempo;
6 - Se você não fumar e não beber, vai produzir câncer em seu organismo e, por consequência, vai morrer, mesmo sendo tratado a tempo;
Nascemos programados em nosso DNA. O diabo é saber se estamos programados para morrer de câncer se fumarmos e/ou bebermos ou se vamos morrer de câncer mesmo sem fumar e sem beber. Se a medicina pode nos salvar ou se não tem jeito em qualquer circunstância.
Minha teoria não absolve fumantes e bebentes, lógico. Melhor não fumar e beber só de vez em quando.
Mas minha teoria é instigante, não?
Pra dizer, ao final e ao cabo, que torço sinceramente pela recuperação de Lula. E de Sócrates. E de Aldir Blanc.
Torço pelos homens de bem.
sexta-feira, 28 de outubro de 2011
Cântico negro
Este poema de José Régio descobri-o num show de Paulo Gracindo e Clara Nunes, que do nada nos iluminam, no show "Brasileiro, profissão: esperança", criado para homenagear Dolores Duran e Antônio Maria - dois pudins gordões geniais. Até hoje não sei por que escolheram - ou Paulo Gracindo escolheu - o poema do genial portuga José Régio.
Eu estava na plateia do Guairão, ainda garoto, em 1975, e aquilo me arrepiou, me deixou mal, parecia que havia baixado o santo no Paulo Gracindo. Foi das mais geniais interpretações que vi nesta encarnação - e olha que vi coisa nas anteriores.
Agora descobri que tenho um leitor, que tempos atrás me perguntou onde encontrava o poema.
Pois eis o porre.
Cântico negro em duas geniais - e diferentes - declamações, aí abaixo.
E agora, pra você exercitar, as palavras.
Drummond, Bandeira e João Cabral, gênios da raça, que me perdoem (mais Mário Quintana, Ferreira Gullar e outros poucos), mas este é meu poema favorito.
Saboreiem:
"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!
José Régio, pseudônimo literário de José Maria dos Reis Pereira, nasceu em Vila do Conde em 1901. Licenciado em Letras em Coimbra, ensinou durante mais de 30 anos no Liceu de Portalegre. Foi um dos fundadores da revista "Presença", e o seu principal animador. Romancista, dramaturgo, ensaísta e crítico, foi, no entanto, como poeta. que primeiramente se impôs e a mais larga audiência depois atingiu. Com o livro de estréia — "Poemas de Deus e do Diabo" (1925) — apresentou quase todo o elenco dos temas que viria a desenvolver nas obras posteriores: os conflitos entre Deus e o Homem, o espírito e a carne, o indivíduo e a sociedade, a consciência da frustração de todo o amor humano, o orgulhoso recurso à solidão, a problemática da sinceridade e do logro perante os outros e perante a si mesmos.
Eu estava na plateia do Guairão, ainda garoto, em 1975, e aquilo me arrepiou, me deixou mal, parecia que havia baixado o santo no Paulo Gracindo. Foi das mais geniais interpretações que vi nesta encarnação - e olha que vi coisa nas anteriores.
Agora descobri que tenho um leitor, que tempos atrás me perguntou onde encontrava o poema.
Pois eis o porre.
Cântico negro em duas geniais - e diferentes - declamações, aí abaixo.
E agora, pra você exercitar, as palavras.
Drummond, Bandeira e João Cabral, gênios da raça, que me perdoem (mais Mário Quintana, Ferreira Gullar e outros poucos), mas este é meu poema favorito.
Saboreiem:
"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!
José Régio, pseudônimo literário de José Maria dos Reis Pereira, nasceu em Vila do Conde em 1901. Licenciado em Letras em Coimbra, ensinou durante mais de 30 anos no Liceu de Portalegre. Foi um dos fundadores da revista "Presença", e o seu principal animador. Romancista, dramaturgo, ensaísta e crítico, foi, no entanto, como poeta. que primeiramente se impôs e a mais larga audiência depois atingiu. Com o livro de estréia — "Poemas de Deus e do Diabo" (1925) — apresentou quase todo o elenco dos temas que viria a desenvolver nas obras posteriores: os conflitos entre Deus e o Homem, o espírito e a carne, o indivíduo e a sociedade, a consciência da frustração de todo o amor humano, o orgulhoso recurso à solidão, a problemática da sinceridade e do logro perante os outros e perante a si mesmos.
Paulo Gracindo
Aqui ele recita "Cântico negro", do gênio portuga José Régio. Descobri ter um leitor -que me pediu.
Código de Hamurábi
137. Se um homem quiser se separar de uma mulher ou esposa que lhe deu filhos, então ele deve dar de volta o dote de sua esposa e parte do usufruto do campo, jardim e casa, para que ela possa criar os filhos. Quando ela tiver criado os filhos, uma parte do que foi dado aos filhos deve ser dada a ela, e esta parte deve ser igual a de um filho. A esposa poderá então se casar com quem quiser.
138. Se um homem quiser se separar de sua esposa que lhe deu filhos, ele deve dar a ela a quantia do preço que pagou por ela e o dote que ela trouxe da casa de seu pai, e deixá-la partir.
139. Se não tiver havido preço de compra, ele deverá dar a ela uma mina em ouro como presente de libertação.
140. Se ele for um homem livre, deverá dar a ela 1/3 de uma mina em ouro.
138. Se um homem quiser se separar de sua esposa que lhe deu filhos, ele deve dar a ela a quantia do preço que pagou por ela e o dote que ela trouxe da casa de seu pai, e deixá-la partir.
139. Se não tiver havido preço de compra, ele deverá dar a ela uma mina em ouro como presente de libertação.
140. Se ele for um homem livre, deverá dar a ela 1/3 de uma mina em ouro.
O olhar de Capitu - 21.º capítulo de um romance inexpugnável
E ela, mas ela? Disse-me, disse-nos, há nós, há nós, nós e o plural de nó, há nozes, há nós, nós, nós vários, vozes e vocês, há voz, há vós, avós. Chega, pare, paro. Nada mais digo nem direi nem farei, fariseu, farisei, farei. Há nossos antepassados, repassados dignos de nota, notas musicais. Há dós, rés e mis. E sóis. E o sol que rutila nauseabundantemente sobre nossas janelas e cinzeiros e altaneiros arrebóis. E a ressaca do mar e dos olhos sem fim de Capitu. E ela, e ela? Diamantes aos porcos, donde se conclui que, que, que, gaguejadamente se fazem abluções sobre letras e litros de palavras, lavras de pensatas. Pasta dental, flanelas, prateleiras, panelas altaneiras, lojas de amebas sensatas, silvos de tratados de sábios e nefelibatas.
Seres humanos
Do Diário da Região, de Rio Preto, cedido pelo amigão Montezuma Cruz.
A família de três angolanas economizou dinheiro durante três anos, atravessou o oceano Atlântico e viajou sete mil quilômetros até Rio Preto com apenas um objetivo: evitar a morte precoce. As africanas - duas meninas, de 7 e 9 anos, e uma jovem de 20 - sofrem de anemia falciforme, uma doença hereditária que causa dores pelo corpo, fraqueza, quadro anêmico persistente, acidente vascular cerebral (AVC) e pode, nos casos mais severos, matar. Em Angola, país africano colonizado por Portugal, até existem hematologistas, mas faltam medicamentos para tratar adequadamente a doença.
As angolanas descobriram Rio Preto depois que um conterrâneo, que sofre do mesmo mal, tratou-se na cidade e apresentou importante melhora na saúde. O caso ganhou repercussão na província de Zaire, a 400 km da capital, Luanda, onde moram. A dona de casa Isabel Antônio Helena, 44, conta que acredita, com todas as suas forças, em uma solução. Ela é mãe de Silvia Gisela Rosa, 20, e de Rosana Helena Silva, 9. As duas têm a doença e nunca passaram por acompanhamento médico. Sofrem dores fortes na cabeça e nas articulações e ficam, até duas semanas, sem frequentar a escola. A fraqueza limita até a ida ao banheiro - às vezes, são carregadas no colo pelos pais.
“Dói tanto que não consigo fazer nada”, relata Silvia, que cursa o equivalente ao oitavo ano do ensino fundamental brasileiro. Ela é pequena para a idade. Uma das complicações da doença é justamente o déficit de crescimento. “Quero ser advogada.” Silvia não tem o braço esquerdo, amputado na infância após uma sucessão de erros médicos. O membro foi fraturado em uma queda. Silvia revela que a família faz um esforço gigante na esperança de melhorar a vida dela e de Rosana. “O esforço não é só financeiro. Passamos noites inteiras acordadas cuidando delas. O meu sonho é vê-las em melhor estado. Quero que estudem e tenham uma vida normal”, diz Isabel.
Ela é mãe de mais duas meninas (que não sofrem da anemia) e tem parentes com a mesma doença. Estima gastar quase R$ 15 mil com a viagem. Somente as passagens aéreas custaram R$ 2 mil (ida e volta) para cada. Mas, como disse, não se arrepende. Maria João Fernandez, 31, também trouxe a filha Jaquelina João, 7, para se tratar em Rio Preto. A menina sente dores no peito com frequência. A dona de casa bateu na porta de inúmeros hospitais e clínicas angolanas, mas não conseguiu nada. Agora, está confiante em melhorar a saúde da filha. “Temos esperanças em fazer essa conquista.”
A doença da filha obrigou Maria João a parar de amamentar o filho, de 1 ano, para vir ao Brasil. O menino ficou sob os cuidados de uma irmã e da mãe. “Isso foi o mais difícil. Mas tenho que ajudar Jaquelina.” A família vai gastar R$ 10 mil. As cinco devem ir embora em duas semanas. O tratamento é feito em uma clínica particular de Rio Preto, sob comando do hematologista Flávio Naoum. Ele é sincero ao avaliar a falta de tratamento das angolanas até então. “Tiveram muita sorte. Correram risco de contrair infecções graves e de sofrer lesões permanentes em vários órgãos.”
O especialista já as medicou com vacinas e antibióticos, fez exames e vai indicar um tratamento para ser feito em Angola. Todo o procedimento das três vai custar R$ 1 mil. “Com essas medidas terão mais qualidade de vida. A cura, no entanto, só é possível com transplante de medula óssea.” As duas famílias estão hospedadas na casa de uma angolana, estudante da Unesp de Rio Preto, mas procuram casa para alugar. É que a moradia tem apenas dois cômodos e falta espaço para acomodar as visitas.
Teste do pezinho detecta a doença
A anemia falciforme é uma doença comum entre os negros. “Ela surgiu na África. Como uma defesa natural contra a malária. Foi introduzida no Brasil no período em que ocorreu tráfico de escravos”, afirma o hematologista Flávio Naoum. “Mas, hoje, também é comum em brancos e pardos brasileiros, em razão da miscigenação da população.” Segundo Naoum, a expectativa de vida de uma pessoa portadora de anemia falciforme é de 50 anos. “Com os novos tratamentos, é possível prolongar. Cada pessoa reage de uma forma à doença.”
Desde 2001, a doença é descoberta no Brasil com o teste do pezinho, após o nascimento da criança. Assim que constatada, o tratamento é iniciado. O uso preventivo de antibióticos ocorre até os cinco anos de idade da criança. Depois, é necessário acompanhamento regular com especialista. A taxa de óbito, diz Naoum, é de 20% em crianças de até cinco anos, que não realizam tratamento com prevenção de infecção. Em São Paulo, a proporção da doença é de um caso para cada 4 mil nascimentos.
A anemia falciforme pode causar acidente vascular cerebral (AVC) em crianças. Para quem apresenta esse quadro é recomendado a transfusão de sangue uma vez por mês. A manifestação clínica mais comum é a ocorrência de crises de dor, que atingem principalmente pés, mãos, braços, tórax, cabeça, abdômen e pernas. Além de AVC, há casos de úlcera de pernas, necrose do fêmur, retinopatia e déficit de crescimento.
A família de três angolanas economizou dinheiro durante três anos, atravessou o oceano Atlântico e viajou sete mil quilômetros até Rio Preto com apenas um objetivo: evitar a morte precoce. As africanas - duas meninas, de 7 e 9 anos, e uma jovem de 20 - sofrem de anemia falciforme, uma doença hereditária que causa dores pelo corpo, fraqueza, quadro anêmico persistente, acidente vascular cerebral (AVC) e pode, nos casos mais severos, matar. Em Angola, país africano colonizado por Portugal, até existem hematologistas, mas faltam medicamentos para tratar adequadamente a doença.
As angolanas descobriram Rio Preto depois que um conterrâneo, que sofre do mesmo mal, tratou-se na cidade e apresentou importante melhora na saúde. O caso ganhou repercussão na província de Zaire, a 400 km da capital, Luanda, onde moram. A dona de casa Isabel Antônio Helena, 44, conta que acredita, com todas as suas forças, em uma solução. Ela é mãe de Silvia Gisela Rosa, 20, e de Rosana Helena Silva, 9. As duas têm a doença e nunca passaram por acompanhamento médico. Sofrem dores fortes na cabeça e nas articulações e ficam, até duas semanas, sem frequentar a escola. A fraqueza limita até a ida ao banheiro - às vezes, são carregadas no colo pelos pais.
“Dói tanto que não consigo fazer nada”, relata Silvia, que cursa o equivalente ao oitavo ano do ensino fundamental brasileiro. Ela é pequena para a idade. Uma das complicações da doença é justamente o déficit de crescimento. “Quero ser advogada.” Silvia não tem o braço esquerdo, amputado na infância após uma sucessão de erros médicos. O membro foi fraturado em uma queda. Silvia revela que a família faz um esforço gigante na esperança de melhorar a vida dela e de Rosana. “O esforço não é só financeiro. Passamos noites inteiras acordadas cuidando delas. O meu sonho é vê-las em melhor estado. Quero que estudem e tenham uma vida normal”, diz Isabel.
Ela é mãe de mais duas meninas (que não sofrem da anemia) e tem parentes com a mesma doença. Estima gastar quase R$ 15 mil com a viagem. Somente as passagens aéreas custaram R$ 2 mil (ida e volta) para cada. Mas, como disse, não se arrepende. Maria João Fernandez, 31, também trouxe a filha Jaquelina João, 7, para se tratar em Rio Preto. A menina sente dores no peito com frequência. A dona de casa bateu na porta de inúmeros hospitais e clínicas angolanas, mas não conseguiu nada. Agora, está confiante em melhorar a saúde da filha. “Temos esperanças em fazer essa conquista.”
A doença da filha obrigou Maria João a parar de amamentar o filho, de 1 ano, para vir ao Brasil. O menino ficou sob os cuidados de uma irmã e da mãe. “Isso foi o mais difícil. Mas tenho que ajudar Jaquelina.” A família vai gastar R$ 10 mil. As cinco devem ir embora em duas semanas. O tratamento é feito em uma clínica particular de Rio Preto, sob comando do hematologista Flávio Naoum. Ele é sincero ao avaliar a falta de tratamento das angolanas até então. “Tiveram muita sorte. Correram risco de contrair infecções graves e de sofrer lesões permanentes em vários órgãos.”
O especialista já as medicou com vacinas e antibióticos, fez exames e vai indicar um tratamento para ser feito em Angola. Todo o procedimento das três vai custar R$ 1 mil. “Com essas medidas terão mais qualidade de vida. A cura, no entanto, só é possível com transplante de medula óssea.” As duas famílias estão hospedadas na casa de uma angolana, estudante da Unesp de Rio Preto, mas procuram casa para alugar. É que a moradia tem apenas dois cômodos e falta espaço para acomodar as visitas.
Teste do pezinho detecta a doença
A anemia falciforme é uma doença comum entre os negros. “Ela surgiu na África. Como uma defesa natural contra a malária. Foi introduzida no Brasil no período em que ocorreu tráfico de escravos”, afirma o hematologista Flávio Naoum. “Mas, hoje, também é comum em brancos e pardos brasileiros, em razão da miscigenação da população.” Segundo Naoum, a expectativa de vida de uma pessoa portadora de anemia falciforme é de 50 anos. “Com os novos tratamentos, é possível prolongar. Cada pessoa reage de uma forma à doença.”
Desde 2001, a doença é descoberta no Brasil com o teste do pezinho, após o nascimento da criança. Assim que constatada, o tratamento é iniciado. O uso preventivo de antibióticos ocorre até os cinco anos de idade da criança. Depois, é necessário acompanhamento regular com especialista. A taxa de óbito, diz Naoum, é de 20% em crianças de até cinco anos, que não realizam tratamento com prevenção de infecção. Em São Paulo, a proporção da doença é de um caso para cada 4 mil nascimentos.
A anemia falciforme pode causar acidente vascular cerebral (AVC) em crianças. Para quem apresenta esse quadro é recomendado a transfusão de sangue uma vez por mês. A manifestação clínica mais comum é a ocorrência de crises de dor, que atingem principalmente pés, mãos, braços, tórax, cabeça, abdômen e pernas. Além de AVC, há casos de úlcera de pernas, necrose do fêmur, retinopatia e déficit de crescimento.
sexta-feira, 21 de outubro de 2011
Kirshner
Para que não nos esqueçamos, repito um belo poema español:
Un alemán es una cerveza
Dos alemanes son un ejército
Tres alemanes son una guerra
Un francés es una champaña
Dos franceses son una pareja haciendo el amor
Tres franceses son una orgía
Un inglés es un whisky
Dos ingleses son un club
Tres ingleses son un imperio
Un americano es un martini
Dos americanos son una corporación
Tres americanos son una invasión
Un mejicano es un tequila
Dos mejicanos son muchos hijos
Tres mejicanos son un mariachi
Un brasileño es un café
Dos brasileños son un partido de fútbol
Tres brasileños son un mundial
Un colombiano es un aguardiente
Dos colombianos son una porrada
Tres colombianos son un cartel
Un argentino es un hijo de puta
Dos argentinos son dos hijos de puta
Tres argentinos son tres hijos de puta
Un alemán es una cerveza
Dos alemanes son un ejército
Tres alemanes son una guerra
Un francés es una champaña
Dos franceses son una pareja haciendo el amor
Tres franceses son una orgía
Un inglés es un whisky
Dos ingleses son un club
Tres ingleses son un imperio
Un americano es un martini
Dos americanos son una corporación
Tres americanos son una invasión
Un mejicano es un tequila
Dos mejicanos son muchos hijos
Tres mejicanos son un mariachi
Un brasileño es un café
Dos brasileños son un partido de fútbol
Tres brasileños son un mundial
Un colombiano es un aguardiente
Dos colombianos son una porrada
Tres colombianos son un cartel
Un argentino es un hijo de puta
Dos argentinos son dos hijos de puta
Tres argentinos son tres hijos de puta
O Paraná 247 vem aí
Mal traço linhas neste troço. Meu espoço, hic, meu espaço este aqui.
Comunico aos meus 38 (deus e zeus dos céus, são 38) seguidores que a partir de novembro estarei de volta ao espaço, a rigor ao espaço virtual do jornalismo combativo e interpretativo.
Sempre imparcial, mas neutro, jamé.
Falo da versão paranaense, logo chamada Paraná 247 do Brasil 247 (confira lá em 3 dabliús Brasil 247.com.br), primeiro jornal eletrônico do país que nasce sem os traumas do JB e do Estado do Paraná e sem os prudridos dos jornalões.
Foi criado pelo Leo Attuch (Veja, Isto É, O Estado de Minas) para brigar na rede.
Quebra, de cara, dois paradigmas, um puxando o outro: 1, não tem, nunca terá papel como suporte; 2, entrega conteúdo gratuito, de graça mesmo, contradizendo uma "tendência" brasileira (Folha, Estadão e tal) e mundial (NY Times e tal). Vai ser de graça, mesmo.
O tal suporte foi criado para tablets (prefiro tabuletas), do iPad aos demais, e smart phones que rodem no Android.
Você tem? Genial. Abra e veja que bacana.
Não tem ainda? Veja na internet a versão convencional. Bacana também. Manchetão, foto aberta. Role a página.
O Brasil 247 já tem 2,5 milhões de acessos por dia, bebê.
Compete peito a peito com as versões web do Globo, Folha, Estadão e tal. Mas ganha, porque o conteúdo, integral, é grátis.
Assim como o Huffington Post.
Mas não é cópia deste nem daqueles.
Aqui, no Paraná 247, estamos começando pequenos. Mas temos o melhor time. Não somos o Barça, com o Messi. Mas nosso futsal tem o Falcão, aliás, falcões e falconas.
Vamos cobrir política, cidades, negócios, esportes, cultura e tudo o mais, com competência e imparcialidade. Mas neutralidade jamais. E emoção, sempre.
Faço o comercial porque neste projeto está um novo pedaço da minha biografia e da dos meus colegas amigos.
Você, raro leitor, vai curtir também nossos articulistas.
Falarão de agricultura, direito, medicina, economia,governo, futebol, MMA...
Como diz nosso editor de fotografia, Leandro Taques, cuidado com a louça.
Gostamos do que somos e do que fazemos. E gostamos mais ainda do que faremos.
Esperamos você no Paraná 247.
Como diz nossa musa Torloni, vai ser roquenrrol, bebê.
Inté.
Comunico aos meus 38 (deus e zeus dos céus, são 38) seguidores que a partir de novembro estarei de volta ao espaço, a rigor ao espaço virtual do jornalismo combativo e interpretativo.
Sempre imparcial, mas neutro, jamé.
Falo da versão paranaense, logo chamada Paraná 247 do Brasil 247 (confira lá em 3 dabliús Brasil 247.com.br), primeiro jornal eletrônico do país que nasce sem os traumas do JB e do Estado do Paraná e sem os prudridos dos jornalões.
Foi criado pelo Leo Attuch (Veja, Isto É, O Estado de Minas) para brigar na rede.
Quebra, de cara, dois paradigmas, um puxando o outro: 1, não tem, nunca terá papel como suporte; 2, entrega conteúdo gratuito, de graça mesmo, contradizendo uma "tendência" brasileira (Folha, Estadão e tal) e mundial (NY Times e tal). Vai ser de graça, mesmo.
O tal suporte foi criado para tablets (prefiro tabuletas), do iPad aos demais, e smart phones que rodem no Android.
Você tem? Genial. Abra e veja que bacana.
Não tem ainda? Veja na internet a versão convencional. Bacana também. Manchetão, foto aberta. Role a página.
O Brasil 247 já tem 2,5 milhões de acessos por dia, bebê.
Compete peito a peito com as versões web do Globo, Folha, Estadão e tal. Mas ganha, porque o conteúdo, integral, é grátis.
Assim como o Huffington Post.
Mas não é cópia deste nem daqueles.
Aqui, no Paraná 247, estamos começando pequenos. Mas temos o melhor time. Não somos o Barça, com o Messi. Mas nosso futsal tem o Falcão, aliás, falcões e falconas.
Vamos cobrir política, cidades, negócios, esportes, cultura e tudo o mais, com competência e imparcialidade. Mas neutralidade jamais. E emoção, sempre.
Faço o comercial porque neste projeto está um novo pedaço da minha biografia e da dos meus colegas amigos.
Você, raro leitor, vai curtir também nossos articulistas.
Falarão de agricultura, direito, medicina, economia,governo, futebol, MMA...
Como diz nosso editor de fotografia, Leandro Taques, cuidado com a louça.
Gostamos do que somos e do que fazemos. E gostamos mais ainda do que faremos.
Esperamos você no Paraná 247.
Como diz nossa musa Torloni, vai ser roquenrrol, bebê.
Inté.
domingo, 16 de outubro de 2011
sábado, 15 de outubro de 2011
Wing Chun & Ju Jitsu
Primeira vez que o mestre Carlson elogia alguém. E que puta respeito, hem?
Veja aí.
Veja aí.
Do Blog do Zé Beto
Paraná 247 levanta vôo no final do mês
14 out 2011 - 17:58
O chapa e grande jornalista Jorge Eduardo está assumindo o braço paranaense do Brasil 247 (www.brasil247.com.br), primeiro jornal do país criado exclusivamente para o mundo virtual, com formato exclusivo para iPad e outros tablets e iPhone. O jornal pode ser lido também na telinha de nossos PCs e laptops. O Brasil 247 – 24 horas nos 7 dias da semana – já tem 2 milhões de visitantes e 46 milhões de páginas vistas por dia. O idealizador do projeto é o jornalista Leonardo Attuch – ex-Veja, Isto É, Isto é Dinheiro e Estado de Minas, atualmente colunista da Isto É. Depois da Bahia, Brasília e Rio, vem aí o Paraná 247, com largada prevista para o dia 31 de outubro. Segundo Jorjão, no começo a equipe será enxuta, mas combativa. O Paraná 247 terá colunistas de todas as áreas. Um nome já está certo na escalação do time: Sérgio Brandão, também chapa e colaborador deste blog. Um grande começo, com certeza. Boa sorte e vida longa ao 247.
14 out 2011 - 17:58
O chapa e grande jornalista Jorge Eduardo está assumindo o braço paranaense do Brasil 247 (www.brasil247.com.br), primeiro jornal do país criado exclusivamente para o mundo virtual, com formato exclusivo para iPad e outros tablets e iPhone. O jornal pode ser lido também na telinha de nossos PCs e laptops. O Brasil 247 – 24 horas nos 7 dias da semana – já tem 2 milhões de visitantes e 46 milhões de páginas vistas por dia. O idealizador do projeto é o jornalista Leonardo Attuch – ex-Veja, Isto É, Isto é Dinheiro e Estado de Minas, atualmente colunista da Isto É. Depois da Bahia, Brasília e Rio, vem aí o Paraná 247, com largada prevista para o dia 31 de outubro. Segundo Jorjão, no começo a equipe será enxuta, mas combativa. O Paraná 247 terá colunistas de todas as áreas. Um nome já está certo na escalação do time: Sérgio Brandão, também chapa e colaborador deste blog. Um grande começo, com certeza. Boa sorte e vida longa ao 247.
O olhar de Capitu - 20.º capítulo de um romance insuportável
Chove, agora. Água, água, viu? E o trato da crina? Mulher, mulher, e a trama dos climas? Preços em alta ou baixa, fundamental creolina. Fator da equação: xis vezes ypsilone igual não sei, sabe, menina? O que se sabe, enfim, é das crises das raposas grávidas e dos elefantes estáticos. Mercado, bichos, peripatéticas decisões analíticas, em período verborrágico, sádico tempo de sereias e algas. Tipo assim, outra coisa, bactérias e gasolina em trágica quimera. Parece? Nada, nada, quem dera. Trata-se de hera, combustível e fenol, inseto a sorver trilhos imponderáveis. Aonde vai dar, aonde vai? Vilipêndios, recursos qualificados, caramelados, ancestrais. Pérolas, pérgulas, pianos e masmorras parentais.
Código de Hamurábi
133. Se um homem for tomado como prisioneiro de guerra e houver sustento em sua casa, mas mesmo assim sua esposa deixar a casa por outra, esta mulher deverá ser judicialmente condenada e atirada na água.
134. Se um homem for feito prisioneiro de guerra e não houver quem sustente sua esposa, ela deverá ir para outra casa, e a mulher estará isenta de toda e qualquer culpa.
135. Se um homem for feito prisioneiro de guerra e não houver quem sustente sua esposa, ela deverá ir para outra casa e criar seus filhos. Se mais tarde o marido retornar e voltar à casa, então a esposa deverá retornar ao marido, assim como as crianças devem seguir seu pai.
136. Se fugir de sua casa, então sua esposa deve ir para outra casa. Se este homem voltar e desejar ter sua esposa de volta, por que ele fugiu, a esposa não precisa retornar a seu marido.
134. Se um homem for feito prisioneiro de guerra e não houver quem sustente sua esposa, ela deverá ir para outra casa, e a mulher estará isenta de toda e qualquer culpa.
135. Se um homem for feito prisioneiro de guerra e não houver quem sustente sua esposa, ela deverá ir para outra casa e criar seus filhos. Se mais tarde o marido retornar e voltar à casa, então a esposa deverá retornar ao marido, assim como as crianças devem seguir seu pai.
136. Se fugir de sua casa, então sua esposa deve ir para outra casa. Se este homem voltar e desejar ter sua esposa de volta, por que ele fugiu, a esposa não precisa retornar a seu marido.
sexta-feira, 14 de outubro de 2011
Do blog do Zé Beto
Paraná 247 levanta vôo no final do mês
14 out 2011 - 17:58
O chapa e grande jornalista Jorge Eduardo está assumindo o braço paranaense do Brasil 247 (www.brasil247.com.br), primeiro jornal do país criado exclusivamente para o mundo virtual, com formato exclusivo para iPad e outros tablets e iPhone. O jornal pode ser lido também na telinha de nossos PCs e laptops. O Brasil 247 – 24 horas nos 7 dias da semana – já tem 2 milhões de visitantes e 46 milhões de páginas vistas por dia. O idealizador do projeto é o jornalista Leonardo Attuch – ex-Veja, Isto É, Isto é Dinheiro e Estado de Minas, atualmente colunista da Isto É. Depois da Bahia, Brasília e Rio, vem aí o Paraná 247, com largada prevista para o dia 31 de outubro. Segundo Jorjão, no começo a equipe será enxuta, mas combativa. O Paraná 247 terá colunistas de todas as áreas. Um nome já está certo na escalação do time: Sérgio Brandão, também chapa e colaborador deste blog. Um grande começo, com certeza. Boa sorte e vida longa ao 247.
14 out 2011 - 17:58
O chapa e grande jornalista Jorge Eduardo está assumindo o braço paranaense do Brasil 247 (www.brasil247.com.br), primeiro jornal do país criado exclusivamente para o mundo virtual, com formato exclusivo para iPad e outros tablets e iPhone. O jornal pode ser lido também na telinha de nossos PCs e laptops. O Brasil 247 – 24 horas nos 7 dias da semana – já tem 2 milhões de visitantes e 46 milhões de páginas vistas por dia. O idealizador do projeto é o jornalista Leonardo Attuch – ex-Veja, Isto É, Isto é Dinheiro e Estado de Minas, atualmente colunista da Isto É. Depois da Bahia, Brasília e Rio, vem aí o Paraná 247, com largada prevista para o dia 31 de outubro. Segundo Jorjão, no começo a equipe será enxuta, mas combativa. O Paraná 247 terá colunistas de todas as áreas. Um nome já está certo na escalação do time: Sérgio Brandão, também chapa e colaborador deste blog. Um grande começo, com certeza. Boa sorte e vida longa ao 247.
terça-feira, 11 de outubro de 2011
12 de outubro, meu dia
Hoje é o dia da padroeira - e o dia das crianças.
Meu dia, portanto.
Quero o que ficou pra trás.
Minhas alegrias, minhas dores, minhas tristezas, minhas frustrações, meus sonhos, meus pesadelos, minha infância, minha criancice, meus gols de placa e contra.
Não pra mudar, só pra lembrar.
Quero de volta meus banhos de bacia sob o sol de Arapongas, onde buscava meu avô Deodato com um pé de chinelo pra ele calçar (o outro era do primo Pedro).
Minha meia água na Vila Fanny e a morte da vaca atropelada na estrada que me fez chorar no colo da mãe Kayete.
Quero de volta meu pai, o espanhol Pegerto, que está no nada, e que me tomava a tabuada (ou seria taboada?) e me dava aulas de história contada na enorme coleção de Cesare Cantu.
Quero de volta meu caminhãozinho amarrado num arbusto, no Juvevê, que alguém levou.
Quero de volta minha casa na General Carneiro e, lá no alto, a bandeira do Coritiba que enfiei telhado adentro, esparramada num cabide pregado num cabo de vassoura.
Quero de volta meu lugar no altar da capela do HC, onde eu era coroinha com o meu amigo Carlos Krizanowski.
Quero de volta meus amigos e o futebol no campinho da véia.
Quero de volta o Grupo Zacarias, o Colégio Estadual.
Quero de volta minha infância perdida e achada em cada canto dos meus guardados, nas fotos, na memória quase anciã de minha meia idade.
O que veio depois não me deixa esquecer minha cadela Diana, meus gols - e os gols do Brasil em 62 -, os gols do Coxa (e meu choro infantil em cada derrota), a limonada que Celine e eu fazíamos pra vender pros doentes do HC.
Quero de volta meus irmãos Carlinhos e Sara: Lalinho e Nininha.
Criei espinhas, nasceram-me pelos no rosto e no corpo, minha voz mudou.
Mudei eu e mudou o mundo.
Mas não a alma.
Piegas pra carajo.
Mas tenho saudade do Jorginho.
Muita, muita saudade.
Meu dia, portanto.
Quero o que ficou pra trás.
Minhas alegrias, minhas dores, minhas tristezas, minhas frustrações, meus sonhos, meus pesadelos, minha infância, minha criancice, meus gols de placa e contra.
Não pra mudar, só pra lembrar.
Quero de volta meus banhos de bacia sob o sol de Arapongas, onde buscava meu avô Deodato com um pé de chinelo pra ele calçar (o outro era do primo Pedro).
Minha meia água na Vila Fanny e a morte da vaca atropelada na estrada que me fez chorar no colo da mãe Kayete.
Quero de volta meu pai, o espanhol Pegerto, que está no nada, e que me tomava a tabuada (ou seria taboada?) e me dava aulas de história contada na enorme coleção de Cesare Cantu.
Quero de volta meu caminhãozinho amarrado num arbusto, no Juvevê, que alguém levou.
Quero de volta minha casa na General Carneiro e, lá no alto, a bandeira do Coritiba que enfiei telhado adentro, esparramada num cabide pregado num cabo de vassoura.
Quero de volta meu lugar no altar da capela do HC, onde eu era coroinha com o meu amigo Carlos Krizanowski.
Quero de volta meus amigos e o futebol no campinho da véia.
Quero de volta o Grupo Zacarias, o Colégio Estadual.
Quero de volta minha infância perdida e achada em cada canto dos meus guardados, nas fotos, na memória quase anciã de minha meia idade.
O que veio depois não me deixa esquecer minha cadela Diana, meus gols - e os gols do Brasil em 62 -, os gols do Coxa (e meu choro infantil em cada derrota), a limonada que Celine e eu fazíamos pra vender pros doentes do HC.
Quero de volta meus irmãos Carlinhos e Sara: Lalinho e Nininha.
Criei espinhas, nasceram-me pelos no rosto e no corpo, minha voz mudou.
Mudei eu e mudou o mundo.
Mas não a alma.
Piegas pra carajo.
Mas tenho saudade do Jorginho.
Muita, muita saudade.
O olhar de Capitu - 19.º capítulo de um romance intransponível
Voltem, voltem, ventos e eventos. Traumáticas expansões vivenciadas, escassos cossacos nas praias. Espraiem-se. Imagéticos. Magnéticos. Solo de água de bateria. Muriáticos sentimentos. Pentimentos. Economia resumida. Diretivas felinas, opções ursinas. Impactos sem tato. Patos sem rimas.
quinta-feira, 29 de setembro de 2011
A mídia nunca desce às causas da corrupção
Dirceu Martins Pio
Perguntei ao filósofo Roberto Romano, em 2006, se acreditava que o “mensalão” de fato existiu e a resposta veio do fundo do poço, por onde perambula o pensamento dos filósofos: “Seria uma aberração do sistema se não tivesse existido”.
A voz de Roberto Romano é talvez a mais lúcida do país na hora de prospectarmos as causas dos flagelos que se abatem sobre a nossa velha e carcomida República. Trata-se, contudo, de uma voz que tem pouquíssima presença na mídia, pois esta navega hoje na superfície de todos os grandes temas. Nunca desce às causas que fazem eclodir os problemas. Gosto muito desta metáfora e acho que merece ser repetida ao falarmos de corrupção: se o Brasil fosse um paciente e a mídia um médico, diria que este vive a combater a febre, sem nunca se importar com a infecção que a produz.
Roberto Romano falou em sistema. É fácil descobrir o que pretendeu dizer com isso: para ele, o Brasil tem o modelo federativo mais centralizador do mundo e a centralização impôs a existência de um sistema controlado com argúcia e rigor pelas oligarquias regionais. Mais de 70% de tudo o que os brasileiros pagam de taxas e impostos vão parar nos cofres da União. Para não morrerem à míngua, os municípios elegem deputados e senadores e os mandam à Brasília para trazer de volta o dinheiro que serve para a construção da ponte e da escola. De emenda em emenda orçamentária, parte considerável desse dinheiro é desviada por corruptos e corruptores.
O Congresso Nacional só faz trabalhar para levar o dinheiro de volta para os municípios. Os brasileiros elegem seu novo presidente por milhões de votos e ele, quando assume, vai trombar, inexoravelmente, com um Congresso que trabalha com uma lógica miúda porque é uma instituição essencialmente regional. Conclusão, que é também do filósofo Roberto Romano: sem mensalão, nenhum presidente vai conseguir governar.
Uma das causas da corrupção, talvez a mais importante, é essa: a centralização de recursos e de poderes proporcionada por um modelo federativo que se manteve soberano durante toda a República. Ninguém tem interesse em modernizá-lo, mesmo que a Constituição de 1988 tenha aberto um capítulo – ainda não regulamentado – que prevê ampla autonomia municipal.
Roberto Romano, da Unicamp, nos dá, portanto, a possibilidade de avaliar o tamanho do pecado do ex-ministro José Dirceu, apontado como idealizador e coordenador do Mensalão ou do Valerioduto, como quiserem. Deve ser julgado pela história muito mais pelo que “não fez” do que propriamente pelo “que fez”. Ao fazer o que fez quis, certamente, apenas ampliar o índice de governabilidade de Lula e de seu partido, o PT, instalado no poder central pela primeira vez.
O “sistema” ao qual se refere Roberto Romano continua a mostrar a sua face terrível nestes primeiros meses de governo Dilma. A presidente já deve ter descoberto que não vai conseguir governar se não atender o pleito dos partidos da “base aliada” na remessa de recursos para o reduto eleitoral de deputados e senadores e não fizer “olhos grossos” para os inevitáveis desvios. A sua propalada faxina não passa de cortina de fumaça. A seu modo, Dilma também terá de pagar o seu mensalão.
Mas, afinal, o que José Dirceu não fez? Não moveu uma só palha na direção de modernizar esse sistema, trabalhar na regulamentação dos artigos constitucionais que prevêem maior autonomia política e financeira aos municípios, trabalhar na transformação do Congresso numa autêntica Casa de Leis. José Dirceu tem aparato intelectual e poder de articulação política para dar início a essa batalha. Preferiu, contudo, o caminho mais fácil, que foi o de achar que, mais uma vez, os meios vão justificar os fins. Aderiu sem nenhuma resistência à visão regional que avassala o Congresso Nacional, instituição pensada para legislar em favor das grandes causas da nação, mas transformada em grande ferramenta de todos os “malfeitos”.
Toninho Trevisan, por outro lado, é consultor e auditor empresarial de muito respeito no país. Ele aponta uma segunda – e também importante – causa da corrupção: o baixo índice de auditagem do dinheiro público no Brasil. Mostra, por exemplo, que cada tostão que sai dos cofres do governo alemão é acompanhado por severa auditoria até o instante de sua aplicação adequada. A Alemanha faz isso em dimensão mundial.
Se levássemos em conta apenas as denúncias de corrupção publicadas pela mídia nos últimos 10 anos, talvez tenhamos de lançar mão de megas computadores para calcular o montante do dinheiro que saiu dos cofres públicos e que não foi alvo de qualquer auditagem. Cadê uma lei que imponha rigorosa auditagem na aplicação de cada centavo que saia dos cofres públicos? Temos ainda uma terceira causa da corrupção. Tem sido apontada com veemência por ONGs que se dedicam à transparência da instância pública: é a verdadeira enxurrada de “cargos de confiança” e que tem permitido a contratação de milhares e milhares de pessoas sem concurso e sem critério pelos governos municipais, estaduais e federais. Esse é o espaço dos partidos que assumem o governo e não se enxerga nenhuma motivação profissional nas pessoas que assumem esses cargos, de salários ridículos, mas que valem muito a pena pela influência que as pessoas que os ocupam passam a exercer sobre a instância pública, inclusive e principalmente, sobre o destino dos recursos.
Houve uma certa frustração no último 7 de Setembro das pessoas que esperavam que os meios digitais seriam capazes de produzir uma grande mobilização nacional contra a corrupção. Entende-se o fracasso: o combate à corrupção não tem bandeiras muito claras e no imaginário das pessoas deve-se parecer como algo abstrato, genérico demais para produzir forte mobilização. E a meu ver a mídia é culpada por essa ausência de capacidade mobilizadora, justamente porque não tem avançado sobre as causas da corrupção.
Perguntei ao filósofo Roberto Romano, em 2006, se acreditava que o “mensalão” de fato existiu e a resposta veio do fundo do poço, por onde perambula o pensamento dos filósofos: “Seria uma aberração do sistema se não tivesse existido”.
A voz de Roberto Romano é talvez a mais lúcida do país na hora de prospectarmos as causas dos flagelos que se abatem sobre a nossa velha e carcomida República. Trata-se, contudo, de uma voz que tem pouquíssima presença na mídia, pois esta navega hoje na superfície de todos os grandes temas. Nunca desce às causas que fazem eclodir os problemas. Gosto muito desta metáfora e acho que merece ser repetida ao falarmos de corrupção: se o Brasil fosse um paciente e a mídia um médico, diria que este vive a combater a febre, sem nunca se importar com a infecção que a produz.
Roberto Romano falou em sistema. É fácil descobrir o que pretendeu dizer com isso: para ele, o Brasil tem o modelo federativo mais centralizador do mundo e a centralização impôs a existência de um sistema controlado com argúcia e rigor pelas oligarquias regionais. Mais de 70% de tudo o que os brasileiros pagam de taxas e impostos vão parar nos cofres da União. Para não morrerem à míngua, os municípios elegem deputados e senadores e os mandam à Brasília para trazer de volta o dinheiro que serve para a construção da ponte e da escola. De emenda em emenda orçamentária, parte considerável desse dinheiro é desviada por corruptos e corruptores.
O Congresso Nacional só faz trabalhar para levar o dinheiro de volta para os municípios. Os brasileiros elegem seu novo presidente por milhões de votos e ele, quando assume, vai trombar, inexoravelmente, com um Congresso que trabalha com uma lógica miúda porque é uma instituição essencialmente regional. Conclusão, que é também do filósofo Roberto Romano: sem mensalão, nenhum presidente vai conseguir governar.
Uma das causas da corrupção, talvez a mais importante, é essa: a centralização de recursos e de poderes proporcionada por um modelo federativo que se manteve soberano durante toda a República. Ninguém tem interesse em modernizá-lo, mesmo que a Constituição de 1988 tenha aberto um capítulo – ainda não regulamentado – que prevê ampla autonomia municipal.
Roberto Romano, da Unicamp, nos dá, portanto, a possibilidade de avaliar o tamanho do pecado do ex-ministro José Dirceu, apontado como idealizador e coordenador do Mensalão ou do Valerioduto, como quiserem. Deve ser julgado pela história muito mais pelo que “não fez” do que propriamente pelo “que fez”. Ao fazer o que fez quis, certamente, apenas ampliar o índice de governabilidade de Lula e de seu partido, o PT, instalado no poder central pela primeira vez.
O “sistema” ao qual se refere Roberto Romano continua a mostrar a sua face terrível nestes primeiros meses de governo Dilma. A presidente já deve ter descoberto que não vai conseguir governar se não atender o pleito dos partidos da “base aliada” na remessa de recursos para o reduto eleitoral de deputados e senadores e não fizer “olhos grossos” para os inevitáveis desvios. A sua propalada faxina não passa de cortina de fumaça. A seu modo, Dilma também terá de pagar o seu mensalão.
Mas, afinal, o que José Dirceu não fez? Não moveu uma só palha na direção de modernizar esse sistema, trabalhar na regulamentação dos artigos constitucionais que prevêem maior autonomia política e financeira aos municípios, trabalhar na transformação do Congresso numa autêntica Casa de Leis. José Dirceu tem aparato intelectual e poder de articulação política para dar início a essa batalha. Preferiu, contudo, o caminho mais fácil, que foi o de achar que, mais uma vez, os meios vão justificar os fins. Aderiu sem nenhuma resistência à visão regional que avassala o Congresso Nacional, instituição pensada para legislar em favor das grandes causas da nação, mas transformada em grande ferramenta de todos os “malfeitos”.
Toninho Trevisan, por outro lado, é consultor e auditor empresarial de muito respeito no país. Ele aponta uma segunda – e também importante – causa da corrupção: o baixo índice de auditagem do dinheiro público no Brasil. Mostra, por exemplo, que cada tostão que sai dos cofres do governo alemão é acompanhado por severa auditoria até o instante de sua aplicação adequada. A Alemanha faz isso em dimensão mundial.
Se levássemos em conta apenas as denúncias de corrupção publicadas pela mídia nos últimos 10 anos, talvez tenhamos de lançar mão de megas computadores para calcular o montante do dinheiro que saiu dos cofres públicos e que não foi alvo de qualquer auditagem. Cadê uma lei que imponha rigorosa auditagem na aplicação de cada centavo que saia dos cofres públicos? Temos ainda uma terceira causa da corrupção. Tem sido apontada com veemência por ONGs que se dedicam à transparência da instância pública: é a verdadeira enxurrada de “cargos de confiança” e que tem permitido a contratação de milhares e milhares de pessoas sem concurso e sem critério pelos governos municipais, estaduais e federais. Esse é o espaço dos partidos que assumem o governo e não se enxerga nenhuma motivação profissional nas pessoas que assumem esses cargos, de salários ridículos, mas que valem muito a pena pela influência que as pessoas que os ocupam passam a exercer sobre a instância pública, inclusive e principalmente, sobre o destino dos recursos.
Houve uma certa frustração no último 7 de Setembro das pessoas que esperavam que os meios digitais seriam capazes de produzir uma grande mobilização nacional contra a corrupção. Entende-se o fracasso: o combate à corrupção não tem bandeiras muito claras e no imaginário das pessoas deve-se parecer como algo abstrato, genérico demais para produzir forte mobilização. E a meu ver a mídia é culpada por essa ausência de capacidade mobilizadora, justamente porque não tem avançado sobre as causas da corrupção.
quarta-feira, 28 de setembro de 2011
Merval Pereira, o imortal
Por Paulo Nogueira (retirado do portal Brasil 247)
Bem, eis a Pataquada da Semana. Merval Pereira, jornalista, virou imortal. Lol.
Vou em busca de explicações. Ele deve ter escrito algum livro importante que não notei. Ou alguns, penso numa perspectiva mais otimista.
Pesquiso.
Mas.
Ele é autor de “O lulismo no poder”, uma coletânea de seus artigos no Globo. Quer dizer, não bastasse o leitor ser castigado por Merval uma vez na forma de jornal, ele apanha de novo na forma de livro.
Merval é, basicamente, contra tudo que Lula fez, do Bolsa Família às cotas universitárias. Se Lula inventar a cura do câncer, Merval vai atacar. Seu poder de persuasão pode ser facilmente medido nas urnas. Se eu fosse candidato, torceria para que Merval fosse contra mim.
Ao lado de Ali Kamel, ele é um dos mais fiéis reprodutores do ideário da família Marinho. (Esperemos para ver se Kamel não vira futuramente um imortal.)
Numa carta célebre a um editor, o barão da imprensa Joseph Pulitzer disse o seguinte: “Espero que você pense, pense, pense!!! (…) Que compreenda que todo editor depende do proprietário, é controlado pelo proprietário, deve veicular os desejos e as idéias do proprietário. (…) Sua função é pensar, o mais próximo possível, no que você pensa que eu penso.”
Merval – e nem Kamel – teriam que ouvir isso. Lembro que, nas reuniões do Conselho Editorial da Globo das quais participei entre 2006 e 2008, os dois pareciam disputar entre si quem era campeão em pensar como a família Marinho pensa.
Na cerimônia de posse de Merval, Machado de Assis, fundador da ABL, foi lembrado e de certa forma comparado ao novo imortal. Porque trabalhou como jornalista num certo período.
Esperemos então que Merval produza suas Memórias Póstumas.
Bem, eis a Pataquada da Semana. Merval Pereira, jornalista, virou imortal. Lol.
Vou em busca de explicações. Ele deve ter escrito algum livro importante que não notei. Ou alguns, penso numa perspectiva mais otimista.
Pesquiso.
Mas.
Ele é autor de “O lulismo no poder”, uma coletânea de seus artigos no Globo. Quer dizer, não bastasse o leitor ser castigado por Merval uma vez na forma de jornal, ele apanha de novo na forma de livro.
Merval é, basicamente, contra tudo que Lula fez, do Bolsa Família às cotas universitárias. Se Lula inventar a cura do câncer, Merval vai atacar. Seu poder de persuasão pode ser facilmente medido nas urnas. Se eu fosse candidato, torceria para que Merval fosse contra mim.
Ao lado de Ali Kamel, ele é um dos mais fiéis reprodutores do ideário da família Marinho. (Esperemos para ver se Kamel não vira futuramente um imortal.)
Numa carta célebre a um editor, o barão da imprensa Joseph Pulitzer disse o seguinte: “Espero que você pense, pense, pense!!! (…) Que compreenda que todo editor depende do proprietário, é controlado pelo proprietário, deve veicular os desejos e as idéias do proprietário. (…) Sua função é pensar, o mais próximo possível, no que você pensa que eu penso.”
Merval – e nem Kamel – teriam que ouvir isso. Lembro que, nas reuniões do Conselho Editorial da Globo das quais participei entre 2006 e 2008, os dois pareciam disputar entre si quem era campeão em pensar como a família Marinho pensa.
Na cerimônia de posse de Merval, Machado de Assis, fundador da ABL, foi lembrado e de certa forma comparado ao novo imortal. Porque trabalhou como jornalista num certo período.
Esperemos então que Merval produza suas Memórias Póstumas.
sexta-feira, 23 de setembro de 2011
sexta-feira, 16 de setembro de 2011
Baixa renda e escolaridade dos pais mantêm deficiente a dieta de jovens pobres
Da Agência Fapesp (www.fapesp.br)
A renda familiar e a escolaridade dos pais são fatores que influenciam na dieta dos adolescentes, restringindo a ingestão de nutrientes importantes no combate de doenças crônicas, como hipertensão e diabetes.
A conclusão é de uma pesquisa realizada na capital paulista pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP), em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, e publicada na revista Public Health Nutrition.
O estudo foi tema do mestrado de Eliseu Verly Júnior, com coordenação de Dirce Maria Lobo Marchioni e participação de Regina Mara Fisberg, ambas professoras do Departamento de Nutrição da FSP-USP.
Com o objetivo de avaliar o consumo alimentar de 525 adolescentes, com idade entre 14 e 18 anos, o trabalho integrou o Inquérito de Saúde no Município de São Paulo (ISA), que visa conhecer com mais detalhes o perfil epidemiológico da população da cidade.
O nutriente com maior percentual de ingestão inadequada nessa faixa etária foi a vitamina E, apresentando deficiência de 99% na dieta de ambos os sexos. Em segundo lugar esteve o magnésio, com 89% de inadequação entre os adolescentes do sexo masculino e 84% do feminino, seguido pelas vitaminas A (78% e 71%), C (79% e 53%) e B6 (21% e 33%).
“Existem diversas variáveis que determinam o baixo consumo desses nutrientes nessa faixa etária como, por exemplo, a renda familiar per capita As pessoas que pertencem ao grupo de baixa renda apresentaram menor consumo de nutrientes, entre os quais as vitaminas A, C, B6, B12, fósforo, zinco, tiamina e riboflavina”, disse Verly à Agência FAPESP.
“Isso ocorre porque as pessoas dessa faixa etária geralmente consomem baixas quantidades de frutas, verduras e legumes, que são importantes fontes de nutrientes”, disse Verly, que atualmente faz doutorado na FSP-USP.
"A condição financeira restringe o acesso aos alimentos e, dessa forma, a uma dieta mais adequada. Isso indica que a camada menos favorecida tem pior condição nutricional”, apontou Fisberg.
O estudo verificou ainda que a deficiência na dieta também esteve relacionada ao nível escolar dos pais. Os dados mostraram que a menor escolaridade foi associada às maiores prevalências de inadequação de consumo dos mesmos nutrientes apontados em jovens de baixa renda.
Para Fisberg, os dados apresentados pela pesquisa podem auxiliar futuros programas de estímulo ao consumo de alimentos fontes dos nutrientes deficientes – presentes em frutas, vegetais e cereais, entre outros –, voltados à população de baixa renda.
O artigo Socio-economic variables influence the prevalence of inadequate nutrient intake in Brazilian adolescents: results from a population-based survey (doi:10.1017/S1368980011000760), de Eliseu Verly Júnior, Regina Mara Fisberg, Dirce Maria Lobo Marchioni e Chester Luiz Galvão César, pode ser lido por assinantes da Public Health Nutrition em journals.cambridge.org/action/displayAbstract?fromPage=online&aid=8347250&fulltextType=RA&fileId=S1368980011000760
A renda familiar e a escolaridade dos pais são fatores que influenciam na dieta dos adolescentes, restringindo a ingestão de nutrientes importantes no combate de doenças crônicas, como hipertensão e diabetes.
A conclusão é de uma pesquisa realizada na capital paulista pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP), em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, e publicada na revista Public Health Nutrition.
O estudo foi tema do mestrado de Eliseu Verly Júnior, com coordenação de Dirce Maria Lobo Marchioni e participação de Regina Mara Fisberg, ambas professoras do Departamento de Nutrição da FSP-USP.
Com o objetivo de avaliar o consumo alimentar de 525 adolescentes, com idade entre 14 e 18 anos, o trabalho integrou o Inquérito de Saúde no Município de São Paulo (ISA), que visa conhecer com mais detalhes o perfil epidemiológico da população da cidade.
O nutriente com maior percentual de ingestão inadequada nessa faixa etária foi a vitamina E, apresentando deficiência de 99% na dieta de ambos os sexos. Em segundo lugar esteve o magnésio, com 89% de inadequação entre os adolescentes do sexo masculino e 84% do feminino, seguido pelas vitaminas A (78% e 71%), C (79% e 53%) e B6 (21% e 33%).
“Existem diversas variáveis que determinam o baixo consumo desses nutrientes nessa faixa etária como, por exemplo, a renda familiar per capita As pessoas que pertencem ao grupo de baixa renda apresentaram menor consumo de nutrientes, entre os quais as vitaminas A, C, B6, B12, fósforo, zinco, tiamina e riboflavina”, disse Verly à Agência FAPESP.
“Isso ocorre porque as pessoas dessa faixa etária geralmente consomem baixas quantidades de frutas, verduras e legumes, que são importantes fontes de nutrientes”, disse Verly, que atualmente faz doutorado na FSP-USP.
"A condição financeira restringe o acesso aos alimentos e, dessa forma, a uma dieta mais adequada. Isso indica que a camada menos favorecida tem pior condição nutricional”, apontou Fisberg.
O estudo verificou ainda que a deficiência na dieta também esteve relacionada ao nível escolar dos pais. Os dados mostraram que a menor escolaridade foi associada às maiores prevalências de inadequação de consumo dos mesmos nutrientes apontados em jovens de baixa renda.
Para Fisberg, os dados apresentados pela pesquisa podem auxiliar futuros programas de estímulo ao consumo de alimentos fontes dos nutrientes deficientes – presentes em frutas, vegetais e cereais, entre outros –, voltados à população de baixa renda.
O artigo Socio-economic variables influence the prevalence of inadequate nutrient intake in Brazilian adolescents: results from a population-based survey (doi:10.1017/S1368980011000760), de Eliseu Verly Júnior, Regina Mara Fisberg, Dirce Maria Lobo Marchioni e Chester Luiz Galvão César, pode ser lido por assinantes da Public Health Nutrition em journals.cambridge.org/action/displayAbstract?fromPage=online&aid=8347250&fulltextType=RA&fileId=S1368980011000760
quinta-feira, 15 de setembro de 2011
No lugar de Scarlett, Berto Romero
O furdunço em que se transformou a rede depois da divulgação das fotos de Scarlett Johansson é o acontecimento da semana. Despubliquei a foto em que aparece a generosa bunda da atriz por, sinceramente, temer por meu patrimônio caso algum causídico estadunidense venha pedir indenização para a pobre gostosona.
Para meus raros seguidores não ficarem na mão (epa), a autofoto de um substituto: o humorista catalão Berto Romero.
sexta-feira, 9 de setembro de 2011
Manito subiu
Manito foi, de longe, o melhor músico da Jovem Guarda. Nos Incríveis, era show de bola. Fundou o Som Nosso de Cada Dia, um trio bem adiantadinho para a época (já tive o LP deles).
Chamava-se Antonio Rosa Sanchez e era nascido na Galícia, Espanha. Talvez um parente distante. Minha família é de Galícia e tem Sanchez.
Morte gloriosa a Manito.
Aqui ele toca com Raul de Souza, ex-trombonista da banda da Base Aérea do Bacacheri.
Espero que Manito receba as merecidas homenagens.
A minha, humílima, segue aqui.
Chamava-se Antonio Rosa Sanchez e era nascido na Galícia, Espanha. Talvez um parente distante. Minha família é de Galícia e tem Sanchez.
Morte gloriosa a Manito.
Aqui ele toca com Raul de Souza, ex-trombonista da banda da Base Aérea do Bacacheri.
Espero que Manito receba as merecidas homenagens.
A minha, humílima, segue aqui.
"El fin de los paseadores de perros"
Dirceu Martins Pio (publicado originalmente no Observatório da Imprensa).
A educação de qualidade –e só ela – vai conseguir sustentar o desenvolvimento do Brasil ao longo do tempo. Se tomarmos a premissa como verdadeira, descobriremos o quão graves são as informações divulgadas pela imprensa neste 26 de agosto: metade das crianças brasileiras que concluíram o 3º ano (antiga segunda série) em escolas públicas e privadas nas capitais brasileiras não aprendeu os conteúdos esperados para esse nível de ensino, ou seja, estão a caminho de serem transformadas em “analfabetos funcionais”, segundo resultados da prova ABC (Avaliação Brasileira do Final do Ciclo de Alfabetização).
Mais grave que isso: a mídia dedicou ao assunto uma cobertura de rotina, pontual, burocrática, como se não entendesse a importância do assunto que divulgou. Está mais do que na hora de a mídia incentivar o debate, iluminar o assunto em toda a sua profundidade, para assim talvez produzir uma espécie de mutirão nacional pela qualidade do ensino fundamental, tal como aconteceu na iniciativa dos empresários com o seu “Todos pela Educação”. A baixa qualidade da educação deveria ser a nossa prioridade número um. É a grande emergência brasileira.
Minha sugestão é que editores e repórteres brasileiros fizessem uma visita a Buenos Aires na condição de meros turistas. Chegariam à conclusão, em poucos dias, que, se nada for feito para melhorar a qualidade do ensino brasileiro, seremos novamente a Argentina amanhã.
A deletéria reforma do ensino
O país de Cristina Kirchner, pelo que se vê através de sua maior cidade (4 milhões de habitantes num conglomerado metropolitano que beira os 12 milhões), está sem forças para vencer a crise que o assola há tantos anos e que o faz depender cada vez mais de seu único sustentáculo: o agronegócio. Em recente entrevista ao La Nación, o Nobel de economia Joseph Eugene Stiglitz, admirado pelos kirchenistas, apontou as causas dessas dificuldades: “O turismo cresce, há algum crescimento do setor tecnológico, mas não há suficiente diversificação da economia possivelmente porque a qualidade do sistema educativo em seu conjunto não é tão boa.”
Na frente do famoso La Biela, bar e restaurante do bairro La Recoleta, a professora aposentada Nádia Bernaz, com 76 anos, fala alto, para quem quiser ouvir: “O governo destruiu o ensino argentino por razões políticas. Eu era reitora de um grande colégio público de Buenos Aires quando vieram as mudanças, pensadas para que as escolas deixassem de produzir cérebros tão críticos em relação às mazelas da política.”
Bem informado sobre as questões da política Argentina, o jornalista Ricardo Sarmiento não apenas confirma o que diz a professora Nádia Albernaz como mostra que houve conivência da mídia argentina com a deletéria reforma do ensino introduzida pelo governo de Raul Alfonsín (1983/1989): “Como foi o primeiro governo democrático depois do regime militar, a mídia foi complacente com ele, de medo que houvesse retrocesso e os militares retornassem ao poder.”
Comércio popular
Os militares, que haviam abatido com suprema violência quase uma geração inteira de professores, cientistas, pesquisadores e intelectuais, não retornaram, mas os civis nada fizeram para recuperar o antigo modelo educacional do país, que já foi considerado o melhor da América Latina. Em seu primeiro mandato, Cristina Kirchner elevou os investimentos em educação dos tradicionais 1,5 a 2% do PIB para 6%, mas economistas e empresários ponderam que o acréscimo ainda não é suficiente para corrigir os erros do passado. Os sinais das dificuldades que a Argentina enfrenta para safar-se da crise estão por toda a parte de uma Buenos Aires hoje envelhecida (a professora Nádia Bernaz diz que a média da população aproxima-se de 45 anos de idade), onde se enxergam poucos jovens e quase nenhuma criança. “Não há como ter filhos neste país, pois será muito difícil sustentá-los”, diz Nádia Bernaz, que se queixa de que seus netos – todos eles, num total de seis – estudam mandarim e pretendem emigrar em busca de trabalho ou de melhor formação profissional.
Uma profusão de placas de “vende-se” ou “aluga-se” enfeita quase todos os prédios residenciais de bairros como San Telmo, Palermo, Retiro, Mataderos. Há edifícios que têm de duas ou três placas em cada andar.
Os turistas – brasileiros, em maior número – chegam aos milhares nos dois aeroportos, mas a cidade mostra-se desajeitada no modo de tratá-los e às vezes demonstra não ter interesse neles. Nos roteiros de compras – o que reflete a paralisia da indústria, incapaz de se diversificar – as mercadorias à venda se repetem à exaustão – artigos de couro, uma moda que dá sinais de cansaço, vinhos, queijos. E é só. A impressão que dá é que todo o comércio de Buenos Aires está em liquidação. Muitas lojas, contudo, apenas simulam um rebaixamento de preços, algo ilusório para o turista brasileiro, que só raramente consegue tirar proveito do valor de sua moeda, trocada a pesos (câmbio de agosto) à base de 2,5 por um.
As ruas da pequena Tigre – espécie de estância turística da região metropolitana onde as atrações são um cassino e uma feira de artesanato – ficam coalhadas de lixo nos fins de semana e feriados prolongados. Pergunto a um comerciante do lugar se não seria o caso de a comunidade mobilizar-se para limpar a cidade, mas a resposta demonstra uma atitude que parece comum em toda a região metropolitana: “A limpeza é obrigação da prefeitura, mas eles, os políticos, só sabem roubar o nosso dinheiro.” Os garis não dão conta de limpar tanto lixo jogado nas calçadas e nas ruas. E há recepcionistas de hotéis que recomendam aos hóspedes atirar tocos de cigarro e embalagens de plástico diretamente nas calçadas.
O glamour da Calle Florida parece viver seu estertor: com as “liquidações”, a rua tem sido invadida por turistas brasileiros, paraguaios, peruanos e chilenos, que a transformaram numa espécie de 25 de Março, rua de comércio popular de São Paulo. Os “puxadores” do comércio quase arrastam os transeuntes para dentro das lojas, onde há muita pechincha e pouquíssimas vendas.
População contaminada pela desesperança
Ônibus e trens carregam indícios da severidade da crise: levam placas que informam sobre os subsídios do governo ao transporte coletivo ou de protestos contra a entrada no setor de outras empresas concorrentes. Os trens suburbanos estão quase sucateados. As margens dos trilhos foram transformadas em depósito de lixo e algumas estações viraram abrigos para os indigentes que se multiplicam por toda a cidade. O melhor da viagem é, sem dúvida, a gastronomia, cujos restaurantes preservaram a qualidade de lomitos e bifes de chorizo a preços muito favoráveis aos visitantes brasileiros.
O mais eloquente sintoma da crise é sutil e só vai ser percebido pelas pessoas que estiveram em Buenos Aires 15 ou 20 anos atrás, num momento em que a economia do país vivia momentos bem mais favoráveis: trata-se da ausência, nas belas e extensas praças da cidade, dos paseadores de perros, jovens de ambos os sexos que levavam para passear os cães das famílias abastadas. Cobravam diária de até US$ 100 por animal e conduziam de 10 a 12 cães cada um. Esses personagens estão desaparecidos. Se continuam a existir, levam no máximo dois animais cada um. O que mais se vê em Buenos Aires são hoje homens e mulheres, geralmente de idade avançada, a levar seus cãezinhos para passeio. Na diária paga aos paseadores estava incluída a obrigação de recolher a sujeira que os cães produzem pelos longos passeios. O fim dos paseadores deve explicar a imundície que hoje toma conta do calçamento de ruas e praças dos bairros mais sofisticados de Buenos Aires.
O mais dramático é que a campanha eleitoral (a Argentina elegerá seu novo presidente em outubro e, ao que tudo indica, Cristina Kirchner será reeleita) está longe de empolgar a população da capital do país, contaminada pela desesperança. Pergunto a Nádia Bernaz em quem votará em outubro e sua resposta parece sintetizar o ânimo da maioria portenha: En cualquier uno, menos a Cristina.
Os jornais se preocupam menos com a campanha política e mais com as possíveis consequências para o país da crise internacional. Se continuar a investir em educação em seu provável segundo mandato, é possível que Cristina Kirchner resgate a qualidade do ensino público e assim deixe o país mais preparado para enfrentar os embates do futuro. Até agora, sua maior conquista foi estancar a evasão do ensino fundamental, um problema que no Brasil ainda é bastante grave. O problema que se coloca no momento é se haverá tempo de a Argentina colher os frutos da semeadura realizada com muito atraso.
***
[Dirceu Martins Pio é ex-diretor da Agência Estado e da Gazeta Mercantil]
A educação de qualidade –e só ela – vai conseguir sustentar o desenvolvimento do Brasil ao longo do tempo. Se tomarmos a premissa como verdadeira, descobriremos o quão graves são as informações divulgadas pela imprensa neste 26 de agosto: metade das crianças brasileiras que concluíram o 3º ano (antiga segunda série) em escolas públicas e privadas nas capitais brasileiras não aprendeu os conteúdos esperados para esse nível de ensino, ou seja, estão a caminho de serem transformadas em “analfabetos funcionais”, segundo resultados da prova ABC (Avaliação Brasileira do Final do Ciclo de Alfabetização).
Mais grave que isso: a mídia dedicou ao assunto uma cobertura de rotina, pontual, burocrática, como se não entendesse a importância do assunto que divulgou. Está mais do que na hora de a mídia incentivar o debate, iluminar o assunto em toda a sua profundidade, para assim talvez produzir uma espécie de mutirão nacional pela qualidade do ensino fundamental, tal como aconteceu na iniciativa dos empresários com o seu “Todos pela Educação”. A baixa qualidade da educação deveria ser a nossa prioridade número um. É a grande emergência brasileira.
Minha sugestão é que editores e repórteres brasileiros fizessem uma visita a Buenos Aires na condição de meros turistas. Chegariam à conclusão, em poucos dias, que, se nada for feito para melhorar a qualidade do ensino brasileiro, seremos novamente a Argentina amanhã.
A deletéria reforma do ensino
O país de Cristina Kirchner, pelo que se vê através de sua maior cidade (4 milhões de habitantes num conglomerado metropolitano que beira os 12 milhões), está sem forças para vencer a crise que o assola há tantos anos e que o faz depender cada vez mais de seu único sustentáculo: o agronegócio. Em recente entrevista ao La Nación, o Nobel de economia Joseph Eugene Stiglitz, admirado pelos kirchenistas, apontou as causas dessas dificuldades: “O turismo cresce, há algum crescimento do setor tecnológico, mas não há suficiente diversificação da economia possivelmente porque a qualidade do sistema educativo em seu conjunto não é tão boa.”
Na frente do famoso La Biela, bar e restaurante do bairro La Recoleta, a professora aposentada Nádia Bernaz, com 76 anos, fala alto, para quem quiser ouvir: “O governo destruiu o ensino argentino por razões políticas. Eu era reitora de um grande colégio público de Buenos Aires quando vieram as mudanças, pensadas para que as escolas deixassem de produzir cérebros tão críticos em relação às mazelas da política.”
Bem informado sobre as questões da política Argentina, o jornalista Ricardo Sarmiento não apenas confirma o que diz a professora Nádia Albernaz como mostra que houve conivência da mídia argentina com a deletéria reforma do ensino introduzida pelo governo de Raul Alfonsín (1983/1989): “Como foi o primeiro governo democrático depois do regime militar, a mídia foi complacente com ele, de medo que houvesse retrocesso e os militares retornassem ao poder.”
Comércio popular
Os militares, que haviam abatido com suprema violência quase uma geração inteira de professores, cientistas, pesquisadores e intelectuais, não retornaram, mas os civis nada fizeram para recuperar o antigo modelo educacional do país, que já foi considerado o melhor da América Latina. Em seu primeiro mandato, Cristina Kirchner elevou os investimentos em educação dos tradicionais 1,5 a 2% do PIB para 6%, mas economistas e empresários ponderam que o acréscimo ainda não é suficiente para corrigir os erros do passado. Os sinais das dificuldades que a Argentina enfrenta para safar-se da crise estão por toda a parte de uma Buenos Aires hoje envelhecida (a professora Nádia Bernaz diz que a média da população aproxima-se de 45 anos de idade), onde se enxergam poucos jovens e quase nenhuma criança. “Não há como ter filhos neste país, pois será muito difícil sustentá-los”, diz Nádia Bernaz, que se queixa de que seus netos – todos eles, num total de seis – estudam mandarim e pretendem emigrar em busca de trabalho ou de melhor formação profissional.
Uma profusão de placas de “vende-se” ou “aluga-se” enfeita quase todos os prédios residenciais de bairros como San Telmo, Palermo, Retiro, Mataderos. Há edifícios que têm de duas ou três placas em cada andar.
Os turistas – brasileiros, em maior número – chegam aos milhares nos dois aeroportos, mas a cidade mostra-se desajeitada no modo de tratá-los e às vezes demonstra não ter interesse neles. Nos roteiros de compras – o que reflete a paralisia da indústria, incapaz de se diversificar – as mercadorias à venda se repetem à exaustão – artigos de couro, uma moda que dá sinais de cansaço, vinhos, queijos. E é só. A impressão que dá é que todo o comércio de Buenos Aires está em liquidação. Muitas lojas, contudo, apenas simulam um rebaixamento de preços, algo ilusório para o turista brasileiro, que só raramente consegue tirar proveito do valor de sua moeda, trocada a pesos (câmbio de agosto) à base de 2,5 por um.
As ruas da pequena Tigre – espécie de estância turística da região metropolitana onde as atrações são um cassino e uma feira de artesanato – ficam coalhadas de lixo nos fins de semana e feriados prolongados. Pergunto a um comerciante do lugar se não seria o caso de a comunidade mobilizar-se para limpar a cidade, mas a resposta demonstra uma atitude que parece comum em toda a região metropolitana: “A limpeza é obrigação da prefeitura, mas eles, os políticos, só sabem roubar o nosso dinheiro.” Os garis não dão conta de limpar tanto lixo jogado nas calçadas e nas ruas. E há recepcionistas de hotéis que recomendam aos hóspedes atirar tocos de cigarro e embalagens de plástico diretamente nas calçadas.
O glamour da Calle Florida parece viver seu estertor: com as “liquidações”, a rua tem sido invadida por turistas brasileiros, paraguaios, peruanos e chilenos, que a transformaram numa espécie de 25 de Março, rua de comércio popular de São Paulo. Os “puxadores” do comércio quase arrastam os transeuntes para dentro das lojas, onde há muita pechincha e pouquíssimas vendas.
População contaminada pela desesperança
Ônibus e trens carregam indícios da severidade da crise: levam placas que informam sobre os subsídios do governo ao transporte coletivo ou de protestos contra a entrada no setor de outras empresas concorrentes. Os trens suburbanos estão quase sucateados. As margens dos trilhos foram transformadas em depósito de lixo e algumas estações viraram abrigos para os indigentes que se multiplicam por toda a cidade. O melhor da viagem é, sem dúvida, a gastronomia, cujos restaurantes preservaram a qualidade de lomitos e bifes de chorizo a preços muito favoráveis aos visitantes brasileiros.
O mais eloquente sintoma da crise é sutil e só vai ser percebido pelas pessoas que estiveram em Buenos Aires 15 ou 20 anos atrás, num momento em que a economia do país vivia momentos bem mais favoráveis: trata-se da ausência, nas belas e extensas praças da cidade, dos paseadores de perros, jovens de ambos os sexos que levavam para passear os cães das famílias abastadas. Cobravam diária de até US$ 100 por animal e conduziam de 10 a 12 cães cada um. Esses personagens estão desaparecidos. Se continuam a existir, levam no máximo dois animais cada um. O que mais se vê em Buenos Aires são hoje homens e mulheres, geralmente de idade avançada, a levar seus cãezinhos para passeio. Na diária paga aos paseadores estava incluída a obrigação de recolher a sujeira que os cães produzem pelos longos passeios. O fim dos paseadores deve explicar a imundície que hoje toma conta do calçamento de ruas e praças dos bairros mais sofisticados de Buenos Aires.
O mais dramático é que a campanha eleitoral (a Argentina elegerá seu novo presidente em outubro e, ao que tudo indica, Cristina Kirchner será reeleita) está longe de empolgar a população da capital do país, contaminada pela desesperança. Pergunto a Nádia Bernaz em quem votará em outubro e sua resposta parece sintetizar o ânimo da maioria portenha: En cualquier uno, menos a Cristina.
Os jornais se preocupam menos com a campanha política e mais com as possíveis consequências para o país da crise internacional. Se continuar a investir em educação em seu provável segundo mandato, é possível que Cristina Kirchner resgate a qualidade do ensino público e assim deixe o país mais preparado para enfrentar os embates do futuro. Até agora, sua maior conquista foi estancar a evasão do ensino fundamental, um problema que no Brasil ainda é bastante grave. O problema que se coloca no momento é se haverá tempo de a Argentina colher os frutos da semeadura realizada com muito atraso.
***
[Dirceu Martins Pio é ex-diretor da Agência Estado e da Gazeta Mercantil]
quarta-feira, 7 de setembro de 2011
terça-feira, 6 de setembro de 2011
O olhar de Capitu - 18.º capítulo de um romance inelutável
E o que sei é mais ou menos. O que é a política, apesar da constatação sobre a queda do combustível dos hipopótamos circunavegantes e seus planos? Instáveis os humanos. Gatos perpassam no tempo e redigem, otimistas, patamares oportunos. Sabem ser galos e calos, passeiam com estrangeiras amígdalas faceiras, cestas de ruas altaneiras.
Voltem, voltem, ventos e eventos. Traumáticas expansões vivenciadas, escassos cossacos nas praias. Espraiem-se. Imagéticos. Magnéticos. Solo de água de bateria. Muriáticos sentimentos. Pentimentos. Economia resumida. Diretivas felinas, opções ursinas. Impactos sem tato. Patos sem rimas.
Voltem, voltem, ventos e eventos. Traumáticas expansões vivenciadas, escassos cossacos nas praias. Espraiem-se. Imagéticos. Magnéticos. Solo de água de bateria. Muriáticos sentimentos. Pentimentos. Economia resumida. Diretivas felinas, opções ursinas. Impactos sem tato. Patos sem rimas.
Assinar:
Postagens (Atom)